Depois de seguir, é hora de liderar


Por que os chineses vão cada vez mais determinar as tendências no segmento de dispositivos eletrônicos

Por Redação
Mercado chinês de artigos eletrônicos deve movimentar US$ 281 bilhões este ano Foto: ROLEX DELA PENA/EFE

Um estrangeiro precisa de coragem para dirigir nas ruas da China. A combinação de dezenas de milhões de motoristas inexperientes com um desprezo generalizado pelas leis de trânsito põe as vias do país entre as mais letais do mundo. Mais ousadia ainda precisaria ter uma montadora de automóveis que corresse o risco colocar um carro repleto de mecanismos de condução autônoma nessas ruas. As noções ocidentais de distância segura entre dois veículos não significam grande coisa na China. Como um veículo que dirige sozinho, concebido para transitar nas ordenadas ruas alemãs, faria para lidar com tamanha anarquia? E, no entanto, na semana passada a Audi ofereceu a jornalistas demonstrações de direção autônoma nas frenéticas ruas de Xangai. Seus veículos de teste estavam na cidade para uma gigante feira de eletrônicos de consumo, durante a qual a montadora anunciou parcerias com a Baidu, que é o maior mecanismo de buscas chinês e também uma empresa de mapas, e a fabricante de equipamentos de telecomunicações Huawei, para equipar seus conectados carros do futuro. Se a convenção da semana passada servir como indicação, talvez a montadora alemã tenha razão em levar fé no boom digital da China. Este é o primeiro ano em que uma versão da Consumer Electronics Show (CES), que todos os anos acontece com grande estardalhaço em Las Vegas, é realizada fora dos Estados Unidos. Até agora, as tendências no segmento de eletrônicos de consumo normalmente ganhavam asas nos Estados Unidos, passavam em seguida para os países ricos e, por fim, chegavam a economias emergentes, como a China. Isso pode estar mudando. Tamanho é um dos motivos. A americana Consumer Electronics Association, que organiza a CES, prevê que o mercado chinês de artigos eletrônicos crescerá 5% este ano, movimentando US$ 281 bilhões, e, às taxas de crescimento atuais, deve superar os Estados Unidos no ano que vem. Um grande mercado representa para as empresas um incentivo adicional para que elas testem o potencial de seus novos dispositivos em solo chinês antes de levá-los para outros mercados. Mas há outros motivos, além do tamanho, para se esperar que o consumidor chinês venha cada vez mais a ditar as tendências no mercado de eletrônicos, em vez de apenas segui-las. Considere-se, em primeiro lugar, os carros autônomos e "conectados". Nos Estados Unidos e na Europa, os indivíduos que compram carros Audi estão, em média, na casa dos 50 anos de idade, mas na China a maior clientela da montadora é um pessoal de 36 anos fissurado em tecnologia digital. Portanto, veículos com esse tipo de opcional ultramoderno tendem a ganhar espaço na China antes que em outros países. É possível que carros completamente autônomos, em particular, conquistem mais rapidamente os chineses do que os americanos, que são loucos por uma contenda judicial, ou do que os europeus, que abominam pôr a segurança em risco. Em segundo lugar, os chineses caíram com gosto na onda do comércio móvel. Há notícias de que a Apple estaria negociando com o Alibaba, uma empresa local de comércio eletrônico, para implementar na China o seu sistema de pagamentos móveis. Consumidores que rapidamente se acostumaram a fazer compras em dispositivos móveis também parecem ser fãs em potencial de relógios inteligentes e outros aparelhos usados no corpo. Os chineses vêm dando mostras de uma afinidade com engenhocas eletrônicas maior até do que a dos japoneses; e há companhias chinesas inovando furiosamente, produzindo todo tipo de dispositivo, um dos quais talvez venha a ser o próximo Walkman. A JD, uma bem-sucedida varejista online, similar à Amazon, exibiu na semana passada um dispositivo controlado por voz, apelidado de DingDong Smart Speaker, que é, essencialmente, um rádio que toca tudo que a pessoa disser para ele tocar: música, notícias, previsão do tempo e que tais. Também na semana passada, mas num evento organizado em Pequim pela própria empresa, a Lenovo