Bastidores do mundo dos negócios

Beth da Faria Lima: "Assédio moral é tão comum que as pessoas se questionam se ele existe"


Por Karla Spotorno
Movimento de denúncias surgiu a partir de experiência da autora Foto: Estadão

Em um lugar que alguns apelidaram de condado, no qual o dress code exige colete almofadado, ela reina. A Rainha da Faria Lima se chama Beth, acumula mais de 60 mil súditos no Instagram e adora dar pitacos com ar de realeza, enquanto passeia de Louboutin e observa o vaivém de quem trabalha - ainda, uma maioria masculina - no coração do mercado financeiro na capital paulista: a avenida Brigadeiro Faria Lima e arredores.

No mês que vem, o perfil no Instagram @beth.da.faria lima completa dois anos, e a soberana festeja com uma meta: transformar o canal de denúncias de assédio no trabalho, o Bethinha Direta, em uma plataforma acessada por profissionais não só do setor financeiro. Nessa entrevista feita por email, Beth afirma que ela mesma já sofreu assédio - aconteceu há muitos anos, em uma instituição financeira em São Paulo - apesar de ela ocupar um alto cargo à época.

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Humor é uma das marcas do perfil Foto: Estadão

Os casos de assédio moral são mais frequentes do que se imagina e pouco se fala no assunto, na opinião de Beth. Na semana passada, chamou atenção um episódio envolvendo o empresário Arthur Silva e Flavia Becker, cofundadores da fintech peruana de gestão de patrimônio, Zest Capital. Becker, que tem cidadania brasileira e peruana, divulgou agressões gravadas em áudio pelo sócio e então marido que, segundo o relato, aconteciam havia sete anos. "As pessoas, geralmente, sofrem caladas", diz Beth. "Quem passa por este tipo de situação, e digo isso por experiência própria, sente-se muito sozinho. Ter alguém com quem conversar faz muita diferença", afirmou a @beth.da.farialima.

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A seguir, os principais trechos da entrevista.

A sra. criou um canal direto para acolher quem sofre assédio no setor financeiro. Há muita procura? Quais os casos mais frequentes?

@beth.da.farialima: O canal é aberto para todo e qualquer tipo de denúncia de assédio moral. Não é exclusivo do mercado financeiro. As pessoas ainda têm muito medo de contar suas histórias, medo de represália, medo da exposição. Em menos de um ano (o canal Bethinha Direta foi criado em julho de 2020 no site www.bethdafarialima.com.br), já foram mais de 200 denúncias de pessoas tanto do mercado financeiro e de multinacionais mas, principalmente, de grandes escritórios de advocacia. Assédio moral não tem casa, está por toda parte e a grande maioria é sobre chefes abusivos.

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Beth da Faria Lima: 60 mil seguidores no Instagram Foto: Estadão

O propósito é ajudar as pessoas oferecendo serviços, orientação? O canal tem uma equipe de profissionais?

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Hoje, com a ajuda de grandes profissionais voluntários, oferecemos encaminhamento psicológico e assessoria jurídica. É importante ressaltar que muitas pessoas que me procuram querem apenas compartilhar suas histórias. Quem passa por este tipo de situação, e digo isso por experiência própria, sente-se muito sozinho. Ter alguém com quem conversar sobre, faz muita diferença.

Esse projeto é bem diferente do perfil do Instagram @beth.da.farialima. Lá tem muito humor e ajuda de todos os tipos: desde encontrar um celular perdido até o amor da sua vida. Por que fazer o projeto agora?

O Bethinha Direta sempre foi um sonho meu. Falar sobre assédio moral, mesmo antes da existência da Beth, era uma necessidade pessoal. Com muitos anos de carreira, passei por situações difíceis e, à época, não existia nada que pudesse ser feito. A pessoa fica com medo de contar ao RH e ser demitida, fica com vergonha de comentar com o namorado e ele achar "exagero". A cultura do assédio moral é tão comum, que se passa a questionar: será que não é coisa da minha cabeça? Será que não sou fraca e não estou aguentando a pressão? Então engole-se o choro, finge-se que está tudo bem, e volta-se para um ambiente tóxico, como se nada tivesse acontecido. Talvez, se eu tivesse alguém para conversar, alguém que me ouvisse, talvez não tivesse sido tão difícil. Depressão, terapia e alguns anos depois, a vontade de ajudar pessoas que passam ou passaram pela mesma coisa que eu, fez com que eu usasse a exposição que tinha na Beth para algo muito maior. É preciso conscientizar as pessoas de que assédio moral existe! E pior, ele é cíclico. A grande maioria começa com uma brincadeira com o estagiário, vira uma piada com o analista, um chefe sem noção... É tudo tão comum na nossa realidade que, quando vê, está repetindo aquilo que fizeram com você. É preciso cortar o elo, apoiar quem passa por isso e, principalmente, dar informação.

