Peça 'Nem um dia se passa sem notícias suas': Longa viagem dentro da família


Crítica: 'A tessitura literária de Daniela Pereira de Carvalho deixa de lado acelerações do realismo psicológico, que seriam até compreensíveis, em favor da contenção''

Por Redação

A delicadeza de Nem Um Dia se Passa Sem Notícias Suas, de Daniela Pereira de Carvalho, certamente conquistaria Sérgio Porto (1926-1968). O jornalista e escritor, nacionalmente popular como o irreverente Stanislaw Ponte Preta, é também autor, usando o nome real, de A Casa Demolida, crônicas sem a preocupação de humor ou crítica. Descreve o sentimento de rever fotografias do lugar onde cresceu. Ao final, ele as rasga em tom de despedida: "Vou atirando os pedacinhos pela janela, como se lá na rua houvesse uma parada, mas onde apenas há o desfile da minha saudade. E os papeizinhos vão saindo a voejar pela janela deste apartamento de quinto andar, num prédio construído onde um dia foi a casa". Daniela nasceu depois de o livro ser escrito, em 1963, mas é íntima da nostalgia frequente em romances, poemas e memórias. Sua contribuição e marca autoral estão no entrecho complexo, sendo leve e no diálogo entre personagens que, um dia, viveram sob o mesmo teto dividindo emoções, ora amáveis, ora duras. Não por acaso, introduz como personagem mencionado o poeta Carlos Drummond de Andrade de A Família Que me Dei, Os Bens do Sangue, A Mesa. A peça vai por esses caminhos enquanto dois irmãos desmontam a casa paterna entre convergências, discordâncias, risos, segredos nem tão secretos, e algumas surpresas. No começo, uma sala vazia em desordem. Aos poucos, o passado desponta aqui e ali. Doces fantasmas em forma de objetos (o relógio antigo, uma coleção de discos) e o transbordar do que ficou mal resolvido porque a busca do tempo vivido, ganho ou perdido, cobra seu preço. Pequenos ou grandes confrontos (eis a matéria-prima milenar do teatro). Não há indicações temporais, mas traços de temperamento dos já se foram e de quem ficou. Em dado momento, a autora desdobra em duas a mesma família e o futuro se entrelaça com o passado por um fato grave. Acontecimento que nenhum riso compassivo pode consertar. Súbito, os irmãos são a repetição de pai e filho. Outra geração, a vida que continuou, embora algo tenha sido bruscamente interrompido. Um texto em semitons e claros-escuros sugere uma encenação em surdina que o diretor Gilberto Gawronski faz com a adesão completa de Edson Celulari, sólido na larga experiência, e Pedro Garcia Netto, um pouco agitado até achar um ritmo interno convincente. Eles executam um dueto de pequenos gestos e eloquentes subentendidos. Não há conflitos ou lamentos ruidosos (mas ali, entre paredes, aconteceu algo doloroso e irremediável). Seria interessante, talvez, se a cenografia fosse apenas livros, o relógio e a cortina de discos (LPs), com iluminação mais precisa e poética. A cena está atravancada e a luz, dispersa para duas interpretações densas neste bonito espetáculo que ecoa, sempre, versos de Drummond: "Este retrato de família/ está um tanto empoeirado./ Já não se vê o rosto do pai (...)/ Os meninos, como estão mudados (...)/ Percebo apenas a estranha ideia de família/ viajando dentro da carne". A tessitura literária de Daniela Pereira de Carvalho deixa de lado acelerações do realismo psicológico, que seriam até compreensíveis, em favor da contenção, o que faz de Nem Um Dia... um espetáculo de recatada saudade. Crítica: Jefferson Del Rios