anunciou a intenção de produzir o primeiro relógio inteligente com duas telas - uma normal e uma que usa reflexão ótica para criar um mostrador virtual de dimensões muito maiores. A maior fabricante de computadores do mundo também revelou que pretende produzir um smartphone que traz embutidos um projetor laser e um detector infravermelho de movimentos, capazes de projetar o que, na realidade, é uma tela touch-screen gigante. As fabricantes chinesas de produtos eletrônicos têm fama de copiar invenções ocidentais. E ainda foi possível observar evidências disso durante a CES de Xangai: nos estandes das empresas não faltavam imitações de Google Glasses, Apple Watches e iPads. No entanto, havia também um número surpreendente de invenções originais com chance de conquistar mercados estrangeiros. Isso começa a mudar a atitude das companhias chinesas em relação aos instrumentos de proteção à propriedade intelectual. Inventores chineses financiados por capital de risco começam a patentear os produtos que pretendem lançar nos Estados Unidos, pois percebem que isso valoriza os recursos aplicados pelos investidores em suas empresas. Tome-se, por exemplo, o The One, um piano eletrônico de concepção brilhante, que se integra a bibliotecas musicais acessadas por smartphone ou tablet. Muitas pessoas desistem de aprender a tocar piano porque antes precisam passar pela aborrecida aprendizagem da leitura de partituras. As teclas desse piano engenhoso se iluminam progressivamente, ajudando o aluno a identificar quais devem ser pressionadas. Num momento posterior, truques adaptados de videogames o auxiliam a ir se libertando desse recurso, até que ele se torna capaz de ler as partituras por conta própria. Quando alguém pergunta ao fundador da empresa, Ben Ye, se sua lucrativa invenção está a salvo da pirataria local, ele responde que não. Então por que a empresa paga elevadas quantias a editoras de música estrangeiras para usar suas canções? Pagamos por propriedade intelectual porque queremos nos tornar globais, diz ele.© 2015 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR ALEXANDRE HUBNER, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.  

Mercado chinês de artigos eletrônicos deve movimentar US$ 281 bilhões este ano Foto: ROLEX DELA PENA/EFE

Um estrangeiro precisa de coragem para dirigir nas ruas da China. A combinação de dezenas de milhões de motoristas inexperientes com um desprezo generalizado pelas leis de trânsito põe as vias do país entre as mais letais do mundo. Mais ousadia ainda precisaria ter uma montadora de automóveis que corresse o risco colocar um carro repleto de mecanismos de condução autônoma nessas ruas. As noções ocidentais de distância segura entre dois veículos não significam grande coisa na China. Como um veículo que dirige sozinho, concebido para transitar nas ordenadas ruas alemãs, faria para lidar com tamanha anarquia? E, no entanto, na semana passada a Audi ofereceu a jornalistas demonstrações de direção autônoma nas frenéticas ruas de Xangai. Seus veículos de teste estavam na cidade para uma gigante feira de eletrônicos de consumo, durante a qual a montadora anunciou parcerias com a Baidu, que é o maior mecanismo de buscas chinês e também uma empresa de mapas, e a fabricante de equipamentos de telecomunicações Huawei, para equipar seus conectados carros do futuro. Se a convenção da semana passada servir como indicação, talvez a montadora alemã tenha razão em levar fé no boom digital da China. Este é o primeiro ano em que uma versão da Consumer Electronics Show (CES), que todos os anos acontece com grande estardalhaço em Las Vegas, é realizada fora dos Estados Unidos. Até agora, as tendências no segmento de eletrônicos de consumo normalmente ganhavam asas nos Estados Unidos, passavam em seguida para os países ricos e, por fim, chegavam a economias emergentes, como a China. Isso pode estar mudando. Tamanho é um dos motivos. A americana Consumer Electronics Association, que organiza a CES, prevê que o mercado chinês de artigos eletrônicos crescerá 5% este ano, movimentando US$ 281 bilhões, e, às taxas de crescimento atuais, deve superar os Estados Unidos no ano que vem. Um grande mercado