Economia e políticas públicas

Opinião|O PIB e o plano de voo do Fed


Recuo surpreendente do PIB americano no 1º trimestre não deve mudar cenário de alta de juros nos EUA.

Por Fernando Dantas

A contração anualizada de 1,4% do PIB dos Estados Unidos no primeiro trimestre foi uma substancial surpresa negativa, já que a média das projeções estava em torno de +1%.

Com o Federal Reserve (Fed, BC dos EUA) esquentando os motores para provavelmente acelerar de 0,25 ponto porcentual (pp) para 0,5pp a alta dos Fed Funds, a taxa básica, na reunião do FOMC (comitê de política monetária) na próxima semana, em 3 e 4/5, terça e quarta-feira, uma questão relevante é saber se a autoridade monetária norte-americana mudaria alguma coisa em seu plano de voo em função do resultado do PIB de hoje. Se a alta for de 0,5pp, os Fed Funds irão de 0,25-0,5% para 0,75-1%.

Tomando-se as projeções do próprio Fed, a taxa básica seria elevada para níveis em torno de 2% e 3%, respectivamente, este ano e em 2023.

continua após a publicidade

A expectativa, como nota Tony Volpon, estrategista-chefe da Wealth High Governance (WHG) e ex-diretor do Banco Central, é de que em algum momento nos meses à frente a inflação americana comece a cair do altíssimo nível atual (8,5% em termos anualizados em março) e a atividade econômica a desacelerar de forma mais consistente.

Na visão do analista, o PIB do primeiro trimestre não deve mexer de forma relevante na visão dos dirigentes do Fed. Na verdade, o mau desempenho do PIB dos EUA no 1º tri foi bastante influenciado pelas exportações líquidas negativas e pela variação de estoques.

Se dependesse apenas do consumo das famílias e do investimento, o PIB americano teria crescido 3,1% no 1º tri, mas foi reduzido pelo consumo do governo (-0,5pp), exportações líquidas (-3,2pp) e estoques (-0,8pp), chegando-se à queda de 1,4%.

continua após a publicidade

Volpon observa que, embora o PIB tenha caído no primeiro trimestre, em termos anualizados, a demanda doméstica cresceu 2,7%, na mesma base de comparação.

"Ou seja, ainda é uma demanda forte, e a política monetária é justamente para controlar a demanda", ele diz.

Ainda assim, ressalva o analista, a demanda doméstica veio abaixo da expectativa de crescimento de 3,5%.

continua após a publicidade

Juntando todas as peças, Volpon considera que o PIB do 1º tri "não é o tipo de número que deve levar o Fed a colocar a atividade econômica como uma preocupação, frente à tarefa decontrolar uma inflação de 8% ao ano, totalmente fora do padrão americano".

Para o economista, a questão do crescimento econômico só deve entrar novamente no centro do radar do Fed quando houver algum sinal concreto de que a economia pode caminhar para uma recessão.

Ele acrescenta que cenários que apontam possibilidade de recessão em 2023 encadeiam diversas hipóteses, "mas não há nenhum sinal recessivo de primeira ordem na economia americana, nada que se veja concretamente". Há recuos e desacelerações em alguns itens, como é normal ocorrer, mas no panorama geral a demanda segue muito forte.

continua após a publicidade

Volpon nota que, ao longo dos últimos meses, a comunicação do Fed levou o mercado a reprecificar para cima, diversas vezes, a trajetória de alta dos Fed Funds.

"Quase toda vez que eles [dirigentes do Fed] tinham oportunidade, reprecificavam para cima", diz o analista.

Agora, porém, ele pensa que o Fed deve estar satisfeito com a atua precificação de alta e deve esperar pelo menos até o outono do hemisfério Norte para ver se o atual plano de voo está adequado, ou se será preciso uma nova leva de reprecificações.

continua após a publicidade

"Acho que eles agora vão executar o plano para ver se está funcionando ou não, e mudanças serão 'data-dependent' [dependentes dos dados à medida que estes forem saindo]".

Se essa análise estiver correta, aponta o economista, os mercados podem ficar mais tranquilos e talvez menos voláteis, sem a insegurança de sempre reavaliar - na direção de mais alta de juros - a trajetória de decisões do Fed.

