Contando anedotas ("um dia o Schwarzenegger veio dizer que eu tenho sotaque falando... logo ele") e disparando frases motivacionais ("você nunca pode baixar a guarda e deixar de socar os desafios"), Stallone foi tratado por Cannes, na conversa conduzida pelo crítico Didier Allouch, como um multiartista de verve autoral. De fato, desde 1978, quando filmou "A Taverna do Inferno", ele dirige, roteiriza e produz. "Eu já fiz muito filme ruim, na entressafra entre projetos grandes que os estúdios armavam pra gente com muita antecedência. Às vezes, a minha filha mais nova vê algo ruim que fiz na TV e me sacaneia: 'Pai, como você emabracou numa m... dessas'. E eu digo: 'Bom, eu precisava pagar seus estudos, né?".
No novo "Rambo", dirigido por Adrian Grunberg, ele vai combater traficantes de um cartel do México, para salvar sua sobrinha em perigo. "Embora tenha essa pequenina fazenda no interior dos EUA, ele vive em um esconderijo subterrâneo, parecido com os buracos em que precisou se esconder no Vietnã. É um homem com uma alma sombria", antecipou Stallone, garantindo que depois de "Creed II" não vai fazer um novo filme da série Rocky Balboa. "Meus planos iniciais, nos anos 1970, quando filmamos 'Rocky, um lutador', em 29 dias, em 1976, era parar a série no terceiro filme. Mas havia mais coisa a ser contada. Quero parar agora. Tive até uma boa ideia, de fazer Rocky treinar um refugiado que quer ser pugilista. Mas não vai rolar".
referenceEm meio a uma chuva, o ex-combatente, hoje radicado no rancho de sua família, tenta salvar pessoas de uma inundação, em meio a uma tempestade, mas falha. Não é a idade que trava sua eficiência, mas sim o clima e o relevo. A paisagem é bem diferente das selvas da Ásia onde ele inscreveu sua coragem na pedra da imolação. Falhar agora parece ser um verbo inerente à sua rotina, afinal, já há sete primaveras em seu corpo... ou melhor, sete outonos, pois nada mais parece florescer na alma de Rambo, fora uma sobrinha amada, a estudante Gabrielle (Yvette Monreal). Com ela há um vínculo que mantém pulsante o resto de coração naquele corpanzil animado pelo carisma grisalho de Sylvester Stallone. "Last blood", o novo "Rambo", preparou sua estreia a partir da passagem pelo ator no Festival de Cannes de 2019, em maio, a fim de alcançar circuitos globais em 19 de setembro. E esse alcance contou com a mais requintada operação de mídia da carreira do astro em anos. Numa era dominada por super-heróis, num ano onde um único filme de ação à moda antiga (o já citado "Invasão ao Serviço Secreto", com Gerard Butler) dominava as salas de projeção, às vésperas da volta de Rambo, Stallone ofereceu às plateias o ocaso do heroísmo OMAC (One Man Army Combat), o Exército de um Homem Só.