A delicadeza de Nem Um Dia se Passa Sem Notícias Suas, de Daniela Pereira de Carvalho, certamente conquistaria Sérgio Porto (1926-1968). O jornalista e escritor, nacionalmente popular como o irreverente Stanislaw Ponte Preta, é também autor, usando o nome real, de A Casa Demolida, crônicas sem a preocupação de humor ou crítica. Descreve o sentimento de rever fotografias do lugar onde cresceu. Ao final, ele as rasga em tom de despedida: "Vou atirando os pedacinhos pela janela, como se lá na rua houvesse uma parada, mas onde apenas há o desfile da minha saudade. E os papeizinhos vão saindo a voejar pela janela deste apartamento de quinto andar, num prédio construído onde um dia foi a casa". Daniela nasceu depois de o livro ser escrito, em 1963, mas é íntima da nostalgia frequente em romances, poemas e memórias. Sua contribuição e marca autoral estão no entrecho complexo, sendo leve e no diálogo entre personagens que, um dia, viveram sob o mesmo teto dividindo emoções, ora amáveis, ora duras. Não por acaso, introduz como personagem mencionado o poeta Carlos Drummond de Andrade de A Família Que me Dei, Os Bens do Sangue, A Mesa. A peça vai por esses caminhos enquanto dois irmãos desmontam a casa paterna entre convergências, discordâncias, risos, segredos nem tão secretos, e algumas surpresas. No começo, uma sala vazia em desordem. Aos poucos, o passado desponta aqui e ali. Doces fantasmas em forma de objetos (o relógio antigo, uma coleção de discos) e o transbordar do que ficou mal resolvido porque a busca do tempo vivido, ganho ou perdido, cobra seu preço. Pequenos ou grandes confrontos (eis a matéria-prima milenar do teatro). Não há indicações temporais, mas traços de temperamento dos já se foram e de quem ficou. Em dado momento, a autora desdobra em duas a mesma família e o futuro se entrelaça com o passado por um fato grave. Acontecimento que nenhum riso compassivo pode consertar. Súbito, os irmãos são a repetição de pai e filho. Outra geração, a vida que continuou, embora algo tenha sido bruscamente interrompido. Um texto em semitons e claros-escuros sugere uma encenação em surdina que o diretor Gilberto Gawronski faz com a adesão completa de Edson Celulari, sólido na larga experiência, e Pedro Garcia Netto, um pouco agitado até achar um ritmo interno convincente. Eles executam um dueto de pequenos gestos e eloquentes subentendidos. Não há conflitos ou lamentos ruidosos (mas ali, entre paredes, aconteceu algo doloroso e irremediável). Seria interessante, talvez, se a cenografia fosse apenas livros, o relógio e a cortina de discos (LPs), com iluminação mais precisa e poética. A cena está atravancada e a luz, dispersa para duas interpretações densas neste bonito espetáculo que ecoa, sempre, versos de Drummond: "Este retrato de família/ está um tanto empoeirado./ Já não se vê o rosto do pai (...)/ Os meninos, como estão mudados (...)/ Percebo apenas a estranha ideia de família/ viajando dentro da carne". A tessitura literária de Daniela Pereira de Carvalho deixa de lado acelerações do realismo psicológico, que seriam até compreensíveis, em favor da contenção, o que faz de Nem Um Dia... um espetáculo de recatada saudade. Crítica: Jefferson Del Rios

A delicadeza de Nem Um Dia se Passa Sem Notícias Suas, de Daniela Pereira de Carvalho, certamente conquistaria Sérgio Porto (1926-1968). O jornalista e escritor, nacionalmente popular como o irreverente Stanislaw Ponte Preta, é também autor, usando o nome real, de A Casa Demolida, crônicas sem a preocupação de humor ou crítica. Descreve o sentimento de rever fotografias do lugar onde cresceu. Ao final, ele as rasga em tom de despedida: "Vou atirando os pedacinhos pela janela, como se lá na rua houvesse uma parada, mas onde apenas há o desfile da minha saudade. E os papeizinhos vão saindo a voejar pela janela deste apartamento de quinto andar, num prédio construído onde um dia foi a casa". Daniela nasceu depois de o livro ser escrito, em 1963, mas é íntima da nostalgia frequente em romances, poemas e memórias. Sua contribuição e marca autoral estão no entrecho complexo, sendo leve e no diálogo entre personagens que, um dia, viveram sob o mesmo teto dividindo emoções, ora amáveis, ora duras. Não por acaso, introduz como personagem mencionado o poeta Carlos Drummond de Andrade de A Família Que me Dei, Os Bens do Sangue, A Mesa. A peça vai por esses caminhos enquanto dois irmãos desmontam a casa paterna entre convergências, discordâncias, risos, segredos nem tão secretos, e algumas surpresas. No começo, uma sala vazia em desordem. Aos poucos, o passado desponta aqui e ali. Doces fantasmas em forma de objetos (o relógio antigo, uma coleção de discos) e o transbordar do que ficou mal resolvido porque a busca do tempo vivido, ganho ou perdido, cobra seu preço. Pequenos ou grandes confrontos (eis a matéria-prima milenar do teatro). Não há indicações temporais, mas traços de temperamento dos já se foram e de quem ficou. Em dado momento, a autora desdobra em duas a mesma família e o futuro se entrelaça com o passado por um fato grave. Acontecimento que nenhum riso compassivo pode consertar. Súbito, os irmãos são a repetição de pai e filho. Outra geração, a vida que continuou, embora algo tenha sido bruscamente interrompido. Um texto em semitons e claros-escuros sugere uma encenação em surdina que o diretor Gilberto Gawronski faz com a adesão completa de Edson Celulari, sólido na larga experiência, e Pedro Garcia Netto, um pouco agitado até achar um ritmo interno convincente. Eles executam um dueto de pequenos gestos e eloquentes subentendidos. Não há conflitos ou lamentos ruidosos (mas ali, entre paredes, aconteceu algo doloroso e irremediável). Seria interessante, talvez, se a cenografia fosse apenas livros, o relógio e a cortina de discos (LPs), com iluminação mais precisa e poética. A cena está atravancada e a luz, dispersa para duas interpretações densas neste bonito espetáculo que ecoa, sempre, versos de Drummond: "Este retrato de família/ está um tanto empoeirado./ Já não se vê o rosto do pai (...)/ Os meninos, como estão mudados (...)/ Percebo apenas a estranha ideia de família/ viajando dentro da carne". A tessitura literária de Daniela Pereira de Carvalho deixa de lado acelerações do realismo psicológico, que seriam até compreensíveis, em favor da contenção, o que faz de Nem Um Dia... um espetáculo de recatada saudade. Crítica: Jefferson Del Rios

