Um futuro sem robô ou androide


Texto da dramaturga italiana Letizia Russo faz incursão pela ficção científica, recusando os clichês do gênero

Por Maria Eugenia de Menezes

No futuro, tudo será exatamente igual. Só que um pouco pior. Babel, peça da italiana Letizia Russo que entra em cartaz hoje no Sesc Pinheiros, pretende-se um retrato desse devir hipotético. Sem apelar para androides ou seres evoluídos, a autora lança-se à ficção científica, gênero difundido na literatura e no cinema, mas ao qual a dramaturgia ainda parece pouco afeita. O texto convoca apenas dois personagens para apresentar um mundo em que o controle sobre os seres é absoluto. Homens podem ser comprados uns pelos outros, precisam ter dinheiro para se eleger a cargos públicos e não têm a liberdade de escolher onde moram. Um enredo que bebe diretamente em Philip K. Dick, o autor que inspirou o Blade Runner, de Ridley Scott, e também acolhe rumores dos filmes de Andrei Tarkovsky, em especial Solaris e Stalker. Em sua composição desse quadro, o diretor Alvise Camozzi - compatriota de Russo que trocou Veneza por São Paulo - nos expõe apenas o que se passa dentro de um cubo branco. É aí que acompanharemos os diálogos entre Falena (Rodrigo Fregnan) e Boccuccia (Caroline Abras). Em situação privilegiada, ele mora num andar alto de Babel, a imensa cidade-condomínio que dá título à história. Do lado oposto, Boccuccia é uma bailarina que, após perder um braço, precisa se mudar e ocupar um apartamento na parte mais baixa: espaço reservado para aqueles (gordos, deficientes...) que escapam aos "padrões de normalidade". De novo. Não é a primeira vez que o diretor monta uma obra da dramaturga. Em 2009, ele escalou o ator João Miguel para protagonizar Só, peça que resgatava as memórias de um homem, que reencontrava o amor da juventude. Em Babel, as reminiscências do passado cedem lugar a um pretenso futuro. Mas, se a temática é distinta, muito da dicção particular da dramaturga, nos lembra o encenador, ainda está presente. "As relações de tempo e espaço dentro do texto são questões muito fortes para ela." Assim como já demonstrava em Só, a escrita de Russo dispensa a pontuação. Em Babel, não há vírgulas ou interrogações. Apenas pontos finais. Outro traço distintivo de sua ficção é a maneira de utilizar os tempos verbais, rejeitando o subjuntivo. As cenas são curtas. Flashes de cinco momentos na trajetória dos protagonistas, que são interrompidos, na encenação, por incisivas intervenções sonoras. A maior ambição da dupla, em todas as passagens, é conseguir escapar de Babel para tomar a "nave" - instância de libertação, que pode ser um lugar geográfico ou apenas uma dimensão imaginada. "É uma reflexão sobre como enxergamos a utopia hoje", pontua o diretor. Para contrapor-se a essa aura, Camozzi dá aos diálogos um tratamento naturalista, como se estivéssemos diante de um drama convencional. "Reforço um jogo entre opostos, provocando um estranhamento entre o clima do texto e as falas naturalistas." Opostos também são Falena e Boccuccia, ele sinaliza. "O que se dá é um conflito de poder mascarado de relação amorosa. Eles estão sempre tentando interditar o desejo do outro." BABELSesc Pinheiros. Teatro. Rua Paes Leme, 195, tel. 3095-9400. 6ª e sáb., 21 h; dom., 20 h. R$ 16. Até 7/11

