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'O Silêncio da Chuva': ecos de clássicos noir


Por Rodrigo Fonseca
Lázaro é o delegado Espinosa na releitura da obra de Luiz Alfredo Garcia-Roza - foto de @MarianaVianna Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Tributo ao noir dos anos 1940 e 50, com o carisma de Lázaro Ramos a lhe servir de motor de arranque, "O Silêncio da Chuva" fez bonito em sua passagem pelo Festival de Moscou, em 2020, provando o apelo que as narrativas policiais de investigação podem ter nas mais prestigiadas mostras internacionais do audiovisual. É o que se passa agora com o 69. Festival de San Sebastián. Sebastián termina neste sábado. Na quarta, na disputa pela Concha dourada, a França, em concurso na cidade espanhola, fez valer seu histórico de excelência com a cartilha policialesca e judicial com o frenético thriller "Enquête sur un scandale d'état", uma narrativa com ecos de Costa-Gavras, digna de um prêmio de roteiro. O ator Thierry de Peretti, realizador de "Les Apaches" (2013), recria a história real de uma investigação jornalística do "Libération" sobre a relação de autoridades de segurança pública francesa com o "vazamento" de quilos de maconha no país. Roschdy Zem interpreta um informante que se infiltrou num temido cartel mexicano. A montagem une ação, tensão e reviravoltas de tribunal com precisão de relojoeiro.

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Roschdy Zem em "Enquête sur un scandale d'état" Foto: Estadão

Sobre "O Silêncio da Chuva"... Trata-se de um thriller com "T" maiúsculo, daqueles que comportam viradas na margem extrema da surpresa, roubando o fôlego onde se espera uma condução serena. É um filme feito por um realizador escolado, na TV e no cinemão, em muitas frentes dramáticas, da crônica geracional ("O Casal") ao painel histórico ("Tempos de Paz"), resvalando na paródia do western macaxeira ("O Cangaceiro Trapalhão"): o múltiplo Daniel Filho. Esse novo trabalho, estruturado em um diálogo com a prosa de Luiz Alfredo Garcia-Roza (1936-2020), demarca um movimento de fina renovação na obra desse campeão de bilheteria, no qual ele vem explorando as mitologias da violência urbana, como visto em seu exuberante "Boca de Ouro", lançado no ano passado.

Em ambos, vemos um mergulho em geografias cariocas alheias ao cartão-postal ensolarado da cidade, mediados pela fotografia de Felipe Reinheimer, menos interessada no calor, abrindo-se a sombras. Em "Silêncio da Chuva", adaptado do romance homônimo de Garcia-Roza laureado com o prêmio Jabuti em 1997, tem até um indício de chiaroscuro, num jogo bruxuleado de luz. Um jogo a partir do qual o filme se ancora na tradição do noir dos anos 1940 e 50, em especial "Capitou Sorrindo" ("The Glass Key", 1942), de Stuart Heisler; "Laura" (1944), de Otto Preminger; e "A Morte Num Beijo" ("Kiss Me Deadly"), de Robert Aldrich, sendo este a referência mais próxima de Daniel, em seus enquadramentos sem exibicionismos. Esses quatro policiais históricos são narrativas sobre o desejo, assunto central de "Boca de Ouro" e da revisão audiovisual da literatura de Garcia-Roza, relida numa triagem de perversões pelo roteirista Lusa Silvestre (de "Estômago"). O roteiro é assinado por ele, com a colaboração de Renata Correa, Ana Maria Moretzsohn e Pedro Barbalho, lapidando algo do qual aquela deformação sociológica falada lá no início deste papo sempre desdenha: o heroísmo. Pilar da engenharia de muitos gêneros, especiais aqueles ligados à ação e à investigação (desde "Édipo Rei", a peça), a figura do herói encontra corpo e (sobretudo) alma no Espinosa de Lázaro Ramos, o achado deste trabalho de Daniel Filho. Ou, melhor, um dos achados, pois o que Thalita Carauta faz, no papel da tira Daia, é pra aplaudir com ardor.

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p.s.: San Sebastián termina neste sábado. Que não faltem prêmios para o longa de horror espanhol "La Abuela", do mestre ibérico do filão, Paco Plaza. O desempenho da atriz Almudena Amor (uma jovem titã da atuação) no papel de uma modelo às voltas com a decrepitude da saúde física e mental de sua avó lembra "Possessão" (1981), com Isabelle Adjani. É um diálogo primoroso com os códigos do horror, numa garantia de calafrios.

