Paródia da crítica e de tramas policiais


Em A Verdadeira Vida de Sebastian Knight, que ganha nova edição, Vladimir Nabokov consolida modelo de romances posteriores

Por Vinicius Jatobá

A Verdadeira Vida de Sebastian Knight (1941), de Vladimir Nabokov, representou um duplo batismo. Em primeiro lugar, foi o primeiro romance escrito em inglês por um reconhecido mestre da língua russa, que se tornou três décadas depois um consagrado mestre da língua inglesa. O romance também representou a possibilidade de fuga de Nabokov para a América - o que lhe deu uma nova vida, uma vez que o antissemitismo estava tomando conta de Paris, lugar onde vivia anteriormente -, e um cartão de visitas que lhe abriu portas em universidades e revistas. O livro, por sinal, trata também de renascimento - narrado por um biógrafo literário, o Sr. V, ele tenta resgatar a verdadeira vida de seu meio-irmão, Sebastian Knight, que vê mal digerida pela mente limitada de seu ex-secretário particular, Mr. Goodman, autor de A Tragédia de Sebastian Knight.A obra de Nabokov é ao mesmo tempo paródia de crítica literária acadêmica (esse gênero narrativo sisudo) e de romances policiais (V é um grotesco concentrado do melhor da literatura investigativa). Enquanto V avança desvendando os verdadeiros objetos, lugares e pessoas aos quais seu meio-irmão alude em poemas e romances, ele acaba por se tornar, aos poucos, Sebastian Knight. Começa a especular como ele especularia; a se comportar como ele se comportaria; e, por fim, a amar como ele, ao se apaixonar pela misteriosa Nina.De certa forma, Sebastian Knight é o protótipo de todos os romances posteriores de Nabokov. Nele estão sinalizadas as futuras obsessões literárias do autor: o narrador culto, letrado e bem viajado que se encontra em estado de confusão por não mais conseguir, de repente, interagir adequadamente com o mundo ao seu redor; a provocação que a inocência brinda a maturidade, fazendo com que ela se constranja e se movimente; a matemática existencial do puzzle, do jogo, da regra, que faz com que o narrador tenha que se desdobrar entre os limites que ele mesmo, muitas vezes, se autoimpõe (como, por exemplo, a tristeza com que Humbert Humbert constata ser Lolita sua amante decadente conforme ela envelhece diante de seus olhos). Em 1962, Nabokov publicaria Fogo Pálido, a obra-prima daquilo que poderia se chamar de romance pós-moderno. É curioso como o grande escritor é um animal peculiar: Fogo Pálido, a história de um professor universitário que decifra a vida de um escritor por meio de seus versos, é Sebastian Knight reescrito, da mesma forma que Lolita (reimaginação de Machenka, a primeiríssima novela de Nabokov, de 1926), foi retrabalhada em proporções épicas como Ada, em 1969.Nabokov sofre do mesmo problema crônico que aflige quase todos os grandes escritores do século passado; ao se afastar da trama dos romances de folhetim de Balzac e Dickens, e decompor todas as técnicas que lhes davam suporte, a geração modernista acabou se aprisionando em um território nebuloso: uma paixão encabulada pela peripécia, que se desdobra em um ritmo narrativo trôpego.Autores como o colombiano Gabriel García Márquez e o americano Saul Bellow, dois titãs das letras, são fantásticos fabuladores e seus livros têm tantas páginas quanto peripécias. O mesmo não se pode dizer de Nabokov. Uma resenha sobre suas obras sempre parece um ato de charlatanismo - seus livros podem ser facilmente descritos em um parágrafo. A experiência de leitura de Nabokov é uma experiência de linguagem: a prosa cinzelada, o ritmo preciso, a metáfora engenhosa. Mais universo que prateleira, o leitor que experimentar ao menos três de suas obras já sofrerá contágio suficiente para gravitar sua órbita descobrindo o prazer miúdo de uma prosa detalhista.VINICIUS JATOBÁ É CRÍTICO LITERÁRIO