No futuro, tudo será exatamente igual. Só que um pouco pior. Babel, peça da italiana Letizia Russo que entra em cartaz hoje no Sesc Pinheiros, pretende-se um retrato desse devir hipotético. Sem apelar para androides ou seres evoluídos, a autora lança-se à ficção científica, gênero difundido na literatura e no cinema, mas ao qual a dramaturgia ainda parece pouco afeita. O texto convoca apenas dois personagens para apresentar um mundo em que o controle sobre os seres é absoluto. Homens podem ser comprados uns pelos outros, precisam ter dinheiro para se eleger a cargos públicos e não têm a liberdade de escolher onde moram. Um enredo que bebe diretamente em Philip K. Dick, o autor que inspirou o Blade Runner, de Ridley Scott, e também acolhe rumores dos filmes de Andrei Tarkovsky, em especial Solaris e Stalker. Em sua composição desse quadro, o diretor Alvise Camozzi - compatriota de Russo que trocou Veneza por São Paulo - nos expõe apenas o que se passa dentro de um cubo branco. É aí que acompanharemos os diálogos entre Falena (Rodrigo Fregnan) e Boccuccia (Caroline Abras). Em situação privilegiada, ele mora num andar alto de Babel, a imensa cidade-condomínio que dá título à história. Do lado oposto, Boccuccia é uma bailarina que, após perder um braço, precisa se mudar e ocupar um apartamento na parte mais baixa: espaço reservado para aqueles (gordos, deficientes...) que escapam aos "padrões de normalidade". De novo. Não é a primeira vez que o diretor monta uma obra da dramaturga. Em 2009, ele escalou o ator João Miguel para protagonizar Só, peça que resgatava as memórias de um homem, que reencontrava o amor da juventude. Em Babel, as reminiscências do passado cedem lugar a um pretenso futuro. Mas, se a temática é distinta, muito da dicção particular da dramaturga, nos lembra o encenador, ainda está presente. "As relações de tempo e espaço dentro do texto são questões muito fortes para ela." Assim como já demonstrava em Só, a escrita de Russo dispensa a pontuação. Em Babel, não há vírgulas ou interrogações. Apenas pontos finais. Outro traço distintivo de sua ficção é a maneira de utilizar os tempos verbais, rejeitando o subjuntivo. As cenas são curtas. Flashes de cinco momentos na trajetória dos protagonistas, que são interrompidos, na encenação, por incisivas intervenções sonoras. A maior ambição da dupla, em todas as passagens, é conseguir escapar de Babel para tomar a "nave" - instância de libertação, que pode ser um lugar geográfico ou apenas uma dimensão imaginada. "É uma reflexão sobre como enxergamos a utopia hoje", pontua o diretor. Para contrapor-se a essa aura, Camozzi dá aos diálogos um tratamento naturalista, como se estivéssemos diante de um drama convencional. "Reforço um jogo entre opostos, provocando um estranhamento entre o clima do texto e as falas naturalistas." Opostos também são Falena e Boccuccia, ele sinaliza. "O que se dá é um conflito de poder mascarado de relação amorosa. Eles estão sempre tentando interditar o desejo do outro." BABELSesc Pinheiros. Teatro. Rua Paes Leme, 195, tel. 3095-9400. 6ª e sáb., 21 h; dom., 20 h. R$ 16. Até 7/11

No futuro, tudo será exatamente igual. Só que um pouco pior. Babel, peça da italiana Letizia Russo que entra em cartaz hoje no Sesc Pinheiros, pretende-se um retrato desse devir hipotético. Sem apelar para androides ou seres evoluídos, a autora lança-se à ficção científica, gênero difundido na literatura e no cinema, mas ao qual a dramaturgia ainda parece pouco afeita. O texto convoca apenas dois personagens para apresentar um mundo em que o controle sobre os seres é absoluto. Homens podem ser comprados uns pelos outros, precisam ter dinheiro para se eleger a cargos públicos e não têm a liberdade de escolher onde moram. Um enredo que bebe diretamente em Philip K. Dick, o autor que inspirou o Blade Runner, de Ridley Scott, e também acolhe rumores dos filmes de Andrei Tarkovsky, em especial Solaris e Stalker. Em sua composição desse quadro, o diretor Alvise Camozzi - compatriota de Russo que trocou Veneza por São Paulo - nos expõe apenas o que se passa dentro de um cubo branco. É aí que acompanharemos os diálogos entre Falena (Rodrigo Fregnan) e Boccuccia (Caroline Abras). Em situação privilegiada, ele mora num andar alto de Babel, a imensa cidade-condomínio que dá título à história. Do lado oposto, Boccuccia é uma bailarina que, após perder um braço, precisa se mudar e ocupar um apartamento na parte mais baixa: espaço reservado para aqueles (gordos, deficientes...) que escapam aos "padrões de normalidade". De novo. Não é a primeira vez que o diretor monta uma obra da dramaturga. Em 2009, ele escalou o ator João Miguel para protagonizar Só, peça que resgatava as memórias de um homem, que reencontrava o amor da juventude. Em Babel, as reminiscências do passado cedem lugar a um pretenso futuro. Mas, se a temática é distinta, muito da dicção particular da dramaturga, nos lembra o encenador, ainda está presente. "As relações de tempo e espaço dentro do texto são questões muito fortes para ela." Assim como já demonstrava em Só, a escrita de Russo dispensa a pontuação. Em Babel, não há vírgulas ou interrogações. Apenas pontos finais. Outro traço distintivo de sua ficção é a maneira de utilizar os tempos verbais, rejeitando o subjuntivo. As cenas são curtas. Flashes de cinco momentos na trajetória dos protagonistas, que são interrompidos, na encenação, por incisivas intervenções sonoras. A maior ambição da dupla, em todas as passagens, é conseguir escapar de Babel para tomar a "nave" - instância de libertação, que pode ser um lugar geográfico ou apenas uma dimensão imaginada. "É uma reflexão sobre como enxergamos a utopia hoje", pontua o diretor. Para contrapor-se a essa aura, Camozzi dá aos diálogos um tratamento naturalista, como se estivéssemos diante de um drama convencional. "Reforço um jogo entre opostos, provocando um estranhamento entre o clima do texto e as falas naturalistas." Opostos também são Falena e Boccuccia, ele sinaliza. "O que se dá é um conflito de poder mascarado de relação amorosa. Eles estão sempre tentando interditar o desejo do outro." BABELSesc Pinheiros. Teatro. Rua Paes Leme, 195, tel. 3095-9400. 6ª e sáb., 21 h; dom., 20 h. R$ 16. Até 7/11