Nesse sentido, o PIB decepcionante do primeiro trimestre pode até ajudar.

continua após a publicidade

Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 28/4/2022, quinta-feira.

A contração anualizada de 1,4% do PIB dos Estados Unidos no primeiro trimestre foi uma substancial surpresa negativa, já que a média das projeções estava em torno de +1%.

Com o Federal Reserve (Fed, BC dos EUA) esquentando os motores para provavelmente acelerar de 0,25 ponto porcentual (pp) para 0,5pp a alta dos Fed Funds, a taxa básica, na reunião do FOMC (comitê de política monetária) na próxima semana, em 3 e 4/5, terça e quarta-feira, uma questão relevante é saber se a autoridade monetária norte-americana mudaria alguma coisa em seu plano de voo em função do resultado do PIB de hoje. Se a alta for de 0,5pp, os Fed Funds irão de 0,25-0,5% para 0,75-1%.

Tomando-se as projeções do próprio Fed, a taxa básica seria elevada para níveis em torno de 2% e 3%, respectivamente, este ano e em 2023.

A expectativa, como nota Tony Volpon, estrategista-chefe da Wealth High Governance (WHG) e ex-diretor do Banco Central, é de que em algum momento nos meses à frente a inflação americana comece a cair do altíssimo nível atual (8,5% em termos anualizados em março) e a atividade econômica a desacelerar de forma mais consistente.

Na visão do analista, o PIB do primeiro trimestre não deve mexer de forma relevante na visão dos dirigentes do Fed. Na verdade, o mau desempenho do PIB dos EUA no 1º tri foi bastante influenciado pelas exportações líquidas negativas e pela variação de estoques.

Se dependesse apenas do consumo das famílias e do investimento, o PIB americano teria crescido 3,1% no 1º tri, mas foi reduzido pelo consumo do governo (-0,5pp), exportações líquidas (-3,2pp) e estoques (-0,8pp), chegando-se à queda de 1,4%.

Volpon observa que, embora o PIB tenha caído no primeiro trimestre, em termos anualizados, a demanda doméstica cresceu 2,7%, na mesma base de comparação.

"Ou seja, ainda é uma demanda forte, e a política monetária é justamente para controlar a demanda", ele diz.

Ainda assim, ressalva o analista, a demanda doméstica veio abaixo da expectativa de crescimento de 3,5%.

Juntando todas as peças, Volpon considera que o PIB do 1º tri "não é o tipo de número que deve levar o Fed a colocar a atividade econômica como uma preocupação, frente à tarefa decontrolar uma inflação de 8% ao ano, totalmente fora do padrão americano".

Para o economista, a questão do crescimento econômico só deve entrar novamente no centro do radar do Fed quando houver algum sinal concreto de que a economia pode caminhar para uma recessão.

Ele acrescenta que cenários que apontam possibilidade de recessão em 2023 encadeiam diversas hipóteses, "mas não há nenhum sinal recessivo de primeira ordem na economia americana, nada que se veja concretamente". Há recuos e desacelerações em alguns itens, como é normal ocorrer, mas no panorama geral a demanda segue muito forte.

Volpon nota que, ao longo dos últimos meses, a comunicação do Fed levou o mercado a reprecificar para cima, diversas vezes, a trajetória de alta dos Fed Funds.

"Quase toda vez que eles [dirigentes do Fed] tinham oportunidade, reprecificavam para cima", diz o analista.

Agora, porém, ele pensa que o Fed deve estar satisfeito com a atua precificação de alta e deve esperar pelo menos até o outono do hemisfério Norte para ver se o atual plano de voo está adequado, ou se será preciso uma nova leva de reprecificações.

"Acho que eles agora vão executar o plano para ver se está funcionando ou não, e mudanças serão 'data-dependent' [dependentes dos dados à medida que estes forem saindo]".

Se essa análise estiver correta, aponta o economista, os mercados podem ficar mais tranquilos e talvez menos voláteis, sem a insegurança de sempre reavaliar - na direção de mais alta de juros - a trajetória de decisões do Fed.

