Podcasters ganham fama falando sobre assuntos atuais com recursos simples


Laurinha Lero, Camila Fremder, Guilherme Facci e Titi Vidal são alguns dos grandes nomes das principais plataformas

Por Ana Lourenço
Camila Fremder, do 'É Nóia Minha', tem ajuda da equipe do Spotify para editar o programa, que convida pessoas para compartilhar suas 'nóias' Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Depois que criou um Telegram específico para o seu programa Respondendo em Voz Alta, a podcaster DJ Laurinha Lero (ela mantém sua identidade como um segredo bem guardado), de 25 anos, passou a receber dezenas de perguntas diárias nada convencionais: de teorias da conspiração a dúvidas sobre as nomenclaturas de objetos. Amante dos dois mundos, rádio e podcast, ela investiu um “programa de rádio gravado”, nos quais responde às perguntas, sempre precedidas de um toque de telefone, associando-as com pensamentos e reflexões individuais do cotidiano. “Achei que seria interessante fazer um programa que fosse de rádio e que, obviamente, não é”, diz ela.

O podcast, mídia em áudio com assuntos e estilos variados, cresceu muito durante a pandemia. Entre janeiro e maio deste ano houve um aumento de 62% no número de produtoras de podcasts inscritas na Deezer em relação ao último semestre de 2019. A plataforma revelou ainda que 43% dos brasileiros ouviram podcast pela primeira vez durante a quarentena. Já no Spotify, o crescimento total do streaming foi de 29% na comparação anual. Desse volume, quase 63 milhões são ouvintes de podcast. A facilidade de gravar com ferramentas simples é uma das razões que estimulou novos criadores de conteúdo a se aventurar nas ondas do podcast – e a ficarem famosos por isso.

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No caso de Laurinha, tudo começou com uma brincadeira, quando ela estava doente e “não tinha nada para fazer”, então decidiu responder perguntas online. “Eu respondi em um take só. Apertei ‘play’, depois ‘stop’ e coloquei na internet. Quando fui ver tinha dezenas de milhares plays por episódio e aí ficou constrangedor parar”, conta ela, que faz parte dos top 10 podcasts entre os 1,5 milhão disponíveis no Spotify. Com o sucesso, o Respondendo em Voz Alta passou a ser exclusivo da plataforma – remunerado e quinzenal.

Laurinha Lero mantém sua identidade em segredo Foto: Laurinha Lero

“Eu acho que o podcast está crescendo porque as pessoas não querem ouvir o monólogo interno delas”, opina Laurinha. “Ele realmente ocupa sua cabeça, como se você estivesse em uma conversa com alguém ou como se estivesse ouvindo uma conversa. Diferente da música.”

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Para Camila Fremder, de 38 anos, roteirista e criadora do podcast É Nóia Minha? (também exclusivo do Spotify), os produtores de conteúdo entraram em uma fase de troca com o ouvinte. “Eu sempre produzi muito para os outros e eu estava querendo produzir conteúdo pra mim.”

Assim como em uma conversa com os amigos, Camila e mais dois convidados discutem sobre o tema da vez. “Eu fico analisando uma pessoa e pensando ‘qual será a noia que essa pessoa tem?’ Aí convido ela para fazer o programa”, explica. Para ela, a espontaneidade do podcast é um dos segredos do sucesso.

Diferente da TV ou do próprio rádio, que tinham o objetivo de ocupar um ambiente, o podcast é criado para o consumo individual. “O podcast é um jeito de você encontrar a sua turma. A gente sente que faz parte da conversa, encontra pessoas que são muito parecidas com você”, diz Camila. O ato de escutar o outro ou um grupo falando sobre algo do seu interesse gera um sentimento de identificação.

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Enquanto Camila conta com a ajuda de uma equipe do Spotify e Laurinha trabalha diretamente com o seu editor, Guilherme Facci, de 44 anos, do podcast A Loucura Nossa de Cada Dia, gosta de trabalhar sozinho. Sem nenhum tipo de adorno, nem vinheta de abertura, ele acredita que isso dá uma característica de proximidade com o público. “A psicanálise não deve ser falada de maneira difícil. Eu tento achar um equilíbrio entre o rigor dentro do método para não banalizar e uma linguagem que as pessoas se sintam identificadas no seu conhecimento ou no seu desejo de saber”, declara ele, que, após horas de pesquisa e roteirização, grava de casa, ao lado da gata Martina. “É um momento muito íntimo”.

Apesar de não ser remunerado, Guilherme diz fazer o programa em consideração aos fãs. “As pessoas falam que o podcast as ajudam e isso me motiva”, diz ele, que traz temas que surgem da escuta dos sintomas da nossa época no consultório e das suas próprias angústias. “O mais importante é que desperte o desejo de saber de cada um, que as pessoas tenham vontade de falar mais e procurar analistas, psicólogos, enfim”.

Guilherme fala sobre psicanálise de forma simples Foto: Guilherme Facci
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A saúde mental – e a conversa sobre o assunto – ganhou, invariavelmente, destaque durante a pandemia. Para Guilherme, isso tem a ver com o sentido de urgência que a morte, como representação traz. “Ela nos apresenta a finitude e isso pode dar urgência ao desejo”, diz. “O efeito foi cada um começar a perguntar sobre propósitos, vontades, num sentido mais interessante da angústia – uma angústia mais mobilizadora do que uma paralisadora.”

