Economia e políticas públicas

Opinião|Levy: "Não estou fazendo remendos"


Entrevista coletiva do ministro Joaquim Levy na quarta-feira (21/1) no Fórum Econômico Mundial. Meu competente colega Fernando Nakagawa, correspondente da Agência Estado em Londres, e eu conferimos o que o ministro tinha a dizer na sua chegada ao Fórum, onde ele delicia seus interlocutores com o discurso liberal e ortodoxo que a elite econômico-financeira global gosta de ouvir. Um detalhe, porém, ainda incomoda: onde está o crescimento?

Por Fernando Dantas

Fernando Dantas

Fernando Nakagawa

(DAVOS) - O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse nessa quarta-feira em Davos que "não estamos aqui para fazer remendos", referindo-se ao seu plano de ajuste fiscal e de "arrumar a casa". Para Levy, os investidores internacionais não estão preocupados com o curtíssimo prazo, e o governo está preparando o País para ter um crescimento sólido. Ele mencionou à referência à necessidade de "paciência e humildade" do discurso de posse da presidente Dilma Rousseff e repisou algumas vezes que há uma "torcida" pelo Brasil no Fórum Econômico Mundial em Davos.

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Segundo o ministro, "a prioridade hoje é uma prioridade fiscal; quando o país está fiscalmente estável, as coisas funcionam muito melhor, o custo baixa".

Numa crítica clara à política de estímulos à demanda do seu antecessor, Guido Mantega, Levy fez uma analogia entre a economia brasileira e um carro subindo uma ladeira. Segundo o novo ministro, a economia vinha desacelerando e as pisadas no acelerador estavam fazendo o carro engasgar. "Agora engrenamos uma segunda e aí acelera, diferente de pisar no acelerador de quarta, com os incentivos, com isso e aquilo, porque isso não estava mais tendo tração".

A comparação também é uma resposta a uma indagação geral em Davos, não só da imprensa, mas também dos investidores, empresários e autoridades econômicas com quem Levy vem se encontrando. O apoio no Fórum à nova política econômica ortodoxa é total, mas persiste uma séria dúvida quanto à capacidade de a economia brasileira voltar a crescer. Assim, a "segunda marcha" pode ser menos veloz que a quarta quando o carro está engasgando, mas devolve tração e pode fazê-lo acelerar num momento seguinte.

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Para Levy, pode haver um trimestre de recessão (crescimento negativo), mas isso não quer dizer nada em relação a um período mais longo. Ele lembrou que houve trimestre de recessão recentemente. Em almoço organizado nessa quarta-feira pelo Itaú em Davos, o ministro disse que o crescimento em 2015 tende a ser "flat" (próximo a zero). Na entrevista, ele ressaltou bastante que a inércia do mau desempenho de 2014 reflete-se no de 2015. "Uma coisa que aconteceu no passado pode ter impacto no crescimento dois ou três trimestres depois, e a gente tem de olhar para frente", disse Levy.

Quando o assunto foi emprego, o ministro evitou comentar diretamente as projeções de piora do mercado de trabalho, preferindo enfatizar medidas de facilitação do negócio - aliás, mencionadas várias vezes na entrevista, também como resposta ao baixo crescimento. Levy disse que primeiro o governo está "arrumando a casa, arrumando o convés, mas muita coisa que vamos fazer nos próximos meses vai facilitar (os negócios e a criação de empregos) - em impostos e (também) uma grande agenda de todo o governo para a pequena e a média empresa, que são as que mais rapidamente criam emprego".

Para o ministro, "mais importante do que o curto prazo em relação ao emprego é facilitar a abertura de empresas". Segundo Levy, num momento em que "o bônus das commodities já não está tão presente", é preciso "ousar e fazer coisas porque a gente vive num mundo de competição".

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Setor elétrico

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, reafirmou a opção de realinhamento de preços do setor elétrico e não comentou eventual "volta atrás" na decisão da Fazenda de não repassar recursos à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). Ao contrário das notícias de disputa com o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, Levy disse que o colega de governo "faz um trabalho de primeira qualidade que dá orgulho para todo mundo que está no governo".

