Christiane Torloni vive a soprano Maria Callas em 'Master Class'


Peça do dramaturgo McNally explora a natureza do canto dramático 

Por Ubiratan Brasil

Em 1971, a soprano Maria Callas (1923-1977), a mais gloriosa presença vocal da ópera do século 20, vivia um momento delicado – a voz até então reverenciada no mundo todo já falhava e o marido, o milionário Aristóteles Onassis, a trocara por outro mito, Jacqueline Kennedy. Ferida no canto e no coração, Maria Callas buscou alívio no processo de recuperação e aceitou ministrar naquele ano uma série de aulas magna a 25 estudantes da Julliard School, em Nova York. Esse ensinamento hoje lendário, que foi acompanhado na época por artistas como o cineasta Franco Zeffirelli e o cantor Plácido Domingo, inspirou o dramaturgo Terrence McNally a escrever a peça Master Class, cuja nova montagem brasileira estreia na quinta-feira, dia 3, no Teatro das Artes.

O papel de Callas, já defendido em quase uma centena de países desde a primeira encenação do texto, em 1995, será agora defendido por Christiane Torloni – a primeira versão brasileira, de 1996, teve Marília Pêra à frente. Trata-se de um enorme desafio: diante de alunos que apresentam falhas no canto ou mesmo total desconhecimento das árias que estão interpretando, Callas revela-se uma mulher contraditória, orgulhosa, egoísta e, ao mesmo tempo, vulnerável e autopiedosa, fruto de uma alma danificada. 

“Em cena, vemos uma profissão de fé de seu ofício”, acredita Torloni. “Callas transmite aos seus alunos os valores nos quais acreditava, totalmente dedicada à sua arte, considerada por ela como algo sagrado.”

continua após a publicidade

De fato, amada pelos fãs, venerada pelos críticos, Callas, no entanto, era uma mulher frágil e morreu abandonada pela própria voz, que estragara em arriscadas aventuras. Mas ali, diante de iniciantes, a cantora busca a comunhão no entendimento de que a arte é sagrada. Em Master Class, o dramaturgo McNally, mais que explorar a natureza do canto dramático, busca desvendar o segredo do extraordinário sucesso de Maria Callas.

Cena da pela 'Master Class' comChristiane Torloni. Foto: MARCOS MESQUITA/DIVULGAÇÃO

“Ela continua sendo a heroína trágica do século 20”, observa o diretor do espetáculo, José Possi Neto. “Um ícone maior que qualquer celebridade. E, mais espantoso, ela veio do mundo da música clássica, aparentemente um reduto fechado. E conseguiu isso graças ao poder de sua verdade.”

continua após a publicidade

Na nova montagem, Possi decidiu inovar, a começar pelo figurino usado por Torloni – o terninho preto habitualmente usado em todas as versões cede espaço para um modelo também austero, mas moderno, assinado por Fabio Namatame. Também o cenário, planejado por Renato Theobaldo, recria o clima das grandes casas de ópera do mundo por meio de estruturas montadas em tecido especialmente tratado para receber luz e projeções. “Não quis reproduzir a sala do Julliard, mas um lugar onde acontece o processo das sensações”, diz Possi

‘Master Class’ mostra o rigor com que Callas compartilhava sua arte

A cena é exemplar – Sophie, uma jovem soprano, chega ao palco para interpretar a grande ária Sonnambula, de Bellini. Logo na primeira nota, é interrompida por Maria Callas. “Sinto fazer isso com você, mas por que continuar se está no caminho errado?”, afirma a grande cantora lírica, para então resumir a forma como encarava e praticava a arte: “Não é uma nota que estamos procurando aqui, é uma pontada de dor. A dor da perda”.

continua após a publicidade

Em cena na peça Master Class, Christiane Torloni traz a mesma determinação ao personificar Callas. “Busco, junto com o apoio do elenco, uma transmutação física”, explica. “Ao longo de uma vida difícil, de privações, Callas enfrentou algo como os 12 trabalhos de Hércules para se firmar como um ícone. Seu sucesso, porém, não era fruto apenas da voz brilhante, mas da forma com que ela a utilizava e que a tornava capaz de comunicar a intensidade da emoção que a ópera exige. Assim, no palco, quero ecoar as sensações que ela provocava.”

