Economia e políticas públicas

Opinião|O otimismo de LC Mendonça de Barros


Economista acha que há 80% de chance de Dilma sair, e que com isso Brasil se recupera e pode crescer até 5% ao ano entre 2018 e 2022.

Por Fernando Dantas

O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações e ex-presidente do BNDES, está muito menos pessimista do que a maioria do mercado, porque atribui uma chance de 80% de que a presidente Dilma Rousseff sofra impeachment. Com a recuperação da economia que ele prevê a partir daí, Mendonça crê que o PIB possa crescer a um ritmo de 5% ao ano entre 2018 e 2022.

Hoje, o economista é presidente do conselho da Azimut Brasil (que controla a gestora Quest) e presidente da Foton Aumark do Brasil, empresa que importa caminhões chineses Foton e está construindo uma fábrica para produzi-los em Guaíba, no Rio Grande do Sul.

Já há algum tempo que o analista vê uma guinada à direita na política brasileira, que se reflete na política econômica, e que ele considera positiva depois dos anos de heterodoxia que caracterizaram parte do governo Lula e do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Este é o ponto crucial que explica a divergência entre a sua visão e a da corrente pessimista de mercado.

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Na esfera judicial, Mendonça cita a decisão do STF de que condenados em segunda instância devem ir para a cadeia como um sinal dos tempos em termos da guinada à direita. A determinação contraria o preceito garantista prevalecente até então, típico do espírito da Constituição de 1988, pelo qual só se vai para a cadeia ao fim do trâmite por todas as instâncias possíveis.

Recentemente, porém, o otimismo do economista com o País foi acrescido de uma nova condição, que ele considera altamente provável: a saída de Dilma, que seria substituída pelo vice-presidente Michel Temer. Ele diz que seu irmão, o também renomado José Roberto Mendonça de Barros, com passagens pelo governo tucano e à frente hoje da consultoria MB Associados, compartilha sua interpretação do momento político.

Quanto ao cenário, ao qual atribui baixa probabilidade, de Dilma ficar até 2018, Luiz Carlos Mendonça de Barros é reticente: "Prefiro explorar o outro cenário, porque sou otimista com o Brasil - o País sempre sai das crises para cima, e não para baixo".

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Mendonça faz um paralelo entre um eventual governo Temer e o período de Itamar, durante o qual foi realizado o plano Real que estabilizou a economia brasileira: "O Temer, como o Itamar, terá um mandato tampão, mas será melhor, é um sujeito muito mais aprumado", diz.

Ele se recorda de conversa sua com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em que este lhe teria contado histórias de medidas extravagantes que Itamar teria tentado tomar, como a de dobrar o salário mínimo, só sendo dissuadido a última hora pela intercessão de amigos próximos. "O Temer é muito mais razoável", pondera.

Outro componente importante da interpretação de Mendonça sobre o País é a de um otimismo permanentemente moderado pela visão de que "nós nunca seremos um padrão de liberalismo econômico, como parece sonhar o mercado financeiro - por outro lado, sempre superamos as crises do nosso jeito, e a sociedade e a economia avançam porque tem muita coisa que funciona no Brasil".

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Foi com a ideia de levar essa mensagem que ele se encontrou há poucos dias com jovens deputados federais do PSDB, seu partido, como Bruno Araújo, de Pernambuco. Mendonça é muito crítico de decisões recentes dos tucanos, como a de votar pelo fim do fator previdenciário.

"O PSDB precisa acordar para a nova realidade, que é um movimento para direita, mas sem nenhuma revolução liberal", diz. Para ele, "o discurso mais importante agora é aquele dirigido à nova classe média popular do Lula, para mostrar a eles que a melhora das suas vidas de agora em diante vai depender muito mais de crescimento econômico do que de política social".

O economista considera que "a melhor coisa dos últimos anos foi mostrar de forma muito explícita os erros dos economistas do PT e da Unicamp". Isto, para ele, é uma das bases para a virada à direita da política econômica.

