Você conhece o sujeito da foto aí ao lado? Ele é Rodrigo Campos. Não é tão conhecido a ponto de ser famoso, mas também não é um completo estranho na cena musical de São Paulo. Rodrigo é um dos artistas mais bem falados de sua geração.
Compositor dos bons, cavaquinista e violonista dos melhores, chegou ao segundo álbum da carreira, Bahia Fantástica, com uma façanha que ultrapassa a qualidade estética do disco. Reuniu nele outros músicos do mesmo quilate que o seu por pura admiração dos colegas. Conseguiu, em três anos, desde o lançamento de São Mateus Não É Um Lugar Assim Tão Longe, em 2009, o reconhecimento de muita gente. E, também por isso, merece as páginas a seguir - e a sua atenção.
Seleção natural
Foi-se a luz e as três campainhas liberaram a entrada de Rodrigo Campos no palco do teatro da Sala Guiomar Novaes, na Funarte. Camisa florida, boina inexorável e violão modernoso embaixo do braço. Era a primeira vez em mais de um mês que fazia um show só seu, apenas com composições próprias.
Não que estivesse em ócio criativo: terminara a gravação do segundo disco, buscava algum selo para lançá-lo, organizava uma sessão de fotos para o novo álbum, coordenava projetos de shows e continuava se apresentando quase toda semana, fosse na roda de samba no Ó do Borogodó; com Kiko Dinucci, Marcelo Cabral e Romulo Fróes na banda ‘Passo Torto’ ou em outras incursões.
Rodrigo faz parte de uma geração de artistas que não se limitam à própria criação. Está aqui e acolá numa cena musical profícua e articulada. Por isso, consegue se apresentar mais do que o normal entre músicos do mesmo porte. Se Cabral não pode estar no Sambanzo, lá vai ele com seu violão e cavaquinho para substituí-lo com novos arranjos para as músicas, acompanhando as levadas de Thiago França no sax. Às vezes, se apresenta com Romulo Fróes e pode acontecer de tocar com a mulher Luiza Maita, fazer uma participação no show de Criolo ou em um dos outros projetos de Kiko.
Há entre eles um acordo tácito de escambo artístico. A flexibilidade musical e o talento deram a Rodrigo um bom poder de barganha. Reconhecido pela habilidade e estilo peculiar (no violão e no cavaquinho), o músico gravou com Romulo Fróes o Labirinto em Cada Pé e está na produção do próximo disco do compositor; produziu algumas faixas do Sambanzo; emprestou o cavaquinho e a percussão ao Nó Na Orelha, de Criolo, com produção de Marcelo Cabral; e ao disco homônimo do Metá Metá, entre outros.
Quando se refere a este núcleo, Rodrigo faz questão de falar da proximidade deles, de como foi a vivência a responsável pela cooperação artística - e não o contrario.
Panela aberta
O primeiro com quem tocou, ainda que a amizade só viesse a se consolidar em 2008, quando montaram a Gafieira Nacional, foi Thiago França. Rodrigo acabara de voltar de uma série de apresentações com o clarinetista Paulo Moura em 2004 e era o cavaquinho que levava os sambas no projeto Teatro Samba do Caixote. Thiago fora substituir o saxofonista do grupo e, enquanto ensaiavam no camarim, ouvira Rodrigo fazer um pequeno solo no instrumento. Pediu que ele repetisse a melodia no palco, Rodrigo tentou declinar (não gosta de solar, diz não se sentir confortável) e ouviu Thiago emendar de pronto: “Você não foi o cara que tocou com o Paulo Moura? Sola aí!”. E Rodrigo solou.
Marcelo Cabral ele conheceu quando lançou o primeiro disco São Mateus não é Um Lugar Assim Tão Longe, em 2009. Durante a turnê de lançamento do disco, Cabral substituiu o violonista oficial da banda. Foi tão preciso, que tomou o posto para si. Estreitaram laços na fossa amorosa quando, no mesmo período, os dois terminaram namoros longos.
Numa roda de samba, em 2009, ele substituto do cavaquinista e Kiko o do violonista, tocaram juntos sem sequer se apresentar, acompanhando harmonias de improviso em sambas de Itamar Assumpção, Wilson Moreira e cadências menos famosas de João Nogueira e Paulo Vanzolini. Sentaram-se juntos depois do show e de lá a amizade segue.
O burburinho causado por ‘São Mateus...’ fez Romulo ir em busca de Rodrigo. Mesmo vendo no palco um show morno, conta Rômulo, percebeu nas músicas o talento de compositor. Cumprimentou-o friamente ao final da apresentação e, depois de alguns encontros, decidiram trabalhar juntos.
Só no final de 2010, começaram a se organizar. Segundo Thiago, entre o carnaval, a copa e as eleições, os shows minguaram. Decidiram se juntar e inventar projetos. Sambanzo, Marginal, Metá Metá e o Passo Torto nasceram como idéia nessa época, ele conta. Menos de um ano depois, os projetos já tinham virado bandas e discos.
Em três anos e poucos meses, Kiko, Marcelo, Romulo e Rodrigo já gravaram um disco de sambas cadenciados e quebrados com o Passo Torto e, com Thiago, entrecruzaram-se em composições e produções de álbuns. Almoçam juntos pelo menos uma vez na semana ou se encontram para um chope, frequentemente no Sabiá. Em comum têm, principalmente, o samba e a maneira como se apropriam dele.