De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'Sinkhole': uma Coreia que carece de telas


Por Rodrigo Fonseca

RODRIGO FONSECA Exercícios de ousadia como o angolano "Nossa Senhora da Loja do Chinês", o russo "Fairytale" e o polonês "Love Dog" elevam a potência da curadoria de Giona A. Nazzaro no 75º Festival de Locarno, que revelou muitas novas trincheiras estéticas, mas abriu espaço para um debate sobre a ausência dos principais acertos de sua seleção de 2021 nos circuitos exibidores fora da Suíça, entre eles "Sinkhole" ("Sing-keu-hol"). No ano passado, Kim Ji-hoon, da Coreia do Sul, foi o primeiro cineasta internacional a se firmar nas telas do evento suíço. Orçado em US$ 12 milhões, seu divertidíssimo filme, que não estreou ainda no Brasil, é uma mistura de chanchada com filme catástrofe. Em sua primeira meia hora, acompanhamos as confusões de um casal de classe média que se muda para um apartamento requintado, comprado a duras penas. Os dois se divertem (e alegram a gente também) com suas inabilidades diante de uma nova realidade econômica e com um faz-tudo bicão do prédio. Tudo parece uma boa comédia com Leandro Hassum até que uma chuva danifica as estruturas do prédio e tudo desmorona, terra abaixo, com o concreto se esburacando até se assemelhar a um ralo. Aí, o público é dragado para uma vertigem. "Gostamos muito de cinema na Coreia e consumimos muito o audiovisual em salas. Eu venho de um país muito cinéfilo, onde a gente consome filmes sem parar. Na Coreia do Sul, a cada dez minutos que você andar, vai encontrar uma sala de cinema nas ruas. E eles todos têm público, incluindo as salas que se dedicam à produção local. Isso gera um estímulo sem precedentes para a formação de novas plateias, levando o público a uma cinefilia que exige dos diretores requinte e invenção", diz Ji-hoon ao Estadão, num papo cheio de bom humor, começando pela frase "Eu nunca tinha visto um brasileiro de perto antes" e mais uma série de tiradas excêntricas, onde a alteridade é conduzida com gentileza. "Bollywood se orgulha em produzir muito. Hollywood mais ainda. Mas também filmamos um bocado e temos contato com as tradições. E estamos atraindo a atenção do cinema, à nossa maneira".

O diretor Kim Ji-hoon Foto: Estadão
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Já na construção do roteiro, Ji-hoon trata com reverência os filmes sobre desastres, como "Inferno na Torre" (1974), tirando deles a vocação melodramática de abordar conflitos amorosos em meio a tragédias naturais. Locarno ficou sem fôlego na sequência do desabamento, que é seguida por uma série de obstáculos para os personagens, com inundações, com risco de soterramento. Acerca das descobertas de Locarno deste ano, muito se fala (para o bem e para o mal) de "Paradise Highway", de Anna Gutto. Nele, Juliette Binoche transcende mesmo as mais estilizadas personagens de sua carreira, ao encarnar uma caminhoneira calejada pela dor. A estrela deixa seu francês parisiense de berço de lado, e atua em Inglês, vivendo Sally, motorista que aceita conduzir cargas ilegais para ajudar seu irmão, o presidiário Dennis (Frank Grillo, em impecável atuação). Uma dessas cargas é uma menina, Leila (Hala Finley), que será negociada num esquema de tráfico sexual. Morgan Freeman integra o elenco, vivendo um consultor do FBI.

"Tengo Sueños Eléctricos" Foto: Estadão
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Abrilhantada por uma ousada presença brasileira, com "Regra 34", de Julia Murat, a disputa pelo Leopardo de Ouro de 2022, encontrou seu filme mais terno (e mais exuberante) na Costa Rica: "Tengo Sueños Eléctricos", de Valentina Maurel. Sua trama se concentra na reestruturação afetiva de uma família, após uma separação, com foco no processo de amadurecimento de uma adolescente criada num ambiente artístico. Eva (Daniela Marín Navarro) e seu gato são amigos inseparáveis que passam por problemas depois que a mãe decide expulsar o felino de seu lar. A saída par a menina é viver com o pai: um tradutor e aspirante a poeta (Reinaldo Amien Gutiérrez) que não parece muito disposto a crescer, mas ama a filha sobre todas as coisas. A fotografia de Nicolás Wong Diaz é um assombro, em sua habilidade de dialogar com códigos do realismo. Locarno chega ao fim neste sábado.