representa para as empresas um incentivo adicional para que elas testem o potencial de seus novos dispositivos em solo chinês antes de levá-los para outros mercados. Mas há outros motivos, além do tamanho, para se esperar que o consumidor chinês venha cada vez mais a ditar as tendências no mercado de eletrônicos, em vez de apenas segui-las. Considere-se, em primeiro lugar, os carros autônomos e "conectados". Nos Estados Unidos e na Europa, os indivíduos que compram carros Audi estão, em média, na casa dos 50 anos de idade, mas na China a maior clientela da montadora é um pessoal de 36 anos fissurado em tecnologia digital. Portanto, veículos com esse tipo de opcional ultramoderno tendem a ganhar espaço na China antes que em outros países. É possível que carros completamente autônomos, em particular, conquistem mais rapidamente os chineses do que os americanos, que são loucos por uma contenda judicial, ou do que os europeus, que abominam pôr a segurança em risco. Em segundo lugar, os chineses caíram com gosto na onda do comércio móvel. Há notícias de que a Apple estaria negociando com o Alibaba, uma empresa local de comércio eletrônico, para implementar na China o seu sistema de pagamentos móveis. Consumidores que rapidamente se acostumaram a fazer compras em dispositivos móveis também parecem ser fãs em potencial de relógios inteligentes e outros aparelhos usados no corpo. Os chineses vêm dando mostras de uma afinidade com engenhocas eletrônicas maior até do que a dos japoneses; e há companhias chinesas inovando furiosamente, produzindo todo tipo de dispositivo, um dos quais talvez venha a ser o próximo Walkman. A JD, uma bem-sucedida varejista online, similar à Amazon, exibiu na semana passada um dispositivo controlado por voz, apelidado de DingDong Smart Speaker, que é, essencialmente, um rádio que toca tudo que a pessoa disser para ele tocar: música, notícias, previsão do tempo e que tais. Também na semana passada, mas num evento organizado em Pequim pela própria empresa, a Lenovo anunciou a intenção de produzir o primeiro relógio inteligente com duas telas - uma normal e uma que usa reflexão ótica para criar um mostrador virtual de dimensões muito maiores. A maior fabricante de computadores do mundo também revelou que pretende produzir um smartphone que traz embutidos um projetor laser e um detector infravermelho de movimentos, capazes de projetar o que, na realidade, é uma tela touch-screen gigante. As fabricantes chinesas de produtos eletrônicos têm fama de copiar invenções ocidentais. E ainda foi possível observar evidências disso durante a CES de Xangai: nos estandes das empresas não faltavam imitações de Google Glasses, Apple Watches e iPads. No entanto, havia também um número surpreendente de invenções originais com chance de conquistar mercados estrangeiros. Isso começa a mudar a atitude das companhias chinesas em relação aos instrumentos de proteção à propriedade intelectual. Inventores chineses financiados por capital de risco começam a patentear os produtos que pretendem lançar nos Estados Unidos, pois percebem que isso valoriza os recursos aplicados pelos investidores em suas empresas. Tome-se, por exemplo, o The One, um piano eletrônico de concepção brilhante, que se integra a bibliotecas musicais acessadas por smartphone ou tablet. Muitas pessoas desistem de aprender a tocar piano porque antes precisam passar pela aborrecida aprendizagem da leitura de partituras. As teclas desse piano engenhoso se iluminam progressivamente, ajudando o aluno a identificar quais devem ser pressionadas. Num momento posterior, truques adaptados de videogames o auxiliam a ir se libertando desse recurso, até que ele se torna capaz de ler as partituras por conta própria. Quando alguém pergunta ao fundador da empresa, Ben Ye, se sua lucrativa invenção está a salvo da pirataria local, ele responde que não. Então por que a empresa paga elevadas quantias a editoras de música estrangeiras para usar suas canções? Pagamos por propriedade intelectual porque queremos nos tornar globais, diz ele.© 2015 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR ALEXANDRE HUBNER, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.  