O papel parece talhado para Torloni. “Ela é uma atriz essencialmente dramática, uma das poucas do Brasil. Além disso, é extremamente focada em seu trabalho, preocupando-se com todos os detalhes”, conta o diretor José Possi Neto que, entre as orientações, pediu para a atriz observar a forma como conduzir as mãos discretamente – Callas não se expressava por gesticulações.

Maria Callas

1 | 10

Maria Callas

2 | 10

Maria Callas

Foto: PAULO PINTO
3 | 10

Maria Callas

Foto: PB/DIVULGACAO
4 | 10

Maria Callas

Foto: ESTADÃO
5 | 10

Maria Callas

Foto: DIVULGAÇÃO
6 | 10

Maria Callas

Foto: Louis Melancon/Metropolitan Opera
7 | 10

Maria Callas

Foto: DIVULGAÇÃO
8 | 10

Maria Callas

Foto: DIVULGAÇÃO
9 | 10

Maria Callas

Foto: DIVULGAÇÃO
10 | 10

Maria Callas

Foto: DIVULGAÇÃO
continua após a publicidade

A ideia de montar novamente Master Class partiu do regente Fábio G. Oliveira que, ao lado de sua sócia na Maestro Entretenimento, a cantora lírica Julianne Daud, ficou empolgado com uma nova montagem realizada em 2011, na Broadway, com estrondoso sucesso. “É difícil conseguir os direitos autorais, mas aproveitamos uma brecha e conseguimos para o Brasil”, conta Oliveira, também diretor musical e que logo pensou em Possi para assumir a direção. “Quando chegamos em sua casa para fazer o convite, senti um arrepio: no escritório, havia diversos livros sobre Maria Callas – Possi é um apaixonado pela cantora”, entusiasmou-se Julianne, que vai enfrentar um desafio: o de novamente interpretar Sharon Graham, papel que viveu na montagem de 1996, com Marília Pêra à frente.

Para ela, é um momento sublime – para Callas, o canto lírico sempre foi uma profissão exigente, necessitando de um trabalho árduo, disciplinado e compromissado ao longo da vida. Não existem atalhos para o sucesso. “Isso também norteou nossa preparação, a ponto de Possi me fazer ensaiar o canto em situações inusitadas, como deitada no chão”, relembra.

Tal desprendimento marca também a participação de Christiane Torloni. “Possi me abriu vários portais ao longo da minha carreira”, comenta. “Como nunca se dá por satisfeito, ele me impõe vários desafios.” Foi assim no primeiro trabalho que realizaram juntos, na peça O Lobo de Rayban, em 1988, quando a encenação vinha em primeiro lugar. Depois, em Teu Corpo é Meu Texto, o foco foi a dança. “Agora, em Master Class, surge o canto. Em todos os casos, entendemos o teatro como um sacerdócio. E o corpo como uma linha de partitura a serviço da arte.”

continua após a publicidade

A atriz acompanhou atenta os vídeos e os áudios que registraram a passagem de Callas pela Julliard – não com intenção de imitar gestos característicos, mas para apreender a força com que a grande soprano aplicava em seu ofício.

Callas reinou entre grandes nomes da arte mundial – um vídeo, aliás, vai ser exibido antes de cada sessão a fim de apresentar as principais figuras que serão citadas na peça. “Em sua última entrevista antes de morrer, Callas sentia que sua missão terminara, pois não tinha mais o que oferecer ao público”, conta a atriz.

continua após a publicidade

MASTER CLASS

Teatro das Artes. Shopping Eldorado. Av. Rebouças, 3.970, 3º piso.