Nesse sentido, o PIB decepcionante do primeiro trimestre pode até ajudar.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 28/4/2022, quinta-feira.

A contração anualizada de 1,4% do PIB dos Estados Unidos no primeiro trimestre foi uma substancial surpresa negativa, já que a média das projeções estava em torno de +1%.

Com o Federal Reserve (Fed, BC dos EUA) esquentando os motores para provavelmente acelerar de 0,25 ponto porcentual (pp) para 0,5pp a alta dos Fed Funds, a taxa básica, na reunião do FOMC (comitê de política monetária) na próxima semana, em 3 e 4/5, terça e quarta-feira, uma questão relevante é saber se a autoridade monetária norte-americana mudaria alguma coisa em seu plano de voo em função do resultado do PIB de hoje. Se a alta for de 0,5pp, os Fed Funds irão de 0,25-0,5% para 0,75-1%.

Tomando-se as projeções do próprio Fed, a taxa básica seria elevada para níveis em torno de 2% e 3%, respectivamente, este ano e em 2023.

A expectativa, como nota Tony Volpon, estrategista-chefe da Wealth High Governance (WHG) e ex-diretor do Banco Central, é de que em algum momento nos meses à frente a inflação americana comece a cair do altíssimo nível atual (8,5% em termos anualizados em março) e a atividade econômica a desacelerar de forma mais consistente.

Na visão do analista, o PIB do primeiro trimestre não deve mexer de forma relevante na visão dos dirigentes do Fed. Na verdade, o mau desempenho do PIB dos EUA no 1º tri foi bastante influenciado pelas exportações líquidas negativas e pela variação de estoques.

Se dependesse apenas do consumo das famílias e do investimento, o PIB americano teria crescido 3,1% no 1º tri, mas foi reduzido pelo consumo do governo (-0,5pp), exportações líquidas (-3,2pp) e estoques (-0,8pp), chegando-se à queda de 1,4%.

Volpon observa que, embora o PIB tenha caído no primeiro trimestre, em termos anualizados, a demanda doméstica cresceu 2,7%, na mesma base de comparação.

"Ou seja, ainda é uma demanda forte, e a política monetária é justamente para controlar a demanda", ele diz.

Ainda assim, ressalva o analista, a demanda doméstica veio abaixo da expectativa de crescimento de 3,5%.

Juntando todas as peças, Volpon considera que o PIB do 1º tri "não é o tipo de número que deve levar o Fed a colocar a atividade econômica como uma preocupação, frente à tarefa decontrolar uma inflação de 8% ao ano, totalmente fora do padrão americano".

Para o economista, a questão do crescimento econômico só deve entrar novamente no centro do radar do Fed quando houver algum sinal concreto de que a economia pode caminhar para uma recessão.

Ele acrescenta que cenários que apontam possibilidade de recessão em 2023 encadeiam diversas hipóteses, "mas não há nenhum sinal recessivo de primeira ordem na economia americana, nada que se veja concretamente". Há recuos e desacelerações em alguns itens, como é normal ocorrer, mas no panorama geral a demanda segue muito forte.

Volpon nota que, ao longo dos últimos meses, a comunicação do Fed levou o mercado a reprecificar para cima, diversas vezes, a trajetória de alta dos Fed Funds.

"Quase toda vez que eles [dirigentes do Fed] tinham oportunidade, reprecificavam para cima", diz o analista.

Agora, porém, ele pensa que o Fed deve estar satisfeito com a atua precificação de alta e deve esperar pelo menos até o outono do hemisfério Norte para ver se o atual plano de voo está adequado, ou se será preciso uma nova leva de reprecificações.

"Acho que eles agora vão executar o plano para ver se está funcionando ou não, e mudanças serão 'data-dependent' [dependentes dos dados à medida que estes forem saindo]".

Se essa análise estiver correta, aponta o economista, os mercados podem ficar mais tranquilos e talvez menos voláteis, sem a insegurança de sempre reavaliar - na direção de mais alta de juros - a trajetória de decisões do Fed.

Nesse sentido, o PIB decepcionante do primeiro trimestre pode até ajudar.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 28/4/2022, quinta-feira.