Lázaro é o delegado Espinosa na releitura da obra de Luiz Alfredo Garcia-Roza - foto de @MarianaVianna Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Tributo ao noir dos anos 1940 e 50, com o carisma de Lázaro Ramos a lhe servir de motor de arranque, "O Silêncio da Chuva" fez bonito em sua passagem pelo Festival de Moscou, em 2020, provando o apelo que as narrativas policiais de investigação podem ter nas mais prestigiadas mostras internacionais do audiovisual. É o que se passa agora com o 69. Festival de San Sebastián. Sebastián termina neste sábado. Na quarta, na disputa pela Concha dourada, a França, em concurso na cidade espanhola, fez valer seu histórico de excelência com a cartilha policialesca e judicial com o frenético thriller "Enquête sur un scandale d'état", uma narrativa com ecos de Costa-Gavras, digna de um prêmio de roteiro. O ator Thierry de Peretti, realizador de "Les Apaches" (2013), recria a história real de uma investigação jornalística do "Libération" sobre a relação de autoridades de segurança pública francesa com o "vazamento" de quilos de maconha no país. Roschdy Zem interpreta um informante que se infiltrou num temido cartel mexicano. A montagem une ação, tensão e reviravoltas de tribunal com precisão de relojoeiro.

Roschdy Zem em "Enquête sur un scandale d'état" Foto: Estadão

Sobre "O Silêncio da Chuva"... Trata-se de um thriller com "T" maiúsculo, daqueles que comportam viradas na margem extrema da surpresa, roubando o fôlego onde se espera uma condução serena. É um filme feito por um realizador escolado, na TV e no cinemão, em muitas frentes dramáticas, da crônica geracional ("O Casal") ao painel histórico ("Tempos de Paz"), resvalando na paródia do western macaxeira ("O Cangaceiro Trapalhão"): o múltiplo Daniel Filho. Esse novo trabalho, estruturado em um diálogo com a prosa de Luiz Alfredo Garcia-Roza (1936-2020), demarca um movimento de fina renovação na obra desse campeão de bilheteria, no qual ele vem explorando as mitologias da violência urbana, como visto em seu exuberante "Boca de Ouro", lançado no ano passado.

Em ambos, vemos um mergulho em geografias cariocas alheias ao cartão-postal ensolarado da cidade, mediados pela fotografia de Felipe Reinheimer, menos interessada no calor, abrindo-se a sombras. Em "Silêncio da Chuva", adaptado do romance homônimo de Garcia-Roza laureado com o prêmio Jabuti em 1997, tem até um indício de chiaroscuro, num jogo bruxuleado de luz. Um jogo a partir do qual o filme se ancora na tradição do noir dos anos 1940 e 50, em especial "Capitou Sorrindo" ("The Glass Key", 1942), de Stuart Heisler; "Laura" (1944), de Otto Preminger; e "A Morte Num Beijo" ("Kiss Me Deadly"), de Robert Aldrich, sendo este a referência mais próxima de Daniel, em seus enquadramentos sem exibicionismos. Esses quatro policiais históricos são narrativas sobre o desejo, assunto central de "Boca de Ouro" e da revisão audiovisual da literatura de Garcia-Roza, relida numa triagem de perversões pelo roteirista Lusa Silvestre (de "Estômago"). O roteiro é assinado por ele, com a colaboração de Renata Correa, Ana Maria Moretzsohn e Pedro Barbalho, lapidando algo do qual aquela deformação sociológica falada lá no início deste papo sempre desdenha: o heroísmo. Pilar da engenharia de muitos gêneros, especiais aqueles ligados à ação e à investigação (desde "Édipo Rei", a peça), a figura do herói encontra corpo e (sobretudo) alma no Espinosa de Lázaro Ramos, o achado deste trabalho de Daniel Filho. Ou, melhor, um dos achados, pois o que Thalita Carauta faz, no papel da tira Daia, é pra aplaudir com ardor.

p.s.: San Sebastián termina neste sábado. Que não faltem prêmios para o longa de horror espanhol "La Abuela", do mestre ibérico do filão, Paco Plaza. O desempenho da atriz Almudena Amor (uma jovem titã da atuação) no papel de uma modelo às voltas com a decrepitude da saúde física e mental de sua avó lembra "Possessão" (1981), com Isabelle Adjani. É um diálogo primoroso com os códigos do horror, numa garantia de calafrios.