Tel.: 3034-0075. 5ª e sáb., 21h; 6ª, 21h30; dom. 19h. R$ 80/R$ 90. Até 22/11

 

Em 1971, a soprano Maria Callas (1923-1977), a mais gloriosa presença vocal da ópera do século 20, vivia um momento delicado – a voz até então reverenciada no mundo todo já falhava e o marido, o milionário Aristóteles Onassis, a trocara por outro mito, Jacqueline Kennedy. Ferida no canto e no coração, Maria Callas buscou alívio no processo de recuperação e aceitou ministrar naquele ano uma série de aulas magna a 25 estudantes da Julliard School, em Nova York. Esse ensinamento hoje lendário, que foi acompanhado na época por artistas como o cineasta Franco Zeffirelli e o cantor Plácido Domingo, inspirou o dramaturgo Terrence McNally a escrever a peça Master Class, cuja nova montagem brasileira estreia na quinta-feira, dia 3, no Teatro das Artes.

O papel de Callas, já defendido em quase uma centena de países desde a primeira encenação do texto, em 1995, será agora defendido por Christiane Torloni – a primeira versão brasileira, de 1996, teve Marília Pêra à frente. Trata-se de um enorme desafio: diante de alunos que apresentam falhas no canto ou mesmo total desconhecimento das árias que estão interpretando, Callas revela-se uma mulher contraditória, orgulhosa, egoísta e, ao mesmo tempo, vulnerável e autopiedosa, fruto de uma alma danificada. 

“Em cena, vemos uma profissão de fé de seu ofício”, acredita Torloni. “Callas transmite aos seus alunos os valores nos quais acreditava, totalmente dedicada à sua arte, considerada por ela como algo sagrado.”

De fato, amada pelos fãs, venerada pelos críticos, Callas, no entanto, era uma mulher frágil e morreu abandonada pela própria voz, que estragara em arriscadas aventuras. Mas ali, diante de iniciantes, a cantora busca a comunhão no entendimento de que a arte é sagrada. Em Master Class, o dramaturgo McNally, mais que explorar a natureza do canto dramático, busca desvendar o segredo do extraordinário sucesso de Maria Callas.

Cena da pela 'Master Class' comChristiane Torloni. Foto: MARCOS MESQUITA/DIVULGAÇÃO

“Ela continua sendo a heroína trágica do século 20”, observa o diretor do espetáculo, José Possi Neto. “Um ícone maior que qualquer celebridade. E, mais espantoso, ela veio do mundo da música clássica, aparentemente um reduto fechado. E conseguiu isso graças ao poder de sua verdade.”

Na nova montagem, Possi decidiu inovar, a começar pelo figurino usado por Torloni – o terninho preto habitualmente usado em todas as versões cede espaço para um modelo também austero, mas moderno, assinado por Fabio Namatame. Também o cenário, planejado por Renato Theobaldo, recria o clima das grandes casas de ópera do mundo por meio de estruturas montadas em tecido especialmente tratado para receber luz e projeções. “Não quis reproduzir a sala do Julliard, mas um lugar onde acontece o processo das sensações”, diz Possi

‘Master Class’ mostra o rigor com que Callas compartilhava sua arte

A cena é exemplar – Sophie, uma jovem soprano, chega ao palco para interpretar a grande ária Sonnambula, de Bellini. Logo na primeira nota, é interrompida por Maria Callas. “Sinto fazer isso com você, mas por que continuar se está no caminho errado?”, afirma a grande cantora lírica, para então resumir a forma como encarava e praticava a arte: “Não é uma nota que estamos procurando aqui, é uma pontada de dor. A dor da perda”.

