Investidor festeja novas empresas de tecnologia chinesas


Investimento é cercado de precauções pelas dificuldades de um mercado cujos dados são pouco confiáveis, mas retorno compensa

Por RON GLUCKMAN e PEQUIM

Quando Gay Rieschel se mudou para a China, em 2005, sua intenção era descansar. Durante 20 anos, ele se movimentara continuamente do Vale do Silício para a Ásia, mais recentemente como administrador de investimentos na área de tecnologia, na esteira do boom das ponto.com. Mas a China exercia uma atração irresistível em Rieschel, um experiente investidor. Neste país dotado de enorme potencial, com uma classe média em expansão, começavam a despontar as empresas de internet. Poucos meses depois da mudança, Rieschel fundou com alguns sócios a Qiming Venture Partners, na época uma das poucas companhias de investimentos para empresas nascentes, as startups. "Eu sou uma pessoa até certo ponto viciada em adrenalina", contou Rieschel, 55. "Se você gosta de mudanças e de ambiguidade, nada melhor do que a China." Seu espírito pioneiro foi recompensado. A Qiming, que atualmente administra mais de US$ 1 bilhão, é uma das maiores empresas de investimentos da região, concentrada no setor de tecnologia da informação, tecnologia limpa e prestadoras de serviços de saúde. Sua lista de clientes inclui grandes instituições dos EUA, como a Princeton University Investment Company, a Robert Wood Johnson Foundation, a Harvard Management Company e o Commonfund. Rieschel acha que a situação atual é excelente para as startups. No ano passado, 138 empresas chinesas financiadas por capital de risco foram listadas em bolsa na China ou no exterior, captando, ao que se calcula, US$ 21 bilhões, segundo a VentureSource. Embora este ano as ofertas públicas tenham diminuído, a China continua a ser um dos mercados mais ativos. Quando a Qiming criou o terceiro e maior fundo, de US$ 450 milhões, este ano, ela o fechou para captação poucas semanas mais tarde. No entanto, o ambiente continua traiçoeiro. O país carece de uma regulamentação forte, os dados do mercado são limitados e os registros financeiros podem ser pouco confiáveis. Rieschel atribui o sucesso da Qiming à pesquisa incessante. A empresa passou quase um ano analisando o ambiente das redes sociais chinesas antes de comprar uma participação na Kaixin, que competia ferozmente com a Renren para se tornar o Facebook da China A situação contábil das empresas é uma das principais preocupações no país, porque "as auditorias não são confiáveis", disse Rieschel.Seus funcionários, que avaliavam uma companhia de serviços para os clientes em Pequim, usaram os recibos para conferir os registros financeiros, porque queriam entender "se o fluxo de caixa que a empresa apresentava correspondia à realidade", e determinar o "custo de aquisição de clientes". No final, a Qiming decidiu investir na empresa, que no entanto não quis identificar. Para proteger-se ainda mais, a Qiming costuma concentrar-se nas startups que são as primeiras ou as segundas em seu nicho específico, porque provavelmente serão mais lucrativas. Nos últimos anos, a empresa comprou participações em companhias que lideram na área de tecnologia da informação, como a ChinaCache, uma rede distribuidora de conteúdo; a Jiayuan, um site para encontrar pessoas online; e a Dianping.com, um site de restaurantes e de estilo de vida. Outra companhia da carteira, a Desano, é uma fornecedora de