Coluna quinzenal do jornalista e escritor Sérgio Augusto sobre literatura

Opinião|Otto 100


‘Envelhecendo e envilecendo’ era uma das tiradas lapidares do escritor mineiro

Por Sérgio Augusto
Atualização:

Plágio confesso não é plágio, é citação. Vivo a repetir duas tiradas lapidares de Otto Lara Resende, sem jamais deixar de atribuí-las ao verdadeiro autor. Quando me perguntam como vou indo, também costumo responder “envelhecendo e envilecendo”. Quando certos fatos e falas nacionais me cobrem de vergonha, também ameaço “trancar minha matrícula de brasileiro”. 

A um só tempo engraçadas e tristes, as duas frases eram a cara do Otto. Esta semana, por exemplo, ele fatalmente repetiria a segunda depois de ouvir aquele arrogante general que preside o Superior Tribunal Militar negar a catadupa de testemunhos sobre torturas da ditadura de 64 coletados pelo historiador Carlos Fico. 

O escritor Otto Lara Resende. Foto: Arquivo
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Causeur munido de fulminantes boutades, com um inato talento para o convívio social, o sempre afável Otto, que em 1.º de maio faria 100 anos e há 30 nos deixou, a muito custo se livrou da pecha de intelectual de salão que Nelson Rodrigues, muy amigavelmente, tentou folclorizar. Não escondia seu incômodo com o bully do Nelson, que inventava e punha em sua boca coisas divertidíssimas, mas apócrifas e, eventualmente, comprometedoras.

Seu humor era profundamente trágico, dramático, espelho de sua prosa sombria, puxada para o lúgubre. Com uma “cólera enrustida”, acrescentou. 

Acreditava ter sido salvo por “um grão de sandice e rebeldia”. Do quê? Da caretice terminal. Achava-se um irremediavelmente antiquado.

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Para si mesmo reservou o melhor apelido de seu rico repertório de alcunhas galhofeiras. Por não saber direito sua função nos domínios do então mandachuva da TV Globo, Walter Clark, autoimputou-se o cargo de “walter ego”. 

Curioso, leitor onívoro e glutão, era capaz de telefonar de um restaurante só para recuperar com algum íntimo o nome de uma antiga e desativada loja de eletrodomésticos ou de um personagem cinematográfico. 

Ficamos mais próximos em seus últimos anos de vida. Cheguei a substituí-lo algumas vezes na coluna que enviava do Rio para a página 2 da Folha. E também por isso acompanhei de bem perto sua inesperada conversão à barba. Deprimido pela folgança compulsória que a saída de Clark da Globo lhe impusera, Otto teve um clique no réveillon de 1983-84 e decidiu mudar até a fachada. Ao chegar à casa (ou, como dizia Manuel Bandeira, “ao pardieiro dos 60”), deixou crescer senhorial barba branca. 

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Os amigos mais chegados reagiram com misericordiosa discrição. Se ainda fosse vivo, Nelson Rodrigues o teria apelidado de “Hemingway do Jardim Botânico”. João Cabral de Melo Neto, a única exceção, achou Otto a cara de um personagem histórico de seu velho manual escolar. Eu me satisfiz com Papai Noel. 

Plágio confesso não é plágio, é citação. Vivo a repetir duas tiradas lapidares de Otto Lara Resende, sem jamais deixar de atribuí-las ao verdadeiro autor. Quando me perguntam como vou indo, também costumo responder “envelhecendo e envilecendo”. Quando certos fatos e falas nacionais me cobrem de vergonha, também ameaço “trancar minha matrícula de brasileiro”. 

A um só tempo engraçadas e tristes, as duas frases eram a cara do Otto. Esta semana, por exemplo, ele fatalmente repetiria a segunda depois de ouvir aquele arrogante general que preside o Superior Tribunal Militar negar a catadupa de testemunhos sobre torturas da ditadura de 64 coletados pelo historiador Carlos Fico. 

