A presidente Dilma Rousseff decidiu fazer, nesta tarde, o primeiro gesto concreto de que deseja buscar uma mínima estabilidade na relação com os parlamentares, ao comparecer à sessão solene de abertura dos trabalhos do Congresso. Até mesmo aqueles que nunca foram dilmistas de carteirinha - e que, diante do agravamento das crises política e econômica, não tinham motivos para se tornar - elogiaram a iniciativa da presidente.
Dilma terá uma série de desafios pela frente. Na seara política, a petista vai tentar barrar, já na Câmara, uma eventual abertura do processo de impeachment. Mesmo com uma melhor relação com os deputados, a presidente tem como principais fatores adversos o cerco das investigações contra seu mentor político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o agravamento da crise econômica, com o aumento do desemprego e da inflação.
Nesse ínterim, há a disputa pela liderança do PMDB da Câmara, a maior bancada da Casa que pode ser decisiva para qual lado o "vento" do afastamento da presidente pode soprar. E a definição se o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), desafeto de Dilma, permanecerá à frente da Casa, em meio ao atual cenário.
Para buscar o equilíbrio fiscal e orçamentário em 2016, após gigantescos rombos em 2014 e 2015, o governo acena com impopulares medidas econômicas, como o aumento de imposto via retomada da CPMF e mudança de direitos, com efeitos no longo prazo, como a reforma da Previdência. Por ora, o Congresso resiste a tais medidas - inclusive os petistas.
Ao mesmo tempo, pretende retomar os investimentos para tentar não bater uma nova marca, a de dois anos consecutivos em recessão - especialistas e os próprios empresários dizem que é preciso mais do que o pacote de R$ 83 bilhões lançado da reunião do Conselhão na semana passada - boa parte dos quais com recursos do FGTS -, para alcançar tal tarefa.
A desconfiança do setor produtivo com o governo é grande - e a queda da produção industrial ano passado, de 8,3%, a maior em 13 anos, segundo o IBGE - é um número que fala por si só.
Dependente, Dilma deu o primeiro passo. Entre o discurso e o convencimento, muitos ainda precisam ser dados.
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