"A decisão de realinhar os preços está bem tomada. O ministro (Eduardo) Braga tem sido muito firme nas posições dele e tem feito um trabalho de orientação no setor muito importante", disse em entrevista durante o Fórum Econômico Mundial. Levy lembrou que Braga já foi governador do Amazonas. "Ele sabe bem o que são restrições orçamentárias. Então, não vejo muitas duvidas em relação a isso no momento".

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O ministro da Fazenda disse que Braga "está conduzindo com muito acerto, inclusive fazendo um trabalho de criação de confiança em todo o setor particularmente entre distribuidoras". "Acho que a gente sabe que a saúde dos distribuidores influencia toda a cadeia, todo o setor elétrico. Ele tem dado de maneira discreta, mas muito segura, uma sinalização de fortalecimento desse setor", disse. "Eu acho que a gente vai ter de passar essa fase com muita segurança".

De forma semelhante à usada para tratar do mercado de trabalho, Levy só falou de forma muito indireta das atribulações da Petrobrás e preferiu enfatizar a surpresa positiva dos poços superprodutivos do pré-sal. Quanto à queda do preço do petróleo, ele disse que na média ela é favorável ao Brasil por reduzir despesas da Petrobrás com importação de combustíveis e aluguel de equipamentos, além de estimular a economia global e, em consequência, as exportações nacionais. Ele notou ainda que, com algumas exceções no caso de royalties (referentes a Estados e municípios), o governo brasileiro não depende fiscalmente das receitas de petróleo para se financiar, caso de muitos países petroleiros.

Em relação à perspectiva de alta dos juros básicos nos Estados Unidos, o ministro observou que o Federal Reserve (Fed, BC americano) conseguiu, a partir do ano passado, separar esse movimento da alta das taxas de longo prazo. Por isso, Levy crê que a possível elevação do juro básico americano não vai repetir o estresse de meados de 2013 (quando os juros longos subiram com a expectativa do início da retirada do afrouxamento quantitativo, as injeções de liquidez pelo Fed).

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"Eu acho que hoje as condições são favoráveis para não ter uma turbulência tão grande se e quando houver esse aumento das taxas curtas", disse o ministro. Levy acrescentou que o efeito deflacionário da queda do preço do petróleo contribui para segurar as taxas longas americanas e que a perspectiva iminente de afrouxamento quantitativo na zona do euro reduz o impacto global da eventual alta dos juros básicos dos Estados Unidos.

 

Fernando Dantas

Fernando Nakagawa

(DAVOS) - O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse nessa quarta-feira em Davos que "não estamos aqui para fazer remendos", referindo-se ao seu plano de ajuste fiscal e de "arrumar a casa". Para Levy, os investidores internacionais não estão preocupados com o curtíssimo prazo, e o governo está preparando o País para ter um crescimento sólido. Ele mencionou à referência à necessidade de "paciência e humildade" do discurso de posse da presidente Dilma Rousseff e repisou algumas vezes que há uma "torcida" pelo Brasil no Fórum Econômico Mundial em Davos.

Segundo o ministro, "a prioridade hoje é uma prioridade fiscal; quando o país está fiscalmente estável, as coisas funcionam muito melhor, o custo baixa".

Numa crítica clara à política de estímulos à demanda do seu antecessor, Guido Mantega, Levy fez uma analogia entre a economia brasileira e um carro subindo uma ladeira. Segundo o novo ministro, a economia vinha desacelerando e as pisadas no acelerador estavam fazendo o carro engasgar. "Agora engrenamos uma segunda e aí acelera, diferente de pisar no acelerador de quarta, com os incentivos, com isso e aquilo, porque isso não estava mais tendo tração".

A comparação também é uma resposta a uma indagação geral em Davos, não só da imprensa, mas também dos investidores, empresários e autoridades econômicas com quem Levy vem se encontrando. O apoio no Fórum à nova política econômica ortodoxa é total, mas persiste uma séria dúvida quanto à capacidade de a economia brasileira voltar a crescer. Assim, a "segunda marcha" pode ser menos veloz que a quarta quando o carro está engasgando, mas devolve tração e pode fazê-lo acelerar num momento seguinte.