Em cena na peça Master Class, Christiane Torloni traz a mesma determinação ao personificar Callas. “Busco, junto com o apoio do elenco, uma transmutação física”, explica. “Ao longo de uma vida difícil, de privações, Callas enfrentou algo como os 12 trabalhos de Hércules para se firmar como um ícone. Seu sucesso, porém, não era fruto apenas da voz brilhante, mas da forma com que ela a utilizava e que a tornava capaz de comunicar a intensidade da emoção que a ópera exige. Assim, no palco, quero ecoar as sensações que ela provocava.”

O papel parece talhado para Torloni. “Ela é uma atriz essencialmente dramática, uma das poucas do Brasil. Além disso, é extremamente focada em seu trabalho, preocupando-se com todos os detalhes”, conta o diretor José Possi Neto que, entre as orientações, pediu para a atriz observar a forma como conduzir as mãos discretamente – Callas não se expressava por gesticulações.

Maria Callas

1 | 10

Maria Callas

2 | 10

Maria Callas

Foto: PAULO PINTO
3 | 10

Maria Callas

Foto: PB/DIVULGACAO
4 | 10

Maria Callas

Foto: ESTADÃO
5 | 10

Maria Callas

Foto: DIVULGAÇÃO
6 | 10

Maria Callas

Foto: Louis Melancon/Metropolitan Opera
7 | 10

Maria Callas

Foto: DIVULGAÇÃO
8 | 10

Maria Callas

Foto: DIVULGAÇÃO
9 | 10

Maria Callas

Foto: DIVULGAÇÃO
10 | 10

Maria Callas

Foto: DIVULGAÇÃO

A ideia de montar novamente Master Class partiu do regente Fábio G. Oliveira que, ao lado de sua sócia na Maestro Entretenimento, a cantora lírica Julianne Daud, ficou empolgado com uma nova montagem realizada em 2011, na Broadway, com estrondoso sucesso. “É difícil conseguir os direitos autorais, mas aproveitamos uma brecha e conseguimos para o Brasil”, conta Oliveira, também diretor musical e que logo pensou em Possi para assumir a direção. “Quando chegamos em sua casa para fazer o convite, senti um arrepio: no escritório, havia diversos livros sobre Maria Callas – Possi é um apaixonado pela cantora”, entusiasmou-se Julianne, que vai enfrentar um desafio: o de novamente interpretar Sharon Graham, papel que viveu na montagem de 1996, com Marília Pêra à frente.

Para ela, é um momento sublime – para Callas, o canto lírico sempre foi uma profissão exigente, necessitando de um trabalho árduo, disciplinado e compromissado ao longo da vida. Não existem atalhos para o sucesso. “Isso também norteou nossa preparação, a ponto de Possi me fazer ensaiar o canto em situações inusitadas, como deitada no chão”, relembra.

Tal desprendimento marca também a participação de Christiane Torloni. “Possi me abriu vários portais ao longo da minha carreira”, comenta. “Como nunca se dá por satisfeito, ele me impõe vários desafios.” Foi assim no primeiro trabalho que realizaram juntos, na peça O Lobo de Rayban, em 1988, quando a encenação vinha em primeiro lugar. Depois, em Teu Corpo é Meu Texto, o foco foi a dança. “Agora, em Master Class, surge o canto. Em todos os casos, entendemos o teatro como um sacerdócio. E o corpo como uma linha de partitura a serviço da arte.”

A atriz acompanhou atenta os vídeos e os áudios que registraram a passagem de Callas pela Julliard – não com intenção de imitar gestos característicos, mas para apreender a força com que a grande soprano aplicava em seu ofício.

Callas reinou entre grandes nomes da arte mundial – um vídeo, aliás, vai ser exibido antes de cada sessão a fim de apresentar as principais figuras que serão citadas na peça. “Em sua última entrevista antes de morrer, Callas sentia que sua missão terminara, pois não tinha mais o que oferecer ao público”, conta a atriz.

MASTER CLASS

Teatro das Artes. Shopping Eldorado. Av. Rebouças, 3.970, 3º piso.