O escritor Otto Lara Resende. Foto: Arquivo

Causeur munido de fulminantes boutades, com um inato talento para o convívio social, o sempre afável Otto, que em 1.º de maio faria 100 anos e há 30 nos deixou, a muito custo se livrou da pecha de intelectual de salão que Nelson Rodrigues, muy amigavelmente, tentou folclorizar. Não escondia seu incômodo com o bully do Nelson, que inventava e punha em sua boca coisas divertidíssimas, mas apócrifas e, eventualmente, comprometedoras.

Seu humor era profundamente trágico, dramático, espelho de sua prosa sombria, puxada para o lúgubre. Com uma “cólera enrustida”, acrescentou. 

Acreditava ter sido salvo por “um grão de sandice e rebeldia”. Do quê? Da caretice terminal. Achava-se um irremediavelmente antiquado.

Para si mesmo reservou o melhor apelido de seu rico repertório de alcunhas galhofeiras. Por não saber direito sua função nos domínios do então mandachuva da TV Globo, Walter Clark, autoimputou-se o cargo de “walter ego”. 

Curioso, leitor onívoro e glutão, era capaz de telefonar de um restaurante só para recuperar com algum íntimo o nome de uma antiga e desativada loja de eletrodomésticos ou de um personagem cinematográfico. 

Ficamos mais próximos em seus últimos anos de vida. Cheguei a substituí-lo algumas vezes na coluna que enviava do Rio para a página 2 da Folha. E também por isso acompanhei de bem perto sua inesperada conversão à barba. Deprimido pela folgança compulsória que a saída de Clark da Globo lhe impusera, Otto teve um clique no réveillon de 1983-84 e decidiu mudar até a fachada. Ao chegar à casa (ou, como dizia Manuel Bandeira, “ao pardieiro dos 60”), deixou crescer senhorial barba branca. 

Os amigos mais chegados reagiram com misericordiosa discrição. Se ainda fosse vivo, Nelson Rodrigues o teria apelidado de “Hemingway do Jardim Botânico”. João Cabral de Melo Neto, a única exceção, achou Otto a cara de um personagem histórico de seu velho manual escolar. Eu me satisfiz com Papai Noel. 

Plágio confesso não é plágio, é citação. Vivo a repetir duas tiradas lapidares de Otto Lara Resende, sem jamais deixar de atribuí-las ao verdadeiro autor. Quando me perguntam como vou indo, também costumo responder “envelhecendo e envilecendo”. Quando certos fatos e falas nacionais me cobrem de vergonha, também ameaço “trancar minha matrícula de brasileiro”. 

A um só tempo engraçadas e tristes, as duas frases eram a cara do Otto. Esta semana, por exemplo, ele fatalmente repetiria a segunda depois de ouvir aquele arrogante general que preside o Superior Tribunal Militar negar a catadupa de testemunhos sobre torturas da ditadura de 64 coletados pelo historiador Carlos Fico. 

O escritor Otto Lara Resende. Foto: Arquivo

Causeur munido de fulminantes boutades, com um inato talento para o convívio social, o sempre afável Otto, que em 1.º de maio faria 100 anos e há 30 nos deixou, a muito custo se livrou da pecha de intelectual de salão que Nelson Rodrigues, muy amigavelmente, tentou folclorizar. Não escondia seu incômodo com o bully do Nelson, que inventava e punha em sua boca coisas divertidíssimas, mas apócrifas e, eventualmente, comprometedoras.

Seu humor era profundamente trágico, dramático, espelho de sua prosa sombria, puxada para o lúgubre. Com uma “cólera enrustida”, acrescentou. 

Acreditava ter sido salvo por “um grão de sandice e rebeldia”. Do quê? Da caretice terminal. Achava-se um irremediavelmente antiquado.

Para si mesmo reservou o melhor apelido de seu rico repertório de alcunhas galhofeiras. Por não saber direito sua função nos domínios do então mandachuva da TV Globo, Walter Clark, autoimputou-se o cargo de “walter ego”. 