RODRIGO FONSECA Exercícios de ousadia como o angolano "Nossa Senhora da Loja do Chinês", o russo "Fairytale" e o polonês "Love Dog" elevam a potência da curadoria de Giona A. Nazzaro no 75º Festival de Locarno, que revelou muitas novas trincheiras estéticas, mas abriu espaço para um debate sobre a ausência dos principais acertos de sua seleção de 2021 nos circuitos exibidores fora da Suíça, entre eles "Sinkhole" ("Sing-keu-hol"). No ano passado, Kim Ji-hoon, da Coreia do Sul, foi o primeiro cineasta internacional a se firmar nas telas do evento suíço. Orçado em US$ 12 milhões, seu divertidíssimo filme, que não estreou ainda no Brasil, é uma mistura de chanchada com filme catástrofe. Em sua primeira meia hora, acompanhamos as confusões de um casal de classe média que se muda para um apartamento requintado, comprado a duras penas. Os dois se divertem (e alegram a gente também) com suas inabilidades diante de uma nova realidade econômica e com um faz-tudo bicão do prédio. Tudo parece uma boa comédia com Leandro Hassum até que uma chuva danifica as estruturas do prédio e tudo desmorona, terra abaixo, com o concreto se esburacando até se assemelhar a um ralo. Aí, o público é dragado para uma vertigem. "Gostamos muito de cinema na Coreia e consumimos muito o audiovisual em salas. Eu venho de um país muito cinéfilo, onde a gente consome filmes sem parar. Na Coreia do Sul, a cada dez minutos que você andar, vai encontrar uma sala de cinema nas ruas. E eles todos têm público, incluindo as salas que se dedicam à produção local. Isso gera um estímulo sem precedentes para a formação de novas plateias, levando o público a uma cinefilia que exige dos diretores requinte e invenção", diz Ji-hoon ao Estadão, num papo cheio de bom humor, começando pela frase "Eu nunca tinha visto um brasileiro de perto antes" e mais uma série de tiradas excêntricas, onde a alteridade é conduzida com gentileza. "Bollywood se orgulha em produzir muito. Hollywood mais ainda. Mas também filmamos um bocado e temos contato com as tradições. E estamos atraindo a atenção do cinema, à nossa maneira".

O diretor Kim Ji-hoon Foto: Estadão

Já na construção do roteiro, Ji-hoon trata com reverência os filmes sobre desastres, como "Inferno na Torre" (1974), tirando deles a vocação melodramática de abordar conflitos amorosos em meio a tragédias naturais. Locarno ficou sem fôlego na sequência do desabamento, que é seguida por uma série de obstáculos para os personagens, com inundações, com risco de soterramento. Acerca das descobertas de Locarno deste ano, muito se fala (para o bem e para o mal) de "Paradise Highway", de Anna Gutto. Nele, Juliette Binoche transcende mesmo as mais estilizadas personagens de sua carreira, ao encarnar uma caminhoneira calejada pela dor. A estrela deixa seu francês parisiense de berço de lado, e atua em Inglês, vivendo Sally, motorista que aceita conduzir cargas ilegais para ajudar seu irmão, o presidiário Dennis (Frank Grillo, em impecável atuação). Uma dessas cargas é uma menina, Leila (Hala Finley), que será negociada num esquema de tráfico sexual. Morgan Freeman integra o elenco, vivendo um consultor do FBI.

"Tengo Sueños Eléctricos" Foto: Estadão

Abrilhantada por uma ousada presença brasileira, com "Regra 34", de Julia Murat, a disputa pelo Leopardo de Ouro de 2022, encontrou seu filme mais terno (e mais exuberante) na Costa Rica: "Tengo Sueños Eléctricos", de Valentina Maurel. Sua trama se concentra na reestruturação afetiva de uma família, após uma separação, com foco no processo de amadurecimento de uma adolescente criada num ambiente artístico. Eva (Daniela Marín Navarro) e seu gato são amigos inseparáveis que passam por problemas depois que a mãe decide expulsar o felino de seu lar. A saída par a menina é viver com o pai: um tradutor e aspirante a poeta (Reinaldo Amien Gutiérrez) que não parece muito disposto a crescer, mas ama a filha sobre todas as coisas. A fotografia de Nicolás Wong Diaz é um assombro, em sua habilidade de dialogar com códigos do realismo. Locarno chega ao fim neste sábado.

