Economia e políticas públicas

Opinião|Depois de ata explícita, mercado discute futuro de juros


Foi uma cena de ata explícita, do tipo a que o mercado não está acostumado: no parágrafo 31 da ata da reunião do Copom deste mês, divulgada na quinta-feira, 24/7, está escrito que a inflação convergirá para a meta nos trimestres finais do horizonte de projeção, desde que sejam mantidas as condições monetárias, ou, como fez questão de explicitar o Banco Central, "levando em conta estratégia que não contempla redução do instrumento de política monetária".

Por Fernando Dantas

Para um BC muito zeloso em não antecipar de forma peremptória movimentos de política monetária, o que é diferente de implicitamente indicar tendências, foi quase uma quebra de protocolo. Necessária, porém, diante da confusão causada pela manutenção da expressão "neste momento" no comunicado pós-Copom da reunião de julho.

Uma corrente majoritária do mercado interpretou o "neste momento" como um indicativo de chances muito palpáveis de a Selic ser cortada na reunião do início de setembro. O mercado futuro reagiu a essa interpretação, com os juros sinalizando probabilidade razoável de corte da taxa básica no curto prazo.

A partir daí, fontes do governo se manifestaram por meio de artigos na imprensa (um deles, deste colunista, foi divulgado pela AE-News/Broadcast na sexta-feira, 18/7, no final da tarde), dando conta de que a interpretação do mercado sobre o comunicado da reunião de julho estava equivocada.

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"Adivinhação, e não interpretação", disse uma das fontes, lembrando que o comunicado foi uma exata reprodução do anterior, da reunião de maio. À época, o "neste momento" foi visto por boa parte do mercado como algo entre neutro (mesmo peso para chances de subir ou descer) e indicativo de possibilidade de retomada da alta, em ambos os casos sem conotação de curtíssimo prazo. Nas matérias na imprensa nos últimos dias, ficou claro que as fontes consideravam a interpretação de maio mais certa do que a de julho, em que o "neste momento" indicaria boas chances de a Selic cair em setembro.

O mercado, porém, ainda pagou para ver, e apenas hoje, após a ata, os juros futuros se ajustaram de fato para um cenário de manutenção da Selic em 11% por um período mais longo.

"Eles provavelmente acharam que repetir o comunicado de maio seria a forma mais simples de sinalizar continuidade, e se surpreenderam com a reação do mercado", analisa Alessandra Ribeiro, sócia e economista da consultoria Tendências.

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Na ata divulgada em 24/7, o BC avisa que, entre as reuniões de maio e julho, a projeção de inflação para 2014 e 2015 subiu nos dois cenários - o de referência, que pressupõe manutenção do câmbio em R$ 2,20 e da Selic em 11% em todo o horizonte relevante; e o de mercado, que supõe que as duas variáveis sigam a tendência apontada pelos analistas de mercado. Em outras palavras, a piora das expectativas inflacionárias dá substância à explicitação do BC sobre sua intenção de manter a Selic em 11%, mesmo diante de um cenário de atividade cada vez pior.

Dúvida

Mesmo a ata explícita, porém, não foi capaz de sepultar de vez a ideia de queda da Selic em setembro para 100% dos analistas. Alexandre Ázara, economista-chefe e sócio do Modal, frisando que acha que a taxa básica será mantida, ainda considera que existe alguma possibilidade de queda diante de dados de atividade até a reunião de setembro que tragam fortes surpresas negativas ante o cenário contemplado pelo BC. Uma divulgação particularmente decisiva será a do PIB do segundo trimestre, no final de agosto.

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Ázara lembra que a última projeção do PIB de 2014 do BC, que consta do Relatório Trimestral de Inflação de Junho, é de alta de 1,6% - muito mais otimista que as muitas previsões de PIB abaixo de 1% que começaram a surgir nas últimas semanas.

Desse fato, o economista depreende duas consequências. A primeira é que, se o BC diz - como também está na ata - que a inflação vai convergir para a meta (ainda que apenas no final do horizonte de projeção) com um cenário tão otimista de atividade, é muito improvável que uma alta da Selic seja retomada se o ritmo da economia vir a se revelar muito mais próximo da projeção do mercado do que daquela da autoridade monetária.

A segunda conclusão é que, diante de um número muito catastrófico do PIB do segundo trimestre, o BC poderia considerar que o seu cenário não se confirmou - e, a partir daí, sentir-se no direito de cortar a Selic em setembro.

