Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Baixa do dólar em reais


Apesar do cenário positivo para o real, o comportamento do câmbio nos próximos meses dependerá da intensidade da crise hídrica e de questões de origem política

Por Celso Ming

No dia 9 de março, as cotações do dólar atingiram o pico, em R$ 5,87, e, de lá para cá, vêm descendo a montanha. Nestas terça e quarta-feira, fechou abaixo dos R$ 5 (veja gráfico). É preciso rastrear, primeiramente, as razões dessa baixa e, com isso, avaliar os fatores que vão atuar para definir a trajetória deste resto de ano.

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Essa baixa não teria sido possível se não houvesse a abundância de moeda estrangeira no mercado mundial, despejada pelos Tesouros dos países mais ricos e pelos seus bancos centrais.

Como a inflação está mais alta nessas economias, os analistas internacionais vinham sugerindo que esses bancos centrais teriam que retirar parte desse dinheiro do mercado, ou seja, começariam a puxar novamente pelos juros, ainda neste ano. Mas os dirigentes dos bancos centrais têm sido quase unânimes em passar o recado de que a inflação é temporária e que, se for necessária, a retirada dos estímulos monetários não seria para já. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) deixou claro que esse ajuste não começaria antes de 2023.

Somente essa abundância de moeda não seria suficiente para produzir a valorização do real sem o fortalecimento dos fatores internos que aumentaram a oferta de dólares por aqui.

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O mais importante deles é a exuberância das contas externas brasileiras (balanço de pagamentos). A alta das commodities vem proporcionando excelentes resultados no comércio do Brasil. As projeções mais recentes do mercado (Boletim Focus) apontam para um superávit na balança comercial (exportações menos importações) de US$ 68,7 bilhões. Mas pode ser maior.

O dólar fechou pelo segundo dia consecutivo abaixo do limiar de R$ 5 nesta quarta-feira, 23, a R$ 4,9628 - queda de 0,07% em relação ao dia anterior. Foto:Marcello CasalJr./Agência Brasil Foto:

Outro fator que ajudou a derrubar o dólar foi o aumento dos juros aqui dentro, que saíram dos 2,00% ao ano para 4,25% ao ano em três meses. Como os juros continuam beirando o zero por cento ao ano no exterior, parece ter aumentado o afluxo de dólares no Brasil destinados a aproveitar o rendimento mais alto no mercado financeiro interno. É a operação de arbitragem que sempre acontece quando a diferença de juros é pronunciada. E tende a se intensificar quando aumenta a expectativa de alta dos juros no mercado interno, como o Copom vem indicando.

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Outra causa da queda do dólar no câmbio interno está relacionada à melhora das contas públicas. Essa melhora, por sua vez, tem a ver com dois fatores: com o forte comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, que aponta para um crescimento ao redor dos 5%, podendo ser maior a partir dos progressos da vacinação; e tem a ver com o aumento da inflação, uma vez que a arrecadação se faz sobre os preços – que sobem com a inflação. Esse segundo fator produz consequências apenas temporárias, não só porque o atual surto inflacionário tende a ser passageiro, mas porque, lá na frente, as despesas públicas tendem a crescer com a inflação. 

Outro indicador, o CDS5 (Credit Default Swap), que é o adicional cobrado pelos investidores na compra de títulos do Tesouro do Brasil, também vem caindo em consequência da melhora das condições de seu resgate. Somente em junho, o CDS5 caiu 3%.(Veja o gráfico.)

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Essas condições juntas devem intensificar a transferência de dólares para o Brasil e pressionar o câmbio para baixo, seja porque a própria tendência de baixa leva os exportadores a antecipar a conversão para reais de suas receitas em dólares, seja porque a percepção sobre a melhora do desempenho da economia leva os investidores a desengavetar seus projetos no Brasil.

Qualquer prognóstico sobre o comportamento do câmbio nos próximos meses vem carregado de duas incertezas. Dependendo ainda de sua intensidade, a crise hídrica pode tanto comprometer o desempenho da atividade econômica como aumentar a inflação.

