De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

E na reta final do Festival do Rio, Sérgio Machado dá um solo de excelência


Por Rodrigo Fonseca
Inspirado na saga da Orquestra de Heliópolis, em Sampa, "Tudo que aprendemos juntos", de Sérgio Machado, veio de Locarno para o centro do gol da Première Brasil 2015 

Mesmo assombrado por faltas de luz no Cine Lagoon, que travaram sua projeção por três vezes, o drama musical Tudo Que Aprendemos Juntos fez a excelência narrativa do baiano Sérgio Machado ecoar pela Première Brasil 2015 em sua última noite de competição, credenciando-se como um favorito aos prêmios de melhor direção e montagem. Embora Boi Neon, do pernambucano Gabriel Mascaro, siga imbatível na peleja pelo troféu Redentor de melhor longa-metragem de ficção, a (comovente) nova produção dos irmãos Gullane, pilotada pelo realizador de Cidade Baixa (2005), deu um fecho glorioso ao certame, com um ritmo febril de edição ao mergulhar na periferia e com uma fotografia de iluminação vívida arquitetada por Marcelo Durst (de Estorvo).

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Houve uma catarse coletiva de dor frente a um retrato - sem manipulações baratas e de comunicabilidade incontestável - da exclusão entre os jovens aspirantes a músicos de uma escola em Heliópolis, em São Paulo. As cenas com o adolescente Kaique Jesus com o violino em punho (ou com a exclusão no lombo) foram as que mais bateram nas glândulas lacrimais do público. E que guri bom ator ele é...

Kaique de Jesus e Elzio Vieira vivem músicos aspirantes no longa fotografado com esmero por Marcelo Durst 
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Dois nomes nos créditos de roteiro - o de Maria Adelaide Amaral (veterana da teledramaturgia, responsável por pérolas como A Muralha) e o de Marcelo Gomes (realizador do cult Cinema, Aspirinas e Urubus) - justificam a dosagem parcimoniosa de emotividade na trama, sempre aberta a distanciamentos. Sua base é a peça (depois vertida em livro) de Antonio Ermínio de Moraes chamada Acorda Brasil!, com base em um caso real. O enredo se concentra nos esforços do violinista Laerte (vivido por Lázaro Ramos com elegância, mas sem brilhantismos) para reinventar-se como um educador em uma escola da perifa paulistana após ter perdido a chance de entrar para a Osesp. Sua tarefa é dar aulas de músicas para adolescentes que, caso galguem os degraus da eficácia, podem impressionar os olheiros de uma ONG.

Lázaro Ramos é o violinista Laerte 
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Ainda com dor pelo calombos da derrota (na Osesp) em seu peito e fustigado pelo sensação de impotência frente à violência local, Laerte é um personagem para além dos clichês dos filmes escolares. Com ele, Machado cria um Ao Mestre, Com Carinho às avessas, no qual o foco não é o espírito heroico de um protagonista capaz de redimir o mundo de decadência a seu redor, como um cordeiro em autoimolação em nome da fé no altruísmo. O foco aqui é uma jornada mútua de redenção, para Laerte e para cada um dos alunos em seu diário de classe. Um assessório salta aos olhos: a presença do rapper Criolo na pele de um traficante tipo P(erigoso).

 

Vigoroso em sua estética de conto de fadas sujo de graxa, Tudo o Que Aprendemos Juntos tocou no peito do Festival do Rio indo pelas claves precisas, elevando o nível de uma seleção brasileira de longas ficcionais viva e respeitável mas que, nem de longe, alcançou a meta de ser "a" Première de todas as Premières Brasil. Obras-primas? Teve uma: o supracitado Boi Neon. Outros grandes filmes fora o de Machado? Vale destacar Campo Grande, Quase Memória, Mundo Cão e (parcialmente) Aspirantes   

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Entre os docs de longa quilometragem, a rodada fechou com golaço formal para Olmo e a Gaivota, de Petra Costa, e Cordilheiras no Mar: A Fúria do Fogo Bárbaro, de Geneton Moraes Neto. Registrou-se também um pênalti na conta da desmistificação de lendas sociais para a edição superpop de Betinho - A Esperança Equilibrista, de Victor Lopes. Dos curtas-metragens em concurso, o mais inventivo até aqui foi Som Guia, de Felipe Rocha, e o mais imponente em sua visualidade foi Pele de Pássaro, que só confirma a maturidade de Clara Peltier, mesma de Graça. Da seara Novos Rumos, o Ceará fez festa na tela com Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois, de um Petrus Cariry escudado pelo aríete Sabrina Greve, e vale uma distinção a dinâmica autogeográfica com ecos de Polanski de A Morte de J. P. Cuenca.