Astrologia também parece ter sido um assunto muito buscado, uma vez que o podcast exclusivo da Deezer, Céu da Semana, com a astróloga Titi Vidal, de 42 anos, foi o mais escutado da plataforma nos últimos dois meses. “Por muito tempo, o nosso objetivo (dos astrólogos) era tirar todo o ‘astrologuês’ das previsões e traduzir tudo para português. Mas como as pessoas passaram a se interessar mais por astrologia, elas querem saber de onde tiramos essas informações. Então eu trago a contextualização no começo e, depois, a tradução”, conta ela, que lançou o podcast em novembro de 2018.

Muito ativa nas redes sociais e em diferentes mídias, Titi consegue distinguir as diferenças de público e linguagem de cada uma. “No podcast, preciso ter muita clareza na informação que eu passo, porque a pessoa tem de entender ouvindo. E às vezes eu tenho a sensação de que o podcast fica mais profundo, mais completo”, diz. “A astrologia ajuda a gente a entender o contexto, a entender o que está acontecendo com o mundo, com os meus amigos, com qualquer pessoa, porque isso interfere na minha vida”.

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“É legal lembrar que o nosso vício não é exatamente no smartphone ou nas telas. Mas na informação que a gente tem a partir daquela plataforma. A gente é viciado na facilidade que aquilo nos proporciona”, conta a consultora sênior de Mindset da empresa de tendências WGSN, Julia Curan.

Antes de gravar o podcast, Titi Vidal se prepara estudando o céu da semana Foto: Titi Vidal

Além de exigir menos foco do ouvinte, no sentido de que é possível fazer outras coisas enquanto se escuta, a falta de recursos visuais, acentua também a privacidade dos criadores de conteúdo – um dos aspectos mais importantes para Laurinha Lero, que usa esse pseudônimo e nunca revelou seu rosto ou nome verdadeiros. “Eu acho que é uma maneira de você criar uma coisa sem se expor tanto e, de certa forma, isso é um benefício, porque penetra muito mais na cabeça da pessoa do que se ela tivesse de ficar olhando para você”, diz Laurinha.

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No entanto, dependendo do fã, a voz já pode ser um fator muito marcante. Camila e Guilherme já foram reconhecidos nas ruas – mesmo com máscara de proteção – simplesmente por estarem falando. “A mulher virou pra trás e falou: ‘Nóia minha?’ e isso nunca tinha acontecido antes”, conta Camila.

Estratégia. A investida em conteúdos exclusivos foi uma estratégia das plataformas que perceberam o crescimento do mercado de podcasts e dos próprios podcasters, que antes tinham poucas opções de remuneração além de patrocínios e crowdfunding. “A gente está consumindo muito mais streamings. E talvez o podcast esteja indo cada vez mais para o caminho dos streamings de vídeo, na ideia de cada um ter seus exclusivos”, opina Luiz Felipe Marques, criador da Orelo, plataforma brasileira, lançada em julho deste ano, exclusiva para podcasts.

“O podcast é a mídia que mais cresce no mundo atualmente. No Brasil, são 20 milhões de pessoas escutando todos os dias. Olhando pra isso, a gente entendeu que levar temas ou formatos que não eram tão comuns seria interessante”, conta ele, que lançou a Orelo com 15 conteúdos exclusivos e pretende chegar em 50 até o final do ano.

A Orelo oferece o pacote exclusivo e o premium. O primeiro garante parte de toda a grade exclusiva de podcasts com anúncios. Já na versão premium, o acesso é livre, com um diferencial. “O assinante paga uma mensalidade de R$ 6,90 por mês e pode escolher o seu podcaster favorito para doar 30% do pagamento diretamente para ele”, explica Luiz.

Luiz Felipe Marques, criador da plataforma Foto: Orelo

O empoderamento, tanto do ouvinte de poder contribuir, quanto do podcaster de poder dedicar tempo e estudo para fazer um bom programa e ser remunerado por isso, mostra a importância do conteúdo – que supera a necessidade de imagens, mesmo em um mundo de telas. “O que na TV é uma produção milionária, no áudio é uma história bem contada”, diz.

“Produtos que vão para a linguagem oral naturalmente precisam ganhar coloquialidade, precisam acessar o seu ouvinte de uma maneira mais direta e fácil”, ensina o jornalista Emanuel Bomfim, à frente tanto do podcast Estadão Notícias quanto da Rádio Eldorado, ambos do Grupo Estado. “De alguma maneira você também é um produto de entretenimento, porque aqueles minutos que você está com o seu público têm de ser prazerosos.”

Desde 1922, quando o rádio surgiu, ele transformou sua realidade. “O rádio ficou mais refém, com o passar do tempo, da sua lógica de grade ao vivo. O podcast, então, traz a possibilidade de ter menos amarras para poder sofisticar e ampliar o seu escopo temático”, coloca Emanuel.

