Mudanças políticas podem colocar em xeque austeridade na Europa


Eleitores na França, Holanda, Grécia e República Checa dão sinais de que podem estar se voltando contra cortes orçamentários como solução para crise econômica.

Por BBC Brasil

O resultado do primeiro turno das eleições na França e a queda do governo da Holanda causaram preocupações nos mercados, que veem sinais de que os eleitores europeus podem estar se voltando contra os pacotes de austeridade fiscal. A bolsa de Nova York registrou queda de 0,8% na segunda-feira. Na Alemanha, na França e na Grã-Bretanha, os mercados financeiros registraram baixas de 3,4%, 2,8% e 1,9%, respectivamente. Diversos governos europeus estão altamente endividados, o que tem aumentado os seus custos de empréstimos de longo prazo nos mercados financeiros. Ao mesmo tempo, a Europa passa por uma desaceleração econômica, queda do PIB e altos índices de desemprego. Como solução para a crise, e sob liderança da Alemanha e da França, países como Espanha, Itália e Grécia têm promovido rigorosos pacotes de austeridade fiscal para tentar reduzir o endividamento. No entanto, uma nova corrente de políticos que são contra as medidas de austeridade está ganhando força na França e na Holanda. Este grupo acredita que neste momento os governos deveriam tomar mais dinheiro emprestado e aumentar os seus gastos públicos como forma de estimular o crescimento e acabar com a recessão. A austeridade fiscal ficaria para um segundo momento, quando a economia da Europa estivesse crescendo novamente. Eleitores em outros países do bloco europeu - como Grécia e República Tcheca - também dão sinais de que podem estar se voltando contra as austeridade. Socialistas na França Na França, o socialista François Hollande ficou em primeiro lugar no primeiro turno e lidera as pesquisas de opinião no segundo turno, contra o presidente Nicolas Sarkozy, que tem sido um dos principais proponentes da política de austeridade fiscal na Europa. Já Hollande declarou que seu maior inimigo é "o mundo das finanças". Entre suas propostas está a contratação de 60 mil novos professores para a rede pública de ensino, o que elevaria os gastos públicos da França. "[A vitória de Hollande no domingo] é um voto contra a austeridade e por uma nova dinâmica econômica a ser criada na Europa, especialmente na França", disse o ex-ministro da Educação, o socialista Jacques Lang, na segunda-feira, durante um comício celebrando o resultado de François Hollande no primeiro turno. "Nós não aceitamos esta situação em relação à indústria, aos salários e aos empregos, e precisamos mudar isso." Mesmo se a vitória de Hollande não for confirmada, analistas políticos já veem nas urnas uma rejeição à ideia de austeridade fiscal entre os eleitores franceses. Entre os candidatos mais votados, dois deles - Hollande (que obteve 28.6% dos votos) e o esquerdista Jean-Luc Mélenchon (11.11%) - são a favor de aumentar os gastos públicos. A terceira candidata mais votada, Marie Le Pen (17,9%), da extrema direita, quer que a França abandone o euro como um todo, e também rechaça medidas de austeridade. Crise política na Holanda A austeridade fiscal está diretamente ligada à queda do governo centrista do premiê da Holanda, Mark Rutte. A economia holandesa - a quinta maior da zona do euro - sobreviveu sem sobressaltos à crise do euro. No entanto, economistas acreditam que o endividamento do governo holandês está subindo e que deve atingir 4,7% do PIB em 2013. Um novo acordo de estabilidade fiscal firmado pelos líderes da União Europeia no final do ano passado determina que o endividamento não pode superar 3% do PIB. Desde março, o governo liderado por Rutte vinha buscando apoio de diversos partidos políticos da Holanda para tentar implementar cortes no orçamento que reduzissem a dívida pública. Na segunda-feira, os dois partidos que negociavam com o premiê anunciaram que não estão dispostos a adotar medidas de austeridade que, segundo eles, prejudicariam o crescimento da economia holandesa e o custo de vida da população. Mudanças de rumo Há temores também de mudanças de rumo na Grécia e na República Tcheca. A Grécia é o país europeu que precisou adotar as medidas mais drásticas de austeridade fiscal até agora - e que provocaram diversos protestos, muitos deles violentos, por todo o país. No dia 6 de maio, os gregos vão às urnas para eleger um novo governo. Pesquisas indicam que os partidos de correntes que seriam a favor de cortes orçamentários somam 36% da preferência dos eleitores neste momento. Já comunistas, trotskistas e o partido verde - que são contra qualquer proposta de austeridade - somam 37%. Na República Checa, o governo de centro-direita do premiê Petr Necas vem promovendo cortes no sistema de aposentadoria e saúde, para tentar cumprir o pacto fiscal europeu. A República Checa e a Grã-Bretanha foram os únicos países entre os 27 do bloco europeu que não adotaram o pacto, mas apesar disso o premiê acredita que é importante cumprir a meta para acalmar os mercados. No entanto, seu governo foi alvo no sábado de um dos maiores protestos públicos desde o fim do comunismo no país. Recentemente, diversos políticos de um partido que integra a coalizão de governo checo renunciaram, devido a um escândalo de corrupção. O futuro do governo de Petr Necas é incerto. Analistas políticos acreditam que as forças de coalizão não conseguiriam se manter no poder no caso da convocação de uma nova eleição. Punição nos mercados Mas para muitos, as mudanças políticas na Europa não seriam necessariamente um sinal de que os pacotes de austeridade estariam com seus dias contados. O líder do partido de Angela Merkel no Parlamento alemão, Peter Altmaier, disse à BBC que mesmo uma vitória do socialista François Hollande na França não será suficiente para alterar o pacto fiscal europeu e o caminho adotado até agora. "No fim das contas, eu não consigo ver nenhuma alternativa viável ao que foi decidido na cúpula europeia do ano passado", disse Altmaier na segunda-feira. "Se Hollande começar a gastar mais, desrespeitando os princípios de estabilidade financeira, ele será punido pelos mercados financeiros. Estou otimista que depois de um tempo poderemos continuar consolidando (o plano de austeridade), em vez de permitir mais déficit público do que podemos pagar. Eu não vejo o risco de nenhuma grande mudança na política econômica da Europa." "O dinheiro está indo para a Alemanha. Hoje a Alemanha paga juro de 1,6% se precisa de empréstimos de dez anos no mercado. Outros países precisam pagar 3 ou 4 pontos percentuais a mais. Isso é um sinal da confiança dos mercados financeiros, e a Europa não pode sobreviver sem essa confiança", diz Altmaier. Dados divulgados na segunda-feira mostram que os pacotes de austeridade da União Europeia estão conseguindo reduzir o endividamento do bloco como um todo - que caiu de 6,2% em 2010 para 4,1% no final do ano passado. No entanto, a crise econômica está longe de uma solução. No mesmo dia, o Banco Central espanhol confirmou que a economia do país decaiu 0,4% no primeiro trimestre do ano, e que a Espanha está oficialmente em recessão. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

