Economia e políticas públicas

Opinião|Os riscos da normalidade


Nova estratégia da política econômica parece querer baixar tensão, mas não comprar brigas hoje pode ser uma aposta arriscada.

Por Fernando Dantas

Um interlocutor do Ministério da Fazenda disse há poucos dias, segundo reportagem de O Globo, que "o governo precisa de um choque de normalidade". Esta expressão parece ser uma boa tradução da nova fase da política econômica, com a entrada de Nelson Barbosa na Fazenda. O novo ministro parece ter a intenção de baixar o grau de tensão que tomou conta do País em 2015. Na esfera econômica, este estado permanente de nervos à flor da pele derivou em parte do embate entre o ex-ministro Joaquim Levy, com sua permanente exigência de medidas duras no front fiscal, e políticos e grupos de pressão que naturalmente resistem a estas ações.

É questionável se a palavra "normalidade" pode ser aplicada a uma economia projetada para cair 3% no ano (depois de já ter despencado quase 4%) e registrar uma inflação de 7% ou mais, com desemprego em alta e a provável perda do seu terceiro grau de investimento. Ainda assim, comparado com o choque de 2015, quando o Brasil se viu engolfado por uma crise econômica de dimensão que ninguém previra, 2016 pode em teoria ser o ano de uma difícil, porém previsível, travessia. A normalidade aqui pode ser entendida como a tentativa de encerrar a fase de surtos de pânico nos mercados, caos político e conflitos dentro da equipe econômica.

Faz sentido, portanto, que Barbosa e seus auxiliares venham sinalizando que não há coelhos a tirar da cartola, e que não haverá pacotes ou medidas de grande impacto para tentar interromper a queda da economia.

continua após a publicidade

Um recente interlocutor do governo relatou à coluna que a equipe econômica rejeita a ideia de usar as reservas internacionais para impulsionar a economia - o que é um tanto óbvio, já que se trata de plano sem pé nem cabeça -, mas também, mais significativamente, que considerou o plano de renovação de frota apresentado pela indústria automobilística muito mal feito. Oficialmente, a Fazenda se comprometeu a avaliar as propostas, mas alertou que não há espaço para projetos com subsídios ou equalizações.

Dentro da mesma lógica da "normalidade", um ciclo moderado de alta da Selic a partir da reunião do Copom da próxima semana, que parece ter suporte da Fazenda e do Planalto, é uma forma de negar por meio de uma ação concreta a hipótese da dominância fiscal - que seria o estado mais forte da anormalidade monetária, quando os efeitos da política do Banco Central invertem seus sinais.

Um conhecido economista do mercado financeiro traça o que seria um cenário de normalidade para o ano em termos de política monetária. O BC faz agora um ciclo de aperto de no mínimo 100 pontos-base, e dificilmente de mais de 150. O dólar fecha o ano em torno de R$ 4,20. A inflação em 2016 ainda assim fica acima de 6,5%, ou até mesmo de 7%, a depender de se introduzir a Cide. Por outro lado, caminha-se para uma inflação em torno de 5% em 2017, e o BC já consegue começar a reduzir a Selic no final deste ano.

continua após a publicidade

Este cenário, porém, como o próprio analista acrescenta, não leva em conta "toda a pólvora" que existe acumulada na área política. Para começar, existe a pressão da esquerda petista pela ruptura da atual política econômica. Além disso, quando o Congresso voltar a se reunir, acaba a relativa trégua política, com uma série de conflitos e decisões potencialmente explosivos pela frente: o futuro de Eduardo Cunha, a continuidade da Lava-Jato com as suas repercussões, o desfecho dos conflitos do PMDB, o prosseguimento do processo de impeachment, a apreciação das contas de Dilma pelo Congresso, o veredito do TSE sobre a impugnação da chapa presidencial, as manifestações de rua, etc.

Na coluna passada, escrevi que a menor chance de impeachment na percepção atual, comparada aos piores momentos de 2015, é um possível fator positivo para Barbosa. Mas é bom enfatizar o "possível". As chances de que a situação política evolua novamente numa direção ruim para o governo tampouco é desprezível.