Para Levy, pode haver um trimestre de recessão (crescimento negativo), mas isso não quer dizer nada em relação a um período mais longo. Ele lembrou que houve trimestre de recessão recentemente. Em almoço organizado nessa quarta-feira pelo Itaú em Davos, o ministro disse que o crescimento em 2015 tende a ser "flat" (próximo a zero). Na entrevista, ele ressaltou bastante que a inércia do mau desempenho de 2014 reflete-se no de 2015. "Uma coisa que aconteceu no passado pode ter impacto no crescimento dois ou três trimestres depois, e a gente tem de olhar para frente", disse Levy.

Quando o assunto foi emprego, o ministro evitou comentar diretamente as projeções de piora do mercado de trabalho, preferindo enfatizar medidas de facilitação do negócio - aliás, mencionadas várias vezes na entrevista, também como resposta ao baixo crescimento. Levy disse que primeiro o governo está "arrumando a casa, arrumando o convés, mas muita coisa que vamos fazer nos próximos meses vai facilitar (os negócios e a criação de empregos) - em impostos e (também) uma grande agenda de todo o governo para a pequena e a média empresa, que são as que mais rapidamente criam emprego".

Para o ministro, "mais importante do que o curto prazo em relação ao emprego é facilitar a abertura de empresas". Segundo Levy, num momento em que "o bônus das commodities já não está tão presente", é preciso "ousar e fazer coisas porque a gente vive num mundo de competição".

Setor elétrico

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, reafirmou a opção de realinhamento de preços do setor elétrico e não comentou eventual "volta atrás" na decisão da Fazenda de não repassar recursos à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). Ao contrário das notícias de disputa com o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, Levy disse que o colega de governo "faz um trabalho de primeira qualidade que dá orgulho para todo mundo que está no governo".

"A decisão de realinhar os preços está bem tomada. O ministro (Eduardo) Braga tem sido muito firme nas posições dele e tem feito um trabalho de orientação no setor muito importante", disse em entrevista durante o Fórum Econômico Mundial. Levy lembrou que Braga já foi governador do Amazonas. "Ele sabe bem o que são restrições orçamentárias. Então, não vejo muitas duvidas em relação a isso no momento".

O ministro da Fazenda disse que Braga "está conduzindo com muito acerto, inclusive fazendo um trabalho de criação de confiança em todo o setor particularmente entre distribuidoras". "Acho que a gente sabe que a saúde dos distribuidores influencia toda a cadeia, todo o setor elétrico. Ele tem dado de maneira discreta, mas muito segura, uma sinalização de fortalecimento desse setor", disse. "Eu acho que a gente vai ter de passar essa fase com muita segurança".

De forma semelhante à usada para tratar do mercado de trabalho, Levy só falou de forma muito indireta das atribulações da Petrobrás e preferiu enfatizar a surpresa positiva dos poços superprodutivos do pré-sal. Quanto à queda do preço do petróleo, ele disse que na média ela é favorável ao Brasil por reduzir despesas da Petrobrás com importação de combustíveis e aluguel de equipamentos, além de estimular a economia global e, em consequência, as exportações nacionais. Ele notou ainda que, com algumas exceções no caso de royalties (referentes a Estados e municípios), o governo brasileiro não depende fiscalmente das receitas de petróleo para se financiar, caso de muitos países petroleiros.

Em relação à perspectiva de alta dos juros básicos nos Estados Unidos, o ministro observou que o Federal Reserve (Fed, BC americano) conseguiu, a partir do ano passado, separar esse movimento da alta das taxas de longo prazo. Por isso, Levy crê que a possível elevação do juro básico americano não vai repetir o estresse de meados de 2013 (quando os juros longos subiram com a expectativa do início da retirada do afrouxamento quantitativo, as injeções de liquidez pelo Fed).

