Economia e políticas públicas

Opinião|Oferta global pressionada


Relatório do Goldman Sachs diz que descompasso mundial entre a oferta e a demanda (maior) no mercado de bens, matérias-primas e insumos tem raízes que precedem a pandemia.

Por Fernando Dantas

O mundo enfrenta um aperto de grandes proporções no mercado de commodities e bens, com a oferta, relativamente rígida no curto prazo, incapaz de atender a demanda explosiva.

Esse é o tema de um instigante relatório divulgado hoje pelo Goldman Sachs, mas cujo insight mais interessante é que essa situação de desequilíbrio tem menos a ver com a pandemia do que muitos pensam.

Segundo os autores, as sementes do atual estrangulamento da oferta de bens e matérias primas foram plantadas na esteira da grande crise financeira global de 2008 e 2009. Basicamente, os investimentos de longo prazo na "velha economia", como matérias primas, insumos básicos e alguns tipos de produtos físicos, caíram muito, enquanto cresciam os investimentos de ciclo curto da "nova economia" ligada à tecnologia da informação.

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Eles escrevem que, para incentivar investimentos de ciclo longo, o preço dos bens físicos terá que ter um significativo desvio para cima, para compensar os crescentes riscos envolvidos nesses projetos de longa maturação (a descarbonização da economia global é um deles).

Adicionalmente, como os mercados de commodities não conseguem ampliar a oferta imediatamente para atender a demanda, terá que haver uma substancial "destruição de demanda" via aumento drástico de preços. Os autores exemplificam com o que chamam "de rally histórico" dos preços de gás, focando na situação europeia.

Eles acrescentam que "estoques de quase todos os bens físicos estão sendo pesadamente consumidos, de carros americanos a gás europeu a cátodos de cobre na China".

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Assim, qualquer perturbação de demanda ou oferta causa fortes tremores nesses mercados.

O relatório nota que o ambiente de demanda global enfraquecida de 2018 a 2020 mascarou os problemas de oferta. Na saída da pandemia, entretanto, as políticas sincronizadas de estímulo de muitos países colocaram a demanda para rodar num ritmo mais saudável de novo, e os gargalos apareceram.

Na área energética, os grandes consumidores estão receosos de entrar em contratos de longo prazo de fontes emissoras de carbono. Dessa forma, a transição relacionada ao aquecimento global trará preços de energia mais altos e mais voláteis.

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Além da descarbonização, a guerra comercial, a volta da produção local nos países ricos e a desglobalização são fenômenos que também aumentam os riscos dos investimentos tradicionais de ciclo longo da velha economia.

Em relação a gargalos de transporte, os autores mencionam que a oferta de carrocerias de caminhão está 35% abaixo da média histórica por causa de baixos retornos e das tarifas mais altas enfrentadas por produtores chineses.

O relatório prevê alta do petróleo até US$ 80 no último trimestre deste ano, o que seria um catalisador para atrair investidores de volta para as commodities. Já na Europa, a alta dos preços do gás e da eletricidade, especialmente se o inverno for muito frio, pode ter que se intensificar para destruir demanda, afetando a produção industrial intensiva em energia.

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Os autores notam que isso já vem ocorrendo na China nos últimos três meses, afetando a produção de metais básicos, com destaque para alumínio - que, aliás, atingiu hoje o nível mais alto em 13 anos, chegando a tocar em US$ 3.000 a tonelada, como informa nota do Broadcast de Niviane Magalhães.

Já em relação ao ouro, os autores escrevem que "permanece primariamente como hedge contra um cenário de inflação indesejada e 'ruim', com o Fed atrás da curva".

Finalmente, eles apontam que o preço dos créditos de carbonotambém deve subir (pela substituição forçada da pressionada energia gerada a gás por energia gerada a carvão na Europa, na contramão da agenda ambiental da União Europeia), numa espiral de reforço mútuo em relação aos preços de energia.

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Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 13/9/2021, segunda-feira.

O mundo enfrenta um aperto de grandes proporções no mercado de commodities e bens, com a oferta, relativamente rígida no curto prazo, incapaz de atender a demanda explosiva.

Esse é o tema de um instigante relatório divulgado hoje pelo Goldman Sachs, mas cujo insight mais interessante é que essa situação de desequilíbrio tem menos a ver com a pandemia do que muitos pensam.

Segundo os autores, as sementes do atual estrangulamento da oferta de bens e matérias primas foram plantadas na esteira da grande crise financeira global de 2008 e 2009. Basicamente, os investimentos de longo prazo na "velha economia", como matérias primas, insumos básicos e alguns tipos de produtos físicos, caíram muito, enquanto cresciam os investimentos de ciclo curto da "nova economia" ligada à tecnologia da informação.

Eles escrevem que, para incentivar investimentos de ciclo longo, o preço dos bens físicos terá que ter um significativo desvio para cima, para compensar os crescentes riscos envolvidos nesses projetos de longa maturação (a descarbonização da economia global é um deles).