A Verdadeira Vida de Sebastian Knight (1941), de Vladimir Nabokov, representou um duplo batismo. Em primeiro lugar, foi o primeiro romance escrito em inglês por um reconhecido mestre da língua russa, que se tornou três décadas depois um consagrado mestre da língua inglesa. O romance também representou a possibilidade de fuga de Nabokov para a América - o que lhe deu uma nova vida, uma vez que o antissemitismo estava tomando conta de Paris, lugar onde vivia anteriormente -, e um cartão de visitas que lhe abriu portas em universidades e revistas. O livro, por sinal, trata também de renascimento - narrado por um biógrafo literário, o Sr. V, ele tenta resgatar a verdadeira vida de seu meio-irmão, Sebastian Knight, que vê mal digerida pela mente limitada de seu ex-secretário particular, Mr. Goodman, autor de A Tragédia de Sebastian Knight.A obra de Nabokov é ao mesmo tempo paródia de crítica literária acadêmica (esse gênero narrativo sisudo) e de romances policiais (V é um grotesco concentrado do melhor da literatura investigativa). Enquanto V avança desvendando os verdadeiros objetos, lugares e pessoas aos quais seu meio-irmão alude em poemas e romances, ele acaba por se tornar, aos poucos, Sebastian Knight. Começa a especular como ele especularia; a se comportar como ele se comportaria; e, por fim, a amar como ele, ao se apaixonar pela misteriosa Nina.De certa forma, Sebastian Knight é o protótipo de todos os romances posteriores de Nabokov. Nele estão sinalizadas as futuras obsessões literárias do autor: o narrador culto, letrado e bem viajado que se encontra em estado de confusão por não mais conseguir, de repente, interagir adequadamente com o mundo ao seu redor; a provocação que a inocência brinda a maturidade, fazendo com que ela se constranja e se movimente; a matemática existencial do puzzle, do jogo, da regra, que faz com que o narrador tenha que se desdobrar entre os limites que ele mesmo, muitas vezes, se autoimpõe (como, por exemplo, a tristeza com que Humbert Humbert constata ser Lolita sua amante decadente conforme ela envelhece diante de seus olhos). Em 1962, Nabokov publicaria Fogo Pálido, a obra-prima daquilo que poderia se chamar de romance pós-moderno. É curioso como o grande escritor é um animal peculiar: Fogo Pálido, a história de um professor universitário que decifra a vida de um escritor por meio de seus versos, é Sebastian Knight reescrito, da mesma forma que Lolita (reimaginação de Machenka, a primeiríssima novela de Nabokov, de 1926), foi retrabalhada em proporções épicas como Ada, em 1969.Nabokov sofre do mesmo problema crônico que aflige quase todos os grandes escritores do século passado; ao se afastar da trama dos romances de folhetim de Balzac e Dickens, e decompor todas as técnicas que lhes davam suporte, a geração modernista acabou se aprisionando em um território nebuloso: uma paixão encabulada pela peripécia, que se desdobra em um ritmo narrativo trôpego.Autores como o colombiano Gabriel García Márquez e o americano Saul Bellow, dois titãs das letras, são fantásticos fabuladores e seus livros têm tantas páginas quanto peripécias. O mesmo não se pode dizer de Nabokov. Uma resenha sobre suas obras sempre parece um ato de charlatanismo - seus livros podem ser facilmente descritos em um parágrafo. A experiência de leitura de Nabokov é uma experiência de linguagem: a prosa cinzelada, o ritmo preciso, a metáfora engenhosa. Mais universo que prateleira, o leitor que experimentar ao menos três de suas obras já sofrerá contágio suficiente para gravitar sua órbita descobrindo o prazer miúdo de uma prosa detalhista.VINICIUS JATOBÁ É CRÍTICO LITERÁRIO

A Verdadeira Vida de Sebastian Knight (1941), de Vladimir Nabokov, representou um duplo batismo. Em primeiro lugar, foi o primeiro romance escrito em inglês por um reconhecido mestre da língua russa, que se tornou três décadas depois um consagrado mestre da língua inglesa. O romance também representou a possibilidade de fuga de Nabokov para a América - o que lhe deu uma nova vida, uma vez que o antissemitismo estava tomando conta de Paris, lugar onde vivia anteriormente -, e um cartão de visitas que lhe abriu portas em universidades e revistas. O livro, por sinal, trata também de renascimento - narrado por um biógrafo literário, o Sr. V, ele tenta resgatar a verdadeira vida de seu meio-irmão, Sebastian Knight, que vê mal digerida pela mente limitada de seu ex-secretário particular, Mr. Goodman, autor de A Tragédia de Sebastian Knight.A obra de Nabokov é ao mesmo tempo paródia de crítica literária acadêmica (esse gênero narrativo sisudo) e de romances policiais (V é um grotesco concentrado do melhor da literatura investigativa). Enquanto V avança desvendando os verdadeiros objetos, lugares e pessoas aos quais seu meio-irmão alude em poemas e romances, ele acaba por se tornar, aos poucos, Sebastian Knight. Começa a especular como ele especularia; a se comportar como ele se comportaria; e, por fim, a amar como ele, ao se apaixonar pela misteriosa Nina.De certa forma, Sebastian Knight é o protótipo de todos os romances posteriores de Nabokov. Nele estão sinalizadas as futuras obsessões literárias do autor: o narrador culto, letrado e bem viajado que se encontra em estado de confusão por não mais conseguir, de repente, interagir adequadamente com o mundo ao seu redor; a provocação que a inocência brinda a maturidade, fazendo com que ela se constranja e se movimente; a matemática existencial do puzzle, do jogo, da regra, que faz com que o narrador tenha que se desdobrar entre os limites que ele mesmo, muitas vezes, se autoimpõe (como, por exemplo, a tristeza com que Humbert Humbert constata ser Lolita sua amante decadente conforme ela envelhece diante de seus olhos). Em 1962, Nabokov publicaria Fogo Pálido, a obra-prima daquilo que poderia se chamar de romance pós-moderno. É curioso como o grande escritor é um animal peculiar: Fogo Pálido, a história de um professor universitário que decifra a vida de um escritor por meio de seus versos, é Sebastian Knight reescrito, da mesma forma que Lolita (reimaginação de Machenka, a primeiríssima novela de Nabokov, de 1926), foi retrabalhada em proporções épicas como Ada, em 1969.Nabokov sofre do mesmo problema crônico que aflige quase todos os grandes escritores do século passado; ao se afastar da trama dos romances de folhetim de Balzac e Dickens, e decompor todas as técnicas que lhes davam suporte, a geração modernista acabou se aprisionando em um território nebuloso: uma paixão encabulada pela peripécia, que se desdobra em um ritmo narrativo trôpego.Autores como o colombiano Gabriel García Márquez e o americano Saul Bellow, dois titãs das letras, são fantásticos fabuladores e seus livros têm tantas páginas quanto peripécias. O mesmo não se pode dizer de Nabokov. Uma resenha sobre suas obras sempre parece um ato de charlatanismo - seus livros podem ser facilmente descritos em um parágrafo. A experiência de leitura de Nabokov é uma experiência de linguagem: a prosa cinzelada, o ritmo preciso, a metáfora engenhosa. Mais universo que prateleira, o leitor que experimentar ao menos três de suas obras já sofrerá contágio suficiente para gravitar sua órbita descobrindo o prazer miúdo de uma prosa detalhista.VINICIUS JATOBÁ É CRÍTICO LITERÁRIO