Mercado chinês de artigos eletrônicos deve movimentar US$ 281 bilhões este ano Foto: ROLEX DELA PENA/EFE

Um estrangeiro precisa de coragem para dirigir nas ruas da China. A combinação de dezenas de milhões de motoristas inexperientes com um desprezo generalizado pelas leis de trânsito põe as vias do país entre as mais letais do mundo. Mais ousadia ainda precisaria ter uma montadora de automóveis que corresse o risco colocar um carro repleto de mecanismos de condução autônoma nessas ruas. As noções ocidentais de distância segura entre dois veículos não significam grande coisa na China. Como um veículo que dirige sozinho, concebido para transitar nas ordenadas ruas alemãs, faria para lidar com tamanha anarquia? E, no entanto, na semana passada a Audi ofereceu a jornalistas demonstrações de direção autônoma nas frenéticas ruas de Xangai. Seus veículos de teste estavam na cidade para uma gigante feira de eletrônicos de consumo, durante a qual a montadora anunciou parcerias com a Baidu, que é o maior mecanismo de buscas chinês e também uma empresa de mapas, e a fabricante de equipamentos de telecomunicações Huawei, para equipar seus conectados carros do futuro. Se a convenção da semana passada servir como indicação, talvez a montadora alemã tenha razão em levar fé no boom digital da China. Este é o primeiro ano em que uma versão da Consumer Electronics Show (CES), que todos os anos acontece com grande estardalhaço em Las Vegas, é realizada fora dos Estados Unidos. Até agora, as tendências no segmento de eletrônicos de consumo normalmente ganhavam asas nos Estados Unidos, passavam em seguida para os países ricos e, por fim, chegavam a economias emergentes, como a China. Isso pode estar mudando. Tamanho é um dos motivos. A americana Consumer Electronics Association, que organiza a CES, prevê que o mercado chinês de artigos eletrônicos crescerá 5% este ano, movimentando US$ 281 bilhões, e, às taxas de crescimento atuais, deve superar os Estados Unidos no ano que vem. Um grande mercado representa para as empresas um incentivo adicional para que elas testem o potencial de seus novos dispositivos em solo chinês antes de levá-los para outros mercados. Mas há outros motivos, além do tamanho, para se esperar que o consumidor chinês venha cada vez mais a ditar as tendências no mercado de eletrônicos, em vez de apenas segui-las. Considere-se, em primeiro lugar, os carros autônomos e "conectados". Nos Estados Unidos e na Europa, os indivíduos que compram carros Audi estão, em média, na casa dos 50 anos de idade, mas na China a maior clientela da montadora é um pessoal de 36 anos fissurado em tecnologia digital. Portanto, veículos com esse tipo de opcional ultramoderno tendem a ganhar espaço na China antes que em outros países. É possível que carros completamente autônomos, em particular, conquistem mais rapidamente os chineses do que os americanos, que são loucos por uma contenda judicial, ou do que os europeus, que abominam pôr a segurança em risco. Em segundo lugar, os chineses caíram com gosto na onda do comércio móvel. Há notícias de que a Apple estaria negociando com o Alibaba, uma empresa local de comércio eletrônico, para implementar na China o seu sistema de pagamentos móveis. Consumidores que rapidamente se acostumaram a fazer compras em dispositivos móveis também parecem ser fãs em potencial de relógios inteligentes e outros aparelhos usados no corpo. Os chineses vêm dando mostras de uma afinidade com engenhocas eletrônicas maior até do que a dos japoneses; e há companhias chinesas inovando furiosamente, produzindo todo tipo de dispositivo, um dos quais talvez venha a ser o próximo Walkman. A JD, uma bem-sucedida varejista online, similar à Amazon, exibiu na semana passada um dispositivo controlado por voz, apelidado de DingDong Smart Speaker, que é, essencialmente, um rádio que toca tudo que a pessoa disser para ele tocar: música, notícias, previsão do tempo e que tais. Também na semana passada, mas num evento organizado em Pequim pela própria empresa, a Lenovo anunciou a intenção de produzir o primeiro relógio inteligente com duas telas - uma normal e uma que usa reflexão ótica