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"O mercado interpretou a ata como um sinal de que a Selic não cai em setembro de jeito nenhum, mas acho que talvez o mais correto seria interpretar que ela não cai em setembro desde que o cenário evolua de forma não muito fortemente distinta do que pensa o BC", diz Ázara.

Alertando que é complicado colocar números precisos no seu raciocínio, ele acrescenta que um PIB do segundo trimestre de 0,1% seria a confirmação do cenário do BC, uma queda de 0,4% já seria uma grande surpresa negativa, que poderia levar a um corte em setembro. "Se caísse 0,7%, eu diria que as chances de corte seriam muito altas".

Alessandra, da Tendências, tem dificuldades de concordar com esse ponto. Aliás, a consultoria prevê justamente queda de 0,4% no PIB do segundo trimestre, com revisão para o território negativo do primeiro, o que configura dois trimestres consecutivos de queda, ou recessão técnica, segundo uma das definições.

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Ela acha, porém, que, mesmo com a projeção de 1,6% de alta do PIB em 2014 do Relatório de Inflação, o BC acompanha os dados de alta frequência e já sabe que é enorme a possibilidade de o resultado ficar muito abaixo disso.

"O Banco Central está acompanhando a conjuntura e não redigiria o parágrafo 31 daquela forma se estivesse disposto a cortar em setembro diante de um número bem ruim do PIB do segundo trimestre, o que não seria uma surpresa total para ninguém", diz Alessandra.

Fernando Dantas é jornalista da Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

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Esta coluna foi publicada pela AE-News/Broadcast em 24/7/2014, quinta-feira.

Para um BC muito zeloso em não antecipar de forma peremptória movimentos de política monetária, o que é diferente de implicitamente indicar tendências, foi quase uma quebra de protocolo. Necessária, porém, diante da confusão causada pela manutenção da expressão "neste momento" no comunicado pós-Copom da reunião de julho.

Uma corrente majoritária do mercado interpretou o "neste momento" como um indicativo de chances muito palpáveis de a Selic ser cortada na reunião do início de setembro. O mercado futuro reagiu a essa interpretação, com os juros sinalizando probabilidade razoável de corte da taxa básica no curto prazo.

A partir daí, fontes do governo se manifestaram por meio de artigos na imprensa (um deles, deste colunista, foi divulgado pela AE-News/Broadcast na sexta-feira, 18/7, no final da tarde), dando conta de que a interpretação do mercado sobre o comunicado da reunião de julho estava equivocada.

"Adivinhação, e não interpretação", disse uma das fontes, lembrando que o comunicado foi uma exata reprodução do anterior, da reunião de maio. À época, o "neste momento" foi visto por boa parte do mercado como algo entre neutro (mesmo peso para chances de subir ou descer) e indicativo de possibilidade de retomada da alta, em ambos os casos sem conotação de curtíssimo prazo. Nas matérias na imprensa nos últimos dias, ficou claro que as fontes consideravam a interpretação de maio mais certa do que a de julho, em que o "neste momento" indicaria boas chances de a Selic cair em setembro.

O mercado, porém, ainda pagou para ver, e apenas hoje, após a ata, os juros futuros se ajustaram de fato para um cenário de manutenção da Selic em 11% por um período mais longo.

"Eles provavelmente acharam que repetir o comunicado de maio seria a forma mais simples de sinalizar continuidade, e se surpreenderam com a reação do mercado", analisa Alessandra Ribeiro, sócia e economista da consultoria Tendências.

Na ata divulgada em 24/7, o BC avisa que, entre as reuniões de maio e julho, a projeção de inflação para 2014 e 2015 subiu nos dois cenários - o de referência, que pressupõe manutenção do câmbio em R$ 2,20 e da Selic em 11% em todo o horizonte relevante; e o de mercado, que supõe que as duas variáveis sigam a tendência apontada pelos analistas de mercado. Em outras palavras, a piora das expectativas inflacionárias dá substância à explicitação do BC sobre sua intenção de manter a Selic em 11%, mesmo diante de um cenário de atividade cada vez pior.

Dúvida

Mesmo a ata explícita, porém, não foi capaz de sepultar de vez a ideia de queda da Selic em setembro para 100% dos analistas. Alexandre Ázara, economista-chefe e sócio do Modal, frisando que acha que a taxa básica será mantida, ainda considera que existe alguma possibilidade de queda diante de dados de atividade até a reunião de setembro que tragam fortes surpresas negativas ante o cenário contemplado pelo BC. Uma divulgação particularmente decisiva será a do PIB do segundo trimestre, no final de agosto.