laboratórios farmacêuticos ocidentais especializados em medicamentos genéricos contra a aids. "As precauções que é preciso tomar num negócio aqui são completamente diferentes do que é nos Estados Unidos", disse Rieschel. "Nos EUA, você pode falar com um advogado, com outros investidores, analistas e conseguir informações. Aqui, as precauções são muito maiores." Quando a Qiming decide investir numa companhia, a equipe trabalha lado a lado com sua administração. Rieschel muitas vezes ajuda a recrutar executivos e a intermediar as relações com altos funcionários do governo, cruciais para percorrer os meandros da burocracia. Ele faz parte do conselho de administração de seis empresas da carteira da Qiming: Alltech, Touch Media, Tigermed, LP Amina, Lanzatech e Appconomy. "A organização ajuda em tudo: estratégia, recrutamento, finanças", comentou McCormack da Mustang Venture. "É o modelo clássico do Vale do Silício." As semelhanças são propositais. É que Rieschel e os dois outros fundadores, Duane Kuang e J.P. Gan, aperfeiçoaram suas competências no campo dos investimentos nos Estados Unidos. Depois de se formar no Reed College, em Portland, Oregon, Rieschel, que trabalhara de noite numa mercearia, conseguiu um cargo de gerente da Intel, onde testava circuitos integrados. Em 1984, começou a trabalhar numa startup, a Sequent Computer, e mudou-se para o Japão em 1989 para ocupar os cargos de diretor gerente da joint-venture Sequent-Panasonic e de gerente geral da Sequent na Ásia. Quatro anos mais tarde, regressou aos EUA, onde era encarregado de negociações para a Cisco Systems. Nessa função, ajudou a Cisco Japan a vender 25% de suas operações a um consórcio de 12 parceiros e investidores, inclusive o Softbank, que ficou com 12%, ou quase a metade do negócio. O Softbank investiu US$ 12 milhões no negócio, e saiu em 2000 com um ganho de US$ 550 milhões, US$ 450 milhões em equipamentos e US$ 650 milhões em financiamentos para o seu Softbank Asia Infrastructure Fund. Em 1995, o incansável fundador do Softbank, Masayoshi Son, escolheu Rieschel para dirigir um fundo de investimentos voltado às startups que operavam na internet nos EUA. Era o início do boom das ponto.com, e ele adquiriu participações em dezenas de empresas, como a Yahoo e a Buy.com. Nos três anos seguintes, os fundos do Softbank registraram ganhos anuais de 125 a 200%. Mas a crise foi igualmente espetacular. Em 2000, os fundos do Softbank perderam 75% do seu valor, enquanto as ações da Softbank Corporation caíam 80% em um período de dois meses; Son perdeu, ao que se calcula, US$ 47 bilhões de seu patrimônio pessoal. "Eu me senti destruído", disse Rieschel falando daquela época. "Tive de tomar decisões muito difíceis". Entre mais de 100 companhias, precisou escolher quais teria de abandonar. Mais doloroso foi despedir parceiros que tinham sido seus amigos. "Foi preciso fazer uma verdadeira seleção, uma seleção que afetou meus sentimentos." "Trabalhei em Tóquio e no Vale do Silício durante a bolha das dot.com, e aquilo foi uma loucura", ele disse. "Mas nem chega perto do que acontece aqui.""Costumo dizer que é como numa partida de futebol americano", acrescentou. "A gente senta no banco e fica pensando: Puxa, estes jogadores são enormes. Então você entra no jogo, e vê não só que eles são enormes como também que se movimentam com extrema rapidez. Na China, o que ocorre é uma combinação de velocidade e de tamanho."

