Equívocos que limitam nosso crescimento


Insistindo em incorrer em caminhos baseados em falsas premissas, resultado será um ‘mais do mesmo’

Por Antonio Corrêa de Lacerda

As escolhas de políticas econômicas não são neutras. Elas impõem perdas e ganhos a partir da decisão tomada, geralmente baseada num diagnóstico. Aí, no nosso caso, aparece o problema: o debate macroeconômico brasileiro é influenciado por sofismas que dificilmente se sustentam à luz das melhores teorias e bem-sucedidas políticas econômicas adotadas internacionalmente. Embora sejam de fácil assimilação e contem com a complacência do “senso comum”, analogias simplistas limitam uma discussão mais séria sobre as alternativas para a economia brasileira.

Um axioma de referência na visão convencional é de que a poupança seria um pré-requisito para o investimento. De acordo com essa assertiva, seria preciso comprimir os gastos públicos de forma a gerar um excedente para permitir ao Estado investir em infraestrutura e em políticas sociais. Essa é a base da visão de “austeridade” que tem prevalecido nas políticas econômicas adotadas no Brasil há pelo menos cinco anos. Começou no segundo mandato de Dilma Rousseff, sob o comando de Joaquim Levi, mas continuou posteriormente na gestão Temer/Meirelles, assim como atualmente, com Bolsonaro/Guedes.

Na verdade, uma análise baseada na boa teoria econômica e mesmo nas práticas de vários países exitosos, a relação é inversa: o resultado do investimento é que gera a poupança. Isso porque o Estado, além de ele próprio realizar investimentos, pode e deve recorrer ao seu poder de prover recursos para atender à demanda por financiamento dos projetos. Isso gera o benefício do efeito multiplicador do gasto público, que ajudará a impulsionar as atividades na economia, com reflexos positivos na produção, na geração de trabalho e renda e, finalmente, na demanda efetiva.

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Um outro fator positivo é o efeito demonstração que gera para o setor privado, que, diante da retomada de atividades e da disponibilidade de financiamento a custos compatíveis com a rentabilidade esperada dos projetos, tenderá a investir.

O Estado é beneficiário desse ciclo virtuoso. Mais atividade econômica implica mais receita tributária, colaborando para o sempre desejado ajuste fiscal pelo lado da receita, e não só, como tem sido a prática nos últimos cinco anos, com foco principal na despesa.

O segundo equívoco, diretamente relacionado ao primeiro, está na visão equivocada de economia doméstica no que se refere ao orçamento público. A falsa ideia de que “o Estado tem de fazer como as famílias, que reduzem seu gasto na crise”, foi um dos argumentos para a aprovação, no final de 2016, da Emenda Constitucional 95. O problema, como apontei na época, é que a visão que sustentou sua adoção e aprovação parte de um vício de origem que desconsidera o papel do Estado, tanto o que lhe é definido na

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Constituição federal quanto o de exercer seu poder de monopólio de emissão monetária e de dívida pública (ver PEC 241, autoengano e a economia do lar, Estadão, 16/10/2016, B2).

O resultado dessas falsas premissas e estratégias é um processo autofágico em que mais cortes significam mais crise e, portanto, desajuste fiscal, ao contrário do pretendido, uma vez que menos atividade econômica diminui a arrecadação, não só pela menor geração de impostos, mas com o aumento da dificuldade de empresas e famílias pagarem suas obrigações gerando crescimento da inadimplência.