Ázara lembra que a última projeção do PIB de 2014 do BC, que consta do Relatório Trimestral de Inflação de Junho, é de alta de 1,6% - muito mais otimista que as muitas previsões de PIB abaixo de 1% que começaram a surgir nas últimas semanas.

Desse fato, o economista depreende duas consequências. A primeira é que, se o BC diz - como também está na ata - que a inflação vai convergir para a meta (ainda que apenas no final do horizonte de projeção) com um cenário tão otimista de atividade, é muito improvável que uma alta da Selic seja retomada se o ritmo da economia vir a se revelar muito mais próximo da projeção do mercado do que daquela da autoridade monetária.

A segunda conclusão é que, diante de um número muito catastrófico do PIB do segundo trimestre, o BC poderia considerar que o seu cenário não se confirmou - e, a partir daí, sentir-se no direito de cortar a Selic em setembro.

"O mercado interpretou a ata como um sinal de que a Selic não cai em setembro de jeito nenhum, mas acho que talvez o mais correto seria interpretar que ela não cai em setembro desde que o cenário evolua de forma não muito fortemente distinta do que pensa o BC", diz Ázara.

Alertando que é complicado colocar números precisos no seu raciocínio, ele acrescenta que um PIB do segundo trimestre de 0,1% seria a confirmação do cenário do BC, uma queda de 0,4% já seria uma grande surpresa negativa, que poderia levar a um corte em setembro. "Se caísse 0,7%, eu diria que as chances de corte seriam muito altas".

Alessandra, da Tendências, tem dificuldades de concordar com esse ponto. Aliás, a consultoria prevê justamente queda de 0,4% no PIB do segundo trimestre, com revisão para o território negativo do primeiro, o que configura dois trimestres consecutivos de queda, ou recessão técnica, segundo uma das definições.

Ela acha, porém, que, mesmo com a projeção de 1,6% de alta do PIB em 2014 do Relatório de Inflação, o BC acompanha os dados de alta frequência e já sabe que é enorme a possibilidade de o resultado ficar muito abaixo disso.

"O Banco Central está acompanhando a conjuntura e não redigiria o parágrafo 31 daquela forma se estivesse disposto a cortar em setembro diante de um número bem ruim do PIB do segundo trimestre, o que não seria uma surpresa total para ninguém", diz Alessandra.

Fernando Dantas é jornalista da Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pela AE-News/Broadcast em 24/7/2014, quinta-feira.

Para um BC muito zeloso em não antecipar de forma peremptória movimentos de política monetária, o que é diferente de implicitamente indicar tendências, foi quase uma quebra de protocolo. Necessária, porém, diante da confusão causada pela manutenção da expressão "neste momento" no comunicado pós-Copom da reunião de julho.

Uma corrente majoritária do mercado interpretou o "neste momento" como um indicativo de chances muito palpáveis de a Selic ser cortada na reunião do início de setembro. O mercado futuro reagiu a essa interpretação, com os juros sinalizando probabilidade razoável de corte da taxa básica no curto prazo.

A partir daí, fontes do governo se manifestaram por meio de artigos na imprensa (um deles, deste colunista, foi divulgado pela AE-News/Broadcast na sexta-feira, 18/7, no final da tarde), dando conta de que a interpretação do mercado sobre o comunicado da reunião de julho estava equivocada.

"Adivinhação, e não interpretação", disse uma das fontes, lembrando que o comunicado foi uma exata reprodução do anterior, da reunião de maio. À época, o "neste momento" foi visto por boa parte do mercado como algo entre neutro (mesmo peso para chances de subir ou descer) e indicativo de possibilidade de retomada da alta, em ambos os casos sem conotação de curtíssimo prazo. Nas matérias na imprensa nos últimos dias, ficou claro que as fontes consideravam a interpretação de maio mais certa do que a de julho, em que o "neste momento" indicaria boas chances de a Selic cair em setembro.

O mercado, porém, ainda pagou para ver, e apenas hoje, após a ata, os juros futuros se ajustaram de fato para um cenário de manutenção da Selic em 11% por um período mais longo.

"Eles provavelmente acharam que repetir o comunicado de maio seria a forma mais simples de sinalizar continuidade, e se surpreenderam com a reação do mercado", analisa Alessandra Ribeiro, sócia e economista da consultoria Tendências.

