Johnny Hooker recebeu, no palco do Rock in Rio, em outubro, Liniker e Almério. Cantaram Não Recomendado, uma canção de Caio Prado, sacada do disco de estreia do artista, chamado Variável Eloquente, de 2014.
A música coloca o dedo naquilo que dói, no preconceito.
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Naquele mesmo show, Liniker e Hooker trocaram um beijo. E a reação no mundo virtual, nas redes sociais, foi exatamente esse "caça às bruxas" antevisto Não Recomendado.
Prado não previu o futuro. Apenas olhou para a ferida social ainda aberta. Infelizmente, ainda exposta, embora exista quem prefira fingir que não.
Com Variável Eloquente, o artista mostrou uma capacidade ímpar de espelhar a sociedade sem maquiagem. É ela como é, como ele vê, como a sente.
Mera, a canção, Prado desnuda a importância da própria humanidade, tal qual ele mesmo, no clipe.
"Estamos aqui por falso acaso", canta ele na faixa, e segue: "Estamos aqui por entendimento".
Prado beira o niilismo para arrancar o ouvinte daquele lugar especial que ele acha que tem. Com isso, avança naquilo que havia sido mostrado, por exemplo, em Não Recomendado. Volta ainda mais no tempo das convenções sociais na busca por entendimento.
Deixa de cantar a sociedade quebrada, ele busca investigar o que faz de nós especiais, como indivíduos, como grupo.
E traz a pergunta: despidos do que temos, quem somos?
Essa reflexão está esteticamente explícita no clipe de Mera, gravado e dirigido por Rafo Coelho, editado por Thamires Mulatinho e produzido pela Da Chuva. No vídeo, Prado é o homem, nu, a dançar pelas árvores, "em estado de natureza".
Mera, a canção, é o respiro de Incendeia, esse novo disco de Prado que chega em janeiro.
"Falei pro produtor Alê Siqueira que precisávamos sair da mente, da metafísica e trazer as coisas pro corpo", conta Prado.
"Voltamos às matrizes africanas, ao canto griot, ao toque de berimbau, ao som clássico dos anos 60 e 70. Ouvi muito Curtis Mayfield, até pensei em gravar algo dele, e James Blake, uma das minhas referências de vida", conclui.
Assista ao videoclipe de Mera: