REVOLTA URBANA
A insatisfação demonstrada nos protestos não contaminou a Copa do Mundo realizada recentemente no país, um evento muito elogiado em termos desportivos e que pouco prejudicou Dilma, porque ocorreu com poucos dos pesadelos logísticos que muitos esperavam.
Ainda assim, a percepção positiva do Mundial ocorreu, em grande parte, porque o país declarou feriados nas cidades-sede na maioria dos jogos, evitando o caos que assola regularmente as ruas, trens e aeroportos.
Mas, com os eleitores se debruçando novamente sobre as questões do dia a dia depois do fim da Copa, a angústia urbana pode se manifestar nas urnas.
"A vida nas cidades brasileiras está se deteriorando rapidamente e há um forte sentimento público de que o governo não está fazendo o que deve fazer para melhorar os serviços de eletricidade, água, esgoto e transporte", disse o cientista político da Universidade de São Paulo José Augusto Guilhon Albuquerque.
Para piorar as coisas para Dilma, a base aliada que sustenta seu governo no Congresso é tênue. Alguns partidos menores estão irritados com o PT, que rotineiramente recusa pedidos de aliados para postos-chave da administração.
Mesmo que estejam oficialmente a bordo de sua coligação em nível nacional, muitos devem apoiar outros partidos nas corridas estaduais, alimentando as tensões que podem minar ainda mais o seu apoio total.
Com certeza, Dilma tem alguma artilharia pesada para lançar nos próximos meses. Além dos cofres recheados da campanha e do musculoso marketing do PT, ela deve desfrutar de um amplo tempo de TV para expor seu programa de governo.
Dilma também conta com o apoio do seu mentor e predecessor como presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. Preocupado com a situação dela nas pesquisas, Lula tem insistido que sua campanha explore mais agressivamente a redução da pobreza e outros ganhos sociais nas gestões do PT.
Durante os dois mandatos de Lula, o PT recebeu doações de campanha consideráveis ??de algumas das maiores empresas do Brasil, felizes com uma economia em expansão e um mercado consumidor em expansão.
A classe empresarial brasileira, no entanto, não gosta de Dilma devido ao que considera ser uma intervenção pesada na economia. Suas políticas, argumenta o setor, reduziram as margens de lucro, desanimaram investimentos e tornaram o Brasil menos competitivo.
Embora a maioria das empresas vá cobrir as suas apostas e fazer doações às campanhas de todos os candidatos, os mercados têm cada vez mais mostrado o quanto esperam por uma derrota de Dilma. O Ibovespa subiu mais de 25 por cento desde meados de março, quando a popularidade de Dilma começou a perder força.
Já Aécio tem se comprometido a se abster de se intrometer nos assuntos de empresas controladas pelo Estado, como a gigante do petróleo Petrobras, cujas finanças foram severamente enfraquecidas sob a política de administração de Dilma, que obriga a companhia a vender combustível abaixo dos preços de mercado.
A eleição agora parece tão perto que os especialistas em política não arriscam uma previsão do resultado.
"Eu não sei quem vai ganhar", disse Vera Chaia, professora de Ciência Política da Universidade Católica de São Paulo. "Até um mês atrás, antes da Copa do Mundo, eu pensei que ela poderia ganhar. Mas agora é difícil dizer."