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E tem a política. À medida que se aproximarem as eleições de 2022, o jogo eleitoral vai esquentar e pode pesar no mercado de câmbio.*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA

No dia 9 de março, as cotações do dólar atingiram o pico, em R$ 5,87, e, de lá para cá, vêm descendo a montanha. Nestas terça e quarta-feira, fechou abaixo dos R$ 5 (veja gráfico). É preciso rastrear, primeiramente, as razões dessa baixa e, com isso, avaliar os fatores que vão atuar para definir a trajetória deste resto de ano.

Essa baixa não teria sido possível se não houvesse a abundância de moeda estrangeira no mercado mundial, despejada pelos Tesouros dos países mais ricos e pelos seus bancos centrais.

Como a inflação está mais alta nessas economias, os analistas internacionais vinham sugerindo que esses bancos centrais teriam que retirar parte desse dinheiro do mercado, ou seja, começariam a puxar novamente pelos juros, ainda neste ano. Mas os dirigentes dos bancos centrais têm sido quase unânimes em passar o recado de que a inflação é temporária e que, se for necessária, a retirada dos estímulos monetários não seria para já. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) deixou claro que esse ajuste não começaria antes de 2023.

Somente essa abundância de moeda não seria suficiente para produzir a valorização do real sem o fortalecimento dos fatores internos que aumentaram a oferta de dólares por aqui.

O mais importante deles é a exuberância das contas externas brasileiras (balanço de pagamentos). A alta das commodities vem proporcionando excelentes resultados no comércio do Brasil. As projeções mais recentes do mercado (Boletim Focus) apontam para um superávit na balança comercial (exportações menos importações) de US$ 68,7 bilhões. Mas pode ser maior.

O dólar fechou pelo segundo dia consecutivo abaixo do limiar de R$ 5 nesta quarta-feira, 23, a R$ 4,9628 - queda de 0,07% em relação ao dia anterior. Foto:Marcello CasalJr./Agência Brasil Foto:

Outro fator que ajudou a derrubar o dólar foi o aumento dos juros aqui dentro, que saíram dos 2,00% ao ano para 4,25% ao ano em três meses. Como os juros continuam beirando o zero por cento ao ano no exterior, parece ter aumentado o afluxo de dólares no Brasil destinados a aproveitar o rendimento mais alto no mercado financeiro interno. É a operação de arbitragem que sempre acontece quando a diferença de juros é pronunciada. E tende a se intensificar quando aumenta a expectativa de alta dos juros no mercado interno, como o Copom vem indicando.

Outra causa da queda do dólar no câmbio interno está relacionada à melhora das contas públicas. Essa melhora, por sua vez, tem a ver com dois fatores: com o forte comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, que aponta para um crescimento ao redor dos 5%, podendo ser maior a partir dos progressos da vacinação; e tem a ver com o aumento da inflação, uma vez que a arrecadação se faz sobre os preços – que sobem com a inflação. Esse segundo fator produz consequências apenas temporárias, não só porque o atual surto inflacionário tende a ser passageiro, mas porque, lá na frente, as despesas públicas tendem a crescer com a inflação. 

Outro indicador, o CDS5 (Credit Default Swap), que é o adicional cobrado pelos investidores na compra de títulos do Tesouro do Brasil, também vem caindo em consequência da melhora das condições de seu resgate. Somente em junho, o CDS5 caiu 3%.(Veja o gráfico.)

Essas condições juntas devem intensificar a transferência de dólares para o Brasil e pressionar o câmbio para baixo, seja porque a própria tendência de baixa leva os exportadores a antecipar a conversão para reais de suas receitas em dólares, seja porque a percepção sobre a melhora do desempenho da economia leva os investidores a desengavetar seus projetos no Brasil.

Qualquer prognóstico sobre o comportamento do câmbio nos próximos meses vem carregado de duas incertezas. Dependendo ainda de sua intensidade, a crise hídrica pode tanto comprometer o desempenho da atividade econômica como aumentar a inflação.