Somando-se a isso um cenário internacional volátil, com muitas incertezas sobre China, Estados Unidos e commodities, não dá para descartar a priori a possibilidade de novos surtos intensos de "anormalidade", com rodadas de estresse dos mercados que poderiam levar o dólar para perto de R$ 5. Neste caso, toda a aposta em restaurar uma certa normalidade e reduzir tensões iria para o ar, e o governo teria de lidar com mais uma elevação do grau de gravidade da crise, e com suas consequências devastadoras.

continua após a publicidade

Uma forma de minimizar esse risco seria o governo atacar com o máximo de energia política possível a agenda de reformas e de redução do gasto obrigatório. Mas, para isso, seria necessário a disposição de comprar brigas, e especialmente de enfrentar a esquerda do PT. Em outras palavras, haveria bem menos espaço para reduzir o grau de tensão política neste momento. A alternativa, mais apaziguadora de ânimos a curtíssimo prazo, é "tocar com a barriga" a continuidade da política econômica, evitando as questões mais espinhosas, e torcendo para que nada dê muito errado nos fronts político e internacional. É uma aposta como qualquer outra, mas já foi perdida no passado recente. (fernando.dantas@estadao.com)

Fernando Dantas é jornalista da Broadcast

Esta coluna foi publicada pela AE-News/Broadcast em 12/1/15, terça-feira.

Um interlocutor do Ministério da Fazenda disse há poucos dias, segundo reportagem de O Globo, que "o governo precisa de um choque de normalidade". Esta expressão parece ser uma boa tradução da nova fase da política econômica, com a entrada de Nelson Barbosa na Fazenda. O novo ministro parece ter a intenção de baixar o grau de tensão que tomou conta do País em 2015. Na esfera econômica, este estado permanente de nervos à flor da pele derivou em parte do embate entre o ex-ministro Joaquim Levy, com sua permanente exigência de medidas duras no front fiscal, e políticos e grupos de pressão que naturalmente resistem a estas ações.

É questionável se a palavra "normalidade" pode ser aplicada a uma economia projetada para cair 3% no ano (depois de já ter despencado quase 4%) e registrar uma inflação de 7% ou mais, com desemprego em alta e a provável perda do seu terceiro grau de investimento. Ainda assim, comparado com o choque de 2015, quando o Brasil se viu engolfado por uma crise econômica de dimensão que ninguém previra, 2016 pode em teoria ser o ano de uma difícil, porém previsível, travessia. A normalidade aqui pode ser entendida como a tentativa de encerrar a fase de surtos de pânico nos mercados, caos político e conflitos dentro da equipe econômica.

Faz sentido, portanto, que Barbosa e seus auxiliares venham sinalizando que não há coelhos a tirar da cartola, e que não haverá pacotes ou medidas de grande impacto para tentar interromper a queda da economia.

Um recente interlocutor do governo relatou à coluna que a equipe econômica rejeita a ideia de usar as reservas internacionais para impulsionar a economia - o que é um tanto óbvio, já que se trata de plano sem pé nem cabeça -, mas também, mais significativamente, que considerou o plano de renovação de frota apresentado pela indústria automobilística muito mal feito. Oficialmente, a Fazenda se comprometeu a avaliar as propostas, mas alertou que não há espaço para projetos com subsídios ou equalizações.

Dentro da mesma lógica da "normalidade", um ciclo moderado de alta da Selic a partir da reunião do Copom da próxima semana, que parece ter suporte da Fazenda e do Planalto, é uma forma de negar por meio de uma ação concreta a hipótese da dominância fiscal - que seria o estado mais forte da anormalidade monetária, quando os efeitos da política do Banco Central invertem seus sinais.

Um conhecido economista do mercado financeiro traça o que seria um cenário de normalidade para o ano em termos de política monetária. O BC faz agora um ciclo de aperto de no mínimo 100 pontos-base, e dificilmente de mais de 150. O dólar fecha o ano em torno de R$ 4,20. A inflação em 2016 ainda assim fica acima de 6,5%, ou até mesmo de 7%, a depender de se introduzir a Cide. Por outro lado, caminha-se para uma inflação em torno de 5% em 2017, e o BC já consegue começar a reduzir a Selic no final deste ano.

