Economia e políticas públicas

Opinião|Muito mais que uma guerra comercial


Livio Ribeiro, especialista em China do Ibre/FGV, contextualiza atual conflito EUA-China: é parte de uma disputa pela posição de potência hegemônica na segunda metade do século XXI.

Por Fernando Dantas

As reações fortes do mercado aos últimos eventos da guerra comercial entre Estados Unidos e China revelam uma perda de perspectiva sobre o que efetivamente representa o conflito: uma disputa geopolítica entre duas potências para ver qual delas será hegemônica na segunda metade do século XXI.

A visão é do economista Livio Ribeiro, especialista em China do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV).

"As pessoas esquecem que a discussão de guerra comercial vai muito além de guerra comercial", diz Ribeiro, acrescentando que "nesse sentido, a solução não é rápida e óbvia, e o armistício que estávamos vendo não era um equilíbrio".

continua após a publicidade

Em resumo, a ideia do pesquisador não é de que o mercado esteja superestimando os efeitos negativos potenciais do conflito sobre a economia mundial. O que Ribeiro aponta é que analistas e traders ficaram otimistas demais com o que se percebia como um bom encaminhamento da disputa, e agora estão reagindo quase como se uma ruptura irremediável tivesse ocorrido.

O que ele chama de "armistício" é os Estados Unidos terem adiado a alta de 15% de tarifas sobre US$ 200 bilhões em produtos de uma prometida elevação de 25% (só realizaram 10% num primeiro momento), criando um tempo para mais negociações. O prazo foi estendido mais de uma vez, mas há três dias os americanos decidiram fazer valer os 15%, além de acenar com a extensão dos 25% para mais US$ 300 bilhões em importações chinesas. Em resposta, a China anunciou a alta de tarifas em US$ 60 bilhões de importações dos Estados Unidos.

Para Ribeiro, esse roteiro já era meio "pedra cantada". Ele ressalta, inclusive, que a reunião nos Estados Unidos da qual participou a missão chinesa, depois de anunciada a elevação dos 15% adicionais, foi descrita como positiva por ambos os lados.

continua após a publicidade

O economista considera que a dinâmica de fundo do conflito mantém-se igual à de seis meses atrás (ou um pouco mais do que isso), porque os Estados Unidos estão pedindo algo que a China não vai entregar: na visão de Livio, os americanos querem que, na prática, a China abra mão do seu planejamento estratégico "Made in China 2025", pelo qual o país quer subir na cadeia de valor e se tornar liderança global em setores de ponta de telecomunicações e informática, em tecnologias verdes, nanotecnologia, eletrônicos de alto valor agregado, 5G, painéis solares, entre outros.

Na prática, segundo Ribeiro, os Estados Unidos não querem que a China estimule e dê subsídios a esses setores, o que implicaria renunciar à visão estratégica do Made in China 2025.

"Não vai acontecer", prevê o pesquisador.

continua após a publicidade

Ainda há no contencioso temas de propriedade intelectual - que o economista vê como mais passíveis de solução, porque a China hoje moveu-se para a fronteira em termos de registros de patentes e P&D, e é menos dependente do modelo de engenharia reversa - e ataques cibernéticos.

O analista observa que "Trump está superneurótico no Twitter, como ele sempre faz, mas é uma negociação difícil de fato - ninguém deveria estar arrancando os cabelos por causa disso".

Na visão de Ribeiro, "quando houve o armistício as pessoas acharam que tinham tirado um bode da sala, mas não, ele continuou lá, no mesmo lugar, as pessoas é que decidiram olhar para outro lado".

continua após a publicidade

O pesquisador vê, em relação ao conflito com a China, uma corrente mais pragmática e outra mais beligerante e ideológica entre os principais auxiliares de Trump. O problema é que Robert Lightrizer, atual negociador oficial de política comercial dos Estados Unidos, é um expoente particularmente duro da corrente ideológica.

"Quando alguém como ele foi colocado como negociador-chefe já era sinal de que a ideia era que a coisa explodisse", diz Ribeiro.

Ainda assim, na sua visão, as conversas vão continuar, e o ponto chave agora é avaliar como os acontecimentos recentes vão influenciar a linha de negociação das duas partes.

continua após a publicidade

Em termos de impacto econômico, Ribeiro vê efeitos mais modestos no curto prazo, mas acrescenta que "no longo prazo é claro que o impacto é negativo, pois significa aumento de custos de produção".