E tem a política. À medida que se aproximarem as eleições de 2022, o jogo eleitoral vai esquentar e pode pesar no mercado de câmbio.*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA

No dia 9 de março, as cotações do dólar atingiram o pico, em R$ 5,87, e, de lá para cá, vêm descendo a montanha. Nestas terça e quarta-feira, fechou abaixo dos R$ 5 (veja gráfico). É preciso rastrear, primeiramente, as razões dessa baixa e, com isso, avaliar os fatores que vão atuar para definir a trajetória deste resto de ano.

Essa baixa não teria sido possível se não houvesse a abundância de moeda estrangeira no mercado mundial, despejada pelos Tesouros dos países mais ricos e pelos seus bancos centrais.

Como a inflação está mais alta nessas economias, os analistas internacionais vinham sugerindo que esses bancos centrais teriam que retirar parte desse dinheiro do mercado, ou seja, começariam a puxar novamente pelos juros, ainda neste ano. Mas os dirigentes dos bancos centrais têm sido quase unânimes em passar o recado de que a inflação é temporária e que, se for necessária, a retirada dos estímulos monetários não seria para já. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) deixou claro que esse ajuste não começaria antes de 2023.

Somente essa abundância de moeda não seria suficiente para produzir a valorização do real sem o fortalecimento dos fatores internos que aumentaram a oferta de dólares por aqui.

O mais importante deles é a exuberância das contas externas brasileiras (balanço de pagamentos). A alta das commodities vem proporcionando excelentes resultados no comércio do Brasil. As projeções mais recentes do mercado (Boletim Focus) apontam para um superávit na balança comercial (exportações menos importações) de US$ 68,7 bilhões. Mas pode ser maior.

O dólar fechou pelo segundo dia consecutivo abaixo do limiar de R$ 5 nesta quarta-feira, 23, a R$ 4,9628 - queda de 0,07% em relação ao dia anterior. Foto:Marcello CasalJr./Agência Brasil Foto:

Outro fator que ajudou a derrubar o dólar foi o aumento dos juros aqui dentro, que saíram dos 2,00% ao ano para 4,25% ao ano em três meses. Como os juros continuam beirando o zero por cento ao ano no exterior, parece ter aumentado o afluxo de dólares no Brasil destinados a aproveitar o rendimento mais alto no mercado financeiro interno. É a operação de arbitragem que sempre acontece quando a diferença de juros é pronunciada. E tende a se intensificar quando aumenta a expectativa de alta dos juros no mercado interno, como o Copom vem indicando.

Outra causa da queda do dólar no câmbio interno está relacionada à melhora das contas públicas. Essa melhora, por sua vez, tem a ver com dois fatores: com o forte comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, que aponta para um crescimento ao redor dos 5%, podendo ser maior a partir dos progressos da vacinação; e tem a ver com o aumento da inflação, uma vez que a arrecadação se faz sobre os preços – que sobem com a inflação. Esse segundo fator produz consequências apenas temporárias, não só porque o atual surto inflacionário tende a ser passageiro, mas porque, lá na frente, as despesas públicas tendem a crescer com a inflação. 

Outro indicador, o CDS5 (Credit Default Swap), que é o adicional cobrado pelos investidores na compra de títulos do Tesouro do Brasil, também vem caindo em consequência da melhora das condições de seu resgate. Somente em junho, o CDS5 caiu 3%.(Veja o gráfico.)

Essas condições juntas devem intensificar a transferência de dólares para o Brasil e pressionar o câmbio para baixo, seja porque a própria tendência de baixa leva os exportadores a antecipar a conversão para reais de suas receitas em dólares, seja porque a percepção sobre a melhora do desempenho da economia leva os investidores a desengavetar seus projetos no Brasil.

Qualquer prognóstico sobre o comportamento do câmbio nos próximos meses vem carregado de duas incertezas. Dependendo ainda de sua intensidade, a crise hídrica pode tanto comprometer o desempenho da atividade econômica como aumentar a inflação.