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 Foto: Estadão

A sra. está prestes a completar dois anos no Instagram e tem 60 mil seguidores. Tem alguma meta? Os garotos do Faria Lima Elevator são seus principais concorrentes?

Minha meta é abranger mais pessoas, não apenas de mercado, levar entretenimento de qualidade, humor e informação, e transformar o Bethinha Direta em uma plataforma de denúncia capaz de ajudar ainda mais profissionais, de forma efetiva e sigilosa. Quanto ao Elevator, não somos concorrentes, podemos ser complementares.

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A sra. conhece os autores do Faria Lima Elevator?

Não. Admiro o trabalho deles e entendo que exista certa curiosidade em saber quem está por trás de determinado "personagem". Mas o anonimato é uma escolha. Em um mundo de tanto ego, a pessoa não querer ser vangloriar de "ser" o FL Elevator, o Otimista, o Perrengue Chique ou a própria Beth, deveria ser respeitado.

Como anda o Titinder? Muitos matches? E como a sra. faz para ser madrinha desses matches?

Sim, o Titinder é um dos quadros mais queridos. Sabe quando você vê alguém interessante na academia ou correndo no parque e não tem coragem de puxar papo? Então. É isso! As pessoas mandam a descrição do "encontro" e tento achar a pessoa. Como geralmente ocorre no meu "Condado", o alvo normalmente me segue e se identifica. Já juntei alguns casais. Soube de um que virou namoro.

Beth, quem é a sra? Executiva ou empresária do mercado financeiro? Investidora?

A Beth é aquela tia mais velha que adora dar conselhos, tem dicas de como lavar banheiro, fazer estrogonofe, pergunta dos seus namoradinhos e que também investe, claro. A Beth mora dentro de cada um que segue e acompanha esse trabalho diário de ser Rainha da Faria Lima.

Esta reportagem foi publicada no Broadcast+ no dia 18/03/2021, às 10:56:54 .

O Broadcast+ é uma plataforma líder no mercado financeiro com notícias e cotações em tempo real, além de análises e outras funcionalidades para auxiliar na tomada de decisão.

Para saber mais sobre o Broadcast+ e solicitar uma demonstração, acesse

Contato: colunabroadcast@estadao.com

Siga a @colunadobroad no Twitter

Movimento de denúncias surgiu a partir de experiência da autora Foto: Estadão

Em um lugar que alguns apelidaram de condado, no qual o dress code exige colete almofadado, ela reina. A Rainha da Faria Lima se chama Beth, acumula mais de 60 mil súditos no Instagram e adora dar pitacos com ar de realeza, enquanto passeia de Louboutin e observa o vaivém de quem trabalha - ainda, uma maioria masculina - no coração do mercado financeiro na capital paulista: a avenida Brigadeiro Faria Lima e arredores.

No mês que vem, o perfil no Instagram @beth.da.faria lima completa dois anos, e a soberana festeja com uma meta: transformar o canal de denúncias de assédio no trabalho, o Bethinha Direta, em uma plataforma acessada por profissionais não só do setor financeiro. Nessa entrevista feita por email, Beth afirma que ela mesma já sofreu assédio - aconteceu há muitos anos, em uma instituição financeira em São Paulo - apesar de ela ocupar um alto cargo à época.