Entre encontros e desencontros, a curadoria trouxe uma amostra de autorias e riscos, oferecendo estilos em depuração e prazer. Leva nota 8,5. Resta saber agora o que os júris presididos por Walter Carvalho (seleção principal) e Rosane Svartmann (Novos Rumos) farão com tudo o que se viu.

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p.s.: Foram anunciados neste domingo os vencedores do Prêmio Félix, a láurea LGBT do Festival do Rio. And the winners are...

Melhor longa-metragem de ficção: TANGERINA, de Sean Baker; Melhor longa-metragem documentário: O HOMEM NOVO, de Aldo Garay; e Prêmio Especial do Júri: BEIRA-MAR, de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon.

 

Inspirado na saga da Orquestra de Heliópolis, em Sampa, "Tudo que aprendemos juntos", de Sérgio Machado, veio de Locarno para o centro do gol da Première Brasil 2015 

Mesmo assombrado por faltas de luz no Cine Lagoon, que travaram sua projeção por três vezes, o drama musical Tudo Que Aprendemos Juntos fez a excelência narrativa do baiano Sérgio Machado ecoar pela Première Brasil 2015 em sua última noite de competição, credenciando-se como um favorito aos prêmios de melhor direção e montagem. Embora Boi Neon, do pernambucano Gabriel Mascaro, siga imbatível na peleja pelo troféu Redentor de melhor longa-metragem de ficção, a (comovente) nova produção dos irmãos Gullane, pilotada pelo realizador de Cidade Baixa (2005), deu um fecho glorioso ao certame, com um ritmo febril de edição ao mergulhar na periferia e com uma fotografia de iluminação vívida arquitetada por Marcelo Durst (de Estorvo).

Houve uma catarse coletiva de dor frente a um retrato - sem manipulações baratas e de comunicabilidade incontestável - da exclusão entre os jovens aspirantes a músicos de uma escola em Heliópolis, em São Paulo. As cenas com o adolescente Kaique Jesus com o violino em punho (ou com a exclusão no lombo) foram as que mais bateram nas glândulas lacrimais do público. E que guri bom ator ele é...

Kaique de Jesus e Elzio Vieira vivem músicos aspirantes no longa fotografado com esmero por Marcelo Durst 

Dois nomes nos créditos de roteiro - o de Maria Adelaide Amaral (veterana da teledramaturgia, responsável por pérolas como A Muralha) e o de Marcelo Gomes (realizador do cult Cinema, Aspirinas e Urubus) - justificam a dosagem parcimoniosa de emotividade na trama, sempre aberta a distanciamentos. Sua base é a peça (depois vertida em livro) de Antonio Ermínio de Moraes chamada Acorda Brasil!, com base em um caso real. O enredo se concentra nos esforços do violinista Laerte (vivido por Lázaro Ramos com elegância, mas sem brilhantismos) para reinventar-se como um educador em uma escola da perifa paulistana após ter perdido a chance de entrar para a Osesp. Sua tarefa é dar aulas de músicas para adolescentes que, caso galguem os degraus da eficácia, podem impressionar os olheiros de uma ONG.

Lázaro Ramos é o violinista Laerte 

Ainda com dor pelo calombos da derrota (na Osesp) em seu peito e fustigado pelo sensação de impotência frente à violência local, Laerte é um personagem para além dos clichês dos filmes escolares. Com ele, Machado cria um Ao Mestre, Com Carinho às avessas, no qual o foco não é o espírito heroico de um protagonista capaz de redimir o mundo de decadência a seu redor, como um cordeiro em autoimolação em nome da fé no altruísmo. O foco aqui é uma jornada mútua de redenção, para Laerte e para cada um dos alunos em seu diário de classe. Um assessório salta aos olhos: a presença do rapper Criolo na pele de um traficante tipo P(erigoso).

