Sicília trágica


'Viagem Proibida', baseado em Luigi Pirandello, é o trabalho final de Vittorio De Sica

Por Luiz Zanin Oricchio

Viagem Proibida

é o último suspiro do grande Vittorio De Sica (1901-1974). Inspirado em novela de Luigi Pirandello, tem como par central a ainda belíssima Sophia Loren e Richard Burton, sempre às voltas com problemas de saúde e alcoolismo, mas dono de carisma difícil de igualar.

Ainda mais quando se põe na pele de um personagem neurótico e muito sofrido como o nobre siciliano que se vê na contingência de renunciar ao seu amor em nome de uma ordem paterna. Tal é a história imaginada por Pirandello, agudo observador da sua Sicília natal. A história começa com a abertura de um testamento. Nele, o patriarca deixa expressas suas vontades, distribui ordens e propriedades, e determina casamentos, que se realizarão conforme seus desejos. Um deles terá de ser celebrado entre um dos seus filhos, Antonio, e uma moça pobre da região, Adriana, interpretada por Sophia, que ama em segredo, e é amada, pelo outro irmão, Cesare (Burton).

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O filme, embora não possa ser considerado um dos grandes de quem tem no currículo títulos como

Ladrões de Bicicleta

,

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Vítimas da Tormenta

,

Milagre em Milão

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e

Umberto D

, para citar apenas suas obras-primas, possui um sentido de observação muito interessante dos aspectos mais conservadores da sociedade italiana. Siciliana, em particular. Ordem paterna não se discute. Mesmo que sua observância traga infelicidade a todos, cumpre-se e ponto final. Ainda mais quando é revelada post mortem, sem que o patriarca esteja presente sequer para ser contestado. Os mortos governam os vivos, como se sabe desde Shakespeare e Hegel. Isso, na Sicília dos primeiros anos do século 20, hierarquizada ao extremo, parece ainda mais verdadeiro do que em outras épocas e geografias. É o peso da História, de que falava outro siciliano ilustre, Giuseppe Tomasi di Lampedusa, de

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O Leopardo

.

Não faltam elementos de melodrama nas etapas dessa

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Viagem Proibida

. De Sica, ao longo dos anos, foi adocicando a inspiração neorrealista da qual se nutriu na juventude. Aliás, entre os neorrealistas, teve trajetória particular. Foi ator de sucesso antes de se tornar diretor. Continuou atuando (e bem) mesmo depois de se tornar cineasta mundialmente conhecido - é dele, por exemplo, a magnífica composição do impostor Emanuele Bertone em

De Crápula a Herói

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, de Roberto Rossellini.

Os últimos anos de De Sica foram menos inspirados que seu período neorrealista, durante o qual fez suas principais obras em parceria com o roteirista Cesare Zavattini, ideólogo do movimento. Depois envolveu-se com um tipo de cinema mais comercial, veículo para a estrela internacional em que Sophia Loren havia se convertido. La Loren era casada com o poderoso produtor Carlo Ponti, que a impunha em papéis às vezes pouco adequados. Em

Viagem Proibida

, por exemplo, aos 40 anos, linda, é verdade, interpreta uma ingênua rapariga em flor.

Em nome do diretor, do inegável carisma dos intérpretes e também da nobre origem literária da obra, passa-se por cima de muita coisa. E acabamos envolvidos nessa história de amor impossível e trágico, ambientada num mundo que já não é mais o nosso, história que só faz sentido no interior de uma mentalidade que nos é estranha.

E há também, claro, o sentido cinematográfico de De Sica, que não se perde mesmo nesse ponto final de trajetória. As paisagens da Sicília são tocantes. Aquele mundo, transfigurado na prosa de Pirandello, ganha aqui contorno romântico, certa aura de universo perdido, reencontrado apenas na memória. É uma sociedade antiquada, vista por um cineasta maduro, em meados dos febris anos 1970.

Não que

Viagem Proibida

soasse muito contemporâneo na Itália de 1974. Como a sociedade que retrata, a siciliana de antes da 1ª Guerra Mundial, soa um tanto antiquado, fora de seu tempo. A Itália daquela época já era diferente tanto do imobilismo do início do século 20 quanto do febril pós-guerra de 1945, quando o neorrealismo emergiu. Já não era também o mundo de De Sica. Esse anacronismo romântico não é o menor dos encantos deste filme.