De qualquer forma, a sua conclusão é de que "isto é muito maior que uma guerra comercial e achar que vai ser resolvido rapidamente é ingênuo - tem havido muito oscilação de opinião no curto prazo sem que se perceba a dinâmica como um todo".

Fernando é colunista do Broadcast

continua após a publicidade

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 13/5/19, segunda-feira.

As reações fortes do mercado aos últimos eventos da guerra comercial entre Estados Unidos e China revelam uma perda de perspectiva sobre o que efetivamente representa o conflito: uma disputa geopolítica entre duas potências para ver qual delas será hegemônica na segunda metade do século XXI.

A visão é do economista Livio Ribeiro, especialista em China do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV).

"As pessoas esquecem que a discussão de guerra comercial vai muito além de guerra comercial", diz Ribeiro, acrescentando que "nesse sentido, a solução não é rápida e óbvia, e o armistício que estávamos vendo não era um equilíbrio".

Em resumo, a ideia do pesquisador não é de que o mercado esteja superestimando os efeitos negativos potenciais do conflito sobre a economia mundial. O que Ribeiro aponta é que analistas e traders ficaram otimistas demais com o que se percebia como um bom encaminhamento da disputa, e agora estão reagindo quase como se uma ruptura irremediável tivesse ocorrido.

O que ele chama de "armistício" é os Estados Unidos terem adiado a alta de 15% de tarifas sobre US$ 200 bilhões em produtos de uma prometida elevação de 25% (só realizaram 10% num primeiro momento), criando um tempo para mais negociações. O prazo foi estendido mais de uma vez, mas há três dias os americanos decidiram fazer valer os 15%, além de acenar com a extensão dos 25% para mais US$ 300 bilhões em importações chinesas. Em resposta, a China anunciou a alta de tarifas em US$ 60 bilhões de importações dos Estados Unidos.

Para Ribeiro, esse roteiro já era meio "pedra cantada". Ele ressalta, inclusive, que a reunião nos Estados Unidos da qual participou a missão chinesa, depois de anunciada a elevação dos 15% adicionais, foi descrita como positiva por ambos os lados.

O economista considera que a dinâmica de fundo do conflito mantém-se igual à de seis meses atrás (ou um pouco mais do que isso), porque os Estados Unidos estão pedindo algo que a China não vai entregar: na visão de Livio, os americanos querem que, na prática, a China abra mão do seu planejamento estratégico "Made in China 2025", pelo qual o país quer subir na cadeia de valor e se tornar liderança global em setores de ponta de telecomunicações e informática, em tecnologias verdes, nanotecnologia, eletrônicos de alto valor agregado, 5G, painéis solares, entre outros.

Na prática, segundo Ribeiro, os Estados Unidos não querem que a China estimule e dê subsídios a esses setores, o que implicaria renunciar à visão estratégica do Made in China 2025.

"Não vai acontecer", prevê o pesquisador.

Ainda há no contencioso temas de propriedade intelectual - que o economista vê como mais passíveis de solução, porque a China hoje moveu-se para a fronteira em termos de registros de patentes e P&D, e é menos dependente do modelo de engenharia reversa - e ataques cibernéticos.

O analista observa que "Trump está superneurótico no Twitter, como ele sempre faz, mas é uma negociação difícil de fato - ninguém deveria estar arrancando os cabelos por causa disso".

Na visão de Ribeiro, "quando houve o armistício as pessoas acharam que tinham tirado um bode da sala, mas não, ele continuou lá, no mesmo lugar, as pessoas é que decidiram olhar para outro lado".

O pesquisador vê, em relação ao conflito com a China, uma corrente mais pragmática e outra mais beligerante e ideológica entre os principais auxiliares de Trump. O problema é que Robert Lightrizer, atual negociador oficial de política comercial dos Estados Unidos, é um expoente particularmente duro da corrente ideológica.

"Quando alguém como ele foi colocado como negociador-chefe já era sinal de que a ideia era que a coisa explodisse", diz Ribeiro.

Ainda assim, na sua visão, as conversas vão continuar, e o ponto chave agora é avaliar como os acontecimentos recentes vão influenciar a linha de negociação das duas partes.

Em termos de impacto econômico, Ribeiro vê efeitos mais modestos no curto prazo, mas acrescenta que "no longo prazo é claro que o impacto é negativo, pois significa aumento de custos de produção".

De qualquer forma, a sua conclusão é de que "isto é muito maior que uma guerra comercial e achar que vai ser resolvido rapidamente é ingênuo - tem havido muito oscilação de opinião no curto prazo sem que se perceba a dinâmica como um todo".

