De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Rita Azevedo Gomes desafia ranços medievais nos maiores festivais da Europa


Por Rodrigo Fonseca
Ecos da Idade Média dão um tom histórico ao longa "Danses macabres, squelettes et autres fantaisies", em concurso na seleção oficial do Festival de Marselha  Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Prestes a celebrar seus 30 anos de investigação sobre o Real, com um pacotão de 125 filmes de 35 anos, o Marseille International Documentary Festival, agendado de 9 a 15 de julho na França, vai dar espaço a uma das provocantes autoras cinematográficas da língua portuguesa em atividade na Europa: a lisboeta Rita Azevedo Gomes. Aos 67 anos, a diretora do premiado "Correspondências" (2016) participa da competição oficial, na seção de títulos franceses, com"Danses macabres, squelettes et autres fantaisies", pilotado a quatro mãos com Pierre Léon e construído com base em investigações sobre a imagem da Morte na Idade Média. Vão ter dois longas-metragens brasileiros em concurso lá: "Tremor Iê", de Elena Meirelles e Lívia de Paiva, e "Fendas", de Carlos Segundo. A seleção é forte, com filmes de ficção nas franjas da estética documental e documentários de toada ficcional à flor da tela. Mas os holofotes que recaem sobre Rita estão ligados ao sucesso e o prestígio que a diretora alcançou no Festival de Berlim, em fevereiro, com uma radicalíssima (na forma e nas metáforas políticas) produção, em tom de fábula, vinda de Lisboa, exibida na mostra paralela Fórum: "A Portuguesa". Foi um longa que tomou a 69ª Berlinale de assalto com sua reflexão sobre a magnitude feminina (pelas vias da sagacidade) e sua poética pacifista.

Revelada em 1990 com "O som da Terra a tremer", Rita dirigiu esta viagem à Idade Média inspirada pelo desejo de entender a universalidade de conflitos ligados à fragilidade. Neste drama histórico, a cineasta parte de um diálogo com a literatura de Robert Musil (1880-1942) a fim de narrar a luta de uma jovem nobre para transformar um castelo em um lar, enquanto seu marido não se desgarra de seus compromissos com uma guerra nos confins do mundo. Na entrevista a seguir, ao Estadão, em solo alemão, Rita faz uma digressão sobre o tempo das narrativas.

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"A portuguesa" foi um dos acontecimentos da Berlinale, arrebatando críticos com sua narrativa silenciosa, cheia de planos-sequência, com poucos diálogos. O que está dito nesse silêncio acerca da moral lusa?Rita Azevedo Gomes: O silêncio que está impresso é o silêncio do Tempo. É o silêncio de toda a introspecção de uma mulher que busca entender o mundo à sua volta, falando o mínimo de si. Até os ruídos de batalhas eu diminuí. Há guerra. Mas o conflito que eu quero entender é o da portuguesa. E ela não vai contar o que se passa dentro de si. Precisamos nos aproximar dela para entender. 

E o quanto dessa introspecção, que se espalha também por "Danses macabres, squelettes et autres fantaisies", alinha-se com os debates sobre empoderamento feminino dos novos tempos?Rita Azevedo Gomes: Fala-se hoje de mulheres fortes. A força que me interessa é outra. É a força que existe na fragilidade. Minha protagonista é uma mulher frágil. E é nessa condição que reside sua potência.

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Que Idade Média você busca recriar nesses filmes? Rita Azevedo Gomes: Aquela que fuja dos Romeus e Julietas. A imagem que temos do período medieval é de peste, de inquisição, de guerras religiosas. Temos pinturas que nos sugerem o que aquele tempo pode ter sido. Pinturas que ainda não carregam em si a dimensão teatral que as artes plásticas ganharão com a Renascença. O que eu tento é olhar para as figuras que tenho como se fossem pessoas de sempre, pessoas de hoje com roupas de ontem.

Seria uma forma de projetar o real de hoje no passado histórico?Rita Azevedo Gomes:Real é aquilo que eu toco. É uma mão que afago. É uma pedra que taco. Realidade é algo distinto. E é algo complexo. A realidade da História é eu estar na capital alemã e passar por um lugar por onde o Muro de Berlim passava e ainda me chocar que o alumbramento dessa percepção, mesmo sabendo o que o Muro foi e sabendo que ele caiu.