VIAGEM PROIBIDADireção: Vittorio De Sica.Distribuição: Versátil (R$ 37,50)Elenco: Richard Burton, Sophia Loren

Viagem Proibida

é o último suspiro do grande Vittorio De Sica (1901-1974). Inspirado em novela de Luigi Pirandello, tem como par central a ainda belíssima Sophia Loren e Richard Burton, sempre às voltas com problemas de saúde e alcoolismo, mas dono de carisma difícil de igualar.

Ainda mais quando se põe na pele de um personagem neurótico e muito sofrido como o nobre siciliano que se vê na contingência de renunciar ao seu amor em nome de uma ordem paterna. Tal é a história imaginada por Pirandello, agudo observador da sua Sicília natal. A história começa com a abertura de um testamento. Nele, o patriarca deixa expressas suas vontades, distribui ordens e propriedades, e determina casamentos, que se realizarão conforme seus desejos. Um deles terá de ser celebrado entre um dos seus filhos, Antonio, e uma moça pobre da região, Adriana, interpretada por Sophia, que ama em segredo, e é amada, pelo outro irmão, Cesare (Burton).

O filme, embora não possa ser considerado um dos grandes de quem tem no currículo títulos como

Ladrões de Bicicleta

,

Vítimas da Tormenta

,

Milagre em Milão

e

Umberto D

, para citar apenas suas obras-primas, possui um sentido de observação muito interessante dos aspectos mais conservadores da sociedade italiana. Siciliana, em particular. Ordem paterna não se discute. Mesmo que sua observância traga infelicidade a todos, cumpre-se e ponto final. Ainda mais quando é revelada post mortem, sem que o patriarca esteja presente sequer para ser contestado. Os mortos governam os vivos, como se sabe desde Shakespeare e Hegel. Isso, na Sicília dos primeiros anos do século 20, hierarquizada ao extremo, parece ainda mais verdadeiro do que em outras épocas e geografias. É o peso da História, de que falava outro siciliano ilustre, Giuseppe Tomasi di Lampedusa, de

O Leopardo

.

Não faltam elementos de melodrama nas etapas dessa

Viagem Proibida

. De Sica, ao longo dos anos, foi adocicando a inspiração neorrealista da qual se nutriu na juventude. Aliás, entre os neorrealistas, teve trajetória particular. Foi ator de sucesso antes de se tornar diretor. Continuou atuando (e bem) mesmo depois de se tornar cineasta mundialmente conhecido - é dele, por exemplo, a magnífica composição do impostor Emanuele Bertone em

De Crápula a Herói

, de Roberto Rossellini.

Os últimos anos de De Sica foram menos inspirados que seu período neorrealista, durante o qual fez suas principais obras em parceria com o roteirista Cesare Zavattini, ideólogo do movimento. Depois envolveu-se com um tipo de cinema mais comercial, veículo para a estrela internacional em que Sophia Loren havia se convertido. La Loren era casada com o poderoso produtor Carlo Ponti, que a impunha em papéis às vezes pouco adequados. Em

Viagem Proibida

, por exemplo, aos 40 anos, linda, é verdade, interpreta uma ingênua rapariga em flor.

Em nome do diretor, do inegável carisma dos intérpretes e também da nobre origem literária da obra, passa-se por cima de muita coisa. E acabamos envolvidos nessa história de amor impossível e trágico, ambientada num mundo que já não é mais o nosso, história que só faz sentido no interior de uma mentalidade que nos é estranha.

E há também, claro, o sentido cinematográfico de De Sica, que não se perde mesmo nesse ponto final de trajetória. As paisagens da Sicília são tocantes. Aquele mundo, transfigurado na prosa de Pirandello, ganha aqui contorno romântico, certa aura de universo perdido, reencontrado apenas na memória. É uma sociedade antiquada, vista por um cineasta maduro, em meados dos febris anos 1970.

Não que

Viagem Proibida

soasse muito contemporâneo na Itália de 1974. Como a sociedade que retrata, a siciliana de antes da 1ª Guerra Mundial, soa um tanto antiquado, fora de seu tempo. A Itália daquela época já era diferente tanto do imobilismo do início do século 20 quanto do febril pós-guerra de 1945, quando o neorrealismo emergiu. Já não era também o mundo de De Sica. Esse anacronismo romântico não é o menor dos encantos deste filme.