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Bolha de consumo

Em termos econômicos, a leitura de Mendonça é a de que o Brasil está vivendo o estouro de uma grande bolha de consumo. Quem lhe ajudou a formatar essa interpretação foi o economista Fernando Montero, da corretora Tullet Prebon Brasil, que lhe fez prestar a atenção devida ao crescimento estonteante da absorção interna (consumo das famílias e do governo e investimentos) até 2014. Em 2010 e 2011, na saída da crise global, ela crescia ao dobro do ritmo do PIB, levando à abertura do déficit em conta corrente.

No começo do primeiro mandato de Dilma, a economia começou a reagir ao excesso de consumo, com a inflação pressionada. O desemprego continuava a cair, indo para menos de 5%, mas os bancos privados, preocupados, colocaram o pé no freio do crédito. A economia se desacelerou, e foi aí que o governo reforçou a dose das políticas anticíclicas para reinflar a bolha, o que só levou a um colapso muito mais violento a partir de 2015.

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Mendonça considera que a bolha e seu estouro provocam movimentos extremos em direções contrárias, mas sem eliminar a tendência à volta à média. Assim, o déficit público norte-americano foi a 10% do PIB após a crise global de 2008 e 2009, mas já voltou ao nível normal de 2% a 2,5%. A produção anual de automóveis nos Estados Unidos caiu a menos da metade do nível pré-crise, mas já voltou a ele.

No Brasil, no segmento de caminhões (de 2,8 toneladas ou mais), que agora acompanha por razões profissionais, a "bolha do Finame" fez as vendas anuais saltarem de 72 mil para 192 mil unidades entre 2006 e 2011, e cair, com o estouro, para 85 mil em 2015. Mendonça prevê para seus sócios chineses uma rápida recuperação para 226 mil em 2025.

Com o estouro, a absorção interna despencou - "num movimento simétrico para baixo" -, caindo, segundo seus números, 10% no último trimestre de 2015 e com projeção de recuo de 6% a 7% em 2016.

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Mendonça considera que um governo com credibilidade e condições políticas normais tem condições de enfrentar a agenda de desafios à frente. Como todo mundo, ele vê a questão fiscal como o nó crucial, mas lembra que "é mais fácil de arrumar porque é dentro de casa", comparada ao desequilíbrio externo, que está sendo eliminado numa velocidade que nenhum analista previu.

Mesmo a reforma da Previdência ele acha possível, lembrando que o Brasil vive o agravamento de determinados problemas - como a hiperinflação - até pontos muito além do que se considera tolerável, mas, em determinados momentos, reage e os resolve.

Ele observa ainda que a drástica queda da arrecadação faz parte do movimento "em espelho" ao ocorrido no período em que ela crescia fantasticamente durante a bolha, e também aí deve haver uma volta à normalidade, tornando o ajuste fiscal menos difícil. A inflação, da mesma forma, pode ser controlada com uma política econômica e monetária adequada.

Quanto ao ritmo de 5% ao ano do PIB de 2018 a 2022, ele o vê como um movimento pendular de recuperação do produto perdido durante a atual recessão.

"Não vejo a dramaticidade que o mercado enxerga - com um mínimo de racionalidade nossa economia pode ter um movimento de volta", conclui Mendonça. (fernando.dantas@estadao.com)

Fernando Dantas é jornalista do Broadcast

Esta coluna foi publicada pela AE-News/Broadcast em 10/3/16, quinta-feira.

O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações e ex-presidente do BNDES, está muito menos pessimista do que a maioria do mercado, porque atribui uma chance de 80% de que a presidente Dilma Rousseff sofra impeachment. Com a recuperação da economia que ele prevê a partir daí, Mendonça crê que o PIB possa crescer a um ritmo de 5% ao ano entre 2018 e 2022.

Hoje, o economista é presidente do conselho da Azimut Brasil (que controla a gestora Quest) e presidente da Foton Aumark do Brasil, empresa que importa caminhões chineses Foton e está construindo uma fábrica para produzi-los em Guaíba, no Rio Grande do Sul.

Já há algum tempo que o analista vê uma guinada à direita na política brasileira, que se reflete na política econômica, e que ele considera positiva depois dos anos de heterodoxia que caracterizaram parte do governo Lula e do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Este é o ponto crucial que explica a divergência entre a sua visão e a da corrente pessimista de mercado.