“É legal acompanhar essa evolução porque quando o podcast chegou no Brasil, ele não tinha essa identificação; era quase uma versão amadora do que era um programa de rádio. E hoje o Brasil está rumando para cada vez mais investir nesse padrão de qualidade em todas as pontas– edição, montagem, identificação”.

Camila Fremder, do 'É Nóia Minha', tem ajuda da equipe do Spotify para editar o programa, que convida pessoas para compartilhar suas 'nóias' Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Depois que criou um Telegram específico para o seu programa Respondendo em Voz Alta, a podcaster DJ Laurinha Lero (ela mantém sua identidade como um segredo bem guardado), de 25 anos, passou a receber dezenas de perguntas diárias nada convencionais: de teorias da conspiração a dúvidas sobre as nomenclaturas de objetos. Amante dos dois mundos, rádio e podcast, ela investiu um “programa de rádio gravado”, nos quais responde às perguntas, sempre precedidas de um toque de telefone, associando-as com pensamentos e reflexões individuais do cotidiano. “Achei que seria interessante fazer um programa que fosse de rádio e que, obviamente, não é”, diz ela.

O podcast, mídia em áudio com assuntos e estilos variados, cresceu muito durante a pandemia. Entre janeiro e maio deste ano houve um aumento de 62% no número de produtoras de podcasts inscritas na Deezer em relação ao último semestre de 2019. A plataforma revelou ainda que 43% dos brasileiros ouviram podcast pela primeira vez durante a quarentena. Já no Spotify, o crescimento total do streaming foi de 29% na comparação anual. Desse volume, quase 63 milhões são ouvintes de podcast. A facilidade de gravar com ferramentas simples é uma das razões que estimulou novos criadores de conteúdo a se aventurar nas ondas do podcast – e a ficarem famosos por isso.

No caso de Laurinha, tudo começou com uma brincadeira, quando ela estava doente e “não tinha nada para fazer”, então decidiu responder perguntas online. “Eu respondi em um take só. Apertei ‘play’, depois ‘stop’ e coloquei na internet. Quando fui ver tinha dezenas de milhares plays por episódio e aí ficou constrangedor parar”, conta ela, que faz parte dos top 10 podcasts entre os 1,5 milhão disponíveis no Spotify. Com o sucesso, o Respondendo em Voz Alta passou a ser exclusivo da plataforma – remunerado e quinzenal.

Laurinha Lero mantém sua identidade em segredo Foto: Laurinha Lero

“Eu acho que o podcast está crescendo porque as pessoas não querem ouvir o monólogo interno delas”, opina Laurinha. “Ele realmente ocupa sua cabeça, como se você estivesse em uma conversa com alguém ou como se estivesse ouvindo uma conversa. Diferente da música.”

Para Camila Fremder, de 38 anos, roteirista e criadora do podcast É Nóia Minha? (também exclusivo do Spotify), os produtores de conteúdo entraram em uma fase de troca com o ouvinte. “Eu sempre produzi muito para os outros e eu estava querendo produzir conteúdo pra mim.”

Assim como em uma conversa com os amigos, Camila e mais dois convidados discutem sobre o tema da vez. “Eu fico analisando uma pessoa e pensando ‘qual será a noia que essa pessoa tem?’ Aí convido ela para fazer o programa”, explica. Para ela, a espontaneidade do podcast é um dos segredos do sucesso.

Diferente da TV ou do próprio rádio, que tinham o objetivo de ocupar um ambiente, o podcast é criado para o consumo individual. “O podcast é um jeito de você encontrar a sua turma. A gente sente que faz parte da conversa, encontra pessoas que são muito parecidas com você”, diz Camila. O ato de escutar o outro ou um grupo falando sobre algo do seu interesse gera um sentimento de identificação.

Enquanto Camila conta com a ajuda de uma equipe do Spotify e Laurinha trabalha diretamente com o seu editor, Guilherme Facci, de 44 anos, do podcast A Loucura Nossa de Cada Dia, gosta de trabalhar sozinho. Sem nenhum tipo de adorno, nem vinheta de abertura, ele acredita que isso dá uma característica de proximidade com o público. “A psicanálise não deve ser falada de maneira difícil. Eu tento achar um equilíbrio entre o rigor dentro do método para não banalizar e uma linguagem que as pessoas se sintam identificadas no seu conhecimento ou no seu desejo de saber”, declara ele, que, após horas de pesquisa e roteirização, grava de casa, ao lado da gata Martina. “É um momento muito íntimo”.

Apesar de não ser remunerado, Guilherme diz fazer o programa em consideração aos fãs. “As pessoas falam que o podcast as ajudam e isso me motiva”, diz ele, que traz temas que surgem da escuta dos sintomas da nossa época no consultório e das suas próprias angústias. “O mais importante é que desperte o desejo de saber de cada um, que as pessoas tenham vontade de falar mais e procurar analistas, psicólogos, enfim”.

Guilherme fala sobre psicanálise de forma simples Foto: Guilherme Facci

A saúde mental – e a conversa sobre o assunto – ganhou, invariavelmente, destaque durante a pandemia. Para Guilherme, isso tem a ver com o sentido de urgência que a morte, como representação traz. “Ela nos apresenta a finitude e isso pode dar urgência ao desejo”, diz. “O efeito foi cada um começar a perguntar sobre propósitos, vontades, num sentido mais interessante da angústia – uma angústia mais mobilizadora do que uma paralisadora.”

