Pierrot lunaire 100 anos


Em concerto didático, Camerata Aberta lembra a estreia da obra fundamental de Arnold Schoenberg

Por JOÃO MARCOS COELHO

Muitos identificam o parto da música do século 20 na noite de 29 de maio de 1913 em Paris, com a explosiva Sagração da Primavera que Igor Stravinski compôs para Nijinsky e os Ballets Russes. Outros recuam o fato gerador da modernidade para 22 de dezembro de 1894, quando estreou, na mesma cidade, o Prélude à l'Après-midi d'Un Faune, de Claude Debussy. Entre os músicos, o nascimento da modernidade aconteceu mesmo em 16 de outubro de 1912, quando estreou na pequena sala Choralion, em Berlim, o melodrama Pierrot Lunaire, de Arnold Schoenberg, que regeu a cantora Albertine Zehme e um grupo de cinco instrumentistas.Estava tudo lá: o meio caminho entre a superação da tonalidade a adoção transitória do atonalismo, a melodia de timbres, o canto falado/fala cantada, o que levou Schoenberg, dez anos depois, à técnica de composição com os 12 semitons da escala, a chamada música dodecafônica ou serial. Pierrot influenciou a música vocal e instrumental de todo o século 20. Ainda hoje, funciona como rica usina de novas possibilidades que os músicos encontram ao estudá-la. Mesmo para o ouvinte/espectador, nada é o que parece nesta obra. O Pierrot está longe da figura da commedia dell'arte tradicional. A Lua não é a deusa preferencial dos amantes. Aqui ela adoece, é escrachada, a valsa de Chopin vira "lúgubre" e a Madonna é ridicularizada.Por tudo isso, o evento organizado pela professora Yara Caznok, do Departamento de Música do Instituto de Artes da Unesp em São Paulo, em torno dos 100 anos da estreia de Pierrot Lunaire, tem especial significado. Vem cobrindo todos os aspectos desta criação chave para a música contemporânea: na semana passada, Yara analisou o melodrama em cinco noites; anteontem, no auditório do IA-Unesp na Barra Funda, dois músicos franceses, a cantora Sylvie Robert e o regente Guillaume Bourgogne, e cinco integrantes da Camerata Aberta, fizeram um concerto didático: na primeira parte, Yara comentou nove das 21 microcanções, intercaladas com performances. Foi igualmente memorável, na segunda parte, a execução do Pierrot com os mesmos intérpretes. Lidia Bazarian (piano), Martin Tuksa (violino e viola), Alberto Kanji (violoncelo), Luis Afonso Montanha (clarineta e clarone) e Cássia Carrascoza (flauta e piccolo) formaram o pelotão de instrumentistas que acompanharam Sylvie. O projeto Pierrot de Yara, entre 16 e 18 de outubro, com a realização de Schoenberg, o Expressionismo e a Subjetividade Contemporânea, três debates multidisciplinares, no mesmo espaço, com participação, entre outros, de convidados de outras universidades (Rubens Fernandes Júnior, da Fotografia-Faap, Helena Katz, Dança-PUC-SP, o pianista Amilcar Zani, da USP, Feres Khoury, da FAU-USP, e Pero De Santi, da ESPM). Da Unesp, debaterão Yara Caznok, Lia Tomás, Alexandre Mate e Flo Menezes. Em janeiro de 1912, Albertine ofereceu a Schoenberg polpudos 1.000 marcos por um melodrama típico de cabaré a partir da tradução alemã de Hartleben de 50 escritos em francês pelo belga simbolista Albert Giraud. O compositor vivia a angustiada transição entre a tonalidade e a atonalidade, que ele estava abraçando. Imagino como deve ter esfregado as mãos ao ler versos como "Pelos mares mortos da memória,/Vai soar, além, num céu longínquo,/Um suspiro de cristal partido" (Nostalgia) e "Mil grotescas dissonâncias/Faz Pierrô numa viola" (Serenata), em magnífica tradução livre de Augusto de Campos. Ali estava o mote de uma "viagem" decisiva de transição criativa. São lanças terçadas entre passado, presente e futuro, com direito a recaídas e súplicas ao primeiro, decepções com o segundo e flertes atrevidos com o terceiro."Não se canta Pierrot Lunaire", alerta o compositor. De fato, nela o entendimento dos versos é essencial. Assim, como bem informou Yara Caznok na primeira parte do concerto de anteontem, as duas palavras alemãs que ficaram famosas na música vocal do restante do século 20 - "sprechgesang" e "sprechstimme" - de fato significam que a interpretação vocal deve ficar entre o canto e a fala. Não é um ou outra, mas a tênue interface entre ambos. "Uma escolha que cada intérprete tem de fazer." Neste sentido, a escolha de Sylvie Robert foi soberba. Ela ora pendia para um canto indistinto, ora assumia a recitação, com muita adequação.Na estreia em 16 de outubro de 1912, em Berlim, Albertine, caracterizada como Colombina, atuou sozinha no palco, com os cinco atrás de uma cortina. Mosca branca na carreira de Schoenberg, foi sucesso instantâneo e representada em 14 cidades europeias. Um êxito raro porque retrata o delicado momento de revisão do passado de olho no futuro. Ele se assume como o personagem-título. Sabe que um mundo está se abrindo, mas ainda não encontrou nele o seu lugar - o que só aconteceu dez anos depois, quando sintetizaria a composição com os 12 sons, o dodecafonismo. Pierre Boulez já disse que o melhor da criação musical está nestes iluminados - e raros - momentos de transição criativa. Pierrot Lunaire ocupa lugar de honra neste gênero.