Ecos da Idade Média dão um tom histórico ao longa "Danses macabres, squelettes et autres fantaisies", em concurso na seleção oficial do Festival de Marselha  Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Prestes a celebrar seus 30 anos de investigação sobre o Real, com um pacotão de 125 filmes de 35 anos, o Marseille International Documentary Festival, agendado de 9 a 15 de julho na França, vai dar espaço a uma das provocantes autoras cinematográficas da língua portuguesa em atividade na Europa: a lisboeta Rita Azevedo Gomes. Aos 67 anos, a diretora do premiado "Correspondências" (2016) participa da competição oficial, na seção de títulos franceses, com"Danses macabres, squelettes et autres fantaisies", pilotado a quatro mãos com Pierre Léon e construído com base em investigações sobre a imagem da Morte na Idade Média. Vão ter dois longas-metragens brasileiros em concurso lá: "Tremor Iê", de Elena Meirelles e Lívia de Paiva, e "Fendas", de Carlos Segundo. A seleção é forte, com filmes de ficção nas franjas da estética documental e documentários de toada ficcional à flor da tela. Mas os holofotes que recaem sobre Rita estão ligados ao sucesso e o prestígio que a diretora alcançou no Festival de Berlim, em fevereiro, com uma radicalíssima (na forma e nas metáforas políticas) produção, em tom de fábula, vinda de Lisboa, exibida na mostra paralela Fórum: "A Portuguesa". Foi um longa que tomou a 69ª Berlinale de assalto com sua reflexão sobre a magnitude feminina (pelas vias da sagacidade) e sua poética pacifista.

Revelada em 1990 com "O som da Terra a tremer", Rita dirigiu esta viagem à Idade Média inspirada pelo desejo de entender a universalidade de conflitos ligados à fragilidade. Neste drama histórico, a cineasta parte de um diálogo com a literatura de Robert Musil (1880-1942) a fim de narrar a luta de uma jovem nobre para transformar um castelo em um lar, enquanto seu marido não se desgarra de seus compromissos com uma guerra nos confins do mundo. Na entrevista a seguir, ao Estadão, em solo alemão, Rita faz uma digressão sobre o tempo das narrativas.

"A portuguesa" foi um dos acontecimentos da Berlinale, arrebatando críticos com sua narrativa silenciosa, cheia de planos-sequência, com poucos diálogos. O que está dito nesse silêncio acerca da moral lusa?Rita Azevedo Gomes: O silêncio que está impresso é o silêncio do Tempo. É o silêncio de toda a introspecção de uma mulher que busca entender o mundo à sua volta, falando o mínimo de si. Até os ruídos de batalhas eu diminuí. Há guerra. Mas o conflito que eu quero entender é o da portuguesa. E ela não vai contar o que se passa dentro de si. Precisamos nos aproximar dela para entender. 

E o quanto dessa introspecção, que se espalha também por "Danses macabres, squelettes et autres fantaisies", alinha-se com os debates sobre empoderamento feminino dos novos tempos?Rita Azevedo Gomes: Fala-se hoje de mulheres fortes. A força que me interessa é outra. É a força que existe na fragilidade. Minha protagonista é uma mulher frágil. E é nessa condição que reside sua potência.

Que Idade Média você busca recriar nesses filmes? Rita Azevedo Gomes: Aquela que fuja dos Romeus e Julietas. A imagem que temos do período medieval é de peste, de inquisição, de guerras religiosas. Temos pinturas que nos sugerem o que aquele tempo pode ter sido. Pinturas que ainda não carregam em si a dimensão teatral que as artes plásticas ganharão com a Renascença. O que eu tento é olhar para as figuras que tenho como se fossem pessoas de sempre, pessoas de hoje com roupas de ontem.

Seria uma forma de projetar o real de hoje no passado histórico?Rita Azevedo Gomes:Real é aquilo que eu toco. É uma mão que afago. É uma pedra que taco. Realidade é algo distinto. E é algo complexo. A realidade da História é eu estar na capital alemã e passar por um lugar por onde o Muro de Berlim passava e ainda me chocar que o alumbramento dessa percepção, mesmo sabendo o que o Muro foi e sabendo que ele caiu.