Tel.: 3034-0075. 5ª e sáb., 21h; 6ª, 21h30; dom. 19h. R$ 80/R$ 90. Até 22/11

 

Em 1971, a soprano Maria Callas (1923-1977), a mais gloriosa presença vocal da ópera do século 20, vivia um momento delicado – a voz até então reverenciada no mundo todo já falhava e o marido, o milionário Aristóteles Onassis, a trocara por outro mito, Jacqueline Kennedy. Ferida no canto e no coração, Maria Callas buscou alívio no processo de recuperação e aceitou ministrar naquele ano uma série de aulas magna a 25 estudantes da Julliard School, em Nova York. Esse ensinamento hoje lendário, que foi acompanhado na época por artistas como o cineasta Franco Zeffirelli e o cantor Plácido Domingo, inspirou o dramaturgo Terrence McNally a escrever a peça Master Class, cuja nova montagem brasileira estreia na quinta-feira, dia 3, no Teatro das Artes.

O papel de Callas, já defendido em quase uma centena de países desde a primeira encenação do texto, em 1995, será agora defendido por Christiane Torloni – a primeira versão brasileira, de 1996, teve Marília Pêra à frente. Trata-se de um enorme desafio: diante de alunos que apresentam falhas no canto ou mesmo total desconhecimento das árias que estão interpretando, Callas revela-se uma mulher contraditória, orgulhosa, egoísta e, ao mesmo tempo, vulnerável e autopiedosa, fruto de uma alma danificada. 

“Em cena, vemos uma profissão de fé de seu ofício”, acredita Torloni. “Callas transmite aos seus alunos os valores nos quais acreditava, totalmente dedicada à sua arte, considerada por ela como algo sagrado.”

De fato, amada pelos fãs, venerada pelos críticos, Callas, no entanto, era uma mulher frágil e morreu abandonada pela própria voz, que estragara em arriscadas aventuras. Mas ali, diante de iniciantes, a cantora busca a comunhão no entendimento de que a arte é sagrada. Em Master Class, o dramaturgo McNally, mais que explorar a natureza do canto dramático, busca desvendar o segredo do extraordinário sucesso de Maria Callas.

Cena da pela 'Master Class' comChristiane Torloni. Foto: MARCOS MESQUITA/DIVULGAÇÃO

“Ela continua sendo a heroína trágica do século 20”, observa o diretor do espetáculo, José Possi Neto. “Um ícone maior que qualquer celebridade. E, mais espantoso, ela veio do mundo da música clássica, aparentemente um reduto fechado. E conseguiu isso graças ao poder de sua verdade.”

Na nova montagem, Possi decidiu inovar, a começar pelo figurino usado por Torloni – o terninho preto habitualmente usado em todas as versões cede espaço para um modelo também austero, mas moderno, assinado por Fabio Namatame. Também o cenário, planejado por Renato Theobaldo, recria o clima das grandes casas de ópera do mundo por meio de estruturas montadas em tecido especialmente tratado para receber luz e projeções. “Não quis reproduzir a sala do Julliard, mas um lugar onde acontece o processo das sensações”, diz Possi

‘Master Class’ mostra o rigor com que Callas compartilhava sua arte

A cena é exemplar – Sophie, uma jovem soprano, chega ao palco para interpretar a grande ária Sonnambula, de Bellini. Logo na primeira nota, é interrompida por Maria Callas. “Sinto fazer isso com você, mas por que continuar se está no caminho errado?”, afirma a grande cantora lírica, para então resumir a forma como encarava e praticava a arte: “Não é uma nota que estamos procurando aqui, é uma pontada de dor. A dor da perda”.

