Hoje (31/07) é o segundo dia da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) que vai anunciar a nova taxa de juros brasileira. Considerando a curva de juros negociada na B3 - DI Futuro, existem 72% de chances de queda da Taxa Meta Selic em 0,5 ponto percentual, passando dos atuais 6,50% aa para 6,00% aa.
Introdução
Antes de desenvolver o texto, quero explicar algumas coisas. Primeiro, existe um produto negociado na Bolsa brasileira (B3) em que se aposta no movimento da taxa de juros. Foi através deste produto que cheguei à conclusão apresentada neste artigo.
De que produto estou falando? DI Futuro. No mercado desde os anos 90, está entre os derivativos mais negociados no planeta. Basicamente consiste em apostas sobre o movimento das taxas de juros brasileiras.
Para fazer minha análise, usei um vencimento específico, que é o DI para o próximo dia 1º de setembro. Foi este vencimento, combinado com a Selic atual de 6,50% aa, que me levou aos 72% de chance de redução da taxa em 0,5 ponto percentual.
Dito isto, vamos a algumas considerações.
- A última vez em que o Banco Central derrubou os juros.
Foi na reunião do dia 21 de março de 2018, quando o presidente da República ainda era Michel Temer e o Banco Central era comandado por Ilan Goldfajn. Foi a última de uma sequência de quedas que teve início no dia 19 de outubro de 2016, quando a Meta Selic passou de 14,25%aa para 14,00%aa. Agora estamos há aproximadamente 16 meses com a mesma taxa de 6,5%aa.
Mas qual era o contexto nacional em março de 2018? No campo político, o cenário estava cheio de incertezas, com Lula ainda como possível candidato à Presidência da República, assustando o mercado financeiro. Bolsonaro estava então despontando - naquele momento, não era um forte candidato.
No campo econômico, a tabela a seguir compara as situações em março de 2018 e atualmente.
Olhando para os dados, observamos que algumas coisas mudaram pouco, como o IPCA e o desemprego. Continuamos com a inflação controlada e com o desemprego bombando. Já o dólar agora estressou um pouco mais e a expectativa de crescimento da economia piorou em relação a março do ano passado.
- E a reunião deste mês?
O que passa na cabeça dos diretores do Banco Central? Pelas últimas atas, dá para perceber que a grande preocupação tem sido as reformas, com destaque para a da Previdência. Mas existem outras pulgas atrás da orelha, como baixo crescimento externo, brigas comerciais etc.
E o que mudou nas últimas semanas? O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, conseguiu passar com folga a reforma da Previdência no primeiro turno. Mas vale lembrar que ainda temos o segundo turno na Câmara e mais dois turnos no Senado. Ou seja, teremos um mês de agosto de fortes emoções e isso, com certeza, está no radar do Banco Central. Se mantiver o que tem escrito e/ou falado, nem deveria baixar os juros - já que a reforma da Previdência ainda não passou de forma definitiva. Eu particularmente acho que ainda teremos boas brigas pelas regalias dos policiais e professores, que podem gerar grande embate no Senado.
- Argumentos para cada possível movimento do Copom
- Não derruba os juros: neste cenário, o Copom alegaria que a reforma ainda não passou, mas que está atento aos próximos passos do Congresso. Com certeza, uma decisão assim vai estressar o mercado financeiro.
- Derruba 0,25 ponto percentual: neste caso, o objetivo do Copom seria somente sinalizar que está atento e deu um voto de confiança para o Congresso.
- Derruba 0,50 ponto percentual: aqui o Copom demonstraria que, como a reforma passou no primeiro turno na Câmara, está confiante nos demais passos e, por isso, decidiu derrubar os juros. Além disso, o comitê pode argumentar que o mundo todo já está baixando os juros, ou fará isso nas próximas semanas, que a nossa inflação está sob controle e que a expectativa de crescimento do PIB brasileiro não melhora. Neste cenário, o mercado não estressa, pois tudo isso já está precificado. E o Copom ainda joga para o governo a "batata quente", na linha "eu estou fazendo o dever de casa. Se a reforma não passar ou der dor de cabeça, eu aumento os juros nos próximos meses e posso estressar o mercado. Tá okay?".
- Reação à decisão
Considerando a queda de 0,50 ponto percentual, a reação será de indiferença, pois já está no preço. Mas temos que olhar com atenção o que o Copom vai escrever no comunicado após a reunião (se vai ter alguma frase de impacto).
Conclusão
Acho uma reunião difícil, porque o mercado financeiro aposta todas as fichas em uma queda de 0,50 ponto percentual. Podemos até ter uma votação dividida.
Se eu fosse o diretor e votasse, faria o seguinte: "baixo em 0,25 ponto percentual os juros, dando voto de confiança ao Rodrigo Maia por ter passado a reforma da Previdência no primeiro turno na Câmara e acreditando que a tramitação no Congresso será concluída ainda no mês de agosto. Ao mesmo tempo, destaco o interesse em uma queda maior nos juros, mas que não depende somente da minha vontade e que se mostra inoportuna, devido a números econômicos internos ruins".
E ainda complementaria: "sabemos que estímulos para a melhora da economia não dependem somente da Taxa Meta Selic e, sim, de políticas como compulsório e decisões tomadas pelo Ministério da Economia. Por esses motivos, só derrubo os juros em 0,25 ponto percentual, confiante de que, nas próximas reuniões do Copom, o cenário estará mais propício a novas mexidas na taxa". Tenho dito!
Edição
Patrícia Monken