Na ata divulgada em 24/7, o BC avisa que, entre as reuniões de maio e julho, a projeção de inflação para 2014 e 2015 subiu nos dois cenários - o de referência, que pressupõe manutenção do câmbio em R$ 2,20 e da Selic em 11% em todo o horizonte relevante; e o de mercado, que supõe que as duas variáveis sigam a tendência apontada pelos analistas de mercado. Em outras palavras, a piora das expectativas inflacionárias dá substância à explicitação do BC sobre sua intenção de manter a Selic em 11%, mesmo diante de um cenário de atividade cada vez pior.

Dúvida

Mesmo a ata explícita, porém, não foi capaz de sepultar de vez a ideia de queda da Selic em setembro para 100% dos analistas. Alexandre Ázara, economista-chefe e sócio do Modal, frisando que acha que a taxa básica será mantida, ainda considera que existe alguma possibilidade de queda diante de dados de atividade até a reunião de setembro que tragam fortes surpresas negativas ante o cenário contemplado pelo BC. Uma divulgação particularmente decisiva será a do PIB do segundo trimestre, no final de agosto.

Ázara lembra que a última projeção do PIB de 2014 do BC, que consta do Relatório Trimestral de Inflação de Junho, é de alta de 1,6% - muito mais otimista que as muitas previsões de PIB abaixo de 1% que começaram a surgir nas últimas semanas.

Desse fato, o economista depreende duas consequências. A primeira é que, se o BC diz - como também está na ata - que a inflação vai convergir para a meta (ainda que apenas no final do horizonte de projeção) com um cenário tão otimista de atividade, é muito improvável que uma alta da Selic seja retomada se o ritmo da economia vir a se revelar muito mais próximo da projeção do mercado do que daquela da autoridade monetária.

A segunda conclusão é que, diante de um número muito catastrófico do PIB do segundo trimestre, o BC poderia considerar que o seu cenário não se confirmou - e, a partir daí, sentir-se no direito de cortar a Selic em setembro.

"O mercado interpretou a ata como um sinal de que a Selic não cai em setembro de jeito nenhum, mas acho que talvez o mais correto seria interpretar que ela não cai em setembro desde que o cenário evolua de forma não muito fortemente distinta do que pensa o BC", diz Ázara.

Alertando que é complicado colocar números precisos no seu raciocínio, ele acrescenta que um PIB do segundo trimestre de 0,1% seria a confirmação do cenário do BC, uma queda de 0,4% já seria uma grande surpresa negativa, que poderia levar a um corte em setembro. "Se caísse 0,7%, eu diria que as chances de corte seriam muito altas".

Alessandra, da Tendências, tem dificuldades de concordar com esse ponto. Aliás, a consultoria prevê justamente queda de 0,4% no PIB do segundo trimestre, com revisão para o território negativo do primeiro, o que configura dois trimestres consecutivos de queda, ou recessão técnica, segundo uma das definições.

Ela acha, porém, que, mesmo com a projeção de 1,6% de alta do PIB em 2014 do Relatório de Inflação, o BC acompanha os dados de alta frequência e já sabe que é enorme a possibilidade de o resultado ficar muito abaixo disso.

"O Banco Central está acompanhando a conjuntura e não redigiria o parágrafo 31 daquela forma se estivesse disposto a cortar em setembro diante de um número bem ruim do PIB do segundo trimestre, o que não seria uma surpresa total para ninguém", diz Alessandra.

Fernando Dantas é jornalista da Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pela AE-News/Broadcast em 24/7/2014, quinta-feira.

Para um BC muito zeloso em não antecipar de forma peremptória movimentos de política monetária, o que é diferente de implicitamente indicar tendências, foi quase uma quebra de protocolo. Necessária, porém, diante da confusão causada pela manutenção da expressão "neste momento" no comunicado pós-Copom da reunião de julho.

Uma corrente majoritária do mercado interpretou o "neste momento" como um indicativo de chances muito palpáveis de a Selic ser cortada na reunião do início de setembro. O mercado futuro reagiu a essa interpretação, com os juros sinalizando probabilidade razoável de corte da taxa básica no curto prazo.

A partir daí, fontes do governo se manifestaram por meio de artigos na imprensa (um deles, deste colunista, foi divulgado pela AE-News/Broadcast na sexta-feira, 18/7, no final da tarde), dando conta de que a interpretação do mercado sobre o comunicado da reunião de julho estava equivocada.

