GENEBRA - Num saco de papel, clientes privilegiados dos discretos e sofisticados bancos suíços carregavam até US$ 1 milhão em espécie pelas ruas de Zurique. O ato não era isolado e nem fruto de um gesto irresponsável do dono da conta. Mas uma sugestão da própria gerência do banco, o Credit Suisse.
Isso é o que revela um processo conduzido nos EUA e que acusa a banqueira Susanne Meier de ajudar clientes a lavar milhões de dólares. Ela era a responsável do "desk" da América do Norte do banco em Zurique e, se condenada, pode pegar até cinco anos de prisão.
Nesta semana, a banqueira admitiu seu crime de "conspirar para fraudar os EUA". De acordo com seu depoimento, clientes que passavam a ter problemas com o fisco americano eram orientados pelo Credit Suisse a fechar a conta e buscar um novo banco que aceitasse esconder o dinheiro. Sempre na Suíça.
Tudo já estava combinado com os bancos parceiros. O cliente retirava os milhões em dinheiro da agência do Credit Suisse em Zurique, andava por alguns metros e logo encontrava outro disposto a receber a fortuna, sem fazer perguntas sobre sua origem e aceitando a bolsa de papel.
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A partir de 2008, o Credit Suisse começou a ser pressionado pelas autoridades de Washington a passar o nome dos clientes americanos que dispunham de recursos fora dos EUA. Internamente, o banco passou a sugerir a seus clientes que buscassem, na Suíça mesmo, outros bancos, como o Bank Frey ou o Wegelin.
Em maio de 2014, o Credit Suisse admitiu ter ajudado seus clientes a escapar do fisco americano e foi obrigado a pagar uma multa de US$ 2 bilhões.
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A banqueira, agora, fechou um acordo de delação premiada e admitiu ter participado de uma "grande conspiração para ajudar os contribuintes americanos a evadir impostos ao esconder ativos e renda em contas secretas na Suíça". Seu trabalho foi mantido entre 2002 e 2011.
Um total de até 1,5 mil clientes teriam passado por sua gestão, com grande parte deles residindo na Flórida, Nova Iorque e Chicago. No total, esses clientes acumulavam uma fortuna de US$ 400 milhões, com uma renúncia fiscal de US$ 9,5 milhões.
Manobras. Para não ser pega nos EUA em suas viagens para visitar clientes, a banqueira do Credit Suisse adotava um procedimento cuidadosamente preparado pela instituição.
Nenhuma correspondência do banco para o cliente era enviada aos EUA. Era a banqueira quem levava os extratos em mãos até os correntistas. Mas o extrato era impresso em folhas sem o nome do banco. Assim, se fossem consultados pela polícia na aduana americana, não haveria prova de qual banco se referia. O nome do cliente também jamais aparecia no extrato.
Mesmo seus cartões de visitas eram fabricados especialmente para enganar as autoridades. Ela jamais se apresentava como uma banqueira e apresentava um endereço diferente e uma empresa fictícia para "esconder a natureza e objetivo de seus negócios".
Outra manobra utilizada era a de organizar para que clientes retirassem dinheiro em agências do Credit Suisse em Bahamas.