Em cena na peça Master Class, Christiane Torloni traz a mesma determinação ao personificar Callas. “Busco, junto com o apoio do elenco, uma transmutação física”, explica. “Ao longo de uma vida difícil, de privações, Callas enfrentou algo como os 12 trabalhos de Hércules para se firmar como um ícone. Seu sucesso, porém, não era fruto apenas da voz brilhante, mas da forma com que ela a utilizava e que a tornava capaz de comunicar a intensidade da emoção que a ópera exige. Assim, no palco, quero ecoar as sensações que ela provocava.”

O papel parece talhado para Torloni. “Ela é uma atriz essencialmente dramática, uma das poucas do Brasil. Além disso, é extremamente focada em seu trabalho, preocupando-se com todos os detalhes”, conta o diretor José Possi Neto que, entre as orientações, pediu para a atriz observar a forma como conduzir as mãos discretamente – Callas não se expressava por gesticulações.

Maria Callas

1 | 10

Maria Callas

2 | 10

Maria Callas

Foto: PAULO PINTO
3 | 10

Maria Callas

Foto: PB/DIVULGACAO
4 | 10

Maria Callas

Foto: ESTADÃO
5 | 10

Maria Callas

Foto: DIVULGAÇÃO
6 | 10

Maria Callas

Foto: Louis Melancon/Metropolitan Opera
7 | 10

Maria Callas

Foto: DIVULGAÇÃO
8 | 10

Maria Callas

Foto: DIVULGAÇÃO
9 | 10

Maria Callas

Foto: DIVULGAÇÃO
10 | 10

Maria Callas

Foto: DIVULGAÇÃO

A ideia de montar novamente Master Class partiu do regente Fábio G. Oliveira que, ao lado de sua sócia na Maestro Entretenimento, a cantora lírica Julianne Daud, ficou empolgado com uma nova montagem realizada em 2011, na Broadway, com estrondoso sucesso. “É difícil conseguir os direitos autorais, mas aproveitamos uma brecha e conseguimos para o Brasil”, conta Oliveira, também diretor musical e que logo pensou em Possi para assumir a direção. “Quando chegamos em sua casa para fazer o convite, senti um arrepio: no escritório, havia diversos livros sobre Maria Callas – Possi é um apaixonado pela cantora”, entusiasmou-se Julianne, que vai enfrentar um desafio: o de novamente interpretar Sharon Graham, papel que viveu na montagem de 1996, com Marília Pêra à frente.

Para ela, é um momento sublime – para Callas, o canto lírico sempre foi uma profissão exigente, necessitando de um trabalho árduo, disciplinado e compromissado ao longo da vida. Não existem atalhos para o sucesso. “Isso também norteou nossa preparação, a ponto de Possi me fazer ensaiar o canto em situações inusitadas, como deitada no chão”, relembra.

Tal desprendimento marca também a participação de Christiane Torloni. “Possi me abriu vários portais ao longo da minha carreira”, comenta. “Como nunca se dá por satisfeito, ele me impõe vários desafios.” Foi assim no primeiro trabalho que realizaram juntos, na peça O Lobo de Rayban, em 1988, quando a encenação vinha em primeiro lugar. Depois, em Teu Corpo é Meu Texto, o foco foi a dança. “Agora, em Master Class, surge o canto. Em todos os casos, entendemos o teatro como um sacerdócio. E o corpo como uma linha de partitura a serviço da arte.”

A atriz acompanhou atenta os vídeos e os áudios que registraram a passagem de Callas pela Julliard – não com intenção de imitar gestos característicos, mas para apreender a força com que a grande soprano aplicava em seu ofício.

Callas reinou entre grandes nomes da arte mundial – um vídeo, aliás, vai ser exibido antes de cada sessão a fim de apresentar as principais figuras que serão citadas na peça. “Em sua última entrevista antes de morrer, Callas sentia que sua missão terminara, pois não tinha mais o que oferecer ao público”, conta a atriz.

MASTER CLASS

Teatro das Artes. Shopping Eldorado. Av. Rebouças, 3.970, 3º piso.