Na esfera judicial, Mendonça cita a decisão do STF de que condenados em segunda instância devem ir para a cadeia como um sinal dos tempos em termos da guinada à direita. A determinação contraria o preceito garantista prevalecente até então, típico do espírito da Constituição de 1988, pelo qual só se vai para a cadeia ao fim do trâmite por todas as instâncias possíveis.

Recentemente, porém, o otimismo do economista com o País foi acrescido de uma nova condição, que ele considera altamente provável: a saída de Dilma, que seria substituída pelo vice-presidente Michel Temer. Ele diz que seu irmão, o também renomado José Roberto Mendonça de Barros, com passagens pelo governo tucano e à frente hoje da consultoria MB Associados, compartilha sua interpretação do momento político.

Quanto ao cenário, ao qual atribui baixa probabilidade, de Dilma ficar até 2018, Luiz Carlos Mendonça de Barros é reticente: "Prefiro explorar o outro cenário, porque sou otimista com o Brasil - o País sempre sai das crises para cima, e não para baixo".

Mendonça faz um paralelo entre um eventual governo Temer e o período de Itamar, durante o qual foi realizado o plano Real que estabilizou a economia brasileira: "O Temer, como o Itamar, terá um mandato tampão, mas será melhor, é um sujeito muito mais aprumado", diz.

Ele se recorda de conversa sua com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em que este lhe teria contado histórias de medidas extravagantes que Itamar teria tentado tomar, como a de dobrar o salário mínimo, só sendo dissuadido a última hora pela intercessão de amigos próximos. "O Temer é muito mais razoável", pondera.

Outro componente importante da interpretação de Mendonça sobre o País é a de um otimismo permanentemente moderado pela visão de que "nós nunca seremos um padrão de liberalismo econômico, como parece sonhar o mercado financeiro - por outro lado, sempre superamos as crises do nosso jeito, e a sociedade e a economia avançam porque tem muita coisa que funciona no Brasil".

Foi com a ideia de levar essa mensagem que ele se encontrou há poucos dias com jovens deputados federais do PSDB, seu partido, como Bruno Araújo, de Pernambuco. Mendonça é muito crítico de decisões recentes dos tucanos, como a de votar pelo fim do fator previdenciário.

"O PSDB precisa acordar para a nova realidade, que é um movimento para direita, mas sem nenhuma revolução liberal", diz. Para ele, "o discurso mais importante agora é aquele dirigido à nova classe média popular do Lula, para mostrar a eles que a melhora das suas vidas de agora em diante vai depender muito mais de crescimento econômico do que de política social".

O economista considera que "a melhor coisa dos últimos anos foi mostrar de forma muito explícita os erros dos economistas do PT e da Unicamp". Isto, para ele, é uma das bases para a virada à direita da política econômica.

Bolha de consumo

Em termos econômicos, a leitura de Mendonça é a de que o Brasil está vivendo o estouro de uma grande bolha de consumo. Quem lhe ajudou a formatar essa interpretação foi o economista Fernando Montero, da corretora Tullet Prebon Brasil, que lhe fez prestar a atenção devida ao crescimento estonteante da absorção interna (consumo das famílias e do governo e investimentos) até 2014. Em 2010 e 2011, na saída da crise global, ela crescia ao dobro do ritmo do PIB, levando à abertura do déficit em conta corrente.

No começo do primeiro mandato de Dilma, a economia começou a reagir ao excesso de consumo, com a inflação pressionada. O desemprego continuava a cair, indo para menos de 5%, mas os bancos privados, preocupados, colocaram o pé no freio do crédito. A economia se desacelerou, e foi aí que o governo reforçou a dose das políticas anticíclicas para reinflar a bolha, o que só levou a um colapso muito mais violento a partir de 2015.