Este cenário, porém, como o próprio analista acrescenta, não leva em conta "toda a pólvora" que existe acumulada na área política. Para começar, existe a pressão da esquerda petista pela ruptura da atual política econômica. Além disso, quando o Congresso voltar a se reunir, acaba a relativa trégua política, com uma série de conflitos e decisões potencialmente explosivos pela frente: o futuro de Eduardo Cunha, a continuidade da Lava-Jato com as suas repercussões, o desfecho dos conflitos do PMDB, o prosseguimento do processo de impeachment, a apreciação das contas de Dilma pelo Congresso, o veredito do TSE sobre a impugnação da chapa presidencial, as manifestações de rua, etc.

Na coluna passada, escrevi que a menor chance de impeachment na percepção atual, comparada aos piores momentos de 2015, é um possível fator positivo para Barbosa. Mas é bom enfatizar o "possível". As chances de que a situação política evolua novamente numa direção ruim para o governo tampouco é desprezível.

Somando-se a isso um cenário internacional volátil, com muitas incertezas sobre China, Estados Unidos e commodities, não dá para descartar a priori a possibilidade de novos surtos intensos de "anormalidade", com rodadas de estresse dos mercados que poderiam levar o dólar para perto de R$ 5. Neste caso, toda a aposta em restaurar uma certa normalidade e reduzir tensões iria para o ar, e o governo teria de lidar com mais uma elevação do grau de gravidade da crise, e com suas consequências devastadoras.

Uma forma de minimizar esse risco seria o governo atacar com o máximo de energia política possível a agenda de reformas e de redução do gasto obrigatório. Mas, para isso, seria necessário a disposição de comprar brigas, e especialmente de enfrentar a esquerda do PT. Em outras palavras, haveria bem menos espaço para reduzir o grau de tensão política neste momento. A alternativa, mais apaziguadora de ânimos a curtíssimo prazo, é "tocar com a barriga" a continuidade da política econômica, evitando as questões mais espinhosas, e torcendo para que nada dê muito errado nos fronts político e internacional. É uma aposta como qualquer outra, mas já foi perdida no passado recente. (fernando.dantas@estadao.com)

Fernando Dantas é jornalista da Broadcast

Esta coluna foi publicada pela AE-News/Broadcast em 12/1/15, terça-feira.

Um interlocutor do Ministério da Fazenda disse há poucos dias, segundo reportagem de O Globo, que "o governo precisa de um choque de normalidade". Esta expressão parece ser uma boa tradução da nova fase da política econômica, com a entrada de Nelson Barbosa na Fazenda. O novo ministro parece ter a intenção de baixar o grau de tensão que tomou conta do País em 2015. Na esfera econômica, este estado permanente de nervos à flor da pele derivou em parte do embate entre o ex-ministro Joaquim Levy, com sua permanente exigência de medidas duras no front fiscal, e políticos e grupos de pressão que naturalmente resistem a estas ações.

É questionável se a palavra "normalidade" pode ser aplicada a uma economia projetada para cair 3% no ano (depois de já ter despencado quase 4%) e registrar uma inflação de 7% ou mais, com desemprego em alta e a provável perda do seu terceiro grau de investimento. Ainda assim, comparado com o choque de 2015, quando o Brasil se viu engolfado por uma crise econômica de dimensão que ninguém previra, 2016 pode em teoria ser o ano de uma difícil, porém previsível, travessia. A normalidade aqui pode ser entendida como a tentativa de encerrar a fase de surtos de pânico nos mercados, caos político e conflitos dentro da equipe econômica.

Faz sentido, portanto, que Barbosa e seus auxiliares venham sinalizando que não há coelhos a tirar da cartola, e que não haverá pacotes ou medidas de grande impacto para tentar interromper a queda da economia.

Um recente interlocutor do governo relatou à coluna que a equipe econômica rejeita a ideia de usar as reservas internacionais para impulsionar a economia - o que é um tanto óbvio, já que se trata de plano sem pé nem cabeça -, mas também, mais significativamente, que considerou o plano de renovação de frota apresentado pela indústria automobilística muito mal feito. Oficialmente, a Fazenda se comprometeu a avaliar as propostas, mas alertou que não há espaço para projetos com subsídios ou equalizações.