Astrologia também parece ter sido um assunto muito buscado, uma vez que o podcast exclusivo da Deezer, Céu da Semana, com a astróloga Titi Vidal, de 42 anos, foi o mais escutado da plataforma nos últimos dois meses. “Por muito tempo, o nosso objetivo (dos astrólogos) era tirar todo o ‘astrologuês’ das previsões e traduzir tudo para português. Mas como as pessoas passaram a se interessar mais por astrologia, elas querem saber de onde tiramos essas informações. Então eu trago a contextualização no começo e, depois, a tradução”, conta ela, que lançou o podcast em novembro de 2018.

Muito ativa nas redes sociais e em diferentes mídias, Titi consegue distinguir as diferenças de público e linguagem de cada uma. “No podcast, preciso ter muita clareza na informação que eu passo, porque a pessoa tem de entender ouvindo. E às vezes eu tenho a sensação de que o podcast fica mais profundo, mais completo”, diz. “A astrologia ajuda a gente a entender o contexto, a entender o que está acontecendo com o mundo, com os meus amigos, com qualquer pessoa, porque isso interfere na minha vida”.

“É legal lembrar que o nosso vício não é exatamente no smartphone ou nas telas. Mas na informação que a gente tem a partir daquela plataforma. A gente é viciado na facilidade que aquilo nos proporciona”, conta a consultora sênior de Mindset da empresa de tendências WGSN, Julia Curan.

Antes de gravar o podcast, Titi Vidal se prepara estudando o céu da semana Foto: Titi Vidal

Além de exigir menos foco do ouvinte, no sentido de que é possível fazer outras coisas enquanto se escuta, a falta de recursos visuais, acentua também a privacidade dos criadores de conteúdo – um dos aspectos mais importantes para Laurinha Lero, que usa esse pseudônimo e nunca revelou seu rosto ou nome verdadeiros. “Eu acho que é uma maneira de você criar uma coisa sem se expor tanto e, de certa forma, isso é um benefício, porque penetra muito mais na cabeça da pessoa do que se ela tivesse de ficar olhando para você”, diz Laurinha.

No entanto, dependendo do fã, a voz já pode ser um fator muito marcante. Camila e Guilherme já foram reconhecidos nas ruas – mesmo com máscara de proteção – simplesmente por estarem falando. “A mulher virou pra trás e falou: ‘Nóia minha?’ e isso nunca tinha acontecido antes”, conta Camila.

Estratégia. A investida em conteúdos exclusivos foi uma estratégia das plataformas que perceberam o crescimento do mercado de podcasts e dos próprios podcasters, que antes tinham poucas opções de remuneração além de patrocínios e crowdfunding. “A gente está consumindo muito mais streamings. E talvez o podcast esteja indo cada vez mais para o caminho dos streamings de vídeo, na ideia de cada um ter seus exclusivos”, opina Luiz Felipe Marques, criador da Orelo, plataforma brasileira, lançada em julho deste ano, exclusiva para podcasts.

“O podcast é a mídia que mais cresce no mundo atualmente. No Brasil, são 20 milhões de pessoas escutando todos os dias. Olhando pra isso, a gente entendeu que levar temas ou formatos que não eram tão comuns seria interessante”, conta ele, que lançou a Orelo com 15 conteúdos exclusivos e pretende chegar em 50 até o final do ano.

A Orelo oferece o pacote exclusivo e o premium. O primeiro garante parte de toda a grade exclusiva de podcasts com anúncios. Já na versão premium, o acesso é livre, com um diferencial. “O assinante paga uma mensalidade de R$ 6,90 por mês e pode escolher o seu podcaster favorito para doar 30% do pagamento diretamente para ele”, explica Luiz.

Luiz Felipe Marques, criador da plataforma Foto: Orelo

O empoderamento, tanto do ouvinte de poder contribuir, quanto do podcaster de poder dedicar tempo e estudo para fazer um bom programa e ser remunerado por isso, mostra a importância do conteúdo – que supera a necessidade de imagens, mesmo em um mundo de telas. “O que na TV é uma produção milionária, no áudio é uma história bem contada”, diz.

“Produtos que vão para a linguagem oral naturalmente precisam ganhar coloquialidade, precisam acessar o seu ouvinte de uma maneira mais direta e fácil”, ensina o jornalista Emanuel Bomfim, à frente tanto do podcast Estadão Notícias quanto da Rádio Eldorado, ambos do Grupo Estado. “De alguma maneira você também é um produto de entretenimento, porque aqueles minutos que você está com o seu público têm de ser prazerosos.”

Desde 1922, quando o rádio surgiu, ele transformou sua realidade. “O rádio ficou mais refém, com o passar do tempo, da sua lógica de grade ao vivo. O podcast, então, traz a possibilidade de ter menos amarras para poder sofisticar e ampliar o seu escopo temático”, coloca Emanuel.

“É legal acompanhar essa evolução porque quando o podcast chegou no Brasil, ele não tinha essa identificação; era quase uma versão amadora do que era um programa de rádio. E hoje o Brasil está rumando para cada vez mais investir nesse padrão de qualidade em todas as pontas– edição, montagem, identificação”.