Mendonça considera que a bolha e seu estouro provocam movimentos extremos em direções contrárias, mas sem eliminar a tendência à volta à média. Assim, o déficit público norte-americano foi a 10% do PIB após a crise global de 2008 e 2009, mas já voltou ao nível normal de 2% a 2,5%. A produção anual de automóveis nos Estados Unidos caiu a menos da metade do nível pré-crise, mas já voltou a ele.

No Brasil, no segmento de caminhões (de 2,8 toneladas ou mais), que agora acompanha por razões profissionais, a "bolha do Finame" fez as vendas anuais saltarem de 72 mil para 192 mil unidades entre 2006 e 2011, e cair, com o estouro, para 85 mil em 2015. Mendonça prevê para seus sócios chineses uma rápida recuperação para 226 mil em 2025.

Com o estouro, a absorção interna despencou - "num movimento simétrico para baixo" -, caindo, segundo seus números, 10% no último trimestre de 2015 e com projeção de recuo de 6% a 7% em 2016.

Mendonça considera que um governo com credibilidade e condições políticas normais tem condições de enfrentar a agenda de desafios à frente. Como todo mundo, ele vê a questão fiscal como o nó crucial, mas lembra que "é mais fácil de arrumar porque é dentro de casa", comparada ao desequilíbrio externo, que está sendo eliminado numa velocidade que nenhum analista previu.

Mesmo a reforma da Previdência ele acha possível, lembrando que o Brasil vive o agravamento de determinados problemas - como a hiperinflação - até pontos muito além do que se considera tolerável, mas, em determinados momentos, reage e os resolve.

Ele observa ainda que a drástica queda da arrecadação faz parte do movimento "em espelho" ao ocorrido no período em que ela crescia fantasticamente durante a bolha, e também aí deve haver uma volta à normalidade, tornando o ajuste fiscal menos difícil. A inflação, da mesma forma, pode ser controlada com uma política econômica e monetária adequada.

Quanto ao ritmo de 5% ao ano do PIB de 2018 a 2022, ele o vê como um movimento pendular de recuperação do produto perdido durante a atual recessão.

"Não vejo a dramaticidade que o mercado enxerga - com um mínimo de racionalidade nossa economia pode ter um movimento de volta", conclui Mendonça. (fernando.dantas@estadao.com)

Fernando Dantas é jornalista do Broadcast

Esta coluna foi publicada pela AE-News/Broadcast em 10/3/16, quinta-feira.

O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações e ex-presidente do BNDES, está muito menos pessimista do que a maioria do mercado, porque atribui uma chance de 80% de que a presidente Dilma Rousseff sofra impeachment. Com a recuperação da economia que ele prevê a partir daí, Mendonça crê que o PIB possa crescer a um ritmo de 5% ao ano entre 2018 e 2022.

Hoje, o economista é presidente do conselho da Azimut Brasil (que controla a gestora Quest) e presidente da Foton Aumark do Brasil, empresa que importa caminhões chineses Foton e está construindo uma fábrica para produzi-los em Guaíba, no Rio Grande do Sul.

Já há algum tempo que o analista vê uma guinada à direita na política brasileira, que se reflete na política econômica, e que ele considera positiva depois dos anos de heterodoxia que caracterizaram parte do governo Lula e do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Este é o ponto crucial que explica a divergência entre a sua visão e a da corrente pessimista de mercado.

Na esfera judicial, Mendonça cita a decisão do STF de que condenados em segunda instância devem ir para a cadeia como um sinal dos tempos em termos da guinada à direita. A determinação contraria o preceito garantista prevalecente até então, típico do espírito da Constituição de 1988, pelo qual só se vai para a cadeia ao fim do trâmite por todas as instâncias possíveis.

Recentemente, porém, o otimismo do economista com o País foi acrescido de uma nova condição, que ele considera altamente provável: a saída de Dilma, que seria substituída pelo vice-presidente Michel Temer. Ele diz que seu irmão, o também renomado José Roberto Mendonça de Barros, com passagens pelo governo tucano e à frente hoje da consultoria MB Associados, compartilha sua interpretação do momento político.

Quanto ao cenário, ao qual atribui baixa probabilidade, de Dilma ficar até 2018, Luiz Carlos Mendonça de Barros é reticente: "Prefiro explorar o outro cenário, porque sou otimista com o Brasil - o País sempre sai das crises para cima, e não para baixo".

