Depois de premiar em 2008 e 2009 escritores que julgava promissores, o juri deste ano anunciou que nenhuma das obras inscritas apresentava qualidade necessária para faturar os 100 mil euros e preferiu não indicar vencedor algum. Como aconteceu em um momento em que as regras do Jabuti continuam estimulando debates, essa decisão permite algumas reflexões: teria o caso Jabuti influencidado de alguma maneira? Claro que competência do juri, formado, entre outros, pelo angolano Pepetela e o brasileiro Carlos Heitor Cony, está acima de qualquer suspeita e certamente a medida seria tomada em qualquer tempo. Mas é curioso que, coincidência ou não, aconteça justamente agora. Parece até um contraponto ao prêmio brasileiro.
Em 2008, o vencedor foi o romance O Rastro do Jaguar, do brasileiro Murilo Carvalho. Ainda não li, mas, à época da divulgação do prêmio, o presidente do júri, Manuel Alegre, justificava ser uma obra de vasta erudição. Em todo caso,o livro não aconteceu, não despertou maiores comentários ao menos da crítica - o que pode ser uma injustiça, é preciso, portanto, lê-lo. Mas teria o júri mal avaliado?
O certo é que, nos concorrentes de 2010, faltaram elementos necessários para convencer o júri de sua qualidade. João Athayde comenta sobre a vergonha que devem ter sentido escritores consagrados que inscreveram obras agora desqualificadas. Creio não haver algum nome renomado, pois a intenção do prêmio é divulgar novos autores.
A lição que se tira de tudo isso é que o rigor é necessário em qualquer tipo de premiação, assim como a isenção. O Leya, assim como o Jabuti, o Portugal Telecom, o São Paulo de Literatura,o Zaffari, trazem pessoas capazes em suas comissões julgadoras. Isso não significa que sua decisão seja inconteste. Assim, é preciso reavaliar sempre as regras, seja a partir de erros próprios, seja a partir dos dos outros.