Tel.: 3034-0075. 5ª e sáb., 21h; 6ª, 21h30; dom. 19h. R$ 80/R$ 90. Até 22/11

 

Em 1971, a soprano Maria Callas (1923-1977), a mais gloriosa presença vocal da ópera do século 20, vivia um momento delicado – a voz até então reverenciada no mundo todo já falhava e o marido, o milionário Aristóteles Onassis, a trocara por outro mito, Jacqueline Kennedy. Ferida no canto e no coração, Maria Callas buscou alívio no processo de recuperação e aceitou ministrar naquele ano uma série de aulas magna a 25 estudantes da Julliard School, em Nova York. Esse ensinamento hoje lendário, que foi acompanhado na época por artistas como o cineasta Franco Zeffirelli e o cantor Plácido Domingo, inspirou o dramaturgo Terrence McNally a escrever a peça Master Class, cuja nova montagem brasileira estreia na quinta-feira, dia 3, no Teatro das Artes.

O papel de Callas, já defendido em quase uma centena de países desde a primeira encenação do texto, em 1995, será agora defendido por Christiane Torloni – a primeira versão brasileira, de 1996, teve Marília Pêra à frente. Trata-se de um enorme desafio: diante de alunos que apresentam falhas no canto ou mesmo total desconhecimento das árias que estão interpretando, Callas revela-se uma mulher contraditória, orgulhosa, egoísta e, ao mesmo tempo, vulnerável e autopiedosa, fruto de uma alma danificada. 

“Em cena, vemos uma profissão de fé de seu ofício”, acredita Torloni. “Callas transmite aos seus alunos os valores nos quais acreditava, totalmente dedicada à sua arte, considerada por ela como algo sagrado.”

De fato, amada pelos fãs, venerada pelos críticos, Callas, no entanto, era uma mulher frágil e morreu abandonada pela própria voz, que estragara em arriscadas aventuras. Mas ali, diante de iniciantes, a cantora busca a comunhão no entendimento de que a arte é sagrada. Em Master Class, o dramaturgo McNally, mais que explorar a natureza do canto dramático, busca desvendar o segredo do extraordinário sucesso de Maria Callas.

Cena da pela 'Master Class' comChristiane Torloni. Foto: MARCOS MESQUITA/DIVULGAÇÃO

“Ela continua sendo a heroína trágica do século 20”, observa o diretor do espetáculo, José Possi Neto. “Um ícone maior que qualquer celebridade. E, mais espantoso, ela veio do mundo da música clássica, aparentemente um reduto fechado. E conseguiu isso graças ao poder de sua verdade.”

Na nova montagem, Possi decidiu inovar, a começar pelo figurino usado por Torloni – o terninho preto habitualmente usado em todas as versões cede espaço para um modelo também austero, mas moderno, assinado por Fabio Namatame. Também o cenário, planejado por Renato Theobaldo, recria o clima das grandes casas de ópera do mundo por meio de estruturas montadas em tecido especialmente tratado para receber luz e projeções. “Não quis reproduzir a sala do Julliard, mas um lugar onde acontece o processo das sensações”, diz Possi

‘Master Class’ mostra o rigor com que Callas compartilhava sua arte

A cena é exemplar – Sophie, uma jovem soprano, chega ao palco para interpretar a grande ária Sonnambula, de Bellini. Logo na primeira nota, é interrompida por Maria Callas. “Sinto fazer isso com você, mas por que continuar se está no caminho errado?”, afirma a grande cantora lírica, para então resumir a forma como encarava e praticava a arte: “Não é uma nota que estamos procurando aqui, é uma pontada de dor. A dor da perda”.

Em cena na peça Master Class, Christiane Torloni traz a mesma determinação ao personificar Callas. “Busco, junto com o apoio do elenco, uma transmutação física”, explica. “Ao longo de uma vida difícil, de privações, Callas enfrentou algo como os 12 trabalhos de Hércules para se firmar como um ícone. Seu sucesso, porém, não era fruto apenas da voz brilhante, mas da forma com que ela a utilizava e que a tornava capaz de comunicar a intensidade da emoção que a ópera exige. Assim, no palco, quero ecoar as sensações que ela provocava.”