Lázaro é o delegado Espinosa na releitura da obra de Luiz Alfredo Garcia-Roza - foto de @MarianaVianna Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Tributo ao noir dos anos 1940 e 50, com o carisma de Lázaro Ramos a lhe servir de motor de arranque, "O Silêncio da Chuva" fez bonito em sua passagem pelo Festival de Moscou, em 2020, provando o apelo que as narrativas policiais de investigação podem ter nas mais prestigiadas mostras internacionais do audiovisual. É o que se passa agora com o 69. Festival de San Sebastián. Sebastián termina neste sábado. Na quarta, na disputa pela Concha dourada, a França, em concurso na cidade espanhola, fez valer seu histórico de excelência com a cartilha policialesca e judicial com o frenético thriller "Enquête sur un scandale d'état", uma narrativa com ecos de Costa-Gavras, digna de um prêmio de roteiro. O ator Thierry de Peretti, realizador de "Les Apaches" (2013), recria a história real de uma investigação jornalística do "Libération" sobre a relação de autoridades de segurança pública francesa com o "vazamento" de quilos de maconha no país. Roschdy Zem interpreta um informante que se infiltrou num temido cartel mexicano. A montagem une ação, tensão e reviravoltas de tribunal com precisão de relojoeiro.

Roschdy Zem em "Enquête sur un scandale d'état" Foto: Estadão

Sobre "O Silêncio da Chuva"... Trata-se de um thriller com "T" maiúsculo, daqueles que comportam viradas na margem extrema da surpresa, roubando o fôlego onde se espera uma condução serena. É um filme feito por um realizador escolado, na TV e no cinemão, em muitas frentes dramáticas, da crônica geracional ("O Casal") ao painel histórico ("Tempos de Paz"), resvalando na paródia do western macaxeira ("O Cangaceiro Trapalhão"): o múltiplo Daniel Filho. Esse novo trabalho, estruturado em um diálogo com a prosa de Luiz Alfredo Garcia-Roza (1936-2020), demarca um movimento de fina renovação na obra desse campeão de bilheteria, no qual ele vem explorando as mitologias da violência urbana, como visto em seu exuberante "Boca de Ouro", lançado no ano passado.

Em ambos, vemos um mergulho em geografias cariocas alheias ao cartão-postal ensolarado da cidade, mediados pela fotografia de Felipe Reinheimer, menos interessada no calor, abrindo-se a sombras. Em "Silêncio da Chuva", adaptado do romance homônimo de Garcia-Roza laureado com o prêmio Jabuti em 1997, tem até um indício de chiaroscuro, num jogo bruxuleado de luz. Um jogo a partir do qual o filme se ancora na tradição do noir dos anos 1940 e 50, em especial "Capitou Sorrindo" ("The Glass Key", 1942), de Stuart Heisler; "Laura" (1944), de Otto Preminger; e "A Morte Num Beijo" ("Kiss Me Deadly"), de Robert Aldrich, sendo este a referência mais próxima de Daniel, em seus enquadramentos sem exibicionismos. Esses quatro policiais históricos são narrativas sobre o desejo, assunto central de "Boca de Ouro" e da revisão audiovisual da literatura de Garcia-Roza, relida numa triagem de perversões pelo roteirista Lusa Silvestre (de "Estômago"). O roteiro é assinado por ele, com a colaboração de Renata Correa, Ana Maria Moretzsohn e Pedro Barbalho, lapidando algo do qual aquela deformação sociológica falada lá no início deste papo sempre desdenha: o heroísmo. Pilar da engenharia de muitos gêneros, especiais aqueles ligados à ação e à investigação (desde "Édipo Rei", a peça), a figura do herói encontra corpo e (sobretudo) alma no Espinosa de Lázaro Ramos, o achado deste trabalho de Daniel Filho. Ou, melhor, um dos achados, pois o que Thalita Carauta faz, no papel da tira Daia, é pra aplaudir com ardor.

p.s.: San Sebastián termina neste sábado. Que não faltem prêmios para o longa de horror espanhol "La Abuela", do mestre ibérico do filão, Paco Plaza. O desempenho da atriz Almudena Amor (uma jovem titã da atuação) no papel de uma modelo às voltas com a decrepitude da saúde física e mental de sua avó lembra "Possessão" (1981), com Isabelle Adjani. É um diálogo primoroso com os códigos do horror, numa garantia de calafrios.