Muitos identificam o parto da música do século 20 na noite de 29 de maio de 1913 em Paris, com a explosiva Sagração da Primavera que Igor Stravinski compôs para Nijinsky e os Ballets Russes. Outros recuam o fato gerador da modernidade para 22 de dezembro de 1894, quando estreou, na mesma cidade, o Prélude à l'Après-midi d'Un Faune, de Claude Debussy. Entre os músicos, o nascimento da modernidade aconteceu mesmo em 16 de outubro de 1912, quando estreou na pequena sala Choralion, em Berlim, o melodrama Pierrot Lunaire, de Arnold Schoenberg, que regeu a cantora Albertine Zehme e um grupo de cinco instrumentistas.Estava tudo lá: o meio caminho entre a superação da tonalidade a adoção transitória do atonalismo, a melodia de timbres, o canto falado/fala cantada, o que levou Schoenberg, dez anos depois, à técnica de composição com os 12 semitons da escala, a chamada música dodecafônica ou serial. Pierrot influenciou a música vocal e instrumental de todo o século 20. Ainda hoje, funciona como rica usina de novas possibilidades que os músicos encontram ao estudá-la. Mesmo para o ouvinte/espectador, nada é o que parece nesta obra. O Pierrot está longe da figura da commedia dell'arte tradicional. A Lua não é a deusa preferencial dos amantes. Aqui ela adoece, é escrachada, a valsa de Chopin vira "lúgubre" e a Madonna é ridicularizada.Por tudo isso, o evento organizado pela professora Yara Caznok, do Departamento de Música do Instituto de Artes da Unesp em São Paulo, em torno dos 100 anos da estreia de Pierrot Lunaire, tem especial significado. Vem cobrindo todos os aspectos desta criação chave para a música contemporânea: na semana passada, Yara analisou o melodrama em cinco noites; anteontem, no auditório do IA-Unesp na Barra Funda, dois músicos franceses, a cantora Sylvie Robert e o regente Guillaume Bourgogne, e cinco integrantes da Camerata Aberta, fizeram um concerto didático: na primeira parte, Yara comentou nove das 21 microcanções, intercaladas com performances. Foi igualmente memorável, na segunda parte, a execução do Pierrot com os mesmos intérpretes. Lidia Bazarian (piano), Martin Tuksa (violino e viola), Alberto Kanji (violoncelo), Luis Afonso Montanha (clarineta e clarone) e Cássia Carrascoza (flauta e piccolo) formaram o pelotão de instrumentistas que acompanharam Sylvie. O projeto Pierrot de Yara, entre 16 e 18 de outubro, com a realização de Schoenberg, o Expressionismo e a Subjetividade Contemporânea, três debates multidisciplinares, no mesmo espaço, com participação, entre outros, de convidados de outras universidades (Rubens Fernandes Júnior, da Fotografia-Faap, Helena Katz, Dança-PUC-SP, o pianista Amilcar Zani, da USP, Feres Khoury, da FAU-USP, e Pero De Santi, da ESPM). Da Unesp, debaterão Yara Caznok, Lia Tomás, Alexandre Mate e Flo Menezes. Em janeiro de 1912, Albertine ofereceu a Schoenberg polpudos 1.000 marcos por um melodrama típico de cabaré a partir da tradução alemã de Hartleben de 50 escritos em francês pelo belga simbolista Albert Giraud. O compositor vivia a angustiada transição entre a tonalidade e a atonalidade, que ele estava abraçando. Imagino como deve ter esfregado as mãos ao ler versos como "Pelos mares mortos da memória,/Vai soar, além, num céu longínquo,/Um suspiro de cristal partido" (Nostalgia) e "Mil grotescas dissonâncias/Faz Pierrô