Ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central

Opinião|Escassez de dólares aprofunda crise argentina e desabastecimento vai de alimentos a carros


País tem apenas US$ 27 bilhões em reservas e, ainda assim, comprometidas com dívidas; Brasil, ao contrário, tem hoje US$ 342 bilhões em reservas

Por Henrique Meirelles
Atualização:

A Argentina sofre mais uma grave crise financeira, que une hiperinflação e baixas reservas internacionais. A escassez de dólares atinge proporções dramáticas, a ponto de haver desabastecimento de produtos importados, desde alimentos até carros.

Na década de 1980, o Brasil ficou insolvente como a Argentina por falta de dólares para bancar importações de petróleo. Foi quando Mário Henrique Simonsen cunhou a frase “a inflação aleija, mas o câmbio mata”. Quase ninguém se lembra disso porque o problema foi superado.

continua após a publicidade

Algo que não é muito comentado porque não traz problemas atualmente são as reservas internacionais brasileiras. As da Argentina estão em US$ 27 bilhões, mas a maior parte está comprometida com dívidas. O Brasil tem hoje US$ 342 bilhões em reservas (relatório do BC de 11 de setembro), valor mais do que confortável. Mas nem sempre foi assim.

Quando assumi a presidência do Banco Central, em 2003, o Brasil tinha US$ 36 bilhões de reservas e devia ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Como o País perdia recursos – o que entrava na balança de pagamentos era menos do que o que saía –, corria o risco de ficar insolvente. O processo de saída de dólares havia começado meses antes, devido à tensão em torno do que seria o governo Lula.

Quando o governo assumiu, iniciamos no BC um processo de controle da inflação, que depois envolveu aperfeiçoamentos na área de crédito e abriu a possibilidade de aproveitarmos o aumento das exportações para acumular reservas. Quando deixei a presidência do BC, em 2010, o Brasil tinha US$ 288 bilhões em reservas internacionais. É talvez um dos mais importantes ativos do País.

continua após a publicidade
País enfrenta escassez de alimentos e, o que tem, é vendido a altos preços Foto: Natacha Pisarenko/AP

Para entender a importância disso, basta pensar na crise de 2015/16, quando o PIB caiu mais de 5% de junho de 2015 a maio de 2016. A situação era grave, mas era uma crise de raízes fiscais, ou seja, causada por excesso de gastos. Resolve-se isso como em 2016, com a retomada do controle dos gastos públicos. Não ter dólares para pagar importações e cumprir compromissos é um problema mais grave.

Um país com reservas robustas não cai no descrédito porque o mercado sabe que o Banco Central poderá usá-las. Foi o que fizemos na crise de 2008: quando o mercado de crédito se fechou, anunciamos que o BC emprestaria reservas suficientes para substituir os bancos internacionais durante um ano.

continua após a publicidade

Além disso, venderia até US$ 50 bilhões no mercado de dólares para entrega futura, o que permitiu às empresas quitarem seus compromissos. A crise passou. Sem reservas, a Argentina não tem esse recurso à mão.

A Argentina sofre mais uma grave crise financeira, que une hiperinflação e baixas reservas internacionais. A escassez de dólares atinge proporções dramáticas, a ponto de haver desabastecimento de produtos importados, desde alimentos até carros.

Na década de 1980, o Brasil ficou insolvente como a Argentina por falta de dólares para bancar importações de petróleo. Foi quando Mário Henrique Simonsen cunhou a frase “a inflação aleija, mas o câmbio mata”. Quase ninguém se lembra disso porque o problema foi superado.

Algo que não é muito comentado porque não traz problemas atualmente são as reservas internacionais brasileiras. As da Argentina estão em US$ 27 bilhões, mas a maior parte está comprometida com dívidas. O Brasil tem hoje US$ 342 bilhões em reservas (relatório do BC de 11 de setembro), valor mais do que confortável. Mas nem sempre foi assim.

Quando assumi a presidência do Banco Central, em 2003, o Brasil tinha US$ 36 bilhões de reservas e devia ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Como o País perdia recursos – o que entrava na balança de pagamentos era menos do que o que saía –, corria o risco de ficar insolvente. O processo de saída de dólares havia começado meses antes, devido à tensão em torno do que seria o governo Lula.

Quando o governo assumiu, iniciamos no BC um processo de controle da inflação, que depois envolveu aperfeiçoamentos na área de crédito e abriu a possibilidade de aproveitarmos o aumento das exportações para acumular reservas. Quando deixei a presidência do BC, em 2010, o Brasil tinha US$ 288 bilhões em reservas internacionais. É talvez um dos mais importantes ativos do País.

País enfrenta escassez de alimentos e, o que tem, é vendido a altos preços Foto: Natacha Pisarenko/AP

Para entender a importância disso, basta pensar na crise de 2015/16, quando o PIB caiu mais de 5% de junho de 2015 a maio de 2016. A situação era grave, mas era uma crise de raízes fiscais, ou seja, causada por excesso de gastos. Resolve-se isso como em 2016, com a retomada do controle dos gastos públicos. Não ter dólares para pagar importações e cumprir compromissos é um problema mais grave.

Um país com reservas robustas não cai no descrédito porque o mercado sabe que o Banco Central poderá usá-las. Foi o que fizemos na crise de 2008: quando o mercado de crédito se fechou, anunciamos que o BC emprestaria reservas suficientes para substituir os bancos internacionais durante um ano.

