As vendas do varejo caíram 0,2% sobre janeiro, mas tiveram uma alta de 1,3% sobre o mesmo mês do ano passado. Ficaram abaixo das expectativas dos analistas -- embora a variação nos 12 meses terminados em fevereiro tenha sido de 2,8%, a maior desde outubro de 2014.
Como se pode ver, não se trata de uma virada na trajetória do setor, mas de mais um sinal de que a retomada perdeu fôlego. O próprio IBGE prefere falar em estabilidade, destacando que o nível de vendas do setor empata com o registrado em setembro de 2017 e alertando para a inexistência de novos estímulos específicos ao consumo, como a sempre lembrada liberação das contas inativas do FGTS.
Além disso, a maioria dos analistas começa a ver esse desempenho morno do varejo como causa e efeito do comportamento do mercado de trabalho, cuja melhora vem sendo ancorada na informalidade. Sem a garantia de um emprego e de uma determinada remuneração, os trabalhadores informais mostram-se cautelosos em assumir compromissos. Com isso, põem limites à reação do consumo, à atividade econômica em geral e, na outra ponta da linha, ao próprio mercado de trabalho.
Romper esse circuito desfavorável não é tarefa fácil, já se sabe. Requer estratégia econômica correta e persistente. E, além de tudo, previsibilidade -- pressuposto que, em épocas de mudança de governo, costuma rarear e, desta vez, torna-se quase inexistente. O painel de candidatos à sucessão presidencial ainda é provisório e, além de nomes, o que se espera é a definição de propostas para a condução da economia -- que vão além do simples discurso e tenham viabilidade de aplicação dentro da configuração política do grupo ou grupos que disputam o poder.
O mais preocupante é que esses fatores que limitam a recuperação da economia pela via do consumo tornam ainda mais complicada a recuperação pela via dos investimentos. Não custa repetir: a economia saiu do fundo do poço, iniciou uma escalada, mas precisa de mais impulso para apressar essa subida.