RODRIGO FONSECA Exercícios de ousadia como o angolano "Nossa Senhora da Loja do Chinês", o russo "Fairytale" e o polonês "Love Dog" elevam a potência da curadoria de Giona A. Nazzaro no 75º Festival de Locarno, que revelou muitas novas trincheiras estéticas, mas abriu espaço para um debate sobre a ausência dos principais acertos de sua seleção de 2021 nos circuitos exibidores fora da Suíça, entre eles "Sinkhole" ("Sing-keu-hol"). No ano passado, Kim Ji-hoon, da Coreia do Sul, foi o primeiro cineasta internacional a se firmar nas telas do evento suíço. Orçado em US$ 12 milhões, seu divertidíssimo filme, que não estreou ainda no Brasil, é uma mistura de chanchada com filme catástrofe. Em sua primeira meia hora, acompanhamos as confusões de um casal de classe média que se muda para um apartamento requintado, comprado a duras penas. Os dois se divertem (e alegram a gente também) com suas inabilidades diante de uma nova realidade econômica e com um faz-tudo bicão do prédio. Tudo parece uma boa comédia com Leandro Hassum até que uma chuva danifica as estruturas do prédio e tudo desmorona, terra abaixo, com o concreto se esburacando até se assemelhar a um ralo. Aí, o público é dragado para uma vertigem. "Gostamos muito de cinema na Coreia e consumimos muito o audiovisual em salas. Eu venho de um país muito cinéfilo, onde a gente consome filmes sem parar. Na Coreia do Sul, a cada dez minutos que você andar, vai encontrar uma sala de cinema nas ruas. E eles todos têm público, incluindo as salas que se dedicam à produção local. Isso gera um estímulo sem precedentes para a formação de novas plateias, levando o público a uma cinefilia que exige dos diretores requinte e invenção", diz Ji-hoon ao Estadão, num papo cheio de bom humor, começando pela frase "Eu nunca tinha visto um brasileiro de perto antes" e mais uma série de tiradas excêntricas, onde a alteridade é conduzida com gentileza. "Bollywood se orgulha em produzir muito. Hollywood mais ainda. Mas também filmamos um bocado e temos contato com as tradições. E estamos atraindo a atenção do cinema, à nossa maneira".

O diretor Kim Ji-hoon Foto: Estadão

Já na construção do roteiro, Ji-hoon trata com reverência os filmes sobre desastres, como "Inferno na Torre" (1974), tirando deles a vocação melodramática de abordar conflitos amorosos em meio a tragédias naturais. Locarno ficou sem fôlego na sequência do desabamento, que é seguida por uma série de obstáculos para os personagens, com inundações, com risco de soterramento. Acerca das descobertas de Locarno deste ano, muito se fala (para o bem e para o mal) de "Paradise Highway", de Anna Gutto. Nele, Juliette Binoche transcende mesmo as mais estilizadas personagens de sua carreira, ao encarnar uma caminhoneira calejada pela dor. A estrela deixa seu francês parisiense de berço de lado, e atua em Inglês, vivendo Sally, motorista que aceita conduzir cargas ilegais para ajudar seu irmão, o presidiário Dennis (Frank Grillo, em impecável atuação). Uma dessas cargas é uma menina, Leila (Hala Finley), que será negociada num esquema de tráfico sexual. Morgan Freeman integra o elenco, vivendo um consultor do FBI.

"Tengo Sueños Eléctricos" Foto: Estadão

Abrilhantada por uma ousada presença brasileira, com "Regra 34", de Julia Murat, a disputa pelo Leopardo de Ouro de 2022, encontrou seu filme mais terno (e mais exuberante) na Costa Rica: "Tengo Sueños Eléctricos", de Valentina Maurel. Sua trama se concentra na reestruturação afetiva de uma família, após uma separação, com foco no processo de amadurecimento de uma adolescente criada num ambiente artístico. Eva (Daniela Marín Navarro) e seu gato são amigos inseparáveis que passam por problemas depois que a mãe decide expulsar o felino de seu lar. A saída par a menina é viver com o pai: um tradutor e aspirante a poeta (Reinaldo Amien Gutiérrez) que não parece muito disposto a crescer, mas ama a filha sobre todas as coisas. A fotografia de Nicolás Wong Diaz é um assombro, em sua habilidade de dialogar com códigos do realismo. Locarno chega ao fim neste sábado.