E tem a política. À medida que se aproximarem as eleições de 2022, o jogo eleitoral vai esquentar e pode pesar no mercado de câmbio.*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA

No dia 9 de março, as cotações do dólar atingiram o pico, em R$ 5,87, e, de lá para cá, vêm descendo a montanha. Nestas terça e quarta-feira, fechou abaixo dos R$ 5 (veja gráfico). É preciso rastrear, primeiramente, as razões dessa baixa e, com isso, avaliar os fatores que vão atuar para definir a trajetória deste resto de ano.

Essa baixa não teria sido possível se não houvesse a abundância de moeda estrangeira no mercado mundial, despejada pelos Tesouros dos países mais ricos e pelos seus bancos centrais.

Como a inflação está mais alta nessas economias, os analistas internacionais vinham sugerindo que esses bancos centrais teriam que retirar parte desse dinheiro do mercado, ou seja, começariam a puxar novamente pelos juros, ainda neste ano. Mas os dirigentes dos bancos centrais têm sido quase unânimes em passar o recado de que a inflação é temporária e que, se for necessária, a retirada dos estímulos monetários não seria para já. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) deixou claro que esse ajuste não começaria antes de 2023.

Somente essa abundância de moeda não seria suficiente para produzir a valorização do real sem o fortalecimento dos fatores internos que aumentaram a oferta de dólares por aqui.

O mais importante deles é a exuberância das contas externas brasileiras (balanço de pagamentos). A alta das commodities vem proporcionando excelentes resultados no comércio do Brasil. As projeções mais recentes do mercado (Boletim Focus) apontam para um superávit na balança comercial (exportações menos importações) de US$ 68,7 bilhões. Mas pode ser maior.

O dólar fechou pelo segundo dia consecutivo abaixo do limiar de R$ 5 nesta quarta-feira, 23, a R$ 4,9628 - queda de 0,07% em relação ao dia anterior. Foto:Marcello CasalJr./Agência Brasil Foto:

Outro fator que ajudou a derrubar o dólar foi o aumento dos juros aqui dentro, que saíram dos 2,00% ao ano para 4,25% ao ano em três meses. Como os juros continuam beirando o zero por cento ao ano no exterior, parece ter aumentado o afluxo de dólares no Brasil destinados a aproveitar o rendimento mais alto no mercado financeiro interno. É a operação de arbitragem que sempre acontece quando a diferença de juros é pronunciada. E tende a se intensificar quando aumenta a expectativa de alta dos juros no mercado interno, como o Copom vem indicando.

Outra causa da queda do dólar no câmbio interno está relacionada à melhora das contas públicas. Essa melhora, por sua vez, tem a ver com dois fatores: com o forte comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, que aponta para um crescimento ao redor dos 5%, podendo ser maior a partir dos progressos da vacinação; e tem a ver com o aumento da inflação, uma vez que a arrecadação se faz sobre os preços – que sobem com a inflação. Esse segundo fator produz consequências apenas temporárias, não só porque o atual surto inflacionário tende a ser passageiro, mas porque, lá na frente, as despesas públicas tendem a crescer com a inflação. 

Outro indicador, o CDS5 (Credit Default Swap), que é o adicional cobrado pelos investidores na compra de títulos do Tesouro do Brasil, também vem caindo em consequência da melhora das condições de seu resgate. Somente em junho, o CDS5 caiu 3%.(Veja o gráfico.)

Essas condições juntas devem intensificar a transferência de dólares para o Brasil e pressionar o câmbio para baixo, seja porque a própria tendência de baixa leva os exportadores a antecipar a conversão para reais de suas receitas em dólares, seja porque a percepção sobre a melhora do desempenho da economia leva os investidores a desengavetar seus projetos no Brasil.

Qualquer prognóstico sobre o comportamento do câmbio nos próximos meses vem carregado de duas incertezas. Dependendo ainda de sua intensidade, a crise hídrica pode tanto comprometer o desempenho da atividade econômica como aumentar a inflação.

E tem a política. À medida que se aproximarem as eleições de 2022, o jogo eleitoral vai esquentar e pode pesar no mercado de câmbio.*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA

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