O papel parece talhado para Torloni. “Ela é uma atriz essencialmente dramática, uma das poucas do Brasil. Além disso, é extremamente focada em seu trabalho, preocupando-se com todos os detalhes”, conta o diretor José Possi Neto que, entre as orientações, pediu para a atriz observar a forma como conduzir as mãos discretamente – Callas não se expressava por gesticulações.

Maria Callas

1 | 10

Maria Callas

2 | 10

Maria Callas

Foto: PAULO PINTO
3 | 10

Maria Callas

Foto: PB/DIVULGACAO
4 | 10

Maria Callas

Foto: ESTADÃO
5 | 10

Maria Callas

Foto: DIVULGAÇÃO
6 | 10

Maria Callas

Foto: Louis Melancon/Metropolitan Opera
7 | 10

Maria Callas

Foto: DIVULGAÇÃO
8 | 10

Maria Callas

Foto: DIVULGAÇÃO
9 | 10

Maria Callas

Foto: DIVULGAÇÃO
10 | 10

Maria Callas

Foto: DIVULGAÇÃO

A ideia de montar novamente Master Class partiu do regente Fábio G. Oliveira que, ao lado de sua sócia na Maestro Entretenimento, a cantora lírica Julianne Daud, ficou empolgado com uma nova montagem realizada em 2011, na Broadway, com estrondoso sucesso. “É difícil conseguir os direitos autorais, mas aproveitamos uma brecha e conseguimos para o Brasil”, conta Oliveira, também diretor musical e que logo pensou em Possi para assumir a direção. “Quando chegamos em sua casa para fazer o convite, senti um arrepio: no escritório, havia diversos livros sobre Maria Callas – Possi é um apaixonado pela cantora”, entusiasmou-se Julianne, que vai enfrentar um desafio: o de novamente interpretar Sharon Graham, papel que viveu na montagem de 1996, com Marília Pêra à frente.

Para ela, é um momento sublime – para Callas, o canto lírico sempre foi uma profissão exigente, necessitando de um trabalho árduo, disciplinado e compromissado ao longo da vida. Não existem atalhos para o sucesso. “Isso também norteou nossa preparação, a ponto de Possi me fazer ensaiar o canto em situações inusitadas, como deitada no chão”, relembra.

Tal desprendimento marca também a participação de Christiane Torloni. “Possi me abriu vários portais ao longo da minha carreira”, comenta. “Como nunca se dá por satisfeito, ele me impõe vários desafios.” Foi assim no primeiro trabalho que realizaram juntos, na peça O Lobo de Rayban, em 1988, quando a encenação vinha em primeiro lugar. Depois, em Teu Corpo é Meu Texto, o foco foi a dança. “Agora, em Master Class, surge o canto. Em todos os casos, entendemos o teatro como um sacerdócio. E o corpo como uma linha de partitura a serviço da arte.”

A atriz acompanhou atenta os vídeos e os áudios que registraram a passagem de Callas pela Julliard – não com intenção de imitar gestos característicos, mas para apreender a força com que a grande soprano aplicava em seu ofício.

Callas reinou entre grandes nomes da arte mundial – um vídeo, aliás, vai ser exibido antes de cada sessão a fim de apresentar as principais figuras que serão citadas na peça. “Em sua última entrevista antes de morrer, Callas sentia que sua missão terminara, pois não tinha mais o que oferecer ao público”, conta a atriz.

MASTER CLASS

Teatro das Artes. Shopping Eldorado. Av. Rebouças, 3.970, 3º piso.

Tel.: 3034-0075. 5ª e sáb., 21h; 6ª, 21h30; dom. 19h. R$ 80/R$ 90. Até 22/11

 

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.