Humor é uma das marcas do perfil Foto: Estadão

Os casos de assédio moral são mais frequentes do que se imagina e pouco se fala no assunto, na opinião de Beth. Na semana passada, chamou atenção um episódio envolvendo o empresário Arthur Silva e Flavia Becker, cofundadores da fintech peruana de gestão de patrimônio, Zest Capital. Becker, que tem cidadania brasileira e peruana, divulgou agressões gravadas em áudio pelo sócio e então marido que, segundo o relato, aconteciam havia sete anos. "As pessoas, geralmente, sofrem caladas", diz Beth. "Quem passa por este tipo de situação, e digo isso por experiência própria, sente-se muito sozinho. Ter alguém com quem conversar faz muita diferença", afirmou a @beth.da.farialima.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

A sra. criou um canal direto para acolher quem sofre assédio no setor financeiro. Há muita procura? Quais os casos mais frequentes?

@beth.da.farialima: O canal é aberto para todo e qualquer tipo de denúncia de assédio moral. Não é exclusivo do mercado financeiro. As pessoas ainda têm muito medo de contar suas histórias, medo de represália, medo da exposição. Em menos de um ano (o canal Bethinha Direta foi criado em julho de 2020 no site www.bethdafarialima.com.br), já foram mais de 200 denúncias de pessoas tanto do mercado financeiro e de multinacionais mas, principalmente, de grandes escritórios de advocacia. Assédio moral não tem casa, está por toda parte e a grande maioria é sobre chefes abusivos.

Beth da Faria Lima: 60 mil seguidores no Instagram Foto: Estadão

O propósito é ajudar as pessoas oferecendo serviços, orientação? O canal tem uma equipe de profissionais?

Hoje, com a ajuda de grandes profissionais voluntários, oferecemos encaminhamento psicológico e assessoria jurídica. É importante ressaltar que muitas pessoas que me procuram querem apenas compartilhar suas histórias. Quem passa por este tipo de situação, e digo isso por experiência própria, sente-se muito sozinho. Ter alguém com quem conversar sobre, faz muita diferença.

Esse projeto é bem diferente do perfil do Instagram @beth.da.farialima. Lá tem muito humor e ajuda de todos os tipos: desde encontrar um celular perdido até o amor da sua vida. Por que fazer o projeto agora?

O Bethinha Direta sempre foi um sonho meu. Falar sobre assédio moral, mesmo antes da existência da Beth, era uma necessidade pessoal. Com muitos anos de carreira, passei por situações difíceis e, à época, não existia nada que pudesse ser feito. A pessoa fica com medo de contar ao RH e ser demitida, fica com vergonha de comentar com o namorado e ele achar "exagero". A cultura do assédio moral é tão comum, que se passa a questionar: será que não é coisa da minha cabeça? Será que não sou fraca e não estou aguentando a pressão? Então engole-se o choro, finge-se que está tudo bem, e volta-se para um ambiente tóxico, como se nada tivesse acontecido. Talvez, se eu tivesse alguém para conversar, alguém que me ouvisse, talvez não tivesse sido tão difícil. Depressão, terapia e alguns anos depois, a vontade de ajudar pessoas que passam ou passaram pela mesma coisa que eu, fez com que eu usasse a exposição que tinha na Beth para algo muito maior. É preciso conscientizar as pessoas de que assédio moral existe! E pior, ele é cíclico. A grande maioria começa com uma brincadeira com o estagiário, vira uma piada com o analista, um chefe sem noção... É tudo tão comum na nossa realidade que, quando vê, está repetindo aquilo que fizeram com você. É preciso cortar o elo, apoiar quem passa por isso e, principalmente, dar informação.

 Foto: Estadão

A sra. está prestes a completar dois anos no Instagram e tem 60 mil seguidores. Tem alguma meta? Os garotos do Faria Lima Elevator são seus principais concorrentes?

Minha meta é abranger mais pessoas, não apenas de mercado, levar entretenimento de qualidade, humor e informação, e transformar o Bethinha Direta em uma plataforma de denúncia capaz de ajudar ainda mais profissionais, de forma efetiva e sigilosa. Quanto ao Elevator, não somos concorrentes, podemos ser complementares.

A sra. conhece os autores do Faria Lima Elevator?

Não. Admiro o trabalho deles e entendo que exista certa curiosidade em saber quem está por trás de determinado "personagem". Mas o anonimato é uma escolha. Em um mundo de tanto ego, a pessoa não querer ser vangloriar de "ser" o FL Elevator, o Otimista, o Perrengue Chique ou a própria Beth, deveria ser respeitado.