Quando Gay Rieschel se mudou para a China, em 2005, sua intenção era descansar. Durante 20 anos, ele se movimentara continuamente do Vale do Silício para a Ásia, mais recentemente como administrador de investimentos na área de tecnologia, na esteira do boom das ponto.com. Mas a China exercia uma atração irresistível em Rieschel, um experiente investidor. Neste país dotado de enorme potencial, com uma classe média em expansão, começavam a despontar as empresas de internet. Poucos meses depois da mudança, Rieschel fundou com alguns sócios a Qiming Venture Partners, na época uma das poucas companhias de investimentos para empresas nascentes, as startups. "Eu sou uma pessoa até certo ponto viciada em adrenalina", contou Rieschel, 55. "Se você gosta de mudanças e de ambiguidade, nada melhor do que a China." Seu espírito pioneiro foi recompensado. A Qiming, que atualmente administra mais de US$ 1 bilhão, é uma das maiores empresas de investimentos da região, concentrada no setor de tecnologia da informação, tecnologia limpa e prestadoras de serviços de saúde. Sua lista de clientes inclui grandes instituições dos EUA, como a Princeton University Investment Company, a Robert Wood Johnson Foundation, a Harvard Management Company e o Commonfund. Rieschel acha que a situação atual é excelente para as startups. No ano passado, 138 empresas chinesas financiadas por capital de risco foram listadas em bolsa na China ou no exterior, captando, ao que se calcula, US$ 21 bilhões, segundo a VentureSource. Embora este ano as ofertas públicas tenham diminuído, a China continua a ser um dos mercados mais ativos. Quando a Qiming criou o terceiro e maior fundo, de US$ 450 milhões, este ano, ela o fechou para captação poucas semanas mais tarde. No entanto, o ambiente continua traiçoeiro. O país carece de uma regulamentação forte, os dados do mercado são limitados e os registros financeiros podem ser pouco confiáveis. Rieschel atribui o sucesso da Qiming à pesquisa incessante. A empresa passou quase um ano analisando o ambiente das redes sociais chinesas antes de comprar uma participação na Kaixin, que competia ferozmente com a Renren para se tornar o Facebook da China A situação contábil das empresas é uma das principais preocupações no país, porque "as auditorias não são confiáveis", disse Rieschel.Seus funcionários, que avaliavam uma companhia de serviços para os clientes em Pequim, usaram os recibos para conferir os registros financeiros, porque queriam entender "se o fluxo de caixa que a empresa apresentava correspondia à realidade", e determinar o "custo de aquisição de clientes". No final, a Qiming decidiu investir na empresa, que no entanto não quis identificar. Para proteger-se ainda mais, a Qiming costuma concentrar-se nas startups que são as primeiras ou as segundas em seu nicho específico, porque provavelmente serão mais lucrativas. Nos últimos anos, a empresa comprou participações em companhias que lideram na área de tecnologia da informação, como a ChinaCache, uma rede distribuidora de conteúdo; a Jiayuan, um site para encontrar pessoas online; e a Dianping.com, um site de restaurantes e de estilo de vida. Outra companhia da carteira, a Desano, é uma fornecedora de laboratórios farmacêuticos ocidentais especializados em medicamentos genéricos contra a aids. "As precauções que é preciso tomar num negócio aqui são completamente diferentes do que é nos Estados Unidos", disse Rieschel. "Nos EUA, você pode falar com um advogado, com outros investidores, analistas e conseguir informações. Aqui, as precauções são muito maiores." Quando a Qiming decide investir numa companhia, a equipe trabalha lado a lado com sua administração. Rieschel muitas vezes ajuda a recrutar executivos e a intermediar as relações com altos funcionários do governo, cruciais para percorrer os meandros da burocracia. Ele faz parte do conselho de administração de seis empresas da carteira da Qiming: Alltech, Touch Media, Tigermed, LP Amina, Lanzatech e Appconomy. "A organização ajuda em tudo: estratégia, recrutamento, finanças", comentou McCormack da Mustang Venture. "É o modelo clássico do Vale do Silício." As semelhanças são propositais. É que Rieschel e os dois outros fundadores, Duane Kuang e J.P. Gan, aperfeiçoaram suas competências no campo dos investimentos nos Estados Unidos. Depois de se formar no Reed College, em Portland, Oregon, Rieschel, que trabalhara de noite numa mercearia, conseguiu