A contração anualizada de 1,4% do PIB dos Estados Unidos no primeiro trimestre foi uma substancial surpresa negativa, já que a média das projeções estava em torno de +1%.

Com o Federal Reserve (Fed, BC dos EUA) esquentando os motores para provavelmente acelerar de 0,25 ponto porcentual (pp) para 0,5pp a alta dos Fed Funds, a taxa básica, na reunião do FOMC (comitê de política monetária) na próxima semana, em 3 e 4/5, terça e quarta-feira, uma questão relevante é saber se a autoridade monetária norte-americana mudaria alguma coisa em seu plano de voo em função do resultado do PIB de hoje. Se a alta for de 0,5pp, os Fed Funds irão de 0,25-0,5% para 0,75-1%.

Tomando-se as projeções do próprio Fed, a taxa básica seria elevada para níveis em torno de 2% e 3%, respectivamente, este ano e em 2023.

A expectativa, como nota Tony Volpon, estrategista-chefe da Wealth High Governance (WHG) e ex-diretor do Banco Central, é de que em algum momento nos meses à frente a inflação americana comece a cair do altíssimo nível atual (8,5% em termos anualizados em março) e a atividade econômica a desacelerar de forma mais consistente.

Na visão do analista, o PIB do primeiro trimestre não deve mexer de forma relevante na visão dos dirigentes do Fed. Na verdade, o mau desempenho do PIB dos EUA no 1º tri foi bastante influenciado pelas exportações líquidas negativas e pela variação de estoques.

Se dependesse apenas do consumo das famílias e do investimento, o PIB americano teria crescido 3,1% no 1º tri, mas foi reduzido pelo consumo do governo (-0,5pp), exportações líquidas (-3,2pp) e estoques (-0,8pp), chegando-se à queda de 1,4%.

Volpon observa que, embora o PIB tenha caído no primeiro trimestre, em termos anualizados, a demanda doméstica cresceu 2,7%, na mesma base de comparação.

"Ou seja, ainda é uma demanda forte, e a política monetária é justamente para controlar a demanda", ele diz.

Ainda assim, ressalva o analista, a demanda doméstica veio abaixo da expectativa de crescimento de 3,5%.

Juntando todas as peças, Volpon considera que o PIB do 1º tri "não é o tipo de número que deve levar o Fed a colocar a atividade econômica como uma preocupação, frente à tarefa decontrolar uma inflação de 8% ao ano, totalmente fora do padrão americano".

Para o economista, a questão do crescimento econômico só deve entrar novamente no centro do radar do Fed quando houver algum sinal concreto de que a economia pode caminhar para uma recessão.

Ele acrescenta que cenários que apontam possibilidade de recessão em 2023 encadeiam diversas hipóteses, "mas não há nenhum sinal recessivo de primeira ordem na economia americana, nada que se veja concretamente". Há recuos e desacelerações em alguns itens, como é normal ocorrer, mas no panorama geral a demanda segue muito forte.

Volpon nota que, ao longo dos últimos meses, a comunicação do Fed levou o mercado a reprecificar para cima, diversas vezes, a trajetória de alta dos Fed Funds.

"Quase toda vez que eles [dirigentes do Fed] tinham oportunidade, reprecificavam para cima", diz o analista.

Agora, porém, ele pensa que o Fed deve estar satisfeito com a atua precificação de alta e deve esperar pelo menos até o outono do hemisfério Norte para ver se o atual plano de voo está adequado, ou se será preciso uma nova leva de reprecificações.

"Acho que eles agora vão executar o plano para ver se está funcionando ou não, e mudanças serão 'data-dependent' [dependentes dos dados à medida que estes forem saindo]".

Se essa análise estiver correta, aponta o economista, os mercados podem ficar mais tranquilos e talvez menos voláteis, sem a insegurança de sempre reavaliar - na direção de mais alta de juros - a trajetória de decisões do Fed.

Nesse sentido, o PIB decepcionante do primeiro trimestre pode até ajudar.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 28/4/2022, quinta-feira.

Opinião por Fernando Dantas

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.