Fernando é colunista do Broadcast

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 13/5/19, segunda-feira.

As reações fortes do mercado aos últimos eventos da guerra comercial entre Estados Unidos e China revelam uma perda de perspectiva sobre o que efetivamente representa o conflito: uma disputa geopolítica entre duas potências para ver qual delas será hegemônica na segunda metade do século XXI.

A visão é do economista Livio Ribeiro, especialista em China do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV).

"As pessoas esquecem que a discussão de guerra comercial vai muito além de guerra comercial", diz Ribeiro, acrescentando que "nesse sentido, a solução não é rápida e óbvia, e o armistício que estávamos vendo não era um equilíbrio".

Em resumo, a ideia do pesquisador não é de que o mercado esteja superestimando os efeitos negativos potenciais do conflito sobre a economia mundial. O que Ribeiro aponta é que analistas e traders ficaram otimistas demais com o que se percebia como um bom encaminhamento da disputa, e agora estão reagindo quase como se uma ruptura irremediável tivesse ocorrido.

O que ele chama de "armistício" é os Estados Unidos terem adiado a alta de 15% de tarifas sobre US$ 200 bilhões em produtos de uma prometida elevação de 25% (só realizaram 10% num primeiro momento), criando um tempo para mais negociações. O prazo foi estendido mais de uma vez, mas há três dias os americanos decidiram fazer valer os 15%, além de acenar com a extensão dos 25% para mais US$ 300 bilhões em importações chinesas. Em resposta, a China anunciou a alta de tarifas em US$ 60 bilhões de importações dos Estados Unidos.

Para Ribeiro, esse roteiro já era meio "pedra cantada". Ele ressalta, inclusive, que a reunião nos Estados Unidos da qual participou a missão chinesa, depois de anunciada a elevação dos 15% adicionais, foi descrita como positiva por ambos os lados.

O economista considera que a dinâmica de fundo do conflito mantém-se igual à de seis meses atrás (ou um pouco mais do que isso), porque os Estados Unidos estão pedindo algo que a China não vai entregar: na visão de Livio, os americanos querem que, na prática, a China abra mão do seu planejamento estratégico "Made in China 2025", pelo qual o país quer subir na cadeia de valor e se tornar liderança global em setores de ponta de telecomunicações e informática, em tecnologias verdes, nanotecnologia, eletrônicos de alto valor agregado, 5G, painéis solares, entre outros.

Na prática, segundo Ribeiro, os Estados Unidos não querem que a China estimule e dê subsídios a esses setores, o que implicaria renunciar à visão estratégica do Made in China 2025.

"Não vai acontecer", prevê o pesquisador.

Ainda há no contencioso temas de propriedade intelectual - que o economista vê como mais passíveis de solução, porque a China hoje moveu-se para a fronteira em termos de registros de patentes e P&D, e é menos dependente do modelo de engenharia reversa - e ataques cibernéticos.

O analista observa que "Trump está superneurótico no Twitter, como ele sempre faz, mas é uma negociação difícil de fato - ninguém deveria estar arrancando os cabelos por causa disso".

Na visão de Ribeiro, "quando houve o armistício as pessoas acharam que tinham tirado um bode da sala, mas não, ele continuou lá, no mesmo lugar, as pessoas é que decidiram olhar para outro lado".

O pesquisador vê, em relação ao conflito com a China, uma corrente mais pragmática e outra mais beligerante e ideológica entre os principais auxiliares de Trump. O problema é que Robert Lightrizer, atual negociador oficial de política comercial dos Estados Unidos, é um expoente particularmente duro da corrente ideológica.

"Quando alguém como ele foi colocado como negociador-chefe já era sinal de que a ideia era que a coisa explodisse", diz Ribeiro.

Ainda assim, na sua visão, as conversas vão continuar, e o ponto chave agora é avaliar como os acontecimentos recentes vão influenciar a linha de negociação das duas partes.

Em termos de impacto econômico, Ribeiro vê efeitos mais modestos no curto prazo, mas acrescenta que "no longo prazo é claro que o impacto é negativo, pois significa aumento de custos de produção".

De qualquer forma, a sua conclusão é de que "isto é muito maior que uma guerra comercial e achar que vai ser resolvido rapidamente é ingênuo - tem havido muito oscilação de opinião no curto prazo sem que se perceba a dinâmica como um todo".