Camila Fremder, do 'É Nóia Minha', tem ajuda da equipe do Spotify para editar o programa, que convida pessoas para compartilhar suas 'nóias' Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Depois que criou um Telegram específico para o seu programa Respondendo em Voz Alta, a podcaster DJ Laurinha Lero (ela mantém sua identidade como um segredo bem guardado), de 25 anos, passou a receber dezenas de perguntas diárias nada convencionais: de teorias da conspiração a dúvidas sobre as nomenclaturas de objetos. Amante dos dois mundos, rádio e podcast, ela investiu um “programa de rádio gravado”, nos quais responde às perguntas, sempre precedidas de um toque de telefone, associando-as com pensamentos e reflexões individuais do cotidiano. “Achei que seria interessante fazer um programa que fosse de rádio e que, obviamente, não é”, diz ela.

O podcast, mídia em áudio com assuntos e estilos variados, cresceu muito durante a pandemia. Entre janeiro e maio deste ano houve um aumento de 62% no número de produtoras de podcasts inscritas na Deezer em relação ao último semestre de 2019. A plataforma revelou ainda que 43% dos brasileiros ouviram podcast pela primeira vez durante a quarentena. Já no Spotify, o crescimento total do streaming foi de 29% na comparação anual. Desse volume, quase 63 milhões são ouvintes de podcast. A facilidade de gravar com ferramentas simples é uma das razões que estimulou novos criadores de conteúdo a se aventurar nas ondas do podcast – e a ficarem famosos por isso.

No caso de Laurinha, tudo começou com uma brincadeira, quando ela estava doente e “não tinha nada para fazer”, então decidiu responder perguntas online. “Eu respondi em um take só. Apertei ‘play’, depois ‘stop’ e coloquei na internet. Quando fui ver tinha dezenas de milhares plays por episódio e aí ficou constrangedor parar”, conta ela, que faz parte dos top 10 podcasts entre os 1,5 milhão disponíveis no Spotify. Com o sucesso, o Respondendo em Voz Alta passou a ser exclusivo da plataforma – remunerado e quinzenal.

Laurinha Lero mantém sua identidade em segredo Foto: Laurinha Lero

“Eu acho que o podcast está crescendo porque as pessoas não querem ouvir o monólogo interno delas”, opina Laurinha. “Ele realmente ocupa sua cabeça, como se você estivesse em uma conversa com alguém ou como se estivesse ouvindo uma conversa. Diferente da música.”

Para Camila Fremder, de 38 anos, roteirista e criadora do podcast É Nóia Minha? (também exclusivo do Spotify), os produtores de conteúdo entraram em uma fase de troca com o ouvinte. “Eu sempre produzi muito para os outros e eu estava querendo produzir conteúdo pra mim.”

Assim como em uma conversa com os amigos, Camila e mais dois convidados discutem sobre o tema da vez. “Eu fico analisando uma pessoa e pensando ‘qual será a noia que essa pessoa tem?’ Aí convido ela para fazer o programa”, explica. Para ela, a espontaneidade do podcast é um dos segredos do sucesso.

Diferente da TV ou do próprio rádio, que tinham o objetivo de ocupar um ambiente, o podcast é criado para o consumo individual. “O podcast é um jeito de você encontrar a sua turma. A gente sente que faz parte da conversa, encontra pessoas que são muito parecidas com você”, diz Camila. O ato de escutar o outro ou um grupo falando sobre algo do seu interesse gera um sentimento de identificação.

Enquanto Camila conta com a ajuda de uma equipe do Spotify e Laurinha trabalha diretamente com o seu editor, Guilherme Facci, de 44 anos, do podcast A Loucura Nossa de Cada Dia, gosta de trabalhar sozinho. Sem nenhum tipo de adorno, nem vinheta de abertura, ele acredita que isso dá uma característica de proximidade com o público. “A psicanálise não deve ser falada de maneira difícil. Eu tento achar um equilíbrio entre o rigor dentro do método para não banalizar e uma linguagem que as pessoas se sintam identificadas no seu conhecimento ou no seu desejo de saber”, declara ele, que, após horas de pesquisa e roteirização, grava de casa, ao lado da gata Martina. “É um momento muito íntimo”.

Apesar de não ser remunerado, Guilherme diz fazer o programa em consideração aos fãs. “As pessoas falam que o podcast as ajudam e isso me motiva”, diz ele, que traz temas que surgem da escuta dos sintomas da nossa época no consultório e das suas próprias angústias. “O mais importante é que desperte o desejo de saber de cada um, que as pessoas tenham vontade de falar mais e procurar analistas, psicólogos, enfim”.

Guilherme fala sobre psicanálise de forma simples Foto: Guilherme Facci

A saúde mental – e a conversa sobre o assunto – ganhou, invariavelmente, destaque durante a pandemia. Para Guilherme, isso tem a ver com o sentido de urgência que a morte, como representação traz. “Ela nos apresenta a finitude e isso pode dar urgência ao desejo”, diz. “O efeito foi cada um começar a perguntar sobre propósitos, vontades, num sentido mais interessante da angústia – uma angústia mais mobilizadora do que uma paralisadora.”