um cargo de gerente da Intel, onde testava circuitos integrados. Em 1984, começou a trabalhar numa startup, a Sequent Computer, e mudou-se para o Japão em 1989 para ocupar os cargos de diretor gerente da joint-venture Sequent-Panasonic e de gerente geral da Sequent na Ásia. Quatro anos mais tarde, regressou aos EUA, onde era encarregado de negociações para a Cisco Systems. Nessa função, ajudou a Cisco Japan a vender 25% de suas operações a um consórcio de 12 parceiros e investidores, inclusive o Softbank, que ficou com 12%, ou quase a metade do negócio. O Softbank investiu US$ 12 milhões no negócio, e saiu em 2000 com um ganho de US$ 550 milhões, US$ 450 milhões em equipamentos e US$ 650 milhões em financiamentos para o seu Softbank Asia Infrastructure Fund. Em 1995, o incansável fundador do Softbank, Masayoshi Son, escolheu Rieschel para dirigir um fundo de investimentos voltado às startups que operavam na internet nos EUA. Era o início do boom das ponto.com, e ele adquiriu participações em dezenas de empresas, como a Yahoo e a Buy.com. Nos três anos seguintes, os fundos do Softbank registraram ganhos anuais de 125 a 200%. Mas a crise foi igualmente espetacular. Em 2000, os fundos do Softbank perderam 75% do seu valor, enquanto as ações da Softbank Corporation caíam 80% em um período de dois meses; Son perdeu, ao que se calcula, US$ 47 bilhões de seu patrimônio pessoal. "Eu me senti destruído", disse Rieschel falando daquela época. "Tive de tomar decisões muito difíceis". Entre mais de 100 companhias, precisou escolher quais teria de abandonar. Mais doloroso foi despedir parceiros que tinham sido seus amigos. "Foi preciso fazer uma verdadeira seleção, uma seleção que afetou meus sentimentos." "Trabalhei em Tóquio e no Vale do Silício durante a bolha das dot.com, e aquilo foi uma loucura", ele disse. "Mas nem chega perto do que acontece aqui.""Costumo dizer que é como numa partida de futebol americano", acrescentou. "A gente senta no banco e fica pensando: Puxa, estes jogadores são enormes. Então você entra no jogo, e vê não só que eles são enormes como também que se movimentam com extrema rapidez. Na China, o que ocorre é uma combinação de velocidade e de tamanho."

Quando Gay Rieschel se mudou para a China, em 2005, sua intenção era descansar. Durante 20 anos, ele se movimentara continuamente do Vale do Silício para a Ásia, mais recentemente como administrador de investimentos na área de tecnologia, na esteira do boom das ponto.com. Mas a China exercia uma atração irresistível em Rieschel, um experiente investidor. Neste país dotado de enorme potencial, com uma classe média em expansão, começavam a despontar as empresas de internet. Poucos meses depois da mudança, Rieschel fundou com alguns sócios a Qiming Venture Partners, na época uma das poucas companhias de investimentos para empresas nascentes, as startups. "Eu sou uma pessoa até certo ponto viciada em adrenalina", contou Rieschel, 55. "Se você gosta de mudanças e de ambiguidade, nada melhor do que a China." Seu espírito pioneiro foi recompensado. A Qiming, que atualmente administra mais de US$ 1 bilhão, é uma das maiores empresas de investimentos da região, concentrada no setor de tecnologia da informação, tecnologia limpa e prestadoras de serviços de saúde. Sua lista de clientes inclui grandes instituições dos EUA, como a Princeton University Investment Company, a Robert Wood Johnson Foundation, a Harvard Management Company e o Commonfund. Rieschel acha que a situação atual é excelente para as startups. No ano passado, 138 empresas chinesas financiadas por capital de risco foram listadas em bolsa na China ou no exterior, captando, ao que se calcula, US$ 21 bilhões, segundo a VentureSource. Embora este ano as ofertas públicas tenham diminuído, a China continua a ser um dos mercados mais ativos. Quando a Qiming criou o terceiro e maior fundo, de US$ 450 milhões, este ano, ela o fechou para captação poucas semanas mais tarde. No entanto, o ambiente continua traiçoeiro. O país carece de uma regulamentação forte, os dados do mercado são limitados e os registros financeiros podem ser pouco confiáveis. Rieschel atribui o sucesso da Qiming à pesquisa incessante. A empresa passou quase um ano analisando o ambiente das redes sociais chinesas antes de comprar uma participação na Kaixin, que competia ferozmente com a Renren para se tornar o Facebook da China A situação contábil das empresas