"Eu acho que hoje as condições são favoráveis para não ter uma turbulência tão grande se e quando houver esse aumento das taxas curtas", disse o ministro. Levy acrescentou que o efeito deflacionário da queda do preço do petróleo contribui para segurar as taxas longas americanas e que a perspectiva iminente de afrouxamento quantitativo na zona do euro reduz o impacto global da eventual alta dos juros básicos dos Estados Unidos.

 

Fernando Dantas

Fernando Nakagawa

(DAVOS) - O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse nessa quarta-feira em Davos que "não estamos aqui para fazer remendos", referindo-se ao seu plano de ajuste fiscal e de "arrumar a casa". Para Levy, os investidores internacionais não estão preocupados com o curtíssimo prazo, e o governo está preparando o País para ter um crescimento sólido. Ele mencionou à referência à necessidade de "paciência e humildade" do discurso de posse da presidente Dilma Rousseff e repisou algumas vezes que há uma "torcida" pelo Brasil no Fórum Econômico Mundial em Davos.

Segundo o ministro, "a prioridade hoje é uma prioridade fiscal; quando o país está fiscalmente estável, as coisas funcionam muito melhor, o custo baixa".

Numa crítica clara à política de estímulos à demanda do seu antecessor, Guido Mantega, Levy fez uma analogia entre a economia brasileira e um carro subindo uma ladeira. Segundo o novo ministro, a economia vinha desacelerando e as pisadas no acelerador estavam fazendo o carro engasgar. "Agora engrenamos uma segunda e aí acelera, diferente de pisar no acelerador de quarta, com os incentivos, com isso e aquilo, porque isso não estava mais tendo tração".

A comparação também é uma resposta a uma indagação geral em Davos, não só da imprensa, mas também dos investidores, empresários e autoridades econômicas com quem Levy vem se encontrando. O apoio no Fórum à nova política econômica ortodoxa é total, mas persiste uma séria dúvida quanto à capacidade de a economia brasileira voltar a crescer. Assim, a "segunda marcha" pode ser menos veloz que a quarta quando o carro está engasgando, mas devolve tração e pode fazê-lo acelerar num momento seguinte.

Para Levy, pode haver um trimestre de recessão (crescimento negativo), mas isso não quer dizer nada em relação a um período mais longo. Ele lembrou que houve trimestre de recessão recentemente. Em almoço organizado nessa quarta-feira pelo Itaú em Davos, o ministro disse que o crescimento em 2015 tende a ser "flat" (próximo a zero). Na entrevista, ele ressaltou bastante que a inércia do mau desempenho de 2014 reflete-se no de 2015. "Uma coisa que aconteceu no passado pode ter impacto no crescimento dois ou três trimestres depois, e a gente tem de olhar para frente", disse Levy.

Quando o assunto foi emprego, o ministro evitou comentar diretamente as projeções de piora do mercado de trabalho, preferindo enfatizar medidas de facilitação do negócio - aliás, mencionadas várias vezes na entrevista, também como resposta ao baixo crescimento. Levy disse que primeiro o governo está "arrumando a casa, arrumando o convés, mas muita coisa que vamos fazer nos próximos meses vai facilitar (os negócios e a criação de empregos) - em impostos e (também) uma grande agenda de todo o governo para a pequena e a média empresa, que são as que mais rapidamente criam emprego".

Para o ministro, "mais importante do que o curto prazo em relação ao emprego é facilitar a abertura de empresas". Segundo Levy, num momento em que "o bônus das commodities já não está tão presente", é preciso "ousar e fazer coisas porque a gente vive num mundo de competição".

Setor elétrico

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, reafirmou a opção de realinhamento de preços do setor elétrico e não comentou eventual "volta atrás" na decisão da Fazenda de não repassar recursos à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). Ao contrário das notícias de disputa com o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, Levy disse que o colega de governo "faz um trabalho de primeira qualidade que dá orgulho para todo mundo que está no governo".

"A decisão de realinhar os preços está bem tomada. O ministro (Eduardo) Braga tem sido muito firme nas posições dele e tem feito um trabalho de orientação no setor muito importante", disse em entrevista durante o Fórum Econômico Mundial. Levy lembrou que Braga já foi governador do Amazonas. "Ele sabe bem o que são restrições orçamentárias. Então, não vejo muitas duvidas em relação a isso no momento".