Astrologia também parece ter sido um assunto muito buscado, uma vez que o podcast exclusivo da Deezer, Céu da Semana, com a astróloga Titi Vidal, de 42 anos, foi o mais escutado da plataforma nos últimos dois meses. “Por muito tempo, o nosso objetivo (dos astrólogos) era tirar todo o ‘astrologuês’ das previsões e traduzir tudo para português. Mas como as pessoas passaram a se interessar mais por astrologia, elas querem saber de onde tiramos essas informações. Então eu trago a contextualização no começo e, depois, a tradução”, conta ela, que lançou o podcast em novembro de 2018.

Muito ativa nas redes sociais e em diferentes mídias, Titi consegue distinguir as diferenças de público e linguagem de cada uma. “No podcast, preciso ter muita clareza na informação que eu passo, porque a pessoa tem de entender ouvindo. E às vezes eu tenho a sensação de que o podcast fica mais profundo, mais completo”, diz. “A astrologia ajuda a gente a entender o contexto, a entender o que está acontecendo com o mundo, com os meus amigos, com qualquer pessoa, porque isso interfere na minha vida”.

“É legal lembrar que o nosso vício não é exatamente no smartphone ou nas telas. Mas na informação que a gente tem a partir daquela plataforma. A gente é viciado na facilidade que aquilo nos proporciona”, conta a consultora sênior de Mindset da empresa de tendências WGSN, Julia Curan.

Antes de gravar o podcast, Titi Vidal se prepara estudando o céu da semana Foto: Titi Vidal

Além de exigir menos foco do ouvinte, no sentido de que é possível fazer outras coisas enquanto se escuta, a falta de recursos visuais, acentua também a privacidade dos criadores de conteúdo – um dos aspectos mais importantes para Laurinha Lero, que usa esse pseudônimo e nunca revelou seu rosto ou nome verdadeiros. “Eu acho que é uma maneira de você criar uma coisa sem se expor tanto e, de certa forma, isso é um benefício, porque penetra muito mais na cabeça da pessoa do que se ela tivesse de ficar olhando para você”, diz Laurinha.

No entanto, dependendo do fã, a voz já pode ser um fator muito marcante. Camila e Guilherme já foram reconhecidos nas ruas – mesmo com máscara de proteção – simplesmente por estarem falando. “A mulher virou pra trás e falou: ‘Nóia minha?’ e isso nunca tinha acontecido antes”, conta Camila.

Estratégia. A investida em conteúdos exclusivos foi uma estratégia das plataformas que perceberam o crescimento do mercado de podcasts e dos próprios podcasters, que antes tinham poucas opções de remuneração além de patrocínios e crowdfunding. “A gente está consumindo muito mais streamings. E talvez o podcast esteja indo cada vez mais para o caminho dos streamings de vídeo, na ideia de cada um ter seus exclusivos”, opina Luiz Felipe Marques, criador da Orelo, plataforma brasileira, lançada em julho deste ano, exclusiva para podcasts.

“O podcast é a mídia que mais cresce no mundo atualmente. No Brasil, são 20 milhões de pessoas escutando todos os dias. Olhando pra isso, a gente entendeu que levar temas ou formatos que não eram tão comuns seria interessante”, conta ele, que lançou a Orelo com 15 conteúdos exclusivos e pretende chegar em 50 até o final do ano.

A Orelo oferece o pacote exclusivo e o premium. O primeiro garante parte de toda a grade exclusiva de podcasts com anúncios. Já na versão premium, o acesso é livre, com um diferencial. “O assinante paga uma mensalidade de R$ 6,90 por mês e pode escolher o seu podcaster favorito para doar 30% do pagamento diretamente para ele”, explica Luiz.

Luiz Felipe Marques, criador da plataforma Foto: Orelo

O empoderamento, tanto do ouvinte de poder contribuir, quanto do podcaster de poder dedicar tempo e estudo para fazer um bom programa e ser remunerado por isso, mostra a importância do conteúdo – que supera a necessidade de imagens, mesmo em um mundo de telas. “O que na TV é uma produção milionária, no áudio é uma história bem contada”, diz.

“Produtos que vão para a linguagem oral naturalmente precisam ganhar coloquialidade, precisam acessar o seu ouvinte de uma maneira mais direta e fácil”, ensina o jornalista Emanuel Bomfim, à frente tanto do podcast Estadão Notícias quanto da Rádio Eldorado, ambos do Grupo Estado. “De alguma maneira você também é um produto de entretenimento, porque aqueles minutos que você está com o seu público têm de ser prazerosos.”

Desde 1922, quando o rádio surgiu, ele transformou sua realidade. “O rádio ficou mais refém, com o passar do tempo, da sua lógica de grade ao vivo. O podcast, então, traz a possibilidade de ter menos amarras para poder sofisticar e ampliar o seu escopo temático”, coloca Emanuel.

“É legal acompanhar essa evolução porque quando o podcast chegou no Brasil, ele não tinha essa identificação; era quase uma versão amadora do que era um programa de rádio. E hoje o Brasil está rumando para cada vez mais investir nesse padrão de qualidade em todas as pontas– edição, montagem, identificação”.