Enquanto não nos livrarmos da insistência em incorrer em caminhos equivocados e baseados em falsas premissas, o resultado será um mais do mesmo. Sem mudar o foco, dificilmente lograremos êxito na reversão da crise e em atingir o almejado desenvolvimento sustentável, econômica, ambiental e socialmente.*PROFESSOR-DOUTOR, DIRETOR DA FEA-PUCSP, CONSELHEIRO E ATUAL VICE-PRESIDENTE DO CONSELHO FEDERAL DE ECONOMIA (COFECON), É AUTOR, ENTRE OUTROS LIVROS, DE ‘ECONOMIA BRASILEIRA (6ª EDIÇÃO: SARAIVA, 2018). SITE: WWW.ACLACERDA.COM

As escolhas de políticas econômicas não são neutras. Elas impõem perdas e ganhos a partir da decisão tomada, geralmente baseada num diagnóstico. Aí, no nosso caso, aparece o problema: o debate macroeconômico brasileiro é influenciado por sofismas que dificilmente se sustentam à luz das melhores teorias e bem-sucedidas políticas econômicas adotadas internacionalmente. Embora sejam de fácil assimilação e contem com a complacência do “senso comum”, analogias simplistas limitam uma discussão mais séria sobre as alternativas para a economia brasileira.

Um axioma de referência na visão convencional é de que a poupança seria um pré-requisito para o investimento. De acordo com essa assertiva, seria preciso comprimir os gastos públicos de forma a gerar um excedente para permitir ao Estado investir em infraestrutura e em políticas sociais. Essa é a base da visão de “austeridade” que tem prevalecido nas políticas econômicas adotadas no Brasil há pelo menos cinco anos. Começou no segundo mandato de Dilma Rousseff, sob o comando de Joaquim Levi, mas continuou posteriormente na gestão Temer/Meirelles, assim como atualmente, com Bolsonaro/Guedes.

Na verdade, uma análise baseada na boa teoria econômica e mesmo nas práticas de vários países exitosos, a relação é inversa: o resultado do investimento é que gera a poupança. Isso porque o Estado, além de ele próprio realizar investimentos, pode e deve recorrer ao seu poder de prover recursos para atender à demanda por financiamento dos projetos. Isso gera o benefício do efeito multiplicador do gasto público, que ajudará a impulsionar as atividades na economia, com reflexos positivos na produção, na geração de trabalho e renda e, finalmente, na demanda efetiva.

Um outro fator positivo é o efeito demonstração que gera para o setor privado, que, diante da retomada de atividades e da disponibilidade de financiamento a custos compatíveis com a rentabilidade esperada dos projetos, tenderá a investir.

O Estado é beneficiário desse ciclo virtuoso. Mais atividade econômica implica mais receita tributária, colaborando para o sempre desejado ajuste fiscal pelo lado da receita, e não só, como tem sido a prática nos últimos cinco anos, com foco principal na despesa.

O segundo equívoco, diretamente relacionado ao primeiro, está na visão equivocada de economia doméstica no que se refere ao orçamento público. A falsa ideia de que “o Estado tem de fazer como as famílias, que reduzem seu gasto na crise”, foi um dos argumentos para a aprovação, no final de 2016, da Emenda Constitucional 95. O problema, como apontei na época, é que a visão que sustentou sua adoção e aprovação parte de um vício de origem que desconsidera o papel do Estado, tanto o que lhe é definido na

Constituição federal quanto o de exercer seu poder de monopólio de emissão monetária e de dívida pública (ver PEC 241, autoengano e a economia do lar, Estadão, 16/10/2016, B2).

O resultado dessas falsas premissas e estratégias é um processo autofágico em que mais cortes significam mais crise e, portanto, desajuste fiscal, ao contrário do pretendido, uma vez que menos atividade econômica diminui a arrecadação, não só pela menor geração de impostos, mas com o aumento da dificuldade de empresas e famílias pagarem suas obrigações gerando crescimento da inadimplência.

Enquanto não nos livrarmos da insistência em incorrer em caminhos equivocados e baseados em falsas premissas, o resultado será um mais do mesmo. Sem mudar o foco, dificilmente lograremos êxito na reversão da crise e em atingir o almejado desenvolvimento sustentável, econômica, ambiental e socialmente.*PROFESSOR-DOUTOR, DIRETOR DA FEA-PUCSP, CONSELHEIRO E ATUAL VICE-PRESIDENTE DO CONSELHO FEDERAL DE ECONOMIA (COFECON), É AUTOR, ENTRE OUTROS LIVROS, DE ‘ECONOMIA BRASILEIRA (6ª EDIÇÃO: SARAIVA, 2018). SITE: WWW.ACLACERDA.COM