O ministro da Fazenda disse que Braga "está conduzindo com muito acerto, inclusive fazendo um trabalho de criação de confiança em todo o setor particularmente entre distribuidoras". "Acho que a gente sabe que a saúde dos distribuidores influencia toda a cadeia, todo o setor elétrico. Ele tem dado de maneira discreta, mas muito segura, uma sinalização de fortalecimento desse setor", disse. "Eu acho que a gente vai ter de passar essa fase com muita segurança".

De forma semelhante à usada para tratar do mercado de trabalho, Levy só falou de forma muito indireta das atribulações da Petrobrás e preferiu enfatizar a surpresa positiva dos poços superprodutivos do pré-sal. Quanto à queda do preço do petróleo, ele disse que na média ela é favorável ao Brasil por reduzir despesas da Petrobrás com importação de combustíveis e aluguel de equipamentos, além de estimular a economia global e, em consequência, as exportações nacionais. Ele notou ainda que, com algumas exceções no caso de royalties (referentes a Estados e municípios), o governo brasileiro não depende fiscalmente das receitas de petróleo para se financiar, caso de muitos países petroleiros.

Em relação à perspectiva de alta dos juros básicos nos Estados Unidos, o ministro observou que o Federal Reserve (Fed, BC americano) conseguiu, a partir do ano passado, separar esse movimento da alta das taxas de longo prazo. Por isso, Levy crê que a possível elevação do juro básico americano não vai repetir o estresse de meados de 2013 (quando os juros longos subiram com a expectativa do início da retirada do afrouxamento quantitativo, as injeções de liquidez pelo Fed).

"Eu acho que hoje as condições são favoráveis para não ter uma turbulência tão grande se e quando houver esse aumento das taxas curtas", disse o ministro. Levy acrescentou que o efeito deflacionário da queda do preço do petróleo contribui para segurar as taxas longas americanas e que a perspectiva iminente de afrouxamento quantitativo na zona do euro reduz o impacto global da eventual alta dos juros básicos dos Estados Unidos.

 

Fernando Dantas

Fernando Nakagawa

(DAVOS) - O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse nessa quarta-feira em Davos que "não estamos aqui para fazer remendos", referindo-se ao seu plano de ajuste fiscal e de "arrumar a casa". Para Levy, os investidores internacionais não estão preocupados com o curtíssimo prazo, e o governo está preparando o País para ter um crescimento sólido. Ele mencionou à referência à necessidade de "paciência e humildade" do discurso de posse da presidente Dilma Rousseff e repisou algumas vezes que há uma "torcida" pelo Brasil no Fórum Econômico Mundial em Davos.

Segundo o ministro, "a prioridade hoje é uma prioridade fiscal; quando o país está fiscalmente estável, as coisas funcionam muito melhor, o custo baixa".

Numa crítica clara à política de estímulos à demanda do seu antecessor, Guido Mantega, Levy fez uma analogia entre a economia brasileira e um carro subindo uma ladeira. Segundo o novo ministro, a economia vinha desacelerando e as pisadas no acelerador estavam fazendo o carro engasgar. "Agora engrenamos uma segunda e aí acelera, diferente de pisar no acelerador de quarta, com os incentivos, com isso e aquilo, porque isso não estava mais tendo tração".

A comparação também é uma resposta a uma indagação geral em Davos, não só da imprensa, mas também dos investidores, empresários e autoridades econômicas com quem Levy vem se encontrando. O apoio no Fórum à nova política econômica ortodoxa é total, mas persiste uma séria dúvida quanto à capacidade de a economia brasileira voltar a crescer. Assim, a "segunda marcha" pode ser menos veloz que a quarta quando o carro está engasgando, mas devolve tração e pode fazê-lo acelerar num momento seguinte.