numa viola" (Serenata), em magnífica tradução livre de Augusto de Campos. Ali estava o mote de uma "viagem" decisiva de transição criativa. São lanças terçadas entre passado, presente e futuro, com direito a recaídas e súplicas ao primeiro, decepções com o segundo e flertes atrevidos com o terceiro."Não se canta Pierrot Lunaire", alerta o compositor. De fato, nela o entendimento dos versos é essencial. Assim, como bem informou Yara Caznok na primeira parte do concerto de anteontem, as duas palavras alemãs que ficaram famosas na música vocal do restante do século 20 - "sprechgesang" e "sprechstimme" - de fato significam que a interpretação vocal deve ficar entre o canto e a fala. Não é um ou outra, mas a tênue interface entre ambos. "Uma escolha que cada intérprete tem de fazer." Neste sentido, a escolha de Sylvie Robert foi soberba. Ela ora pendia para um canto indistinto, ora assumia a recitação, com muita adequação.Na estreia em 16 de outubro de 1912, em Berlim, Albertine, caracterizada como Colombina, atuou sozinha no palco, com os cinco atrás de uma cortina. Mosca branca na carreira de Schoenberg, foi sucesso instantâneo e representada em 14 cidades europeias. Um êxito raro porque retrata o delicado momento de revisão do passado de olho no futuro. Ele se assume como o personagem-título. Sabe que um mundo está se abrindo, mas ainda não encontrou nele o seu lugar - o que só aconteceu dez anos depois, quando sintetizaria a composição com os 12 sons, o dodecafonismo. Pierre Boulez já disse que o melhor da criação musical está nestes iluminados - e raros - momentos de transição criativa. Pierrot Lunaire ocupa lugar de honra neste gênero.

Muitos identificam o parto da música do século 20 na noite de 29 de maio de 1913 em Paris, com a explosiva Sagração da Primavera que Igor Stravinski compôs para Nijinsky e os Ballets Russes. Outros recuam o fato gerador da modernidade para 22 de dezembro de 1894, quando estreou, na mesma cidade, o Prélude à l'Après-midi d'Un Faune, de Claude Debussy. Entre os músicos, o nascimento da modernidade aconteceu mesmo em 16 de outubro de 1912, quando estreou na pequena sala Choralion, em Berlim, o melodrama Pierrot Lunaire, de Arnold Schoenberg, que regeu a cantora Albertine Zehme e um grupo de cinco instrumentistas.Estava tudo lá: o meio caminho entre a superação da tonalidade a adoção transitória do atonalismo, a melodia de timbres, o canto falado/fala cantada, o que levou Schoenberg, dez anos depois, à técnica de composição com os 12 semitons da escala, a chamada música dodecafônica ou serial. Pierrot influenciou a música vocal e instrumental de todo o século 20. Ainda hoje, funciona como rica usina de novas possibilidades que os músicos encontram ao estudá-la. Mesmo para o ouvinte/espectador, nada é o que parece nesta obra. O Pierrot está longe da figura da commedia dell'arte tradicional. A Lua não é a deusa preferencial dos amantes. Aqui ela adoece, é escrachada, a valsa de Chopin vira "lúgubre" e a Madonna é ridicularizada.Por tudo isso, o evento organizado pela professora Yara Caznok, do Departamento de Música do Instituto de Artes da Unesp em São Paulo, em torno dos 100 anos da estreia de Pierrot Lunaire, tem especial significado. Vem cobrindo todos os aspectos desta criação chave para a música contemporânea: na semana passada, Yara