é uma das principais preocupações no país, porque "as auditorias não são confiáveis", disse Rieschel.Seus funcionários, que avaliavam uma companhia de serviços para os clientes em Pequim, usaram os recibos para conferir os registros financeiros, porque queriam entender "se o fluxo de caixa que a empresa apresentava correspondia à realidade", e determinar o "custo de aquisição de clientes". No final, a Qiming decidiu investir na empresa, que no entanto não quis identificar. Para proteger-se ainda mais, a Qiming costuma concentrar-se nas startups que são as primeiras ou as segundas em seu nicho específico, porque provavelmente serão mais lucrativas. Nos últimos anos, a empresa comprou participações em companhias que lideram na área de tecnologia da informação, como a ChinaCache, uma rede distribuidora de conteúdo; a Jiayuan, um site para encontrar pessoas online; e a Dianping.com, um site de restaurantes e de estilo de vida. Outra companhia da carteira, a Desano, é uma fornecedora de laboratórios farmacêuticos ocidentais especializados em medicamentos genéricos contra a aids. "As precauções que é preciso tomar num negócio aqui são completamente diferentes do que é nos Estados Unidos", disse Rieschel. "Nos EUA, você pode falar com um advogado, com outros investidores, analistas e conseguir informações. Aqui, as precauções são muito maiores." Quando a Qiming decide investir numa companhia, a equipe trabalha lado a lado com sua administração. Rieschel muitas vezes ajuda a recrutar executivos e a intermediar as relações com altos funcionários do governo, cruciais para percorrer os meandros da burocracia. Ele faz parte do conselho de administração de seis empresas da carteira da Qiming: Alltech, Touch Media, Tigermed, LP Amina, Lanzatech e Appconomy. "A organização ajuda em tudo: estratégia, recrutamento, finanças", comentou McCormack da Mustang Venture. "É o modelo clássico do Vale do Silício." As semelhanças são propositais. É que Rieschel e os dois outros fundadores, Duane Kuang e J.P. Gan, aperfeiçoaram suas competências no campo dos investimentos nos Estados Unidos. Depois de se formar no Reed College, em Portland, Oregon, Rieschel, que trabalhara de noite numa mercearia, conseguiu um cargo de gerente da Intel, onde testava circuitos integrados. Em 1984, começou a trabalhar numa startup, a Sequent Computer, e mudou-se para o Japão em 1989 para ocupar os cargos de diretor gerente da joint-venture Sequent-Panasonic e de gerente geral da Sequent na Ásia. Quatro anos mais tarde, regressou aos EUA, onde era encarregado de negociações para a Cisco Systems. Nessa função, ajudou a Cisco Japan a vender 25% de suas operações a um consórcio de 12 parceiros e investidores, inclusive o Softbank, que ficou com 12%, ou quase a metade do negócio. O Softbank investiu US$ 12 milhões no negócio, e saiu em 2000 com um ganho de US$ 550 milhões, US$ 450 milhões em equipamentos e US$ 650 milhões em financiamentos para o seu Softbank Asia Infrastructure Fund. Em 1995, o incansável fundador do Softbank, Masayoshi Son, escolheu Rieschel para dirigir um fundo de investimentos voltado às startups que operavam na internet nos EUA. Era o início do boom das ponto.com, e ele adquiriu participações em dezenas de empresas, como a Yahoo e a Buy.com. Nos três anos seguintes, os fundos do Softbank registraram ganhos anuais de 125 a 200%. Mas a crise foi igualmente espetacular. Em 2000, os fundos do Softbank perderam 75% do seu valor, enquanto as ações da Softbank Corporation caíam 80% em um período de dois meses; Son perdeu, ao que se calcula, US$ 47 bilhões de seu patrimônio pessoal. "Eu me senti destruído", disse Rieschel falando daquela época. "Tive de tomar decisões muito difíceis". Entre mais de 100 companhias, precisou escolher quais teria de abandonar. Mais doloroso foi despedir parceiros que tinham sido seus amigos. "Foi preciso fazer uma verdadeira seleção, uma seleção que afetou meus sentimentos." "Trabalhei em Tóquio e no Vale do Silício durante a bolha das dot.com, e aquilo foi uma loucura", ele disse. "Mas nem chega perto do que acontece aqui.""Costumo dizer que é como numa partida de futebol americano", acrescentou. "A gente senta no banco e fica pensando: Puxa, estes jogadores são enormes. Então você entra no jogo, e vê não só que eles são enormes como também que se movimentam com extrema rapidez. Na China, o que ocorre é uma combinação de velocidade e de tamanho."

