RIO – O atual gestor do Hotel Glória, o grupo árabe Mubadala, pretende vender 100% do prédio histórico, aberto ao público em 1922 no Rio de Janeiro. Arrematado em 2008 pelo empresário Eike Batista, o imóvel é conhecido por ter abrigado o primeiro cinco estrelas do País, que hospedou 19 presidentes da República, mas está abandonado desde 2013. O fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos contratou a BFIN Serviços Financeiros como assessora na busca por potenciais investidores.
O grupo árabe recebeu o Hotel Glória em 2016 como parte da reestruturação da dívida de US$ 2 bilhões do empresário com o Mubadala, dono de US$ 229 bilhões em ativos sob gestão. Naquela época, as obras no hotel já estavam paradas havia três anos, como consequência da derrocada financeira do Grupo X.
O então bilionário Eike Batista comprou o empreendimento em 2008, por R$ 80 milhões. Anunciou, na época, uma grande reforma do hotel, que seria transformado em um luxuoso seis estrelas. "Vamos resgatar o charme dos anos 1920", prometeu. A ideia era terminar a obra a tempo de aproveitar a Copa 2014 e a Olimpíada Rio 2016, mas isso não aconteceu. Com a capacidade do setor hoteleiro do Rio ampliada após os grandes eventos, o desafio de fazer o hotel decolar tende a se tornar maior.
Vista para o Pão de Açúcar
Braço do grupo Brookfield, a BFIN é uma assessoria financeira especializada em mercado imobiliário. Uma apresentação a investidores batizada de "Project Marine" circula no mercado carioca. Para seduzir investidores estrangeiros, a assessoria vende o Glória como "oportunidade única de retrofit de um dos imóveis mais icônicos do Brasil", com vista panorâmica para a Baía de Guanabara e o Pão de Açúcar. Explica ainda que a legislação vigente no Rio é flexível, permitindo o uso hoteleiro ou residencial do imóvel.
O material publicitário destaca a localização estratégica do hotel, que combina a proximidade ao centro financeiro da cidade e a uma área residencial, além de estar a apenas dois quilômetros do Aeroporto Santos Dumont e a dez minutos da praia de Copacabana. Os termos financeiros da transação não são detalhados. Os candidatos à compra receberão um Memorando Confidencial de Informações com os dados e deverão submeter uma oferta não vinculante à análise. Procurados, Mubadala e BFIN não quiseram comentar a negociação.
Segundo a descrição da BFIN, o estágio atual da reforma permite a fácil adaptação do projeto. Hoje, o Mubadala faz apenas a manutenção do prédio. Nas últimas semanas, o Hotel Glória voltou aos holofotes depois que circulou na imprensa a informação de que uma inspeção feita por engenheiros convidados pela prefeitura do Rio teria dado um parecer recomendando a implosão do Glória. Procurada pelo Estadão/Broadcast, a prefeitura do Rio negou que tenha realizado qualquer vistoria no local.
Especialista no setor imobiliário carioca, o diretor-geral da Sergio Castro Imóveis, Cláudio Castro, aponta dois potenciais perfis de compradores para o Glória. Um é uma rede hoteleira de grande porte; outro, uma incorporadora que queira repetir ali o bem sucedido modelo adotado pela Cyrela no edifício Hilton Santos, no Morro da Viúva, área nobre da zona sul carioca.
Assim como o Glória, o imóvel que pertencia ao Clube de Regatas do Flamengo chegou a ficar nas mãos de Eike. O projeto do empresário de transformar o prédio de 150 apartamentos em um hotel com 450 quartos não se concretizou. O clube fez um acordo com a RJZ Cyrela que está transformando o edifício Hilton Santos em um condomínio residencial de luxo. O retrofit, batizado de Rio by Yoo, teve 104 unidades postas à venda por até R$ 3,9 milhões (R$ 23.416,13 o metro quadrado), das quais 98% já foram vendidas. A entrega será em 2021.
Castro avalia que a vocação do Glória como hotel também permanece, mas acredita em um projeto mais realista que o seis-estrelas proposto pelo fundador do Grupo X. Para o especialista, após chegar ao auge da crise, a hotelaria carioca começa a se recuperar. O executivo diz que atualmente está atendendo ao menos cinco grupos interessados em fazer negócios na área no Rio.