Como anda o Titinder? Muitos matches? E como a sra. faz para ser madrinha desses matches?

Sim, o Titinder é um dos quadros mais queridos. Sabe quando você vê alguém interessante na academia ou correndo no parque e não tem coragem de puxar papo? Então. É isso! As pessoas mandam a descrição do "encontro" e tento achar a pessoa. Como geralmente ocorre no meu "Condado", o alvo normalmente me segue e se identifica. Já juntei alguns casais. Soube de um que virou namoro.

Beth, quem é a sra? Executiva ou empresária do mercado financeiro? Investidora?

A Beth é aquela tia mais velha que adora dar conselhos, tem dicas de como lavar banheiro, fazer estrogonofe, pergunta dos seus namoradinhos e que também investe, claro. A Beth mora dentro de cada um que segue e acompanha esse trabalho diário de ser Rainha da Faria Lima.

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Humor é uma das marcas do perfil Foto: Estadão

Os casos de assédio moral são mais frequentes do que se imagina e pouco se fala no assunto, na opinião de Beth. Na semana passada, chamou atenção um episódio envolvendo o empresário Arthur Silva e Flavia Becker, cofundadores da fintech peruana de gestão de patrimônio, Zest Capital. Becker, que tem cidadania brasileira e peruana, divulgou agressões gravadas em áudio pelo sócio e então marido que, segundo o relato, aconteciam havia sete anos. "As pessoas, geralmente, sofrem caladas", diz Beth. "Quem passa por este tipo de situação, e digo isso por experiência própria, sente-se muito sozinho. Ter alguém com quem conversar faz muita diferença", afirmou a @beth.da.farialima.

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A sra. criou um canal direto para acolher quem sofre assédio no setor financeiro. Há muita procura? Quais os casos mais frequentes?

@beth.da.farialima: O canal é aberto para todo e qualquer tipo de denúncia de assédio moral. Não é exclusivo do mercado financeiro. As pessoas ainda têm muito medo de contar suas histórias, medo de represália, medo da exposição. Em menos de um ano (o canal Bethinha Direta foi criado em julho de 2020 no site www.bethdafarialima.com.br), já foram mais de 200 denúncias de pessoas tanto do mercado financeiro e de multinacionais mas, principalmente, de grandes escritórios de advocacia. Assédio moral não tem casa, está por toda parte e a grande maioria é sobre chefes abusivos.

Beth da Faria Lima: 60 mil seguidores no Instagram Foto: Estadão

O propósito é ajudar as pessoas oferecendo serviços, orientação? O canal tem uma equipe de profissionais?

Hoje, com a ajuda de grandes profissionais voluntários, oferecemos encaminhamento psicológico e assessoria jurídica. É importante ressaltar que muitas pessoas que me procuram querem apenas compartilhar suas histórias. Quem passa por este tipo de situação, e digo isso por experiência própria, sente-se muito sozinho. Ter alguém com quem conversar sobre, faz muita diferença.

Esse projeto é bem diferente do perfil do Instagram @beth.da.farialima. Lá tem muito humor e ajuda de todos os tipos: desde encontrar um celular perdido até o amor da sua vida. Por que fazer o projeto agora?

O Bethinha Direta sempre foi um sonho meu. Falar sobre assédio moral, mesmo antes da existência da Beth, era uma necessidade pessoal. Com muitos anos de carreira, passei por situações difíceis e, à época, não existia nada que pudesse ser feito. A pessoa fica com medo de contar ao RH e ser demitida, fica com vergonha de comentar com o namorado e ele achar "exagero". A cultura do assédio moral é tão comum, que se passa a questionar: será que não é coisa da minha cabeça? Será que não sou fraca e não estou aguentando a pressão? Então engole-se o choro, finge-se que está tudo bem, e volta-se para um ambiente tóxico, como se nada tivesse acontecido. Talvez, se eu tivesse alguém para conversar, alguém que me ouvisse, talvez não tivesse sido tão difícil. Depressão, terapia e alguns anos depois, a vontade de ajudar pessoas que passam ou passaram pela mesma coisa que eu, fez com que eu usasse a exposição que tinha na Beth para algo muito maior. É preciso conscientizar as pessoas de que assédio moral existe! E pior, ele é cíclico. A grande maioria começa com uma brincadeira com o estagiário, vira uma piada com o analista, um chefe sem noção... É tudo tão comum na nossa realidade que, quando vê, está repetindo aquilo que fizeram com você. É preciso cortar o elo, apoiar quem passa por isso e, principalmente, dar informação.