Dentro da mesma lógica da "normalidade", um ciclo moderado de alta da Selic a partir da reunião do Copom da próxima semana, que parece ter suporte da Fazenda e do Planalto, é uma forma de negar por meio de uma ação concreta a hipótese da dominância fiscal - que seria o estado mais forte da anormalidade monetária, quando os efeitos da política do Banco Central invertem seus sinais.

Um conhecido economista do mercado financeiro traça o que seria um cenário de normalidade para o ano em termos de política monetária. O BC faz agora um ciclo de aperto de no mínimo 100 pontos-base, e dificilmente de mais de 150. O dólar fecha o ano em torno de R$ 4,20. A inflação em 2016 ainda assim fica acima de 6,5%, ou até mesmo de 7%, a depender de se introduzir a Cide. Por outro lado, caminha-se para uma inflação em torno de 5% em 2017, e o BC já consegue começar a reduzir a Selic no final deste ano.

Este cenário, porém, como o próprio analista acrescenta, não leva em conta "toda a pólvora" que existe acumulada na área política. Para começar, existe a pressão da esquerda petista pela ruptura da atual política econômica. Além disso, quando o Congresso voltar a se reunir, acaba a relativa trégua política, com uma série de conflitos e decisões potencialmente explosivos pela frente: o futuro de Eduardo Cunha, a continuidade da Lava-Jato com as suas repercussões, o desfecho dos conflitos do PMDB, o prosseguimento do processo de impeachment, a apreciação das contas de Dilma pelo Congresso, o veredito do TSE sobre a impugnação da chapa presidencial, as manifestações de rua, etc.

Na coluna passada, escrevi que a menor chance de impeachment na percepção atual, comparada aos piores momentos de 2015, é um possível fator positivo para Barbosa. Mas é bom enfatizar o "possível". As chances de que a situação política evolua novamente numa direção ruim para o governo tampouco é desprezível.

Somando-se a isso um cenário internacional volátil, com muitas incertezas sobre China, Estados Unidos e commodities, não dá para descartar a priori a possibilidade de novos surtos intensos de "anormalidade", com rodadas de estresse dos mercados que poderiam levar o dólar para perto de R$ 5. Neste caso, toda a aposta em restaurar uma certa normalidade e reduzir tensões iria para o ar, e o governo teria de lidar com mais uma elevação do grau de gravidade da crise, e com suas consequências devastadoras.

Uma forma de minimizar esse risco seria o governo atacar com o máximo de energia política possível a agenda de reformas e de redução do gasto obrigatório. Mas, para isso, seria necessário a disposição de comprar brigas, e especialmente de enfrentar a esquerda do PT. Em outras palavras, haveria bem menos espaço para reduzir o grau de tensão política neste momento. A alternativa, mais apaziguadora de ânimos a curtíssimo prazo, é "tocar com a barriga" a continuidade da política econômica, evitando as questões mais espinhosas, e torcendo para que nada dê muito errado nos fronts político e internacional. É uma aposta como qualquer outra, mas já foi perdida no passado recente. (fernando.dantas@estadao.com)

Fernando Dantas é jornalista da Broadcast

Esta coluna foi publicada pela AE-News/Broadcast em 12/1/15, terça-feira.

Um interlocutor do Ministério da Fazenda disse há poucos dias, segundo reportagem de O Globo, que "o governo precisa de um choque de normalidade". Esta expressão parece ser uma boa tradução da nova fase da política econômica, com a entrada de Nelson Barbosa na Fazenda. O novo ministro parece ter a intenção de baixar o grau de tensão que tomou conta do País em 2015. Na esfera econômica, este estado permanente de nervos à flor da pele derivou em parte do embate entre o ex-ministro Joaquim Levy, com sua permanente exigência de medidas duras no front fiscal, e políticos e grupos de pressão que naturalmente resistem a estas ações.

É questionável se a palavra "normalidade" pode ser aplicada a uma economia projetada para cair 3% no ano (depois de já ter despencado quase 4%) e registrar uma inflação de 7% ou mais, com desemprego em alta e a provável perda do seu terceiro grau de investimento. Ainda assim, comparado com o choque de 2015, quando o Brasil se viu engolfado por uma crise econômica de dimensão que ninguém previra, 2016 pode em teoria ser o ano de uma difícil, porém previsível, travessia. A normalidade aqui pode ser entendida como a tentativa de encerrar a fase de surtos de pânico nos mercados, caos político e conflitos dentro da equipe econômica.