Para Levy, pode haver um trimestre de recessão (crescimento negativo), mas isso não quer dizer nada em relação a um período mais longo. Ele lembrou que houve trimestre de recessão recentemente. Em almoço organizado nessa quarta-feira pelo Itaú em Davos, o ministro disse que o crescimento em 2015 tende a ser "flat" (próximo a zero). Na entrevista, ele ressaltou bastante que a inércia do mau desempenho de 2014 reflete-se no de 2015. "Uma coisa que aconteceu no passado pode ter impacto no crescimento dois ou três trimestres depois, e a gente tem de olhar para frente", disse Levy.

Quando o assunto foi emprego, o ministro evitou comentar diretamente as projeções de piora do mercado de trabalho, preferindo enfatizar medidas de facilitação do negócio - aliás, mencionadas várias vezes na entrevista, também como resposta ao baixo crescimento. Levy disse que primeiro o governo está "arrumando a casa, arrumando o convés, mas muita coisa que vamos fazer nos próximos meses vai facilitar (os negócios e a criação de empregos) - em impostos e (também) uma grande agenda de todo o governo para a pequena e a média empresa, que são as que mais rapidamente criam emprego".

Para o ministro, "mais importante do que o curto prazo em relação ao emprego é facilitar a abertura de empresas". Segundo Levy, num momento em que "o bônus das commodities já não está tão presente", é preciso "ousar e fazer coisas porque a gente vive num mundo de competição".

Setor elétrico

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, reafirmou a opção de realinhamento de preços do setor elétrico e não comentou eventual "volta atrás" na decisão da Fazenda de não repassar recursos à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). Ao contrário das notícias de disputa com o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, Levy disse que o colega de governo "faz um trabalho de primeira qualidade que dá orgulho para todo mundo que está no governo".

"A decisão de realinhar os preços está bem tomada. O ministro (Eduardo) Braga tem sido muito firme nas posições dele e tem feito um trabalho de orientação no setor muito importante", disse em entrevista durante o Fórum Econômico Mundial. Levy lembrou que Braga já foi governador do Amazonas. "Ele sabe bem o que são restrições orçamentárias. Então, não vejo muitas duvidas em relação a isso no momento".

O ministro da Fazenda disse que Braga "está conduzindo com muito acerto, inclusive fazendo um trabalho de criação de confiança em todo o setor particularmente entre distribuidoras". "Acho que a gente sabe que a saúde dos distribuidores influencia toda a cadeia, todo o setor elétrico. Ele tem dado de maneira discreta, mas muito segura, uma sinalização de fortalecimento desse setor", disse. "Eu acho que a gente vai ter de passar essa fase com muita segurança".

De forma semelhante à usada para tratar do mercado de trabalho, Levy só falou de forma muito indireta das atribulações da Petrobrás e preferiu enfatizar a surpresa positiva dos poços superprodutivos do pré-sal. Quanto à queda do preço do petróleo, ele disse que na média ela é favorável ao Brasil por reduzir despesas da Petrobrás com importação de combustíveis e aluguel de equipamentos, além de estimular a economia global e, em consequência, as exportações nacionais. Ele notou ainda que, com algumas exceções no caso de royalties (referentes a Estados e municípios), o governo brasileiro não depende fiscalmente das receitas de petróleo para se financiar, caso de muitos países petroleiros.

Em relação à perspectiva de alta dos juros básicos nos Estados Unidos, o ministro observou que o Federal Reserve (Fed, BC americano) conseguiu, a partir do ano passado, separar esse movimento da alta das taxas de longo prazo. Por isso, Levy crê que a possível elevação do juro básico americano não vai repetir o estresse de meados de 2013 (quando os juros longos subiram com a expectativa do início da retirada do afrouxamento quantitativo, as injeções de liquidez pelo Fed).

"Eu acho que hoje as condições são favoráveis para não ter uma turbulência tão grande se e quando houver esse aumento das taxas curtas", disse o ministro. Levy acrescentou que o efeito deflacionário da queda do preço do petróleo contribui para segurar as taxas longas americanas e que a perspectiva iminente de afrouxamento quantitativo na zona do euro reduz o impacto global da eventual alta dos juros básicos dos Estados Unidos.

 

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