Mendonça faz um paralelo entre um eventual governo Temer e o período de Itamar, durante o qual foi realizado o plano Real que estabilizou a economia brasileira: "O Temer, como o Itamar, terá um mandato tampão, mas será melhor, é um sujeito muito mais aprumado", diz.

Ele se recorda de conversa sua com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em que este lhe teria contado histórias de medidas extravagantes que Itamar teria tentado tomar, como a de dobrar o salário mínimo, só sendo dissuadido a última hora pela intercessão de amigos próximos. "O Temer é muito mais razoável", pondera.

Outro componente importante da interpretação de Mendonça sobre o País é a de um otimismo permanentemente moderado pela visão de que "nós nunca seremos um padrão de liberalismo econômico, como parece sonhar o mercado financeiro - por outro lado, sempre superamos as crises do nosso jeito, e a sociedade e a economia avançam porque tem muita coisa que funciona no Brasil".

Foi com a ideia de levar essa mensagem que ele se encontrou há poucos dias com jovens deputados federais do PSDB, seu partido, como Bruno Araújo, de Pernambuco. Mendonça é muito crítico de decisões recentes dos tucanos, como a de votar pelo fim do fator previdenciário.

"O PSDB precisa acordar para a nova realidade, que é um movimento para direita, mas sem nenhuma revolução liberal", diz. Para ele, "o discurso mais importante agora é aquele dirigido à nova classe média popular do Lula, para mostrar a eles que a melhora das suas vidas de agora em diante vai depender muito mais de crescimento econômico do que de política social".

O economista considera que "a melhor coisa dos últimos anos foi mostrar de forma muito explícita os erros dos economistas do PT e da Unicamp". Isto, para ele, é uma das bases para a virada à direita da política econômica.

Bolha de consumo

Em termos econômicos, a leitura de Mendonça é a de que o Brasil está vivendo o estouro de uma grande bolha de consumo. Quem lhe ajudou a formatar essa interpretação foi o economista Fernando Montero, da corretora Tullet Prebon Brasil, que lhe fez prestar a atenção devida ao crescimento estonteante da absorção interna (consumo das famílias e do governo e investimentos) até 2014. Em 2010 e 2011, na saída da crise global, ela crescia ao dobro do ritmo do PIB, levando à abertura do déficit em conta corrente.

No começo do primeiro mandato de Dilma, a economia começou a reagir ao excesso de consumo, com a inflação pressionada. O desemprego continuava a cair, indo para menos de 5%, mas os bancos privados, preocupados, colocaram o pé no freio do crédito. A economia se desacelerou, e foi aí que o governo reforçou a dose das políticas anticíclicas para reinflar a bolha, o que só levou a um colapso muito mais violento a partir de 2015.

Mendonça considera que a bolha e seu estouro provocam movimentos extremos em direções contrárias, mas sem eliminar a tendência à volta à média. Assim, o déficit público norte-americano foi a 10% do PIB após a crise global de 2008 e 2009, mas já voltou ao nível normal de 2% a 2,5%. A produção anual de automóveis nos Estados Unidos caiu a menos da metade do nível pré-crise, mas já voltou a ele.

No Brasil, no segmento de caminhões (de 2,8 toneladas ou mais), que agora acompanha por razões profissionais, a "bolha do Finame" fez as vendas anuais saltarem de 72 mil para 192 mil unidades entre 2006 e 2011, e cair, com o estouro, para 85 mil em 2015. Mendonça prevê para seus sócios chineses uma rápida recuperação para 226 mil em 2025.

Com o estouro, a absorção interna despencou - "num movimento simétrico para baixo" -, caindo, segundo seus números, 10% no último trimestre de 2015 e com projeção de recuo de 6% a 7% em 2016.

Mendonça considera que um governo com credibilidade e condições políticas normais tem condições de enfrentar a agenda de desafios à frente. Como todo mundo, ele vê a questão fiscal como o nó crucial, mas lembra que "é mais fácil de arrumar porque é dentro de casa", comparada ao desequilíbrio externo, que está sendo eliminado numa velocidade que nenhum analista previu.