Fernando é colunista do Broadcast

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 13/5/19, segunda-feira.

As reações fortes do mercado aos últimos eventos da guerra comercial entre Estados Unidos e China revelam uma perda de perspectiva sobre o que efetivamente representa o conflito: uma disputa geopolítica entre duas potências para ver qual delas será hegemônica na segunda metade do século XXI.

A visão é do economista Livio Ribeiro, especialista em China do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV).

"As pessoas esquecem que a discussão de guerra comercial vai muito além de guerra comercial", diz Ribeiro, acrescentando que "nesse sentido, a solução não é rápida e óbvia, e o armistício que estávamos vendo não era um equilíbrio".

Em resumo, a ideia do pesquisador não é de que o mercado esteja superestimando os efeitos negativos potenciais do conflito sobre a economia mundial. O que Ribeiro aponta é que analistas e traders ficaram otimistas demais com o que se percebia como um bom encaminhamento da disputa, e agora estão reagindo quase como se uma ruptura irremediável tivesse ocorrido.

O que ele chama de "armistício" é os Estados Unidos terem adiado a alta de 15% de tarifas sobre US$ 200 bilhões em produtos de uma prometida elevação de 25% (só realizaram 10% num primeiro momento), criando um tempo para mais negociações. O prazo foi estendido mais de uma vez, mas há três dias os americanos decidiram fazer valer os 15%, além de acenar com a extensão dos 25% para mais US$ 300 bilhões em importações chinesas. Em resposta, a China anunciou a alta de tarifas em US$ 60 bilhões de importações dos Estados Unidos.

Para Ribeiro, esse roteiro já era meio "pedra cantada". Ele ressalta, inclusive, que a reunião nos Estados Unidos da qual participou a missão chinesa, depois de anunciada a elevação dos 15% adicionais, foi descrita como positiva por ambos os lados.

O economista considera que a dinâmica de fundo do conflito mantém-se igual à de seis meses atrás (ou um pouco mais do que isso), porque os Estados Unidos estão pedindo algo que a China não vai entregar: na visão de Livio, os americanos querem que, na prática, a China abra mão do seu planejamento estratégico "Made in China 2025", pelo qual o país quer subir na cadeia de valor e se tornar liderança global em setores de ponta de telecomunicações e informática, em tecnologias verdes, nanotecnologia, eletrônicos de alto valor agregado, 5G, painéis solares, entre outros.

Na prática, segundo Ribeiro, os Estados Unidos não querem que a China estimule e dê subsídios a esses setores, o que implicaria renunciar à visão estratégica do Made in China 2025.

"Não vai acontecer", prevê o pesquisador.

Ainda há no contencioso temas de propriedade intelectual - que o economista vê como mais passíveis de solução, porque a China hoje moveu-se para a fronteira em termos de registros de patentes e P&D, e é menos dependente do modelo de engenharia reversa - e ataques cibernéticos.

O analista observa que "Trump está superneurótico no Twitter, como ele sempre faz, mas é uma negociação difícil de fato - ninguém deveria estar arrancando os cabelos por causa disso".

Na visão de Ribeiro, "quando houve o armistício as pessoas acharam que tinham tirado um bode da sala, mas não, ele continuou lá, no mesmo lugar, as pessoas é que decidiram olhar para outro lado".

O pesquisador vê, em relação ao conflito com a China, uma corrente mais pragmática e outra mais beligerante e ideológica entre os principais auxiliares de Trump. O problema é que Robert Lightrizer, atual negociador oficial de política comercial dos Estados Unidos, é um expoente particularmente duro da corrente ideológica.

"Quando alguém como ele foi colocado como negociador-chefe já era sinal de que a ideia era que a coisa explodisse", diz Ribeiro.

Ainda assim, na sua visão, as conversas vão continuar, e o ponto chave agora é avaliar como os acontecimentos recentes vão influenciar a linha de negociação das duas partes.

Em termos de impacto econômico, Ribeiro vê efeitos mais modestos no curto prazo, mas acrescenta que "no longo prazo é claro que o impacto é negativo, pois significa aumento de custos de produção".

De qualquer forma, a sua conclusão é de que "isto é muito maior que uma guerra comercial e achar que vai ser resolvido rapidamente é ingênuo - tem havido muito oscilação de opinião no curto prazo sem que se perceba a dinâmica como um todo".

Fernando é colunista do Broadcast

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 13/5/19, segunda-feira.

Opinião por Fernando Dantas

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.