Ecos da Idade Média dão um tom histórico ao longa "Danses macabres, squelettes et autres fantaisies", em concurso na seleção oficial do Festival de Marselha  Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Prestes a celebrar seus 30 anos de investigação sobre o Real, com um pacotão de 125 filmes de 35 anos, o Marseille International Documentary Festival, agendado de 9 a 15 de julho na França, vai dar espaço a uma das provocantes autoras cinematográficas da língua portuguesa em atividade na Europa: a lisboeta Rita Azevedo Gomes. Aos 67 anos, a diretora do premiado "Correspondências" (2016) participa da competição oficial, na seção de títulos franceses, com"Danses macabres, squelettes et autres fantaisies", pilotado a quatro mãos com Pierre Léon e construído com base em investigações sobre a imagem da Morte na Idade Média. Vão ter dois longas-metragens brasileiros em concurso lá: "Tremor Iê", de Elena Meirelles e Lívia de Paiva, e "Fendas", de Carlos Segundo. A seleção é forte, com filmes de ficção nas franjas da estética documental e documentários de toada ficcional à flor da tela. Mas os holofotes que recaem sobre Rita estão ligados ao sucesso e o prestígio que a diretora alcançou no Festival de Berlim, em fevereiro, com uma radicalíssima (na forma e nas metáforas políticas) produção, em tom de fábula, vinda de Lisboa, exibida na mostra paralela Fórum: "A Portuguesa". Foi um longa que tomou a 69ª Berlinale de assalto com sua reflexão sobre a magnitude feminina (pelas vias da sagacidade) e sua poética pacifista.

Revelada em 1990 com "O som da Terra a tremer", Rita dirigiu esta viagem à Idade Média inspirada pelo desejo de entender a universalidade de conflitos ligados à fragilidade. Neste drama histórico, a cineasta parte de um diálogo com a literatura de Robert Musil (1880-1942) a fim de narrar a luta de uma jovem nobre para transformar um castelo em um lar, enquanto seu marido não se desgarra de seus compromissos com uma guerra nos confins do mundo. Na entrevista a seguir, ao Estadão, em solo alemão, Rita faz uma digressão sobre o tempo das narrativas.

"A portuguesa" foi um dos acontecimentos da Berlinale, arrebatando críticos com sua narrativa silenciosa, cheia de planos-sequência, com poucos diálogos. O que está dito nesse silêncio acerca da moral lusa?Rita Azevedo Gomes: O silêncio que está impresso é o silêncio do Tempo. É o silêncio de toda a introspecção de uma mulher que busca entender o mundo à sua volta, falando o mínimo de si. Até os ruídos de batalhas eu diminuí. Há guerra. Mas o conflito que eu quero entender é o da portuguesa. E ela não vai contar o que se passa dentro de si. Precisamos nos aproximar dela para entender. 

E o quanto dessa introspecção, que se espalha também por "Danses macabres, squelettes et autres fantaisies", alinha-se com os debates sobre empoderamento feminino dos novos tempos?Rita Azevedo Gomes: Fala-se hoje de mulheres fortes. A força que me interessa é outra. É a força que existe na fragilidade. Minha protagonista é uma mulher frágil. E é nessa condição que reside sua potência.

Que Idade Média você busca recriar nesses filmes? Rita Azevedo Gomes: Aquela que fuja dos Romeus e Julietas. A imagem que temos do período medieval é de peste, de inquisição, de guerras religiosas. Temos pinturas que nos sugerem o que aquele tempo pode ter sido. Pinturas que ainda não carregam em si a dimensão teatral que as artes plásticas ganharão com a Renascença. O que eu tento é olhar para as figuras que tenho como se fossem pessoas de sempre, pessoas de hoje com roupas de ontem.

Seria uma forma de projetar o real de hoje no passado histórico?Rita Azevedo Gomes:Real é aquilo que eu toco. É uma mão que afago. É uma pedra que taco. Realidade é algo distinto. E é algo complexo. A realidade da História é eu estar na capital alemã e passar por um lugar por onde o Muro de Berlim passava e ainda me chocar que o alumbramento dessa percepção, mesmo sabendo o que o Muro foi e sabendo que ele caiu.