Quando Gay Rieschel se mudou para a China, em 2005, sua intenção era descansar. Durante 20 anos, ele se movimentara continuamente do Vale do Silício para a Ásia, mais recentemente como administrador de investimentos na área de tecnologia, na esteira do boom das ponto.com. Mas a China exercia uma atração irresistível em Rieschel, um experiente investidor. Neste país dotado de enorme potencial, com uma classe média em expansão, começavam a despontar as empresas de internet. Poucos meses depois da mudança, Rieschel fundou com alguns sócios a Qiming Venture Partners, na época uma das poucas companhias de investimentos para empresas nascentes, as startups. "Eu sou uma pessoa até certo ponto viciada em adrenalina", contou Rieschel, 55. "Se você gosta de mudanças e de ambiguidade, nada melhor do que a China." Seu espírito pioneiro foi recompensado. A Qiming, que atualmente administra mais de US$ 1 bilhão, é uma das maiores empresas de investimentos da região, concentrada no setor de tecnologia da informação, tecnologia limpa e prestadoras de serviços de saúde. Sua lista de clientes inclui grandes instituições dos EUA, como a Princeton University Investment Company, a Robert Wood Johnson Foundation, a Harvard Management Company e o Commonfund. Rieschel acha que a situação atual é excelente para as startups. No ano passado, 138 empresas chinesas financiadas por capital de risco foram listadas em bolsa na China ou no exterior, captando, ao que se calcula, US$ 21 bilhões, segundo a VentureSource. Embora este ano as ofertas públicas tenham diminuído, a China continua a ser um dos mercados mais ativos. Quando a Qiming criou o terceiro e maior fundo, de US$ 450 milhões, este ano, ela o fechou para captação poucas semanas mais tarde. No entanto, o ambiente continua traiçoeiro. O país carece de uma regulamentação forte, os dados do mercado são limitados e os registros financeiros podem ser pouco confiáveis. Rieschel atribui o sucesso da Qiming à pesquisa incessante. A empresa passou quase um ano analisando o ambiente das redes sociais chinesas antes de comprar uma participação na Kaixin, que competia ferozmente com a Renren para se tornar o Facebook da China A situação contábil das empresas é uma das principais preocupações no país, porque "as auditorias não são confiáveis", disse Rieschel.Seus funcionários, que avaliavam uma companhia de serviços para os clientes em Pequim, usaram os recibos para conferir os registros financeiros, porque queriam entender "se o fluxo de caixa que a empresa apresentava correspondia à realidade", e determinar o "custo de aquisição de clientes". No final, a Qiming decidiu investir na empresa, que no entanto não quis identificar. Para proteger-se ainda mais, a Qiming costuma concentrar-se nas startups que são as primeiras ou as segundas em seu nicho específico, porque provavelmente serão mais lucrativas. Nos últimos anos, a empresa comprou participações em companhias que lideram na área de tecnologia da informação, como a ChinaCache, uma rede distribuidora de conteúdo; a Jiayuan, um site para encontrar pessoas online; e a Dianping.com, um site de restaurantes e de estilo de vida. Outra companhia da carteira, a Desano, é uma fornecedora de laboratórios farmacêuticos ocidentais especializados em medicamentos genéricos contra a aids. "As precauções que é preciso tomar num