Faz sentido, portanto, que Barbosa e seus auxiliares venham sinalizando que não há coelhos a tirar da cartola, e que não haverá pacotes ou medidas de grande impacto para tentar interromper a queda da economia.

Um recente interlocutor do governo relatou à coluna que a equipe econômica rejeita a ideia de usar as reservas internacionais para impulsionar a economia - o que é um tanto óbvio, já que se trata de plano sem pé nem cabeça -, mas também, mais significativamente, que considerou o plano de renovação de frota apresentado pela indústria automobilística muito mal feito. Oficialmente, a Fazenda se comprometeu a avaliar as propostas, mas alertou que não há espaço para projetos com subsídios ou equalizações.

Dentro da mesma lógica da "normalidade", um ciclo moderado de alta da Selic a partir da reunião do Copom da próxima semana, que parece ter suporte da Fazenda e do Planalto, é uma forma de negar por meio de uma ação concreta a hipótese da dominância fiscal - que seria o estado mais forte da anormalidade monetária, quando os efeitos da política do Banco Central invertem seus sinais.

Um conhecido economista do mercado financeiro traça o que seria um cenário de normalidade para o ano em termos de política monetária. O BC faz agora um ciclo de aperto de no mínimo 100 pontos-base, e dificilmente de mais de 150. O dólar fecha o ano em torno de R$ 4,20. A inflação em 2016 ainda assim fica acima de 6,5%, ou até mesmo de 7%, a depender de se introduzir a Cide. Por outro lado, caminha-se para uma inflação em torno de 5% em 2017, e o BC já consegue começar a reduzir a Selic no final deste ano.

Este cenário, porém, como o próprio analista acrescenta, não leva em conta "toda a pólvora" que existe acumulada na área política. Para começar, existe a pressão da esquerda petista pela ruptura da atual política econômica. Além disso, quando o Congresso voltar a se reunir, acaba a relativa trégua política, com uma série de conflitos e decisões potencialmente explosivos pela frente: o futuro de Eduardo Cunha, a continuidade da Lava-Jato com as suas repercussões, o desfecho dos conflitos do PMDB, o prosseguimento do processo de impeachment, a apreciação das contas de Dilma pelo Congresso, o veredito do TSE sobre a impugnação da chapa presidencial, as manifestações de rua, etc.

Na coluna passada, escrevi que a menor chance de impeachment na percepção atual, comparada aos piores momentos de 2015, é um possível fator positivo para Barbosa. Mas é bom enfatizar o "possível". As chances de que a situação política evolua novamente numa direção ruim para o governo tampouco é desprezível.

Somando-se a isso um cenário internacional volátil, com muitas incertezas sobre China, Estados Unidos e commodities, não dá para descartar a priori a possibilidade de novos surtos intensos de "anormalidade", com rodadas de estresse dos mercados que poderiam levar o dólar para perto de R$ 5. Neste caso, toda a aposta em restaurar uma certa normalidade e reduzir tensões iria para o ar, e o governo teria de lidar com mais uma elevação do grau de gravidade da crise, e com suas consequências devastadoras.

Uma forma de minimizar esse risco seria o governo atacar com o máximo de energia política possível a agenda de reformas e de redução do gasto obrigatório. Mas, para isso, seria necessário a disposição de comprar brigas, e especialmente de enfrentar a esquerda do PT. Em outras palavras, haveria bem menos espaço para reduzir o grau de tensão política neste momento. A alternativa, mais apaziguadora de ânimos a curtíssimo prazo, é "tocar com a barriga" a continuidade da política econômica, evitando as questões mais espinhosas, e torcendo para que nada dê muito errado nos fronts político e internacional. É uma aposta como qualquer outra, mas já foi perdida no passado recente. (fernando.dantas@estadao.com)

Fernando Dantas é jornalista da Broadcast

Esta coluna foi publicada pela AE-News/Broadcast em 12/1/15, terça-feira.

Opinião por Fernando Dantas

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.