 

Vigoroso em sua estética de conto de fadas sujo de graxa, Tudo o Que Aprendemos Juntos tocou no peito do Festival do Rio indo pelas claves precisas, elevando o nível de uma seleção brasileira de longas ficcionais viva e respeitável mas que, nem de longe, alcançou a meta de ser "a" Première de todas as Premières Brasil. Obras-primas? Teve uma: o supracitado Boi Neon. Outros grandes filmes fora o de Machado? Vale destacar Campo Grande, Quase Memória, Mundo Cão e (parcialmente) Aspirantes   

 

Entre os docs de longa quilometragem, a rodada fechou com golaço formal para Olmo e a Gaivota, de Petra Costa, e Cordilheiras no Mar: A Fúria do Fogo Bárbaro, de Geneton Moraes Neto. Registrou-se também um pênalti na conta da desmistificação de lendas sociais para a edição superpop de Betinho - A Esperança Equilibrista, de Victor Lopes. Dos curtas-metragens em concurso, o mais inventivo até aqui foi Som Guia, de Felipe Rocha, e o mais imponente em sua visualidade foi Pele de Pássaro, que só confirma a maturidade de Clara Peltier, mesma de Graça. Da seara Novos Rumos, o Ceará fez festa na tela com Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois, de um Petrus Cariry escudado pelo aríete Sabrina Greve, e vale uma distinção a dinâmica autogeográfica com ecos de Polanski de A Morte de J. P. Cuenca.

Entre encontros e desencontros, a curadoria trouxe uma amostra de autorias e riscos, oferecendo estilos em depuração e prazer. Leva nota 8,5. Resta saber agora o que os júris presididos por Walter Carvalho (seleção principal) e Rosane Svartmann (Novos Rumos) farão com tudo o que se viu.

p.s.: Foram anunciados neste domingo os vencedores do Prêmio Félix, a láurea LGBT do Festival do Rio. And the winners are...

Melhor longa-metragem de ficção: TANGERINA, de Sean Baker; Melhor longa-metragem documentário: O HOMEM NOVO, de Aldo Garay; e Prêmio Especial do Júri: BEIRA-MAR, de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon.

 

Inspirado na saga da Orquestra de Heliópolis, em Sampa, "Tudo que aprendemos juntos", de Sérgio Machado, veio de Locarno para o centro do gol da Première Brasil 2015 

Mesmo assombrado por faltas de luz no Cine Lagoon, que travaram sua projeção por três vezes, o drama musical Tudo Que Aprendemos Juntos fez a excelência narrativa do baiano Sérgio Machado ecoar pela Première Brasil 2015 em sua última noite de competição, credenciando-se como um favorito aos prêmios de melhor direção e montagem. Embora Boi Neon, do pernambucano Gabriel Mascaro, siga imbatível na peleja pelo troféu Redentor de melhor longa-metragem de ficção, a (comovente) nova produção dos irmãos Gullane, pilotada pelo realizador de Cidade Baixa (2005), deu um fecho glorioso ao certame, com um ritmo febril de edição ao mergulhar na periferia e com uma fotografia de iluminação vívida arquitetada por Marcelo Durst (de Estorvo).

Houve uma catarse coletiva de dor frente a um retrato - sem manipulações baratas e de comunicabilidade incontestável - da exclusão entre os jovens aspirantes a músicos de uma escola em Heliópolis, em São Paulo. As cenas com o adolescente Kaique Jesus com o violino em punho (ou com a exclusão no lombo) foram as que mais bateram nas glândulas lacrimais do público. E que guri bom ator ele é...

Kaique de Jesus e Elzio Vieira vivem músicos aspirantes no longa fotografado com esmero por Marcelo Durst 

Dois nomes nos créditos de roteiro - o de Maria Adelaide Amaral (veterana da teledramaturgia, responsável por pérolas como A Muralha) e o de Marcelo Gomes (realizador do cult Cinema, Aspirinas e Urubus) - justificam a dosagem parcimoniosa de emotividade na trama, sempre aberta a distanciamentos. Sua base é a peça (depois vertida em livro) de Antonio Ermínio de Moraes chamada Acorda Brasil!, com base em um caso real. O enredo se concentra nos esforços do violinista Laerte (vivido por Lázaro Ramos com elegância, mas sem brilhantismos) para reinventar-se como um educador em uma escola da perifa paulistana após ter perdido a chance de entrar para a Osesp. Sua tarefa é dar aulas de músicas para adolescentes que, caso galguem os degraus da eficácia, podem impressionar os olheiros de uma ONG.