As escolhas de políticas econômicas não são neutras. Elas impõem perdas e ganhos a partir da decisão tomada, geralmente baseada num diagnóstico. Aí, no nosso caso, aparece o problema: o debate macroeconômico brasileiro é influenciado por sofismas que dificilmente se sustentam à luz das melhores teorias e bem-sucedidas políticas econômicas adotadas internacionalmente. Embora sejam de fácil assimilação e contem com a complacência do “senso comum”, analogias simplistas limitam uma discussão mais séria sobre as alternativas para a economia brasileira.

Um axioma de referência na visão convencional é de que a poupança seria um pré-requisito para o investimento. De acordo com essa assertiva, seria preciso comprimir os gastos públicos de forma a gerar um excedente para permitir ao Estado investir em infraestrutura e em políticas sociais. Essa é a base da visão de “austeridade” que tem prevalecido nas políticas econômicas adotadas no Brasil há pelo menos cinco anos. Começou no segundo mandato de Dilma Rousseff, sob o comando de Joaquim Levi, mas continuou posteriormente na gestão Temer/Meirelles, assim como atualmente, com Bolsonaro/Guedes.

Na verdade, uma análise baseada na boa teoria econômica e mesmo nas práticas de vários países exitosos, a relação é inversa: o resultado do investimento é que gera a poupança. Isso porque o Estado, além de ele próprio realizar investimentos, pode e deve recorrer ao seu poder de prover recursos para atender à demanda por financiamento dos projetos. Isso gera o benefício do efeito multiplicador do gasto público, que ajudará a impulsionar as atividades na economia, com reflexos positivos na produção, na geração de trabalho e renda e, finalmente, na demanda efetiva.

Um outro fator positivo é o efeito demonstração que gera para o setor privado, que, diante da retomada de atividades e da disponibilidade de financiamento a custos compatíveis com a rentabilidade esperada dos projetos, tenderá a investir.

O Estado é beneficiário desse ciclo virtuoso. Mais atividade econômica implica mais receita tributária, colaborando para o sempre desejado ajuste fiscal pelo lado da receita, e não só, como tem sido a prática nos últimos cinco anos, com foco principal na despesa.

O segundo equívoco, diretamente relacionado ao primeiro, está na visão equivocada de economia doméstica no que se refere ao orçamento público. A falsa ideia de que “o Estado tem de fazer como as famílias, que reduzem seu gasto na crise”, foi um dos argumentos para a aprovação, no final de 2016, da Emenda Constitucional 95. O problema, como apontei na época, é que a visão que sustentou sua adoção e aprovação parte de um vício de origem que desconsidera o papel do Estado, tanto o que lhe é definido na

Constituição federal quanto o de exercer seu poder de monopólio de emissão monetária e de dívida pública (ver PEC 241, autoengano e a economia do lar, Estadão, 16/10/2016, B2).

O resultado dessas falsas premissas e estratégias é um processo autofágico em que mais cortes significam mais crise e, portanto, desajuste fiscal, ao contrário do pretendido, uma vez que menos atividade econômica diminui a arrecadação, não só pela menor geração de impostos, mas com o aumento da dificuldade de empresas e famílias pagarem suas obrigações gerando crescimento da inadimplência.

Enquanto não nos livrarmos da insistência em incorrer em caminhos equivocados e baseados em falsas premissas, o resultado será um mais do mesmo. Sem mudar o foco, dificilmente lograremos êxito na reversão da crise e em atingir o almejado desenvolvimento sustentável, econômica, ambiental e socialmente.*PROFESSOR-DOUTOR, DIRETOR DA FEA-PUCSP, CONSELHEIRO E ATUAL VICE-PRESIDENTE DO CONSELHO FEDERAL DE ECONOMIA (COFECON), É AUTOR, ENTRE OUTROS LIVROS, DE ‘ECONOMIA BRASILEIRA (6ª EDIÇÃO: SARAIVA, 2018). SITE: WWW.ACLACERDA.COM

As escolhas de políticas econômicas não são neutras. Elas impõem perdas e ganhos a partir da decisão tomada, geralmente baseada num diagnóstico. Aí, no nosso caso, aparece o problema: o debate macroeconômico brasileiro é influenciado por sofismas que dificilmente se sustentam à luz das melhores teorias e bem-sucedidas políticas econômicas adotadas internacionalmente. Embora sejam de fácil assimilação e contem com a complacência do “senso comum”, analogias simplistas limitam uma discussão mais séria sobre as alternativas para a economia brasileira.