Além disso, venderia até US$ 50 bilhões no mercado de dólares para entrega futura, o que permitiu às empresas quitarem seus compromissos. A crise passou. Sem reservas, a Argentina não tem esse recurso à mão.

A Argentina sofre mais uma grave crise financeira, que une hiperinflação e baixas reservas internacionais. A escassez de dólares atinge proporções dramáticas, a ponto de haver desabastecimento de produtos importados, desde alimentos até carros.

Na década de 1980, o Brasil ficou insolvente como a Argentina por falta de dólares para bancar importações de petróleo. Foi quando Mário Henrique Simonsen cunhou a frase “a inflação aleija, mas o câmbio mata”. Quase ninguém se lembra disso porque o problema foi superado.

Algo que não é muito comentado porque não traz problemas atualmente são as reservas internacionais brasileiras. As da Argentina estão em US$ 27 bilhões, mas a maior parte está comprometida com dívidas. O Brasil tem hoje US$ 342 bilhões em reservas (relatório do BC de 11 de setembro), valor mais do que confortável. Mas nem sempre foi assim.

Quando assumi a presidência do Banco Central, em 2003, o Brasil tinha US$ 36 bilhões de reservas e devia ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Como o País perdia recursos – o que entrava na balança de pagamentos era menos do que o que saía –, corria o risco de ficar insolvente. O processo de saída de dólares havia começado meses antes, devido à tensão em torno do que seria o governo Lula.

Quando o governo assumiu, iniciamos no BC um processo de controle da inflação, que depois envolveu aperfeiçoamentos na área de crédito e abriu a possibilidade de aproveitarmos o aumento das exportações para acumular reservas. Quando deixei a presidência do BC, em 2010, o Brasil tinha US$ 288 bilhões em reservas internacionais. É talvez um dos mais importantes ativos do País.

País enfrenta escassez de alimentos e, o que tem, é vendido a altos preços Foto: Natacha Pisarenko/AP

Para entender a importância disso, basta pensar na crise de 2015/16, quando o PIB caiu mais de 5% de junho de 2015 a maio de 2016. A situação era grave, mas era uma crise de raízes fiscais, ou seja, causada por excesso de gastos. Resolve-se isso como em 2016, com a retomada do controle dos gastos públicos. Não ter dólares para pagar importações e cumprir compromissos é um problema mais grave.

Um país com reservas robustas não cai no descrédito porque o mercado sabe que o Banco Central poderá usá-las. Foi o que fizemos na crise de 2008: quando o mercado de crédito se fechou, anunciamos que o BC emprestaria reservas suficientes para substituir os bancos internacionais durante um ano.

Além disso, venderia até US$ 50 bilhões no mercado de dólares para entrega futura, o que permitiu às empresas quitarem seus compromissos. A crise passou. Sem reservas, a Argentina não tem esse recurso à mão.

A Argentina sofre mais uma grave crise financeira, que une hiperinflação e baixas reservas internacionais. A escassez de dólares atinge proporções dramáticas, a ponto de haver desabastecimento de produtos importados, desde alimentos até carros.

Na década de 1980, o Brasil ficou insolvente como a Argentina por falta de dólares para bancar importações de petróleo. Foi quando Mário Henrique Simonsen cunhou a frase “a inflação aleija, mas o câmbio mata”. Quase ninguém se lembra disso porque o problema foi superado.

Algo que não é muito comentado porque não traz problemas atualmente são as reservas internacionais brasileiras. As da Argentina estão em US$ 27 bilhões, mas a maior parte está comprometida com dívidas. O Brasil tem hoje US$ 342 bilhões em reservas (relatório do BC de 11 de setembro), valor mais do que confortável. Mas nem sempre foi assim.

Quando assumi a presidência do Banco Central, em 2003, o Brasil tinha US$ 36 bilhões de reservas e devia ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Como o País perdia recursos – o que entrava na balança de pagamentos era menos do que o que saía –, corria o risco de ficar insolvente. O processo de saída de dólares havia começado meses antes, devido à tensão em torno do que seria o governo Lula.

Quando o governo assumiu, iniciamos no BC um processo de controle da inflação, que depois envolveu aperfeiçoamentos na área de crédito e abriu a possibilidade de aproveitarmos o aumento das exportações para acumular reservas. Quando deixei a presidência do BC, em 2010, o Brasil tinha US$ 288 bilhões em reservas internacionais. É talvez um dos mais importantes ativos do País.

País enfrenta escassez de alimentos e, o que tem, é vendido a altos preços Foto: Natacha Pisarenko/AP

Para entender a importância disso, basta pensar na crise de 2015/16, quando o PIB caiu mais de 5% de junho de 2015 a maio de 2016. A situação era grave, mas era uma crise de raízes fiscais, ou seja, causada por excesso de gastos. Resolve-se isso como em 2016, com a retomada do controle dos gastos públicos. Não ter dólares para pagar importações e cumprir compromissos é um problema mais grave.

Um país com reservas robustas não cai no descrédito porque o mercado sabe que o Banco Central poderá usá-las. Foi o que fizemos na crise de 2008: quando o mercado de crédito se fechou, anunciamos que o BC emprestaria reservas suficientes para substituir os bancos internacionais durante um ano.

Além disso, venderia até US$ 50 bilhões no mercado de dólares para entrega futura, o que permitiu às empresas quitarem seus compromissos. A crise passou. Sem reservas, a Argentina não tem esse recurso à mão.

Opinião por Henrique Meirelles

Ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.