Camila Fremder, do 'É Nóia Minha', tem ajuda da equipe do Spotify para editar o programa, que convida pessoas para compartilhar suas 'nóias' Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Depois que criou um Telegram específico para o seu programa Respondendo em Voz Alta, a podcaster DJ Laurinha Lero (ela mantém sua identidade como um segredo bem guardado), de 25 anos, passou a receber dezenas de perguntas diárias nada convencionais: de teorias da conspiração a dúvidas sobre as nomenclaturas de objetos. Amante dos dois mundos, rádio e podcast, ela investiu um “programa de rádio gravado”, nos quais responde às perguntas, sempre precedidas de um toque de telefone, associando-as com pensamentos e reflexões individuais do cotidiano. “Achei que seria interessante fazer um programa que fosse de rádio e que, obviamente, não é”, diz ela.

O podcast, mídia em áudio com assuntos e estilos variados, cresceu muito durante a pandemia. Entre janeiro e maio deste ano houve um aumento de 62% no número de produtoras de podcasts inscritas na Deezer em relação ao último semestre de 2019. A plataforma revelou ainda que 43% dos brasileiros ouviram podcast pela primeira vez durante a quarentena. Já no Spotify, o crescimento total do streaming foi de 29% na comparação anual. Desse volume, quase 63 milhões são ouvintes de podcast. A facilidade de gravar com ferramentas simples é uma das razões que estimulou novos criadores de conteúdo a se aventurar nas ondas do podcast – e a ficarem famosos por isso.

No caso de Laurinha, tudo começou com uma brincadeira, quando ela estava doente e “não tinha nada para fazer”, então decidiu responder perguntas online. “Eu respondi em um take só. Apertei ‘play’, depois ‘stop’ e coloquei na internet. Quando fui ver tinha dezenas de milhares plays por episódio e aí ficou constrangedor parar”, conta ela, que faz parte dos top 10 podcasts entre os 1,5 milhão disponíveis no Spotify. Com o sucesso, o Respondendo em Voz Alta passou a ser exclusivo da plataforma – remunerado e quinzenal.

Laurinha Lero mantém sua identidade em segredo Foto: Laurinha Lero

“Eu acho que o podcast está crescendo porque as pessoas não querem ouvir o monólogo interno delas”, opina Laurinha. “Ele realmente ocupa sua cabeça, como se você estivesse em uma conversa com alguém ou como se estivesse ouvindo uma conversa. Diferente da música.”

Para Camila Fremder, de 38 anos, roteirista e criadora do podcast É Nóia Minha? (também exclusivo do Spotify), os produtores de conteúdo entraram em uma fase de troca com o ouvinte. “Eu sempre produzi muito para os outros e eu estava querendo produzir conteúdo pra mim.”

Assim como em uma conversa com os amigos, Camila e mais dois convidados discutem sobre o tema da vez. “Eu fico analisando uma pessoa e pensando ‘qual será a noia que essa pessoa tem?’ Aí convido ela para fazer o programa”, explica. Para ela, a espontaneidade do podcast é um dos segredos do sucesso.

Diferente da TV ou do próprio rádio, que tinham o objetivo de ocupar um ambiente, o podcast é criado para o consumo individual. “O podcast é um jeito de você encontrar a sua turma. A gente sente que faz parte da conversa, encontra pessoas que são muito parecidas com você”, diz Camila. O ato de escutar o outro ou um grupo falando sobre algo do seu interesse gera um sentimento de identificação.

Enquanto Camila conta com a ajuda de uma equipe do Spotify e Laurinha trabalha diretamente com o seu editor, Guilherme Facci, de 44 anos, do podcast A Loucura Nossa de Cada Dia, gosta de trabalhar sozinho. Sem nenhum tipo de adorno, nem vinheta de abertura, ele acredita que isso dá uma característica de proximidade com o público. “A psicanálise não deve ser falada de maneira difícil. Eu tento achar um equilíbrio entre o rigor dentro do método para não banalizar e uma linguagem que as pessoas se sintam identificadas no seu conhecimento ou no seu desejo de saber”, declara ele, que, após horas de pesquisa e roteirização, grava de casa, ao lado da gata Martina. “É um momento muito íntimo”.

Apesar de não ser remunerado, Guilherme diz fazer o programa em consideração aos fãs. “As pessoas falam que o podcast as ajudam e isso me motiva”, diz ele, que traz temas que surgem da escuta dos sintomas da nossa época no consultório e das suas próprias angústias. “O mais importante é que desperte o desejo de saber de cada um, que as pessoas tenham vontade de falar mais e procurar analistas, psicólogos, enfim”.

Guilherme fala sobre psicanálise de forma simples Foto: Guilherme Facci

A saúde mental – e a conversa sobre o assunto – ganhou, invariavelmente, destaque durante a pandemia. Para Guilherme, isso tem a ver com o sentido de urgência que a morte, como representação traz. “Ela nos apresenta a finitude e isso pode dar urgência ao desejo”, diz. “O efeito foi cada um começar a perguntar sobre propósitos, vontades, num sentido mais interessante da angústia – uma angústia mais mobilizadora do que uma paralisadora.”