 Foto: Estadão

A sra. está prestes a completar dois anos no Instagram e tem 60 mil seguidores. Tem alguma meta? Os garotos do Faria Lima Elevator são seus principais concorrentes?

Minha meta é abranger mais pessoas, não apenas de mercado, levar entretenimento de qualidade, humor e informação, e transformar o Bethinha Direta em uma plataforma de denúncia capaz de ajudar ainda mais profissionais, de forma efetiva e sigilosa. Quanto ao Elevator, não somos concorrentes, podemos ser complementares.

A sra. conhece os autores do Faria Lima Elevator?

Não. Admiro o trabalho deles e entendo que exista certa curiosidade em saber quem está por trás de determinado "personagem". Mas o anonimato é uma escolha. Em um mundo de tanto ego, a pessoa não querer ser vangloriar de "ser" o FL Elevator, o Otimista, o Perrengue Chique ou a própria Beth, deveria ser respeitado.

Como anda o Titinder? Muitos matches? E como a sra. faz para ser madrinha desses matches?

Sim, o Titinder é um dos quadros mais queridos. Sabe quando você vê alguém interessante na academia ou correndo no parque e não tem coragem de puxar papo? Então. É isso! As pessoas mandam a descrição do "encontro" e tento achar a pessoa. Como geralmente ocorre no meu "Condado", o alvo normalmente me segue e se identifica. Já juntei alguns casais. Soube de um que virou namoro.

Beth, quem é a sra? Executiva ou empresária do mercado financeiro? Investidora?

A Beth é aquela tia mais velha que adora dar conselhos, tem dicas de como lavar banheiro, fazer estrogonofe, pergunta dos seus namoradinhos e que também investe, claro. A Beth mora dentro de cada um que segue e acompanha esse trabalho diário de ser Rainha da Faria Lima.

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Movimento de denúncias surgiu a partir de experiência da autora Foto: Estadão

Em um lugar que alguns apelidaram de condado, no qual o dress code exige colete almofadado, ela reina. A Rainha da Faria Lima se chama Beth, acumula mais de 60 mil súditos no Instagram e adora dar pitacos com ar de realeza, enquanto passeia de Louboutin e observa o vaivém de quem trabalha - ainda, uma maioria masculina - no coração do mercado financeiro na capital paulista: a avenida Brigadeiro Faria Lima e arredores.

No mês que vem, o perfil no Instagram @beth.da.faria lima completa dois anos, e a soberana festeja com uma meta: transformar o canal de denúncias de assédio no trabalho, o Bethinha Direta, em uma plataforma acessada por profissionais não só do setor financeiro. Nessa entrevista feita por email, Beth afirma que ela mesma já sofreu assédio - aconteceu há muitos anos, em uma instituição financeira em São Paulo - apesar de ela ocupar um alto cargo à época.

Humor é uma das marcas do perfil Foto: Estadão

Os casos de assédio moral são mais frequentes do que se imagina e pouco se fala no assunto, na opinião de Beth. Na semana passada, chamou atenção um episódio envolvendo o empresário Arthur Silva e Flavia Becker, cofundadores da fintech peruana de gestão de patrimônio, Zest Capital. Becker, que tem cidadania brasileira e peruana, divulgou agressões gravadas em áudio pelo sócio e então marido que, segundo o relato, aconteciam havia sete anos. "As pessoas, geralmente, sofrem caladas", diz Beth. "Quem passa por este tipo de situação, e digo isso por experiência própria, sente-se muito sozinho. Ter alguém com quem conversar faz muita diferença", afirmou a @beth.da.farialima.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

A sra. criou um canal direto para acolher quem sofre assédio no setor financeiro. Há muita procura? Quais os casos mais frequentes?

@beth.da.farialima: O canal é aberto para todo e qualquer tipo de denúncia de assédio moral. Não é exclusivo do mercado financeiro. As pessoas ainda têm muito medo de contar suas histórias, medo de represália, medo da exposição. Em menos de um ano (o canal Bethinha Direta foi criado em julho de 2020 no site www.bethdafarialima.com.br), já foram mais de 200 denúncias de pessoas tanto do mercado financeiro e de multinacionais mas, principalmente, de grandes escritórios de advocacia. Assédio moral não tem casa, está por toda parte e a grande maioria é sobre chefes abusivos.