VIAGEM PROIBIDADireção: Vittorio De Sica.Distribuição: Versátil (R$ 37,50)Elenco: Richard Burton, Sophia Loren

Viagem Proibida

é o último suspiro do grande Vittorio De Sica (1901-1974). Inspirado em novela de Luigi Pirandello, tem como par central a ainda belíssima Sophia Loren e Richard Burton, sempre às voltas com problemas de saúde e alcoolismo, mas dono de carisma difícil de igualar.

Ainda mais quando se põe na pele de um personagem neurótico e muito sofrido como o nobre siciliano que se vê na contingência de renunciar ao seu amor em nome de uma ordem paterna. Tal é a história imaginada por Pirandello, agudo observador da sua Sicília natal. A história começa com a abertura de um testamento. Nele, o patriarca deixa expressas suas vontades, distribui ordens e propriedades, e determina casamentos, que se realizarão conforme seus desejos. Um deles terá de ser celebrado entre um dos seus filhos, Antonio, e uma moça pobre da região, Adriana, interpretada por Sophia, que ama em segredo, e é amada, pelo outro irmão, Cesare (Burton).

O filme, embora não possa ser considerado um dos grandes de quem tem no currículo títulos como

Ladrões de Bicicleta

,

Vítimas da Tormenta

,

Milagre em Milão

e

Umberto D

, para citar apenas suas obras-primas, possui um sentido de observação muito interessante dos aspectos mais conservadores da sociedade italiana. Siciliana, em particular. Ordem paterna não se discute. Mesmo que sua observância traga infelicidade a todos, cumpre-se e ponto final. Ainda mais quando é revelada post mortem, sem que o patriarca esteja presente sequer para ser contestado. Os mortos governam os vivos, como se sabe desde Shakespeare e Hegel. Isso, na Sicília dos primeiros anos do século 20, hierarquizada ao extremo, parece ainda mais verdadeiro do que em outras épocas e geografias. É o peso da História, de que falava outro siciliano ilustre, Giuseppe Tomasi di Lampedusa, de

O Leopardo

.

Não faltam elementos de melodrama nas etapas dessa

Viagem Proibida

. De Sica, ao longo dos anos, foi adocicando a inspiração neorrealista da qual se nutriu na juventude. Aliás, entre os neorrealistas, teve trajetória particular. Foi ator de sucesso antes de se tornar diretor. Continuou atuando (e bem) mesmo depois de se tornar cineasta mundialmente conhecido - é dele, por exemplo, a magnífica composição do impostor Emanuele Bertone em

De Crápula a Herói

, de Roberto Rossellini.

Os últimos anos de De Sica foram menos inspirados que seu período neorrealista, durante o qual fez suas principais obras em parceria com o roteirista Cesare Zavattini, ideólogo do movimento. Depois envolveu-se com um tipo de cinema mais comercial, veículo para a estrela internacional em que Sophia Loren havia se convertido. La Loren era casada com o poderoso produtor Carlo Ponti, que a impunha em papéis às vezes pouco adequados. Em

Viagem Proibida

, por exemplo, aos 40 anos, linda, é verdade, interpreta uma ingênua rapariga em flor.

Em nome do diretor, do inegável carisma dos intérpretes e também da nobre origem literária da obra, passa-se por cima de muita coisa. E acabamos envolvidos nessa história de amor impossível e trágico, ambientada num mundo que já não é mais o nosso, história que só faz sentido no interior de uma mentalidade que nos é estranha.

E há também, claro, o sentido cinematográfico de De Sica, que não se perde mesmo nesse ponto final de trajetória. As paisagens da Sicília são tocantes. Aquele mundo, transfigurado na prosa de Pirandello, ganha aqui contorno romântico, certa aura de universo perdido, reencontrado apenas na memória. É uma sociedade antiquada, vista por um cineasta maduro, em meados dos febris anos 1970.

Não que

Viagem Proibida

soasse muito contemporâneo na Itália de 1974. Como a sociedade que retrata, a siciliana de antes da 1ª Guerra Mundial, soa um tanto antiquado, fora de seu tempo. A Itália daquela época já era diferente tanto do imobilismo do início do século 20 quanto do febril pós-guerra de 1945, quando o neorrealismo emergiu. Já não era também o mundo de De Sica. Esse anacronismo romântico não é o menor dos encantos deste filme.

