Em um mundo altamente competitivo e dinâmico, o estabelecimento de metas e prioridades é cada vez mais fundamental. Em momentos de crise, essas ferramentas são ainda mais importantes. Vivemos uma guerra energética que está provocando um novo arranjo na geopolítica da energia e na geoeconomia no mundo, e precisamos tomar decisões mesmo que, no curto prazo, sejam aparentemente contrárias ao que desejamos para o futuro.
Quando se trata de energia, essas incompatibilidades são evidentes tanto nos discursos políticos como no dia a dia do cidadão comum. Queremos descarbonizar a economia o mais rápido possível para reduzir os efeitos das mudanças climáticas. Ao mesmo tempo, queremos os menores preços possíveis de gasolina, diesel e gás natural. E não estamos dispostos a fazer qualquer gesto para reduzir a demanda de energia, principalmente os consumidores dos países desenvolvidos.
Queremos que “petroditadores” sejam eliminados, que fontes renováveis sejam predominantes e que não sejam feitos novos investimentos em combustíveis fósseis. Mas não entendemos que redução de oferta dos fósseis leva à energia mais cara e, consequentemente, a taxas de inflação mais elevadas. Isso acaba obrigando os Bancos Centrais a aumentarem os juros, provocando recessão econômica. Reduzir os impostos dos combustíveis fósseis, para conter o aumento dos preços, nem pensar, pois é interpretado como subsídio.
Na crise, pensamentos mágicos não podem ser metas e muito menos prioridades. Ninguém quer voltar ao século 18, quando o carvão era a principal fonte de energia. Mas também não podemos achar que no Brasil todos vão dirigir carros da Tesla, sendo grandes produtores de biocombustíveis. O caminho é construir matrizes energéticas que aproveitem os atributos de cada fonte. E isso inclui combustíveis fósseis, como é o caso do gás natural e da energia nuclear.
É possível produzir energia da maneira mais limpa, investir em sequestro de carbono e garantir que qualquer novo oleoduto ou gasoduto seja compatível com o transporte de hidrogênio, que provavelmente será o combustível limpo para a próxima década. Mas, para que isso aconteça, temos de estabelecer metas e prioridades compatíveis com a realidade do mercado atual de energia.
As transições energéticas são demoradas e isso não é nenhuma novidade. Já tivemos a transição da lenha para o carvão e do carvão para o petróleo. A grande diferença é que a atual transição não será feita levando em conta somente aspectos econômicos. Desta vez, é obrigatório olhar para os aspectos climáticos, o que torna o movimento mais complexo. O Brasil pode se tornar referência para o mundo. Temos uma diversidade de fontes primárias de energia, e usar essa vantagem, tendo metas e prioridades, é o desafio do novo governo.