analisou o melodrama em cinco noites; anteontem, no auditório do IA-Unesp na Barra Funda, dois músicos franceses, a cantora Sylvie Robert e o regente Guillaume Bourgogne, e cinco integrantes da Camerata Aberta, fizeram um concerto didático: na primeira parte, Yara comentou nove das 21 microcanções, intercaladas com performances. Foi igualmente memorável, na segunda parte, a execução do Pierrot com os mesmos intérpretes. Lidia Bazarian (piano), Martin Tuksa (violino e viola), Alberto Kanji (violoncelo), Luis Afonso Montanha (clarineta e clarone) e Cássia Carrascoza (flauta e piccolo) formaram o pelotão de instrumentistas que acompanharam Sylvie. O projeto Pierrot de Yara, entre 16 e 18 de outubro, com a realização de Schoenberg, o Expressionismo e a Subjetividade Contemporânea, três debates multidisciplinares, no mesmo espaço, com participação, entre outros, de convidados de outras universidades (Rubens Fernandes Júnior, da Fotografia-Faap, Helena Katz, Dança-PUC-SP, o pianista Amilcar Zani, da USP, Feres Khoury, da FAU-USP, e Pero De Santi, da ESPM). Da Unesp, debaterão Yara Caznok, Lia Tomás, Alexandre Mate e Flo Menezes. Em janeiro de 1912, Albertine ofereceu a Schoenberg polpudos 1.000 marcos por um melodrama típico de cabaré a partir da tradução alemã de Hartleben de 50 escritos em francês pelo belga simbolista Albert Giraud. O compositor vivia a angustiada transição entre a tonalidade e a atonalidade, que ele estava abraçando. Imagino como deve ter esfregado as mãos ao ler versos como "Pelos mares mortos da memória,/Vai soar, além, num céu longínquo,/Um suspiro de cristal partido" (Nostalgia) e "Mil grotescas dissonâncias/Faz Pierrô numa viola" (Serenata), em magnífica tradução livre de Augusto de Campos. Ali estava o mote de uma "viagem" decisiva de transição criativa. São lanças terçadas entre passado, presente e futuro, com direito a recaídas e súplicas ao primeiro, decepções com o segundo e flertes atrevidos com o terceiro."Não se canta Pierrot Lunaire", alerta o compositor. De fato, nela o entendimento dos versos é essencial. Assim, como bem informou Yara Caznok na primeira parte do concerto de anteontem, as duas palavras alemãs que ficaram famosas na música vocal do restante do século 20 - "sprechgesang" e "sprechstimme" - de fato significam que a interpretação vocal deve ficar entre o canto e a fala. Não é um ou outra, mas a tênue interface entre ambos. "Uma escolha que cada intérprete tem de fazer." Neste sentido, a escolha de Sylvie Robert foi soberba. Ela ora pendia para um canto indistinto, ora assumia a recitação, com muita adequação.Na estreia em 16 de outubro de 1912, em Berlim, Albertine, caracterizada como Colombina, atuou sozinha no palco, com os cinco atrás de uma cortina. Mosca branca na carreira de Schoenberg, foi sucesso instantâneo e representada em 14 cidades europeias. Um êxito raro porque retrata o delicado momento de revisão do passado de olho no futuro. Ele se assume como o personagem-título. Sabe que um mundo está se abrindo, mas ainda não encontrou nele o seu lugar - o que só aconteceu dez anos depois, quando sintetizaria a composição com os 12 sons, o dodecafonismo. Pierre Boulez já disse que o melhor da criação musical está nestes iluminados - e raros - momentos de transição criativa. Pierrot Lunaire ocupa lugar de honra neste gênero.