A Verdadeira Vida de Sebastian Knight (1941), de Vladimir Nabokov, representou um duplo batismo. Em primeiro lugar, foi o primeiro romance escrito em inglês por um reconhecido mestre da língua russa, que se tornou três décadas depois um consagrado mestre da língua inglesa. O romance também representou a possibilidade de fuga de Nabokov para a América - o que lhe deu uma nova vida, uma vez que o antissemitismo estava tomando conta de Paris, lugar onde vivia anteriormente -, e um cartão de visitas que lhe abriu portas em universidades e revistas. O livro, por sinal, trata também de renascimento - narrado por um biógrafo literário, o Sr. V, ele tenta resgatar a verdadeira vida de seu meio-irmão, Sebastian Knight, que vê mal digerida pela mente limitada de seu ex-secretário particular, Mr. Goodman, autor de A Tragédia de Sebastian Knight.A obra de Nabokov é ao mesmo tempo paródia de crítica literária acadêmica (esse gênero narrativo sisudo) e de romances policiais (V é um grotesco concentrado do melhor da literatura investigativa). Enquanto V avança desvendando os verdadeiros objetos, lugares e pessoas aos quais seu meio-irmão alude em poemas e romances, ele acaba por se tornar, aos poucos, Sebastian Knight. Começa a especular como ele especularia; a se comportar como ele se comportaria; e, por fim, a amar como ele, ao se apaixonar pela misteriosa Nina.De certa forma, Sebastian Knight é o protótipo de todos os romances posteriores de Nabokov. Nele estão sinalizadas as futuras obsessões literárias do autor: o narrador culto, letrado e bem viajado que se encontra em estado de confusão por não mais conseguir, de repente, interagir adequadamente com o mundo ao seu redor; a provocação que a inocência brinda a maturidade, fazendo com que ela se constranja e se movimente; a matemática existencial do puzzle, do jogo, da regra, que faz com que o narrador tenha que se desdobrar entre os limites que ele mesmo, muitas vezes, se autoimpõe (como, por exemplo, a tristeza com que Humbert Humbert constata ser Lolita sua amante decadente conforme ela envelhece diante de seus olhos). Em 1962, Nabokov publicaria Fogo Pálido, a obra-prima daquilo que poderia se chamar de romance pós-moderno. É curioso como o grande escritor é um animal peculiar: Fogo Pálido, a história de um professor universitário que decifra a vida de um escritor por meio de seus versos, é Sebastian Knight reescrito, da mesma forma que Lolita (reimaginação de Machenka, a primeiríssima novela de Nabokov, de 1926), foi retrabalhada em proporções épicas como Ada, em 1969.Nabokov sofre do mesmo problema crônico que aflige quase todos os grandes escritores do século passado; ao se afastar da trama dos romances de folhetim de Balzac e Dickens, e decompor todas as técnicas que lhes davam suporte, a geração modernista acabou se aprisionando em um território nebuloso: uma paixão encabulada pela peripécia, que se desdobra em um ritmo narrativo trôpego.Autores como o colombiano Gabriel García Márquez e o americano Saul Bellow, dois titãs das letras, são fantásticos fabuladores e seus livros têm tantas páginas quanto peripécias. O mesmo não se pode dizer de Nabokov. Uma resenha sobre suas obras sempre parece um ato de charlatanismo - seus livros podem ser facilmente descritos em um parágrafo. A experiência de leitura de Nabokov é uma experiência de linguagem: a prosa cinzelada, o ritmo preciso, a metáfora engenhosa. Mais universo que prateleira, o leitor que experimentar ao menos três de suas obras já sofrerá contágio suficiente para gravitar sua órbita descobrindo o prazer miúdo de uma prosa detalhista.VINICIUS JATOBÁ É CRÍTICO LITERÁRIO

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