Adicionalmente, como os mercados de commodities não conseguem ampliar a oferta imediatamente para atender a demanda, terá que haver uma substancial "destruição de demanda" via aumento drástico de preços. Os autores exemplificam com o que chamam "de rally histórico" dos preços de gás, focando na situação europeia.

Eles acrescentam que "estoques de quase todos os bens físicos estão sendo pesadamente consumidos, de carros americanos a gás europeu a cátodos de cobre na China".

Assim, qualquer perturbação de demanda ou oferta causa fortes tremores nesses mercados.

O relatório nota que o ambiente de demanda global enfraquecida de 2018 a 2020 mascarou os problemas de oferta. Na saída da pandemia, entretanto, as políticas sincronizadas de estímulo de muitos países colocaram a demanda para rodar num ritmo mais saudável de novo, e os gargalos apareceram.

Na área energética, os grandes consumidores estão receosos de entrar em contratos de longo prazo de fontes emissoras de carbono. Dessa forma, a transição relacionada ao aquecimento global trará preços de energia mais altos e mais voláteis.

Além da descarbonização, a guerra comercial, a volta da produção local nos países ricos e a desglobalização são fenômenos que também aumentam os riscos dos investimentos tradicionais de ciclo longo da velha economia.

Em relação a gargalos de transporte, os autores mencionam que a oferta de carrocerias de caminhão está 35% abaixo da média histórica por causa de baixos retornos e das tarifas mais altas enfrentadas por produtores chineses.

O relatório prevê alta do petróleo até US$ 80 no último trimestre deste ano, o que seria um catalisador para atrair investidores de volta para as commodities. Já na Europa, a alta dos preços do gás e da eletricidade, especialmente se o inverno for muito frio, pode ter que se intensificar para destruir demanda, afetando a produção industrial intensiva em energia.

Os autores notam que isso já vem ocorrendo na China nos últimos três meses, afetando a produção de metais básicos, com destaque para alumínio - que, aliás, atingiu hoje o nível mais alto em 13 anos, chegando a tocar em US$ 3.000 a tonelada, como informa nota do Broadcast de Niviane Magalhães.

Já em relação ao ouro, os autores escrevem que "permanece primariamente como hedge contra um cenário de inflação indesejada e 'ruim', com o Fed atrás da curva".

Finalmente, eles apontam que o preço dos créditos de carbonotambém deve subir (pela substituição forçada da pressionada energia gerada a gás por energia gerada a carvão na Europa, na contramão da agenda ambiental da União Europeia), numa espiral de reforço mútuo em relação aos preços de energia.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 13/9/2021, segunda-feira.

O mundo enfrenta um aperto de grandes proporções no mercado de commodities e bens, com a oferta, relativamente rígida no curto prazo, incapaz de atender a demanda explosiva.

Esse é o tema de um instigante relatório divulgado hoje pelo Goldman Sachs, mas cujo insight mais interessante é que essa situação de desequilíbrio tem menos a ver com a pandemia do que muitos pensam.

Segundo os autores, as sementes do atual estrangulamento da oferta de bens e matérias primas foram plantadas na esteira da grande crise financeira global de 2008 e 2009. Basicamente, os investimentos de longo prazo na "velha economia", como matérias primas, insumos básicos e alguns tipos de produtos físicos, caíram muito, enquanto cresciam os investimentos de ciclo curto da "nova economia" ligada à tecnologia da informação.

Eles escrevem que, para incentivar investimentos de ciclo longo, o preço dos bens físicos terá que ter um significativo desvio para cima, para compensar os crescentes riscos envolvidos nesses projetos de longa maturação (a descarbonização da economia global é um deles).

Adicionalmente, como os mercados de commodities não conseguem ampliar a oferta imediatamente para atender a demanda, terá que haver uma substancial "destruição de demanda" via aumento drástico de preços. Os autores exemplificam com o que chamam "de rally histórico" dos preços de gás, focando na situação europeia.

Eles acrescentam que "estoques de quase todos os bens físicos estão sendo pesadamente consumidos, de carros americanos a gás europeu a cátodos de cobre na China".

Assim, qualquer perturbação de demanda ou oferta causa fortes tremores nesses mercados.

O relatório nota que o ambiente de demanda global enfraquecida de 2018 a 2020 mascarou os problemas de oferta. Na saída da pandemia, entretanto, as políticas sincronizadas de estímulo de muitos países colocaram a demanda para rodar num ritmo mais saudável de novo, e os gargalos apareceram.

Na área energética, os grandes consumidores estão receosos de entrar em contratos de longo prazo de fontes emissoras de carbono. Dessa forma, a transição relacionada ao aquecimento global trará preços de energia mais altos e mais voláteis.

Além da descarbonização, a guerra comercial, a volta da produção local nos países ricos e a desglobalização são fenômenos que também aumentam os riscos dos investimentos tradicionais de ciclo longo da velha economia.