A delicadeza de Nem Um Dia se Passa Sem Notícias Suas, de Daniela Pereira de Carvalho, certamente conquistaria Sérgio Porto (1926-1968). O jornalista e escritor, nacionalmente popular como o irreverente Stanislaw Ponte Preta, é também autor, usando o nome real, de A Casa Demolida, crônicas sem a preocupação de humor ou crítica. Descreve o sentimento de rever fotografias do lugar onde cresceu. Ao final, ele as rasga em tom de despedida: "Vou atirando os pedacinhos pela janela, como se lá na rua houvesse uma parada, mas onde apenas há o desfile da minha saudade. E os papeizinhos vão saindo a voejar pela janela deste apartamento de quinto andar, num prédio construído onde um dia foi a casa". Daniela nasceu depois de o livro ser escrito, em 1963, mas é íntima da nostalgia frequente em romances, poemas e memórias. Sua contribuição e marca autoral estão no entrecho complexo, sendo leve e no diálogo entre personagens que, um dia, viveram sob o mesmo teto dividindo emoções, ora amáveis, ora duras. Não por acaso, introduz como personagem mencionado o poeta Carlos Drummond de Andrade de A Família Que me Dei, Os Bens do Sangue, A Mesa. A peça vai por esses caminhos enquanto dois irmãos desmontam a casa paterna entre convergências, discordâncias, risos, segredos nem tão secretos, e algumas surpresas. No começo, uma sala vazia em desordem. Aos poucos, o passado desponta aqui e ali. Doces fantasmas em forma de objetos (o relógio antigo, uma coleção de discos) e o transbordar do que ficou mal resolvido porque a busca do tempo vivido, ganho ou perdido, cobra seu preço. Pequenos ou grandes confrontos (eis a matéria-prima milenar do teatro). Não há indicações temporais, mas traços de temperamento dos já se foram e de quem ficou. Em dado momento, a autora desdobra em duas a mesma família e o futuro se entrelaça com o passado por um fato grave. Acontecimento que nenhum riso compassivo pode consertar. Súbito, os irmãos são a repetição de pai e filho. Outra geração, a vida que continuou, embora algo tenha sido bruscamente interrompido. Um texto em semitons e claros-escuros sugere uma encenação em surdina que o diretor Gilberto Gawronski faz com a adesão completa de Edson Celulari, sólido na larga experiência, e Pedro Garcia Netto, um pouco agitado até achar um ritmo interno convincente. Eles executam um dueto de pequenos gestos e eloquentes subentendidos. Não há conflitos ou lamentos ruidosos (mas ali, entre paredes, aconteceu algo doloroso e irremediável). Seria interessante, talvez, se a cenografia fosse apenas livros, o relógio e a cortina de discos (LPs), com iluminação mais precisa e poética. A cena está atravancada e a luz, dispersa para duas interpretações densas neste bonito espetáculo que ecoa, sempre, versos de Drummond: "Este retrato de família/ está um tanto empoeirado./ Já não se vê o rosto do pai (...)/ Os meninos, como estão mudados (...)/ Percebo apenas a estranha ideia de família/ viajando dentro da carne". A tessitura literária de Daniela Pereira de Carvalho deixa de lado acelerações do realismo psicológico, que seriam até compreensíveis, em favor da contenção, o que faz de Nem Um Dia... um espetáculo de recatada saudade. Crítica: Jefferson Del Rios

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