RODRIGO FONSECA Exercícios de ousadia como o angolano "Nossa Senhora da Loja do Chinês", o russo "Fairytale" e o polonês "Love Dog" elevam a potência da curadoria de Giona A. Nazzaro no 75º Festival de Locarno, que revelou muitas novas trincheiras estéticas, mas abriu espaço para um debate sobre a ausência dos principais acertos de sua seleção de 2021 nos circuitos exibidores fora da Suíça, entre eles "Sinkhole" ("Sing-keu-hol"). No ano passado, Kim Ji-hoon, da Coreia do Sul, foi o primeiro cineasta internacional a se firmar nas telas do evento suíço. Orçado em US$ 12 milhões, seu divertidíssimo filme, que não estreou ainda no Brasil, é uma mistura de chanchada com filme catástrofe. Em sua primeira meia hora, acompanhamos as confusões de um casal de classe média que se muda para um apartamento requintado, comprado a duras penas. Os dois se divertem (e alegram a gente também) com suas inabilidades diante de uma nova realidade econômica e com um faz-tudo bicão do prédio. Tudo parece uma boa comédia com Leandro Hassum até que uma chuva danifica as estruturas do prédio e tudo desmorona, terra abaixo, com o concreto se esburacando até se assemelhar a um ralo. Aí, o público é dragado para uma vertigem. "Gostamos muito de cinema na Coreia e consumimos muito o audiovisual em salas. Eu venho de um país muito cinéfilo, onde a gente consome filmes sem parar. Na Coreia do Sul, a cada dez minutos que você andar, vai encontrar uma sala de cinema nas ruas. E eles todos têm público, incluindo as salas que se dedicam à produção local. Isso gera um estímulo sem precedentes para a formação de novas plateias, levando o público a uma cinefilia que exige dos diretores requinte e invenção", diz Ji-hoon ao Estadão, num papo cheio de bom humor, começando pela frase "Eu nunca tinha visto um brasileiro de perto antes" e mais uma série de tiradas excêntricas, onde a alteridade é conduzida com gentileza. "Bollywood se orgulha em produzir muito. Hollywood mais ainda. Mas também filmamos um bocado e temos contato com as tradições. E estamos atraindo a atenção do cinema, à nossa maneira".

O diretor Kim Ji-hoon Foto: Estadão

Já na construção do roteiro, Ji-hoon trata com reverência os filmes sobre desastres, como "Inferno na Torre" (1974), tirando deles a vocação melodramática de abordar conflitos amorosos em meio a tragédias naturais. Locarno ficou sem fôlego na sequência do desabamento, que é seguida por uma série de obstáculos para os personagens, com inundações, com risco de soterramento. Acerca das descobertas de Locarno deste ano, muito se fala (para o bem e para o mal) de "Paradise Highway", de Anna Gutto. Nele, Juliette Binoche transcende mesmo as mais estilizadas personagens de sua carreira, ao encarnar uma caminhoneira calejada pela dor. A estrela deixa seu francês parisiense de berço de lado, e atua em Inglês, vivendo Sally, motorista que aceita conduzir cargas ilegais para ajudar seu irmão, o presidiário Dennis (Frank Grillo, em impecável atuação). Uma dessas cargas é uma menina, Leila (Hala Finley), que será negociada num esquema de tráfico sexual. Morgan Freeman integra o elenco, vivendo um consultor do FBI.

"Tengo Sueños Eléctricos" Foto: Estadão

Abrilhantada por uma ousada presença brasileira, com "Regra 34", de Julia Murat, a disputa pelo Leopardo de Ouro de 2022, encontrou seu filme mais terno (e mais exuberante) na Costa Rica: "Tengo Sueños Eléctricos", de Valentina Maurel. Sua trama se concentra na reestruturação afetiva de uma família, após uma separação, com foco no processo de amadurecimento de uma adolescente criada num ambiente artístico. Eva (Daniela Marín Navarro) e seu gato são amigos inseparáveis que passam por problemas depois que a mãe decide expulsar o felino de seu lar. A saída par a menina é viver com o pai: um tradutor e aspirante a poeta (Reinaldo Amien Gutiérrez) que não parece muito disposto a crescer, mas ama a filha sobre todas as coisas. A fotografia de Nicolás Wong Diaz é um assombro, em sua habilidade de dialogar com códigos do realismo. Locarno chega ao fim neste sábado.

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