Beth da Faria Lima: 60 mil seguidores no Instagram Foto: Estadão

O propósito é ajudar as pessoas oferecendo serviços, orientação? O canal tem uma equipe de profissionais?

Hoje, com a ajuda de grandes profissionais voluntários, oferecemos encaminhamento psicológico e assessoria jurídica. É importante ressaltar que muitas pessoas que me procuram querem apenas compartilhar suas histórias. Quem passa por este tipo de situação, e digo isso por experiência própria, sente-se muito sozinho. Ter alguém com quem conversar sobre, faz muita diferença.

Esse projeto é bem diferente do perfil do Instagram @beth.da.farialima. Lá tem muito humor e ajuda de todos os tipos: desde encontrar um celular perdido até o amor da sua vida. Por que fazer o projeto agora?

O Bethinha Direta sempre foi um sonho meu. Falar sobre assédio moral, mesmo antes da existência da Beth, era uma necessidade pessoal. Com muitos anos de carreira, passei por situações difíceis e, à época, não existia nada que pudesse ser feito. A pessoa fica com medo de contar ao RH e ser demitida, fica com vergonha de comentar com o namorado e ele achar "exagero". A cultura do assédio moral é tão comum, que se passa a questionar: será que não é coisa da minha cabeça? Será que não sou fraca e não estou aguentando a pressão? Então engole-se o choro, finge-se que está tudo bem, e volta-se para um ambiente tóxico, como se nada tivesse acontecido. Talvez, se eu tivesse alguém para conversar, alguém que me ouvisse, talvez não tivesse sido tão difícil. Depressão, terapia e alguns anos depois, a vontade de ajudar pessoas que passam ou passaram pela mesma coisa que eu, fez com que eu usasse a exposição que tinha na Beth para algo muito maior. É preciso conscientizar as pessoas de que assédio moral existe! E pior, ele é cíclico. A grande maioria começa com uma brincadeira com o estagiário, vira uma piada com o analista, um chefe sem noção... É tudo tão comum na nossa realidade que, quando vê, está repetindo aquilo que fizeram com você. É preciso cortar o elo, apoiar quem passa por isso e, principalmente, dar informação.

 Foto: Estadão

A sra. está prestes a completar dois anos no Instagram e tem 60 mil seguidores. Tem alguma meta? Os garotos do Faria Lima Elevator são seus principais concorrentes?

Minha meta é abranger mais pessoas, não apenas de mercado, levar entretenimento de qualidade, humor e informação, e transformar o Bethinha Direta em uma plataforma de denúncia capaz de ajudar ainda mais profissionais, de forma efetiva e sigilosa. Quanto ao Elevator, não somos concorrentes, podemos ser complementares.

A sra. conhece os autores do Faria Lima Elevator?

Não. Admiro o trabalho deles e entendo que exista certa curiosidade em saber quem está por trás de determinado "personagem". Mas o anonimato é uma escolha. Em um mundo de tanto ego, a pessoa não querer ser vangloriar de "ser" o FL Elevator, o Otimista, o Perrengue Chique ou a própria Beth, deveria ser respeitado.

Como anda o Titinder? Muitos matches? E como a sra. faz para ser madrinha desses matches?

Sim, o Titinder é um dos quadros mais queridos. Sabe quando você vê alguém interessante na academia ou correndo no parque e não tem coragem de puxar papo? Então. É isso! As pessoas mandam a descrição do "encontro" e tento achar a pessoa. Como geralmente ocorre no meu "Condado", o alvo normalmente me segue e se identifica. Já juntei alguns casais. Soube de um que virou namoro.

Beth, quem é a sra? Executiva ou empresária do mercado financeiro? Investidora?

A Beth é aquela tia mais velha que adora dar conselhos, tem dicas de como lavar banheiro, fazer estrogonofe, pergunta dos seus namoradinhos e que também investe, claro. A Beth mora dentro de cada um que segue e acompanha esse trabalho diário de ser Rainha da Faria Lima.

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