No futuro, tudo será exatamente igual. Só que um pouco pior. Babel, peça da italiana Letizia Russo que entra em cartaz hoje no Sesc Pinheiros, pretende-se um retrato desse devir hipotético. Sem apelar para androides ou seres evoluídos, a autora lança-se à ficção científica, gênero difundido na literatura e no cinema, mas ao qual a dramaturgia ainda parece pouco afeita. O texto convoca apenas dois personagens para apresentar um mundo em que o controle sobre os seres é absoluto. Homens podem ser comprados uns pelos outros, precisam ter dinheiro para se eleger a cargos públicos e não têm a liberdade de escolher onde moram. Um enredo que bebe diretamente em Philip K. Dick, o autor que inspirou o Blade Runner, de Ridley Scott, e também acolhe rumores dos filmes de Andrei Tarkovsky, em especial Solaris e Stalker. Em sua composição desse quadro, o diretor Alvise Camozzi - compatriota de Russo que trocou Veneza por São Paulo - nos expõe apenas o que se passa dentro de um cubo branco. É aí que acompanharemos os diálogos entre Falena (Rodrigo Fregnan) e Boccuccia (Caroline Abras). Em situação privilegiada, ele mora num andar alto de Babel, a imensa cidade-condomínio que dá título à história. Do lado oposto, Boccuccia é uma bailarina que, após perder um braço, precisa se mudar e ocupar um apartamento na parte mais baixa: espaço reservado para aqueles (gordos, deficientes...) que escapam aos "padrões de normalidade". De novo. Não é a primeira vez que o diretor monta uma obra da dramaturga. Em 2009, ele escalou o ator João Miguel para protagonizar Só, peça que resgatava as memórias de um homem, que reencontrava o amor da juventude. Em Babel, as reminiscências do passado cedem lugar a um pretenso futuro. Mas, se a temática é distinta, muito da dicção particular da dramaturga, nos lembra o encenador, ainda está presente. "As relações de tempo e espaço dentro do texto são questões muito fortes para ela." Assim como já demonstrava em Só, a escrita de Russo dispensa a pontuação. Em Babel, não há vírgulas ou interrogações. Apenas pontos finais. Outro traço distintivo de sua ficção é a maneira de utilizar os tempos verbais, rejeitando o subjuntivo. As cenas são curtas. Flashes de cinco momentos na trajetória dos protagonistas, que são interrompidos, na encenação, por incisivas intervenções sonoras. A maior ambição da dupla, em todas as passagens, é conseguir escapar de Babel para tomar a "nave" - instância de libertação, que pode ser um lugar geográfico ou apenas uma dimensão imaginada. "É uma reflexão sobre como enxergamos a utopia hoje", pontua o diretor. Para contrapor-se a essa aura, Camozzi dá aos diálogos um tratamento naturalista, como se estivéssemos diante de um drama convencional. "Reforço um jogo entre opostos, provocando um estranhamento entre o clima do texto e as falas naturalistas." Opostos também são Falena e Boccuccia, ele sinaliza. "O que se dá é um conflito de poder mascarado de relação amorosa. Eles estão sempre tentando interditar o desejo do outro." BABELSesc Pinheiros. Teatro. Rua Paes Leme, 195, tel. 3095-9400. 6ª e sáb., 21 h; dom., 20 h. R$ 16. Até 7/11

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