"Adivinhação, e não interpretação", disse uma das fontes, lembrando que o comunicado foi uma exata reprodução do anterior, da reunião de maio. À época, o "neste momento" foi visto por boa parte do mercado como algo entre neutro (mesmo peso para chances de subir ou descer) e indicativo de possibilidade de retomada da alta, em ambos os casos sem conotação de curtíssimo prazo. Nas matérias na imprensa nos últimos dias, ficou claro que as fontes consideravam a interpretação de maio mais certa do que a de julho, em que o "neste momento" indicaria boas chances de a Selic cair em setembro.

O mercado, porém, ainda pagou para ver, e apenas hoje, após a ata, os juros futuros se ajustaram de fato para um cenário de manutenção da Selic em 11% por um período mais longo.

"Eles provavelmente acharam que repetir o comunicado de maio seria a forma mais simples de sinalizar continuidade, e se surpreenderam com a reação do mercado", analisa Alessandra Ribeiro, sócia e economista da consultoria Tendências.

Na ata divulgada em 24/7, o BC avisa que, entre as reuniões de maio e julho, a projeção de inflação para 2014 e 2015 subiu nos dois cenários - o de referência, que pressupõe manutenção do câmbio em R$ 2,20 e da Selic em 11% em todo o horizonte relevante; e o de mercado, que supõe que as duas variáveis sigam a tendência apontada pelos analistas de mercado. Em outras palavras, a piora das expectativas inflacionárias dá substância à explicitação do BC sobre sua intenção de manter a Selic em 11%, mesmo diante de um cenário de atividade cada vez pior.

Dúvida

Mesmo a ata explícita, porém, não foi capaz de sepultar de vez a ideia de queda da Selic em setembro para 100% dos analistas. Alexandre Ázara, economista-chefe e sócio do Modal, frisando que acha que a taxa básica será mantida, ainda considera que existe alguma possibilidade de queda diante de dados de atividade até a reunião de setembro que tragam fortes surpresas negativas ante o cenário contemplado pelo BC. Uma divulgação particularmente decisiva será a do PIB do segundo trimestre, no final de agosto.

Ázara lembra que a última projeção do PIB de 2014 do BC, que consta do Relatório Trimestral de Inflação de Junho, é de alta de 1,6% - muito mais otimista que as muitas previsões de PIB abaixo de 1% que começaram a surgir nas últimas semanas.

Desse fato, o economista depreende duas consequências. A primeira é que, se o BC diz - como também está na ata - que a inflação vai convergir para a meta (ainda que apenas no final do horizonte de projeção) com um cenário tão otimista de atividade, é muito improvável que uma alta da Selic seja retomada se o ritmo da economia vir a se revelar muito mais próximo da projeção do mercado do que daquela da autoridade monetária.

A segunda conclusão é que, diante de um número muito catastrófico do PIB do segundo trimestre, o BC poderia considerar que o seu cenário não se confirmou - e, a partir daí, sentir-se no direito de cortar a Selic em setembro.

"O mercado interpretou a ata como um sinal de que a Selic não cai em setembro de jeito nenhum, mas acho que talvez o mais correto seria interpretar que ela não cai em setembro desde que o cenário evolua de forma não muito fortemente distinta do que pensa o BC", diz Ázara.

Alertando que é complicado colocar números precisos no seu raciocínio, ele acrescenta que um PIB do segundo trimestre de 0,1% seria a confirmação do cenário do BC, uma queda de 0,4% já seria uma grande surpresa negativa, que poderia levar a um corte em setembro. "Se caísse 0,7%, eu diria que as chances de corte seriam muito altas".

Alessandra, da Tendências, tem dificuldades de concordar com esse ponto. Aliás, a consultoria prevê justamente queda de 0,4% no PIB do segundo trimestre, com revisão para o território negativo do primeiro, o que configura dois trimestres consecutivos de queda, ou recessão técnica, segundo uma das definições.

Ela acha, porém, que, mesmo com a projeção de 1,6% de alta do PIB em 2014 do Relatório de Inflação, o BC acompanha os dados de alta frequência e já sabe que é enorme a possibilidade de o resultado ficar muito abaixo disso.

"O Banco Central está acompanhando a conjuntura e não redigiria o parágrafo 31 daquela forma se estivesse disposto a cortar em setembro diante de um número bem ruim do PIB do segundo trimestre, o que não seria uma surpresa total para ninguém", diz Alessandra.

Fernando Dantas é jornalista da Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pela AE-News/Broadcast em 24/7/2014, quinta-feira.

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