Lázaro Ramos é o violinista Laerte 

Ainda com dor pelo calombos da derrota (na Osesp) em seu peito e fustigado pelo sensação de impotência frente à violência local, Laerte é um personagem para além dos clichês dos filmes escolares. Com ele, Machado cria um Ao Mestre, Com Carinho às avessas, no qual o foco não é o espírito heroico de um protagonista capaz de redimir o mundo de decadência a seu redor, como um cordeiro em autoimolação em nome da fé no altruísmo. O foco aqui é uma jornada mútua de redenção, para Laerte e para cada um dos alunos em seu diário de classe. Um assessório salta aos olhos: a presença do rapper Criolo na pele de um traficante tipo P(erigoso).

 

Vigoroso em sua estética de conto de fadas sujo de graxa, Tudo o Que Aprendemos Juntos tocou no peito do Festival do Rio indo pelas claves precisas, elevando o nível de uma seleção brasileira de longas ficcionais viva e respeitável mas que, nem de longe, alcançou a meta de ser "a" Première de todas as Premières Brasil. Obras-primas? Teve uma: o supracitado Boi Neon. Outros grandes filmes fora o de Machado? Vale destacar Campo Grande, Quase Memória, Mundo Cão e (parcialmente) Aspirantes   

 

Entre os docs de longa quilometragem, a rodada fechou com golaço formal para Olmo e a Gaivota, de Petra Costa, e Cordilheiras no Mar: A Fúria do Fogo Bárbaro, de Geneton Moraes Neto. Registrou-se também um pênalti na conta da desmistificação de lendas sociais para a edição superpop de Betinho - A Esperança Equilibrista, de Victor Lopes. Dos curtas-metragens em concurso, o mais inventivo até aqui foi Som Guia, de Felipe Rocha, e o mais imponente em sua visualidade foi Pele de Pássaro, que só confirma a maturidade de Clara Peltier, mesma de Graça. Da seara Novos Rumos, o Ceará fez festa na tela com Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois, de um Petrus Cariry escudado pelo aríete Sabrina Greve, e vale uma distinção a dinâmica autogeográfica com ecos de Polanski de A Morte de J. P. Cuenca.

Entre encontros e desencontros, a curadoria trouxe uma amostra de autorias e riscos, oferecendo estilos em depuração e prazer. Leva nota 8,5. Resta saber agora o que os júris presididos por Walter Carvalho (seleção principal) e Rosane Svartmann (Novos Rumos) farão com tudo o que se viu.

p.s.: Foram anunciados neste domingo os vencedores do Prêmio Félix, a láurea LGBT do Festival do Rio. And the winners are...

Melhor longa-metragem de ficção: TANGERINA, de Sean Baker; Melhor longa-metragem documentário: O HOMEM NOVO, de Aldo Garay; e Prêmio Especial do Júri: BEIRA-MAR, de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon.

 

Inspirado na saga da Orquestra de Heliópolis, em Sampa, "Tudo que aprendemos juntos", de Sérgio Machado, veio de Locarno para o centro do gol da Première Brasil 2015 

Mesmo assombrado por faltas de luz no Cine Lagoon, que travaram sua projeção por três vezes, o drama musical Tudo Que Aprendemos Juntos fez a excelência narrativa do baiano Sérgio Machado ecoar pela Première Brasil 2015 em sua última noite de competição, credenciando-se como um favorito aos prêmios de melhor direção e montagem. Embora Boi Neon, do pernambucano Gabriel Mascaro, siga imbatível na peleja pelo troféu Redentor de melhor longa-metragem de ficção, a (comovente) nova produção dos irmãos Gullane, pilotada pelo realizador de Cidade Baixa (2005), deu um fecho glorioso ao certame, com um ritmo febril de edição ao mergulhar na periferia e com uma fotografia de iluminação vívida arquitetada por Marcelo Durst (de Estorvo).