Lázaro é o delegado Espinosa na releitura da obra de Luiz Alfredo Garcia-Roza - foto de @MarianaVianna Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Tributo ao noir dos anos 1940 e 50, com o carisma de Lázaro Ramos a lhe servir de motor de arranque, "O Silêncio da Chuva" fez bonito em sua passagem pelo Festival de Moscou, em 2020, provando o apelo que as narrativas policiais de investigação podem ter nas mais prestigiadas mostras internacionais do audiovisual. É o que se passa agora com o 69. Festival de San Sebastián. Sebastián termina neste sábado. Na quarta, na disputa pela Concha dourada, a França, em concurso na cidade espanhola, fez valer seu histórico de excelência com a cartilha policialesca e judicial com o frenético thriller "Enquête sur un scandale d'état", uma narrativa com ecos de Costa-Gavras, digna de um prêmio de roteiro. O ator Thierry de Peretti, realizador de "Les Apaches" (2013), recria a história real de uma investigação jornalística do "Libération" sobre a relação de autoridades de segurança pública francesa com o "vazamento" de quilos de maconha no país. Roschdy Zem interpreta um informante que se infiltrou num temido cartel mexicano. A montagem une ação, tensão e reviravoltas de tribunal com precisão de relojoeiro.

Roschdy Zem em "Enquête sur un scandale d'état" Foto: Estadão

Sobre "O Silêncio da Chuva"... Trata-se de um thriller com "T" maiúsculo, daqueles que comportam viradas na margem extrema da surpresa, roubando o fôlego onde se espera uma condução serena. É um filme feito por um realizador escolado, na TV e no cinemão, em muitas frentes dramáticas, da crônica geracional ("O Casal") ao painel histórico ("Tempos de Paz"), resvalando na paródia do western macaxeira ("O Cangaceiro Trapalhão"): o múltiplo Daniel Filho. Esse novo trabalho, estruturado em um diálogo com a prosa de Luiz Alfredo Garcia-Roza (1936-2020), demarca um movimento de fina renovação na obra desse campeão de bilheteria, no qual ele vem explorando as mitologias da violência urbana, como visto em seu exuberante "Boca de Ouro", lançado no ano passado.

Em ambos, vemos um mergulho em geografias cariocas alheias ao cartão-postal ensolarado da cidade, mediados pela fotografia de Felipe Reinheimer, menos interessada no calor, abrindo-se a sombras. Em "Silêncio da Chuva", adaptado do romance homônimo de Garcia-Roza laureado com o prêmio Jabuti em 1997, tem até um indício de chiaroscuro, num jogo bruxuleado de luz. Um jogo a partir do qual o filme se ancora na tradição do noir dos anos 1940 e 50, em especial "Capitou Sorrindo" ("The Glass Key", 1942), de Stuart Heisler; "Laura" (1944), de Otto Preminger; e "A Morte Num Beijo" ("Kiss Me Deadly"), de Robert Aldrich, sendo este a referência mais próxima de Daniel, em seus enquadramentos sem exibicionismos. Esses quatro policiais históricos são narrativas sobre o desejo, assunto central de "Boca de Ouro" e da revisão audiovisual da literatura de Garcia-Roza, relida numa triagem de perversões pelo roteirista Lusa Silvestre (de "Estômago"). O roteiro é assinado por ele, com a colaboração de Renata Correa, Ana Maria Moretzsohn e Pedro Barbalho, lapidando algo do qual aquela deformação sociológica falada lá no início deste papo sempre desdenha: o heroísmo. Pilar da engenharia de muitos gêneros, especiais aqueles ligados à ação e à investigação (desde "Édipo Rei", a peça), a figura do herói encontra corpo e (sobretudo) alma no Espinosa de Lázaro Ramos, o achado deste trabalho de Daniel Filho. Ou, melhor, um dos achados, pois o que Thalita Carauta faz, no papel da tira Daia, é pra aplaudir com ardor.

p.s.: San Sebastián termina neste sábado. Que não faltem prêmios para o longa de horror espanhol "La Abuela", do mestre ibérico do filão, Paco Plaza. O desempenho da atriz Almudena Amor (uma jovem titã da atuação) no papel de uma modelo às voltas com a decrepitude da saúde física e mental de sua avó lembra "Possessão" (1981), com Isabelle Adjani. É um diálogo primoroso com os códigos do horror, numa garantia de calafrios.

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