Mesmo a reforma da Previdência ele acha possível, lembrando que o Brasil vive o agravamento de determinados problemas - como a hiperinflação - até pontos muito além do que se considera tolerável, mas, em determinados momentos, reage e os resolve.

Ele observa ainda que a drástica queda da arrecadação faz parte do movimento "em espelho" ao ocorrido no período em que ela crescia fantasticamente durante a bolha, e também aí deve haver uma volta à normalidade, tornando o ajuste fiscal menos difícil. A inflação, da mesma forma, pode ser controlada com uma política econômica e monetária adequada.

Quanto ao ritmo de 5% ao ano do PIB de 2018 a 2022, ele o vê como um movimento pendular de recuperação do produto perdido durante a atual recessão.

"Não vejo a dramaticidade que o mercado enxerga - com um mínimo de racionalidade nossa economia pode ter um movimento de volta", conclui Mendonça. (fernando.dantas@estadao.com)

Fernando Dantas é jornalista do Broadcast

Esta coluna foi publicada pela AE-News/Broadcast em 10/3/16, quinta-feira.

O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações e ex-presidente do BNDES, está muito menos pessimista do que a maioria do mercado, porque atribui uma chance de 80% de que a presidente Dilma Rousseff sofra impeachment. Com a recuperação da economia que ele prevê a partir daí, Mendonça crê que o PIB possa crescer a um ritmo de 5% ao ano entre 2018 e 2022.

Hoje, o economista é presidente do conselho da Azimut Brasil (que controla a gestora Quest) e presidente da Foton Aumark do Brasil, empresa que importa caminhões chineses Foton e está construindo uma fábrica para produzi-los em Guaíba, no Rio Grande do Sul.

Já há algum tempo que o analista vê uma guinada à direita na política brasileira, que se reflete na política econômica, e que ele considera positiva depois dos anos de heterodoxia que caracterizaram parte do governo Lula e do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Este é o ponto crucial que explica a divergência entre a sua visão e a da corrente pessimista de mercado.

Na esfera judicial, Mendonça cita a decisão do STF de que condenados em segunda instância devem ir para a cadeia como um sinal dos tempos em termos da guinada à direita. A determinação contraria o preceito garantista prevalecente até então, típico do espírito da Constituição de 1988, pelo qual só se vai para a cadeia ao fim do trâmite por todas as instâncias possíveis.

Recentemente, porém, o otimismo do economista com o País foi acrescido de uma nova condição, que ele considera altamente provável: a saída de Dilma, que seria substituída pelo vice-presidente Michel Temer. Ele diz que seu irmão, o também renomado José Roberto Mendonça de Barros, com passagens pelo governo tucano e à frente hoje da consultoria MB Associados, compartilha sua interpretação do momento político.

Quanto ao cenário, ao qual atribui baixa probabilidade, de Dilma ficar até 2018, Luiz Carlos Mendonça de Barros é reticente: "Prefiro explorar o outro cenário, porque sou otimista com o Brasil - o País sempre sai das crises para cima, e não para baixo".

Mendonça faz um paralelo entre um eventual governo Temer e o período de Itamar, durante o qual foi realizado o plano Real que estabilizou a economia brasileira: "O Temer, como o Itamar, terá um mandato tampão, mas será melhor, é um sujeito muito mais aprumado", diz.

Ele se recorda de conversa sua com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em que este lhe teria contado histórias de medidas extravagantes que Itamar teria tentado tomar, como a de dobrar o salário mínimo, só sendo dissuadido a última hora pela intercessão de amigos próximos. "O Temer é muito mais razoável", pondera.

Outro componente importante da interpretação de Mendonça sobre o País é a de um otimismo permanentemente moderado pela visão de que "nós nunca seremos um padrão de liberalismo econômico, como parece sonhar o mercado financeiro - por outro lado, sempre superamos as crises do nosso jeito, e a sociedade e a economia avançam porque tem muita coisa que funciona no Brasil".