Astrologia também parece ter sido um assunto muito buscado, uma vez que o podcast exclusivo da Deezer, Céu da Semana, com a astróloga Titi Vidal, de 42 anos, foi o mais escutado da plataforma nos últimos dois meses. “Por muito tempo, o nosso objetivo (dos astrólogos) era tirar todo o ‘astrologuês’ das previsões e traduzir tudo para português. Mas como as pessoas passaram a se interessar mais por astrologia, elas querem saber de onde tiramos essas informações. Então eu trago a contextualização no começo e, depois, a tradução”, conta ela, que lançou o podcast em novembro de 2018.

Muito ativa nas redes sociais e em diferentes mídias, Titi consegue distinguir as diferenças de público e linguagem de cada uma. “No podcast, preciso ter muita clareza na informação que eu passo, porque a pessoa tem de entender ouvindo. E às vezes eu tenho a sensação de que o podcast fica mais profundo, mais completo”, diz. “A astrologia ajuda a gente a entender o contexto, a entender o que está acontecendo com o mundo, com os meus amigos, com qualquer pessoa, porque isso interfere na minha vida”.

“É legal lembrar que o nosso vício não é exatamente no smartphone ou nas telas. Mas na informação que a gente tem a partir daquela plataforma. A gente é viciado na facilidade que aquilo nos proporciona”, conta a consultora sênior de Mindset da empresa de tendências WGSN, Julia Curan.

Antes de gravar o podcast, Titi Vidal se prepara estudando o céu da semana Foto: Titi Vidal

Além de exigir menos foco do ouvinte, no sentido de que é possível fazer outras coisas enquanto se escuta, a falta de recursos visuais, acentua também a privacidade dos criadores de conteúdo – um dos aspectos mais importantes para Laurinha Lero, que usa esse pseudônimo e nunca revelou seu rosto ou nome verdadeiros. “Eu acho que é uma maneira de você criar uma coisa sem se expor tanto e, de certa forma, isso é um benefício, porque penetra muito mais na cabeça da pessoa do que se ela tivesse de ficar olhando para você”, diz Laurinha.

No entanto, dependendo do fã, a voz já pode ser um fator muito marcante. Camila e Guilherme já foram reconhecidos nas ruas – mesmo com máscara de proteção – simplesmente por estarem falando. “A mulher virou pra trás e falou: ‘Nóia minha?’ e isso nunca tinha acontecido antes”, conta Camila.

Estratégia. A investida em conteúdos exclusivos foi uma estratégia das plataformas que perceberam o crescimento do mercado de podcasts e dos próprios podcasters, que antes tinham poucas opções de remuneração além de patrocínios e crowdfunding. “A gente está consumindo muito mais streamings. E talvez o podcast esteja indo cada vez mais para o caminho dos streamings de vídeo, na ideia de cada um ter seus exclusivos”, opina Luiz Felipe Marques, criador da Orelo, plataforma brasileira, lançada em julho deste ano, exclusiva para podcasts.

“O podcast é a mídia que mais cresce no mundo atualmente. No Brasil, são 20 milhões de pessoas escutando todos os dias. Olhando pra isso, a gente entendeu que levar temas ou formatos que não eram tão comuns seria interessante”, conta ele, que lançou a Orelo com 15 conteúdos exclusivos e pretende chegar em 50 até o final do ano.

A Orelo oferece o pacote exclusivo e o premium. O primeiro garante parte de toda a grade exclusiva de podcasts com anúncios. Já na versão premium, o acesso é livre, com um diferencial. “O assinante paga uma mensalidade de R$ 6,90 por mês e pode escolher o seu podcaster favorito para doar 30% do pagamento diretamente para ele”, explica Luiz.

Luiz Felipe Marques, criador da plataforma Foto: Orelo

O empoderamento, tanto do ouvinte de poder contribuir, quanto do podcaster de poder dedicar tempo e estudo para fazer um bom programa e ser remunerado por isso, mostra a importância do conteúdo – que supera a necessidade de imagens, mesmo em um mundo de telas. “O que na TV é uma produção milionária, no áudio é uma história bem contada”, diz.

“Produtos que vão para a linguagem oral naturalmente precisam ganhar coloquialidade, precisam acessar o seu ouvinte de uma maneira mais direta e fácil”, ensina o jornalista Emanuel Bomfim, à frente tanto do podcast Estadão Notícias quanto da Rádio Eldorado, ambos do Grupo Estado. “De alguma maneira você também é um produto de entretenimento, porque aqueles minutos que você está com o seu público têm de ser prazerosos.”

Desde 1922, quando o rádio surgiu, ele transformou sua realidade. “O rádio ficou mais refém, com o passar do tempo, da sua lógica de grade ao vivo. O podcast, então, traz a possibilidade de ter menos amarras para poder sofisticar e ampliar o seu escopo temático”, coloca Emanuel.

“É legal acompanhar essa evolução porque quando o podcast chegou no Brasil, ele não tinha essa identificação; era quase uma versão amadora do que era um programa de rádio. E hoje o Brasil está rumando para cada vez mais investir nesse padrão de qualidade em todas as pontas– edição, montagem, identificação”.

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