Muitos identificam o parto da música do século 20 na noite de 29 de maio de 1913 em Paris, com a explosiva Sagração da Primavera que Igor Stravinski compôs para Nijinsky e os Ballets Russes. Outros recuam o fato gerador da modernidade para 22 de dezembro de 1894, quando estreou, na mesma cidade, o Prélude à l'Après-midi d'Un Faune, de Claude Debussy. Entre os músicos, o nascimento da modernidade aconteceu mesmo em 16 de outubro de 1912, quando estreou na pequena sala Choralion, em Berlim, o melodrama Pierrot Lunaire, de Arnold Schoenberg, que regeu a cantora Albertine Zehme e um grupo de cinco instrumentistas.Estava tudo lá: o meio caminho entre a superação da tonalidade a adoção transitória do atonalismo, a melodia de timbres, o canto falado/fala cantada, o que levou Schoenberg, dez anos depois, à técnica de composição com os 12 semitons da escala, a chamada música dodecafônica ou serial. Pierrot influenciou a música vocal e instrumental de todo o século 20. Ainda hoje, funciona como rica usina de novas possibilidades que os músicos encontram ao estudá-la. Mesmo para o ouvinte/espectador, nada é o que parece nesta obra. O Pierrot está longe da figura da commedia dell'arte tradicional. A Lua não é a deusa preferencial dos amantes. Aqui ela adoece, é escrachada, a valsa de Chopin vira "lúgubre" e a Madonna é ridicularizada.Por tudo isso, o evento organizado pela professora Yara Caznok, do Departamento de Música do Instituto de Artes da Unesp em São Paulo, em torno dos 100 anos da estreia de Pierrot Lunaire, tem especial significado. Vem cobrindo todos os aspectos desta criação chave para a música contemporânea: na semana passada, Yara analisou o melodrama em cinco noites; anteontem, no auditório do IA-Unesp na Barra Funda, dois músicos franceses, a cantora Sylvie Robert e o regente Guillaume Bourgogne, e cinco integrantes da Camerata Aberta, fizeram um concerto didático: na primeira parte, Yara comentou nove das 21 microcanções, intercaladas com performances. Foi igualmente memorável, na segunda parte, a execução do Pierrot com os mesmos intérpretes. Lidia Bazarian (piano), Martin Tuksa (violino e viola), Alberto Kanji (violoncelo), Luis Afonso Montanha (clarineta e clarone) e Cássia Carrascoza (flauta e piccolo) formaram o pelotão de instrumentistas que acompanharam Sylvie. O projeto Pierrot de Yara, entre 16 e 18 de outubro, com a realização de Schoenberg, o Expressionismo e a Subjetividade Contemporânea, três debates multidisciplinares, no mesmo espaço, com participação, entre outros, de convidados de outras universidades (Rubens Fernandes Júnior, da Fotografia-Faap, Helena Katz, Dança-PUC-SP, o pianista Amilcar Zani, da USP, Feres Khoury, da FAU-USP, e Pero De Santi, da ESPM). Da Unesp, debaterão Yara Caznok, Lia Tomás, Alexandre Mate e Flo Menezes. Em janeiro de 1912, Albertine ofereceu a Schoenberg polpudos 1.000 marcos por um melodrama típico de cabaré a partir da tradução alemã de Hartleben de 50 escritos em francês pelo belga simbolista Albert Giraud. O compositor vivia a angustiada transição entre a tonalidade e a atonalidade, que ele estava abraçando. Imagino como deve ter esfregado as mãos ao ler versos como "Pelos mares mortos da memória,/Vai soar, além, num céu longínquo,/Um suspiro de cristal partido" (Nostalgia) e "Mil grotescas dissonâncias/Faz Pierrô numa viola" (Serenata), em magnífica tradução livre de Augusto de Campos. Ali estava o mote de uma "viagem" decisiva de transição criativa. São lanças terçadas entre passado, presente e futuro, com direito a recaídas e súplicas ao primeiro, decepções com o segundo e flertes atrevidos com o terceiro."Não se canta Pierrot Lunaire", alerta o compositor. De fato, nela o entendimento dos versos é essencial. Assim, como bem informou Yara Caznok na primeira parte do concerto de anteontem, as duas palavras alemãs que ficaram famosas na música vocal do restante do século 20 - "sprechgesang" e "sprechstimme" - de fato significam que a interpretação vocal deve ficar entre o canto e a fala. Não é um ou outra, mas a tênue interface entre ambos. "Uma escolha que cada intérprete tem de fazer." Neste sentido, a escolha de Sylvie Robert foi soberba. Ela ora pendia para um canto indistinto, ora assumia a recitação, com muita adequação.Na estreia em 16 de outubro de 1912, em Berlim, Albertine, caracterizada como Colombina, atuou sozinha no palco, com os cinco atrás de uma cortina. Mosca branca na carreira de Schoenberg, foi sucesso instantâneo e representada em 14 cidades europeias. Um êxito raro porque retrata o delicado momento de revisão do passado de olho no futuro. Ele se assume como o personagem-título. Sabe que um mundo está se abrindo, mas ainda não encontrou nele o seu lugar - o que só aconteceu dez anos depois, quando sintetizaria a composição com os 12 sons, o dodecafonismo. Pierre Boulez já disse que o melhor da criação musical está nestes iluminados - e raros - momentos de transição criativa. Pierrot Lunaire ocupa lugar de honra neste gênero.

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