negócio aqui são completamente diferentes do que é nos Estados Unidos", disse Rieschel. "Nos EUA, você pode falar com um advogado, com outros investidores, analistas e conseguir informações. Aqui, as precauções são muito maiores." Quando a Qiming decide investir numa companhia, a equipe trabalha lado a lado com sua administração. Rieschel muitas vezes ajuda a recrutar executivos e a intermediar as relações com altos funcionários do governo, cruciais para percorrer os meandros da burocracia. Ele faz parte do conselho de administração de seis empresas da carteira da Qiming: Alltech, Touch Media, Tigermed, LP Amina, Lanzatech e Appconomy. "A organização ajuda em tudo: estratégia, recrutamento, finanças", comentou McCormack da Mustang Venture. "É o modelo clássico do Vale do Silício." As semelhanças são propositais. É que Rieschel e os dois outros fundadores, Duane Kuang e J.P. Gan, aperfeiçoaram suas competências no campo dos investimentos nos Estados Unidos. Depois de se formar no Reed College, em Portland, Oregon, Rieschel, que trabalhara de noite numa mercearia, conseguiu um cargo de gerente da Intel, onde testava circuitos integrados. Em 1984, começou a trabalhar numa startup, a Sequent Computer, e mudou-se para o Japão em 1989 para ocupar os cargos de diretor gerente da joint-venture Sequent-Panasonic e de gerente geral da Sequent na Ásia. Quatro anos mais tarde, regressou aos EUA, onde era encarregado de negociações para a Cisco Systems. Nessa função, ajudou a Cisco Japan a vender 25% de suas operações a um consórcio de 12 parceiros e investidores, inclusive o Softbank, que ficou com 12%, ou quase a metade do negócio. O Softbank investiu US$ 12 milhões no negócio, e saiu em 2000 com um ganho de US$ 550 milhões, US$ 450 milhões em equipamentos e US$ 650 milhões em financiamentos para o seu Softbank Asia Infrastructure Fund. Em 1995, o incansável fundador do Softbank, Masayoshi Son, escolheu Rieschel para dirigir um fundo de investimentos voltado às startups que operavam na internet nos EUA. Era o início do boom das ponto.com, e ele adquiriu participações em dezenas de empresas, como a Yahoo e a Buy.com. Nos três anos seguintes, os fundos do Softbank registraram ganhos anuais de 125 a 200%. Mas a crise foi igualmente espetacular. Em 2000, os fundos do Softbank perderam 75% do seu valor, enquanto as ações da Softbank Corporation caíam 80% em um período de dois meses; Son perdeu, ao que se calcula, US$ 47 bilhões de seu patrimônio pessoal. "Eu me senti destruído", disse Rieschel falando daquela época. "Tive de tomar decisões muito difíceis". Entre mais de 100 companhias, precisou escolher quais teria de abandonar. Mais doloroso foi despedir parceiros que tinham sido seus amigos. "Foi preciso fazer uma verdadeira seleção, uma seleção que afetou meus sentimentos." "Trabalhei em Tóquio e no Vale do Silício durante a bolha das dot.com, e aquilo foi uma loucura", ele disse. "Mas nem chega perto do que acontece aqui.""Costumo dizer que é como numa partida de futebol americano", acrescentou. "A gente senta no banco e fica pensando: Puxa, estes jogadores são enormes. Então você entra no jogo, e vê não só que eles são enormes como também que se movimentam com extrema rapidez. Na China, o que ocorre é uma combinação de velocidade e de tamanho."

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