Curioso, leitor onívoro e glutão, era capaz de telefonar de um restaurante só para recuperar com algum íntimo o nome de uma antiga e desativada loja de eletrodomésticos ou de um personagem cinematográfico. 

Ficamos mais próximos em seus últimos anos de vida. Cheguei a substituí-lo algumas vezes na coluna que enviava do Rio para a página 2 da Folha. E também por isso acompanhei de bem perto sua inesperada conversão à barba. Deprimido pela folgança compulsória que a saída de Clark da Globo lhe impusera, Otto teve um clique no réveillon de 1983-84 e decidiu mudar até a fachada. Ao chegar à casa (ou, como dizia Manuel Bandeira, “ao pardieiro dos 60”), deixou crescer senhorial barba branca. 

Os amigos mais chegados reagiram com misericordiosa discrição. Se ainda fosse vivo, Nelson Rodrigues o teria apelidado de “Hemingway do Jardim Botânico”. João Cabral de Melo Neto, a única exceção, achou Otto a cara de um personagem histórico de seu velho manual escolar. Eu me satisfiz com Papai Noel. 

Plágio confesso não é plágio, é citação. Vivo a repetir duas tiradas lapidares de Otto Lara Resende, sem jamais deixar de atribuí-las ao verdadeiro autor. Quando me perguntam como vou indo, também costumo responder “envelhecendo e envilecendo”. Quando certos fatos e falas nacionais me cobrem de vergonha, também ameaço “trancar minha matrícula de brasileiro”. 

A um só tempo engraçadas e tristes, as duas frases eram a cara do Otto. Esta semana, por exemplo, ele fatalmente repetiria a segunda depois de ouvir aquele arrogante general que preside o Superior Tribunal Militar negar a catadupa de testemunhos sobre torturas da ditadura de 64 coletados pelo historiador Carlos Fico. 

O escritor Otto Lara Resende. Foto: Arquivo

Causeur munido de fulminantes boutades, com um inato talento para o convívio social, o sempre afável Otto, que em 1.º de maio faria 100 anos e há 30 nos deixou, a muito custo se livrou da pecha de intelectual de salão que Nelson Rodrigues, muy amigavelmente, tentou folclorizar. Não escondia seu incômodo com o bully do Nelson, que inventava e punha em sua boca coisas divertidíssimas, mas apócrifas e, eventualmente, comprometedoras.

Seu humor era profundamente trágico, dramático, espelho de sua prosa sombria, puxada para o lúgubre. Com uma “cólera enrustida”, acrescentou. 

Acreditava ter sido salvo por “um grão de sandice e rebeldia”. Do quê? Da caretice terminal. Achava-se um irremediavelmente antiquado.

Para si mesmo reservou o melhor apelido de seu rico repertório de alcunhas galhofeiras. Por não saber direito sua função nos domínios do então mandachuva da TV Globo, Walter Clark, autoimputou-se o cargo de “walter ego”. 

Curioso, leitor onívoro e glutão, era capaz de telefonar de um restaurante só para recuperar com algum íntimo o nome de uma antiga e desativada loja de eletrodomésticos ou de um personagem cinematográfico. 

Ficamos mais próximos em seus últimos anos de vida. Cheguei a substituí-lo algumas vezes na coluna que enviava do Rio para a página 2 da Folha. E também por isso acompanhei de bem perto sua inesperada conversão à barba. Deprimido pela folgança compulsória que a saída de Clark da Globo lhe impusera, Otto teve um clique no réveillon de 1983-84 e decidiu mudar até a fachada. Ao chegar à casa (ou, como dizia Manuel Bandeira, “ao pardieiro dos 60”), deixou crescer senhorial barba branca. 

Os amigos mais chegados reagiram com misericordiosa discrição. Se ainda fosse vivo, Nelson Rodrigues o teria apelidado de “Hemingway do Jardim Botânico”. João Cabral de Melo Neto, a única exceção, achou Otto a cara de um personagem histórico de seu velho manual escolar. Eu me satisfiz com Papai Noel. 

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