VIAGEM PROIBIDADireção: Vittorio De Sica.Distribuição: Versátil (R$ 37,50)Elenco: Richard Burton, Sophia Loren

Viagem Proibida

é o último suspiro do grande Vittorio De Sica (1901-1974). Inspirado em novela de Luigi Pirandello, tem como par central a ainda belíssima Sophia Loren e Richard Burton, sempre às voltas com problemas de saúde e alcoolismo, mas dono de carisma difícil de igualar.

Ainda mais quando se põe na pele de um personagem neurótico e muito sofrido como o nobre siciliano que se vê na contingência de renunciar ao seu amor em nome de uma ordem paterna. Tal é a história imaginada por Pirandello, agudo observador da sua Sicília natal. A história começa com a abertura de um testamento. Nele, o patriarca deixa expressas suas vontades, distribui ordens e propriedades, e determina casamentos, que se realizarão conforme seus desejos. Um deles terá de ser celebrado entre um dos seus filhos, Antonio, e uma moça pobre da região, Adriana, interpretada por Sophia, que ama em segredo, e é amada, pelo outro irmão, Cesare (Burton).

O filme, embora não possa ser considerado um dos grandes de quem tem no currículo títulos como

Ladrões de Bicicleta

,

Vítimas da Tormenta

,

Milagre em Milão

e

Umberto D

, para citar apenas suas obras-primas, possui um sentido de observação muito interessante dos aspectos mais conservadores da sociedade italiana. Siciliana, em particular. Ordem paterna não se discute. Mesmo que sua observância traga infelicidade a todos, cumpre-se e ponto final. Ainda mais quando é revelada post mortem, sem que o patriarca esteja presente sequer para ser contestado. Os mortos governam os vivos, como se sabe desde Shakespeare e Hegel. Isso, na Sicília dos primeiros anos do século 20, hierarquizada ao extremo, parece ainda mais verdadeiro do que em outras épocas e geografias. É o peso da História, de que falava outro siciliano ilustre, Giuseppe Tomasi di Lampedusa, de

O Leopardo

.

Não faltam elementos de melodrama nas etapas dessa

Viagem Proibida

. De Sica, ao longo dos anos, foi adocicando a inspiração neorrealista da qual se nutriu na juventude. Aliás, entre os neorrealistas, teve trajetória particular. Foi ator de sucesso antes de se tornar diretor. Continuou atuando (e bem) mesmo depois de se tornar cineasta mundialmente conhecido - é dele, por exemplo, a magnífica composição do impostor Emanuele Bertone em

De Crápula a Herói

, de Roberto Rossellini.

Os últimos anos de De Sica foram menos inspirados que seu período neorrealista, durante o qual fez suas principais obras em parceria com o roteirista Cesare Zavattini, ideólogo do movimento. Depois envolveu-se com um tipo de cinema mais comercial, veículo para a estrela internacional em que Sophia Loren havia se convertido. La Loren era casada com o poderoso produtor Carlo Ponti, que a impunha em papéis às vezes pouco adequados. Em

Viagem Proibida

, por exemplo, aos 40 anos, linda, é verdade, interpreta uma ingênua rapariga em flor.

Em nome do diretor, do inegável carisma dos intérpretes e também da nobre origem literária da obra, passa-se por cima de muita coisa. E acabamos envolvidos nessa história de amor impossível e trágico, ambientada num mundo que já não é mais o nosso, história que só faz sentido no interior de uma mentalidade que nos é estranha.

E há também, claro, o sentido cinematográfico de De Sica, que não se perde mesmo nesse ponto final de trajetória. As paisagens da Sicília são tocantes. Aquele mundo, transfigurado na prosa de Pirandello, ganha aqui contorno romântico, certa aura de universo perdido, reencontrado apenas na memória. É uma sociedade antiquada, vista por um cineasta maduro, em meados dos febris anos 1970.

Não que

Viagem Proibida

soasse muito contemporâneo na Itália de 1974. Como a sociedade que retrata, a siciliana de antes da 1ª Guerra Mundial, soa um tanto antiquado, fora de seu tempo. A Itália daquela época já era diferente tanto do imobilismo do início do século 20 quanto do febril pós-guerra de 1945, quando o neorrealismo emergiu. Já não era também o mundo de De Sica. Esse anacronismo romântico não é o menor dos encantos deste filme.

VIAGEM PROIBIDADireção: Vittorio De Sica.Distribuição: Versátil (R$ 37,50)Elenco: Richard Burton, Sophia Loren

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