É preciso repensar a maneira que o Brasil combate a inflação. Digamos que haja um evento climático que jogue os preços agrícolas nas alturas. Quem perde com isso? Os mais pobres, principalmente, porque o peso dos produtos alimentares é maior no orçamento das famílias de baixa renda. Qual o remédio que temos na prateleira? Juros altos. Quem ganha com isso? As famílias ricas, que passam a receber mais para investirem seus recursos. Ou seja, primeiro o pobre perde; depois, o rico ganha.
Um analista de mercado interromperia agora para lembrar que, como o pobre perde com a inflação, os juros altos que combatem a elevação de preços também acabam por beneficiá-lo. Então tá.
O fato é que o único instrumento que utilizamos hoje para enfrentar a inflação é a elevação da Selic. Devemos admitir que, mesmo quando necessários, juros altos são um flagelo. Moderar o seu uso deveria ser um imperativo. Eles potencializam a concentração de renda, podem ser devastadores para as empresas e aumentam os gastos públicos, o que impacta a relação dívida/PIB, causando cólicas no mercado financeiro e exigindo, logo adiante, corte de investimentos públicos e de outras despesas discricionárias.
É preciso ampliar o arsenal de medidas que combatem a inflação, de tal sorte a depender menos dos juros altos. Para começar, o governo precisa se convencer de que deflagrar uma política fiscal expansionista em tempos de inflação alta só prolonga a agonia dos juros altos.
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Também é necessário promover a desindexação de salários e contratos, algo que herdamos dos tempos da inflação muito alta e que hoje apenas aumenta a inércia e torna mais difícil o controle do processo inflacionário.
Recompor os estoques reguladores da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que foram praticamente zerados nos últimos anos, também ajudaria, da mesma forma que é urgente uma nova política de preços para os combustíveis, sem subsídios.
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No âmbito do Banco Central (BC), seria útil também contar com os recolhimentos compulsórios, que, como consta do site da autoridade monetária, são “mais um dos mecanismos que o BC tem à disposição na sua caixa de ferramentas” para combater a inflação. Reduzir a volatilidade da taxa de câmbio também seria de bom grado.
O mais rápido, simples e fácil neste momento seria rever para cima a meta de inflação para 2024. Claro que há risco, mas ele será menor se a revisão for acompanhada pelo anúncio de um novo marco fiscal suficientemente ambicioso e verossímil. Há muito a fazer para aumentar a eficácia da política de combate à inflação e depender menos dos juros altos. Melhor começar logo.