Houve uma catarse coletiva de dor frente a um retrato - sem manipulações baratas e de comunicabilidade incontestável - da exclusão entre os jovens aspirantes a músicos de uma escola em Heliópolis, em São Paulo. As cenas com o adolescente Kaique Jesus com o violino em punho (ou com a exclusão no lombo) foram as que mais bateram nas glândulas lacrimais do público. E que guri bom ator ele é...

Kaique de Jesus e Elzio Vieira vivem músicos aspirantes no longa fotografado com esmero por Marcelo Durst 

Dois nomes nos créditos de roteiro - o de Maria Adelaide Amaral (veterana da teledramaturgia, responsável por pérolas como A Muralha) e o de Marcelo Gomes (realizador do cult Cinema, Aspirinas e Urubus) - justificam a dosagem parcimoniosa de emotividade na trama, sempre aberta a distanciamentos. Sua base é a peça (depois vertida em livro) de Antonio Ermínio de Moraes chamada Acorda Brasil!, com base em um caso real. O enredo se concentra nos esforços do violinista Laerte (vivido por Lázaro Ramos com elegância, mas sem brilhantismos) para reinventar-se como um educador em uma escola da perifa paulistana após ter perdido a chance de entrar para a Osesp. Sua tarefa é dar aulas de músicas para adolescentes que, caso galguem os degraus da eficácia, podem impressionar os olheiros de uma ONG.

Lázaro Ramos é o violinista Laerte 

Ainda com dor pelo calombos da derrota (na Osesp) em seu peito e fustigado pelo sensação de impotência frente à violência local, Laerte é um personagem para além dos clichês dos filmes escolares. Com ele, Machado cria um Ao Mestre, Com Carinho às avessas, no qual o foco não é o espírito heroico de um protagonista capaz de redimir o mundo de decadência a seu redor, como um cordeiro em autoimolação em nome da fé no altruísmo. O foco aqui é uma jornada mútua de redenção, para Laerte e para cada um dos alunos em seu diário de classe. Um assessório salta aos olhos: a presença do rapper Criolo na pele de um traficante tipo P(erigoso).

 

Vigoroso em sua estética de conto de fadas sujo de graxa, Tudo o Que Aprendemos Juntos tocou no peito do Festival do Rio indo pelas claves precisas, elevando o nível de uma seleção brasileira de longas ficcionais viva e respeitável mas que, nem de longe, alcançou a meta de ser "a" Première de todas as Premières Brasil. Obras-primas? Teve uma: o supracitado Boi Neon. Outros grandes filmes fora o de Machado? Vale destacar Campo Grande, Quase Memória, Mundo Cão e (parcialmente) Aspirantes   

 

Entre os docs de longa quilometragem, a rodada fechou com golaço formal para Olmo e a Gaivota, de Petra Costa, e Cordilheiras no Mar: A Fúria do Fogo Bárbaro, de Geneton Moraes Neto. Registrou-se também um pênalti na conta da desmistificação de lendas sociais para a edição superpop de Betinho - A Esperança Equilibrista, de Victor Lopes. Dos curtas-metragens em concurso, o mais inventivo até aqui foi Som Guia, de Felipe Rocha, e o mais imponente em sua visualidade foi Pele de Pássaro, que só confirma a maturidade de Clara Peltier, mesma de Graça. Da seara Novos Rumos, o Ceará fez festa na tela com Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois, de um Petrus Cariry escudado pelo aríete Sabrina Greve, e vale uma distinção a dinâmica autogeográfica com ecos de Polanski de A Morte de J. P. Cuenca.

Entre encontros e desencontros, a curadoria trouxe uma amostra de autorias e riscos, oferecendo estilos em depuração e prazer. Leva nota 8,5. Resta saber agora o que os júris presididos por Walter Carvalho (seleção principal) e Rosane Svartmann (Novos Rumos) farão com tudo o que se viu.

p.s.: Foram anunciados neste domingo os vencedores do Prêmio Félix, a láurea LGBT do Festival do Rio. And the winners are...

Melhor longa-metragem de ficção: TANGERINA, de Sean Baker; Melhor longa-metragem documentário: O HOMEM NOVO, de Aldo Garay; e Prêmio Especial do Júri: BEIRA-MAR, de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon.

 

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