Foi com a ideia de levar essa mensagem que ele se encontrou há poucos dias com jovens deputados federais do PSDB, seu partido, como Bruno Araújo, de Pernambuco. Mendonça é muito crítico de decisões recentes dos tucanos, como a de votar pelo fim do fator previdenciário.

"O PSDB precisa acordar para a nova realidade, que é um movimento para direita, mas sem nenhuma revolução liberal", diz. Para ele, "o discurso mais importante agora é aquele dirigido à nova classe média popular do Lula, para mostrar a eles que a melhora das suas vidas de agora em diante vai depender muito mais de crescimento econômico do que de política social".

O economista considera que "a melhor coisa dos últimos anos foi mostrar de forma muito explícita os erros dos economistas do PT e da Unicamp". Isto, para ele, é uma das bases para a virada à direita da política econômica.

Bolha de consumo

Em termos econômicos, a leitura de Mendonça é a de que o Brasil está vivendo o estouro de uma grande bolha de consumo. Quem lhe ajudou a formatar essa interpretação foi o economista Fernando Montero, da corretora Tullet Prebon Brasil, que lhe fez prestar a atenção devida ao crescimento estonteante da absorção interna (consumo das famílias e do governo e investimentos) até 2014. Em 2010 e 2011, na saída da crise global, ela crescia ao dobro do ritmo do PIB, levando à abertura do déficit em conta corrente.

No começo do primeiro mandato de Dilma, a economia começou a reagir ao excesso de consumo, com a inflação pressionada. O desemprego continuava a cair, indo para menos de 5%, mas os bancos privados, preocupados, colocaram o pé no freio do crédito. A economia se desacelerou, e foi aí que o governo reforçou a dose das políticas anticíclicas para reinflar a bolha, o que só levou a um colapso muito mais violento a partir de 2015.

Mendonça considera que a bolha e seu estouro provocam movimentos extremos em direções contrárias, mas sem eliminar a tendência à volta à média. Assim, o déficit público norte-americano foi a 10% do PIB após a crise global de 2008 e 2009, mas já voltou ao nível normal de 2% a 2,5%. A produção anual de automóveis nos Estados Unidos caiu a menos da metade do nível pré-crise, mas já voltou a ele.

No Brasil, no segmento de caminhões (de 2,8 toneladas ou mais), que agora acompanha por razões profissionais, a "bolha do Finame" fez as vendas anuais saltarem de 72 mil para 192 mil unidades entre 2006 e 2011, e cair, com o estouro, para 85 mil em 2015. Mendonça prevê para seus sócios chineses uma rápida recuperação para 226 mil em 2025.

Com o estouro, a absorção interna despencou - "num movimento simétrico para baixo" -, caindo, segundo seus números, 10% no último trimestre de 2015 e com projeção de recuo de 6% a 7% em 2016.

Mendonça considera que um governo com credibilidade e condições políticas normais tem condições de enfrentar a agenda de desafios à frente. Como todo mundo, ele vê a questão fiscal como o nó crucial, mas lembra que "é mais fácil de arrumar porque é dentro de casa", comparada ao desequilíbrio externo, que está sendo eliminado numa velocidade que nenhum analista previu.

Mesmo a reforma da Previdência ele acha possível, lembrando que o Brasil vive o agravamento de determinados problemas - como a hiperinflação - até pontos muito além do que se considera tolerável, mas, em determinados momentos, reage e os resolve.

Ele observa ainda que a drástica queda da arrecadação faz parte do movimento "em espelho" ao ocorrido no período em que ela crescia fantasticamente durante a bolha, e também aí deve haver uma volta à normalidade, tornando o ajuste fiscal menos difícil. A inflação, da mesma forma, pode ser controlada com uma política econômica e monetária adequada.

Quanto ao ritmo de 5% ao ano do PIB de 2018 a 2022, ele o vê como um movimento pendular de recuperação do produto perdido durante a atual recessão.

"Não vejo a dramaticidade que o mercado enxerga - com um mínimo de racionalidade nossa economia pode ter um movimento de volta", conclui Mendonça. (fernando.dantas@estadao.com)

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