para criar um mostrador virtual de dimensões muito maiores. A maior fabricante de computadores do mundo também revelou que pretende produzir um smartphone que traz embutidos um projetor laser e um detector infravermelho de movimentos, capazes de projetar o que, na realidade, é uma tela touch-screen gigante. As fabricantes chinesas de produtos eletrônicos têm fama de copiar invenções ocidentais. E ainda foi possível observar evidências disso durante a CES de Xangai: nos estandes das empresas não faltavam imitações de Google Glasses, Apple Watches e iPads. No entanto, havia também um número surpreendente de invenções originais com chance de conquistar mercados estrangeiros. Isso começa a mudar a atitude das companhias chinesas em relação aos instrumentos de proteção à propriedade intelectual. Inventores chineses financiados por capital de risco começam a patentear os produtos que pretendem lançar nos Estados Unidos, pois percebem que isso valoriza os recursos aplicados pelos investidores em suas empresas. Tome-se, por exemplo, o The One, um piano eletrônico de concepção brilhante, que se integra a bibliotecas musicais acessadas por smartphone ou tablet. Muitas pessoas desistem de aprender a tocar piano porque antes precisam passar pela aborrecida aprendizagem da leitura de partituras. As teclas desse piano engenhoso se iluminam progressivamente, ajudando o aluno a identificar quais devem ser pressionadas. Num momento posterior, truques adaptados de videogames o auxiliam a ir se libertando desse recurso, até que ele se torna capaz de ler as partituras por conta própria. Quando alguém pergunta ao fundador da empresa, Ben Ye, se sua lucrativa invenção está a salvo da pirataria local, ele responde que não. Então por que a empresa paga elevadas quantias a editoras de música estrangeiras para usar suas canções? Pagamos por propriedade intelectual porque queremos nos tornar globais, diz ele.© 2015 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR ALEXANDRE HUBNER, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.  

Mercado chinês de artigos eletrônicos deve movimentar US$ 281 bilhões este ano Foto: ROLEX DELA PENA/EFE

Um estrangeiro precisa de coragem para dirigir nas ruas da China. A combinação de dezenas de milhões de motoristas inexperientes com um desprezo generalizado pelas leis de trânsito põe as vias do país entre as mais letais do mundo. Mais ousadia ainda precisaria ter uma montadora de automóveis que corresse o risco colocar um carro repleto de mecanismos de condução autônoma nessas ruas. As noções ocidentais de distância segura entre dois veículos não significam grande coisa na China. Como um veículo que dirige sozinho, concebido para transitar nas ordenadas ruas alemãs, faria para lidar com tamanha anarquia? E, no entanto, na semana passada a Audi ofereceu a jornalistas demonstrações de direção autônoma nas frenéticas ruas de Xangai. Seus veículos de teste estavam na cidade para uma gigante feira de eletrônicos de consumo, durante a qual a montadora anunciou parcerias com a Baidu, que é o maior mecanismo de buscas chinês e também uma empresa de mapas, e a fabricante de equipamentos de telecomunicações Huawei, para equipar seus conectados carros do futuro. Se a convenção da semana passada servir como indicação, talvez a montadora alemã tenha razão em levar fé no boom digital da China. Este é o primeiro ano em que uma versão da Consumer Electronics Show (CES), que todos os anos acontece com grande estardalhaço em Las Vegas, é realizada fora dos Estados Unidos. Até agora, as tendências no segmento de eletrônicos de consumo normalmente ganhavam asas nos Estados Unidos, passavam em seguida para os países ricos e, por fim, chegavam a economias emergentes, como a China. Isso pode estar mudando. Tamanho é um dos motivos. A americana Consumer Electronics Association, que organiza a CES, prevê que o mercado chinês de artigos eletrônicos crescerá 5% este ano, movimentando US$ 281 bilhões, e, às taxas de crescimento atuais, deve superar os Estados Unidos no ano que vem. Um grande mercado representa para as empresas um incentivo adicional para que elas testem o potencial de seus