Em relação a gargalos de transporte, os autores mencionam que a oferta de carrocerias de caminhão está 35% abaixo da média histórica por causa de baixos retornos e das tarifas mais altas enfrentadas por produtores chineses.

O relatório prevê alta do petróleo até US$ 80 no último trimestre deste ano, o que seria um catalisador para atrair investidores de volta para as commodities. Já na Europa, a alta dos preços do gás e da eletricidade, especialmente se o inverno for muito frio, pode ter que se intensificar para destruir demanda, afetando a produção industrial intensiva em energia.

Os autores notam que isso já vem ocorrendo na China nos últimos três meses, afetando a produção de metais básicos, com destaque para alumínio - que, aliás, atingiu hoje o nível mais alto em 13 anos, chegando a tocar em US$ 3.000 a tonelada, como informa nota do Broadcast de Niviane Magalhães.

Já em relação ao ouro, os autores escrevem que "permanece primariamente como hedge contra um cenário de inflação indesejada e 'ruim', com o Fed atrás da curva".

Finalmente, eles apontam que o preço dos créditos de carbonotambém deve subir (pela substituição forçada da pressionada energia gerada a gás por energia gerada a carvão na Europa, na contramão da agenda ambiental da União Europeia), numa espiral de reforço mútuo em relação aos preços de energia.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 13/9/2021, segunda-feira.

O mundo enfrenta um aperto de grandes proporções no mercado de commodities e bens, com a oferta, relativamente rígida no curto prazo, incapaz de atender a demanda explosiva.

Esse é o tema de um instigante relatório divulgado hoje pelo Goldman Sachs, mas cujo insight mais interessante é que essa situação de desequilíbrio tem menos a ver com a pandemia do que muitos pensam.

Segundo os autores, as sementes do atual estrangulamento da oferta de bens e matérias primas foram plantadas na esteira da grande crise financeira global de 2008 e 2009. Basicamente, os investimentos de longo prazo na "velha economia", como matérias primas, insumos básicos e alguns tipos de produtos físicos, caíram muito, enquanto cresciam os investimentos de ciclo curto da "nova economia" ligada à tecnologia da informação.

Eles escrevem que, para incentivar investimentos de ciclo longo, o preço dos bens físicos terá que ter um significativo desvio para cima, para compensar os crescentes riscos envolvidos nesses projetos de longa maturação (a descarbonização da economia global é um deles).

Adicionalmente, como os mercados de commodities não conseguem ampliar a oferta imediatamente para atender a demanda, terá que haver uma substancial "destruição de demanda" via aumento drástico de preços. Os autores exemplificam com o que chamam "de rally histórico" dos preços de gás, focando na situação europeia.

Eles acrescentam que "estoques de quase todos os bens físicos estão sendo pesadamente consumidos, de carros americanos a gás europeu a cátodos de cobre na China".

Assim, qualquer perturbação de demanda ou oferta causa fortes tremores nesses mercados.

O relatório nota que o ambiente de demanda global enfraquecida de 2018 a 2020 mascarou os problemas de oferta. Na saída da pandemia, entretanto, as políticas sincronizadas de estímulo de muitos países colocaram a demanda para rodar num ritmo mais saudável de novo, e os gargalos apareceram.

Na área energética, os grandes consumidores estão receosos de entrar em contratos de longo prazo de fontes emissoras de carbono. Dessa forma, a transição relacionada ao aquecimento global trará preços de energia mais altos e mais voláteis.

Além da descarbonização, a guerra comercial, a volta da produção local nos países ricos e a desglobalização são fenômenos que também aumentam os riscos dos investimentos tradicionais de ciclo longo da velha economia.

Em relação a gargalos de transporte, os autores mencionam que a oferta de carrocerias de caminhão está 35% abaixo da média histórica por causa de baixos retornos e das tarifas mais altas enfrentadas por produtores chineses.

O relatório prevê alta do petróleo até US$ 80 no último trimestre deste ano, o que seria um catalisador para atrair investidores de volta para as commodities. Já na Europa, a alta dos preços do gás e da eletricidade, especialmente se o inverno for muito frio, pode ter que se intensificar para destruir demanda, afetando a produção industrial intensiva em energia.

Os autores notam que isso já vem ocorrendo na China nos últimos três meses, afetando a produção de metais básicos, com destaque para alumínio - que, aliás, atingiu hoje o nível mais alto em 13 anos, chegando a tocar em US$ 3.000 a tonelada, como informa nota do Broadcast de Niviane Magalhães.

Já em relação ao ouro, os autores escrevem que "permanece primariamente como hedge contra um cenário de inflação indesejada e 'ruim', com o Fed atrás da curva".

Finalmente, eles apontam que o preço dos créditos de carbonotambém deve subir (pela substituição forçada da pressionada energia gerada a gás por energia gerada a carvão na Europa, na contramão da agenda ambiental da União Europeia), numa espiral de reforço mútuo em relação aos preços de energia.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 13/9/2021, segunda-feira.

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