Ecos da Idade Média dão um tom histórico ao longa "Danses macabres, squelettes et autres fantaisies", em concurso na seleção oficial do Festival de Marselha  Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Prestes a celebrar seus 30 anos de investigação sobre o Real, com um pacotão de 125 filmes de 35 anos, o Marseille International Documentary Festival, agendado de 9 a 15 de julho na França, vai dar espaço a uma das provocantes autoras cinematográficas da língua portuguesa em atividade na Europa: a lisboeta Rita Azevedo Gomes. Aos 67 anos, a diretora do premiado "Correspondências" (2016) participa da competição oficial, na seção de títulos franceses, com"Danses macabres, squelettes et autres fantaisies", pilotado a quatro mãos com Pierre Léon e construído com base em investigações sobre a imagem da Morte na Idade Média. Vão ter dois longas-metragens brasileiros em concurso lá: "Tremor Iê", de Elena Meirelles e Lívia de Paiva, e "Fendas", de Carlos Segundo. A seleção é forte, com filmes de ficção nas franjas da estética documental e documentários de toada ficcional à flor da tela. Mas os holofotes que recaem sobre Rita estão ligados ao sucesso e o prestígio que a diretora alcançou no Festival de Berlim, em fevereiro, com uma radicalíssima (na forma e nas metáforas políticas) produção, em tom de fábula, vinda de Lisboa, exibida na mostra paralela Fórum: "A Portuguesa". Foi um longa que tomou a 69ª Berlinale de assalto com sua reflexão sobre a magnitude feminina (pelas vias da sagacidade) e sua poética pacifista.

Revelada em 1990 com "O som da Terra a tremer", Rita dirigiu esta viagem à Idade Média inspirada pelo desejo de entender a universalidade de conflitos ligados à fragilidade. Neste drama histórico, a cineasta parte de um diálogo com a literatura de Robert Musil (1880-1942) a fim de narrar a luta de uma jovem nobre para transformar um castelo em um lar, enquanto seu marido não se desgarra de seus compromissos com uma guerra nos confins do mundo. Na entrevista a seguir, ao Estadão, em solo alemão, Rita faz uma digressão sobre o tempo das narrativas.

"A portuguesa" foi um dos acontecimentos da Berlinale, arrebatando críticos com sua narrativa silenciosa, cheia de planos-sequência, com poucos diálogos. O que está dito nesse silêncio acerca da moral lusa?Rita Azevedo Gomes: O silêncio que está impresso é o silêncio do Tempo. É o silêncio de toda a introspecção de uma mulher que busca entender o mundo à sua volta, falando o mínimo de si. Até os ruídos de batalhas eu diminuí. Há guerra. Mas o conflito que eu quero entender é o da portuguesa. E ela não vai contar o que se passa dentro de si. Precisamos nos aproximar dela para entender. 

E o quanto dessa introspecção, que se espalha também por "Danses macabres, squelettes et autres fantaisies", alinha-se com os debates sobre empoderamento feminino dos novos tempos?Rita Azevedo Gomes: Fala-se hoje de mulheres fortes. A força que me interessa é outra. É a força que existe na fragilidade. Minha protagonista é uma mulher frágil. E é nessa condição que reside sua potência.

Que Idade Média você busca recriar nesses filmes? Rita Azevedo Gomes: Aquela que fuja dos Romeus e Julietas. A imagem que temos do período medieval é de peste, de inquisição, de guerras religiosas. Temos pinturas que nos sugerem o que aquele tempo pode ter sido. Pinturas que ainda não carregam em si a dimensão teatral que as artes plásticas ganharão com a Renascença. O que eu tento é olhar para as figuras que tenho como se fossem pessoas de sempre, pessoas de hoje com roupas de ontem.

Seria uma forma de projetar o real de hoje no passado histórico?Rita Azevedo Gomes:Real é aquilo que eu toco. É uma mão que afago. É uma pedra que taco. Realidade é algo distinto. E é algo complexo. A realidade da História é eu estar na capital alemã e passar por um lugar por onde o Muro de Berlim passava e ainda me chocar que o alumbramento dessa percepção, mesmo sabendo o que o Muro foi e sabendo que ele caiu.

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