Um axioma de referência na visão convencional é de que a poupança seria um pré-requisito para o investimento. De acordo com essa assertiva, seria preciso comprimir os gastos públicos de forma a gerar um excedente para permitir ao Estado investir em infraestrutura e em políticas sociais. Essa é a base da visão de “austeridade” que tem prevalecido nas políticas econômicas adotadas no Brasil há pelo menos cinco anos. Começou no segundo mandato de Dilma Rousseff, sob o comando de Joaquim Levi, mas continuou posteriormente na gestão Temer/Meirelles, assim como atualmente, com Bolsonaro/Guedes.

Na verdade, uma análise baseada na boa teoria econômica e mesmo nas práticas de vários países exitosos, a relação é inversa: o resultado do investimento é que gera a poupança. Isso porque o Estado, além de ele próprio realizar investimentos, pode e deve recorrer ao seu poder de prover recursos para atender à demanda por financiamento dos projetos. Isso gera o benefício do efeito multiplicador do gasto público, que ajudará a impulsionar as atividades na economia, com reflexos positivos na produção, na geração de trabalho e renda e, finalmente, na demanda efetiva.

Um outro fator positivo é o efeito demonstração que gera para o setor privado, que, diante da retomada de atividades e da disponibilidade de financiamento a custos compatíveis com a rentabilidade esperada dos projetos, tenderá a investir.

O Estado é beneficiário desse ciclo virtuoso. Mais atividade econômica implica mais receita tributária, colaborando para o sempre desejado ajuste fiscal pelo lado da receita, e não só, como tem sido a prática nos últimos cinco anos, com foco principal na despesa.

O segundo equívoco, diretamente relacionado ao primeiro, está na visão equivocada de economia doméstica no que se refere ao orçamento público. A falsa ideia de que “o Estado tem de fazer como as famílias, que reduzem seu gasto na crise”, foi um dos argumentos para a aprovação, no final de 2016, da Emenda Constitucional 95. O problema, como apontei na época, é que a visão que sustentou sua adoção e aprovação parte de um vício de origem que desconsidera o papel do Estado, tanto o que lhe é definido na

Constituição federal quanto o de exercer seu poder de monopólio de emissão monetária e de dívida pública (ver PEC 241, autoengano e a economia do lar, Estadão, 16/10/2016, B2).

O resultado dessas falsas premissas e estratégias é um processo autofágico em que mais cortes significam mais crise e, portanto, desajuste fiscal, ao contrário do pretendido, uma vez que menos atividade econômica diminui a arrecadação, não só pela menor geração de impostos, mas com o aumento da dificuldade de empresas e famílias pagarem suas obrigações gerando crescimento da inadimplência.

Enquanto não nos livrarmos da insistência em incorrer em caminhos equivocados e baseados em falsas premissas, o resultado será um mais do mesmo. Sem mudar o foco, dificilmente lograremos êxito na reversão da crise e em atingir o almejado desenvolvimento sustentável, econômica, ambiental e socialmente.*PROFESSOR-DOUTOR, DIRETOR DA FEA-PUCSP, CONSELHEIRO E ATUAL VICE-PRESIDENTE DO CONSELHO FEDERAL DE ECONOMIA (COFECON), É AUTOR, ENTRE OUTROS LIVROS, DE ‘ECONOMIA BRASILEIRA (6ª EDIÇÃO: SARAIVA, 2018). SITE: WWW.ACLACERDA.COM

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