novos dispositivos em solo chinês antes de levá-los para outros mercados. Mas há outros motivos, além do tamanho, para se esperar que o consumidor chinês venha cada vez mais a ditar as tendências no mercado de eletrônicos, em vez de apenas segui-las. Considere-se, em primeiro lugar, os carros autônomos e "conectados". Nos Estados Unidos e na Europa, os indivíduos que compram carros Audi estão, em média, na casa dos 50 anos de idade, mas na China a maior clientela da montadora é um pessoal de 36 anos fissurado em tecnologia digital. Portanto, veículos com esse tipo de opcional ultramoderno tendem a ganhar espaço na China antes que em outros países. É possível que carros completamente autônomos, em particular, conquistem mais rapidamente os chineses do que os americanos, que são loucos por uma contenda judicial, ou do que os europeus, que abominam pôr a segurança em risco. Em segundo lugar, os chineses caíram com gosto na onda do comércio móvel. Há notícias de que a Apple estaria negociando com o Alibaba, uma empresa local de comércio eletrônico, para implementar na China o seu sistema de pagamentos móveis. Consumidores que rapidamente se acostumaram a fazer compras em dispositivos móveis também parecem ser fãs em potencial de relógios inteligentes e outros aparelhos usados no corpo. Os chineses vêm dando mostras de uma afinidade com engenhocas eletrônicas maior até do que a dos japoneses; e há companhias chinesas inovando furiosamente, produzindo todo tipo de dispositivo, um dos quais talvez venha a ser o próximo Walkman. A JD, uma bem-sucedida varejista online, similar à Amazon, exibiu na semana passada um dispositivo controlado por voz, apelidado de DingDong Smart Speaker, que é, essencialmente, um rádio que toca tudo que a pessoa disser para ele tocar: música, notícias, previsão do tempo e que tais. Também na semana passada, mas num evento organizado em Pequim pela própria empresa, a Lenovo anunciou a intenção de produzir o primeiro relógio inteligente com duas telas - uma normal e uma que usa reflexão ótica para criar um mostrador virtual de dimensões muito maiores. A maior fabricante de computadores do mundo também revelou que pretende produzir um smartphone que traz embutidos um projetor laser e um detector infravermelho de movimentos, capazes de projetar o que, na realidade, é uma tela touch-screen gigante. As fabricantes chinesas de produtos eletrônicos têm fama de copiar invenções ocidentais. E ainda foi possível observar evidências disso durante a CES de Xangai: nos estandes das empresas não faltavam imitações de Google Glasses, Apple Watches e iPads. No entanto, havia também um número surpreendente de invenções originais com chance de conquistar mercados estrangeiros. Isso começa a mudar a atitude das companhias chinesas em relação aos instrumentos de proteção à propriedade intelectual. Inventores chineses financiados por capital de risco começam a patentear os produtos que pretendem lançar nos Estados Unidos, pois percebem que isso valoriza os recursos aplicados pelos investidores em suas empresas. Tome-se, por exemplo, o The One, um piano eletrônico de concepção brilhante, que se integra a bibliotecas musicais acessadas por smartphone ou tablet. Muitas pessoas desistem de aprender a tocar piano porque antes precisam passar pela aborrecida aprendizagem da leitura de partituras. As teclas desse piano engenhoso se iluminam progressivamente, ajudando o aluno a identificar quais devem ser pressionadas. Num momento posterior, truques adaptados de videogames o auxiliam a ir se libertando desse recurso, até que ele se torna capaz de ler as partituras por conta própria. Quando alguém pergunta ao fundador da empresa, Ben Ye, se sua lucrativa invenção está a salvo da pirataria local, ele responde que não. Então por que a empresa paga elevadas quantias a editoras de música estrangeiras para usar suas canções? Pagamos por propriedade intelectual porque queremos nos tornar globais, diz ele.© 2015 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR ALEXANDRE HUBNER, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.  

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.