O resultado do primeiro turno das eleições na França e a queda do governo da Holanda causaram preocupações nos mercados, que veem sinais de que os eleitores europeus podem estar se voltando contra os pacotes de austeridade fiscal. A bolsa de Nova York registrou queda de 0,8% na segunda-feira. Na Alemanha, na França e na Grã-Bretanha, os mercados financeiros registraram baixas de 3,4%, 2,8% e 1,9%, respectivamente. Diversos governos europeus estão altamente endividados, o que tem aumentado os seus custos de empréstimos de longo prazo nos mercados financeiros. Ao mesmo tempo, a Europa passa por uma desaceleração econômica, queda do PIB e altos índices de desemprego. Como solução para a crise, e sob liderança da Alemanha e da França, países como Espanha, Itália e Grécia têm promovido rigorosos pacotes de austeridade fiscal para tentar reduzir o endividamento. No entanto, uma nova corrente de políticos que são contra as medidas de austeridade está ganhando força na França e na Holanda. Este grupo acredita que neste momento os governos deveriam tomar mais dinheiro emprestado e aumentar os seus gastos públicos como forma de estimular o crescimento e acabar com a recessão. A austeridade fiscal ficaria para um segundo momento, quando a economia da Europa estivesse crescendo novamente. Eleitores em outros países do bloco europeu - como Grécia e República Tcheca - também dão sinais de que podem estar se voltando contra as austeridade. Socialistas na França Na França, o socialista François Hollande ficou em primeiro lugar no primeiro turno e lidera as pesquisas de opinião no segundo turno, contra o presidente Nicolas Sarkozy, que tem sido um dos principais proponentes da política de austeridade fiscal na Europa. Já Hollande declarou que seu maior inimigo é "o mundo das finanças". Entre suas propostas está a contratação de 60 mil novos professores para a rede pública de ensino, o que elevaria os gastos públicos da França. "[A vitória de Hollande no domingo] é um voto contra a austeridade e por uma nova dinâmica econômica a ser criada na Europa, especialmente na França", disse o ex-ministro da Educação, o socialista Jacques Lang, na segunda-feira, durante um comício celebrando o resultado de François Hollande no primeiro turno. "Nós não aceitamos esta situação em relação à indústria, aos salários e aos empregos, e precisamos mudar isso." Mesmo se a vitória de Hollande não for confirmada, analistas políticos já veem nas urnas uma rejeição à ideia de austeridade fiscal entre os eleitores franceses. Entre os candidatos mais votados, dois deles - Hollande (que obteve 28.6% dos votos) e o esquerdista Jean-Luc Mélenchon (11.11%) - são a favor de aumentar os gastos públicos. A terceira candidata mais votada, Marie Le Pen (17,9%), da extrema direita, quer que a França abandone o euro como um todo, e também rechaça medidas de austeridade. Crise política na Holanda A austeridade fiscal está diretamente ligada à queda do governo centrista do premiê da Holanda, Mark Rutte. A economia holandesa - a quinta maior da zona do euro - sobreviveu sem sobressaltos à crise do euro. No entanto, economistas acreditam que o endividamento do governo holandês está subindo e que deve atingir 4,7% do PIB em 2013. Um novo acordo de estabilidade fiscal firmado pelos líderes da União Europeia no final do ano passado determina que o endividamento não pode superar 3% do PIB. Desde março, o governo liderado por Rutte vinha buscando apoio de diversos partidos políticos da Holanda para tentar implementar cortes no orçamento que reduzissem a dívida pública. Na segunda-feira, os dois partidos que negociavam com o premiê anunciaram que não estão dispostos a adotar medidas de austeridade que, segundo eles, prejudicariam o crescimento da economia holandesa e o custo de vida da população. Mudanças de rumo Há temores também de mudanças de rumo na Grécia e na República Tcheca. A Grécia é o país europeu que precisou adotar as medidas mais drásticas de austeridade fiscal até agora - e que provocaram diversos protestos, muitos deles violentos, por todo o país. No dia 6 de maio, os gregos vão às urnas para eleger um novo governo. Pesquisas indicam que os partidos de correntes que seriam a favor de cortes orçamentários somam 36% da preferência dos eleitores neste momento. Já comunistas, trotskistas e o partido verde - que são contra qualquer proposta de austeridade - somam 37%. Na República Checa, o governo de centro-direita do premiê Petr Necas vem promovendo cortes no sistema de aposentadoria e saúde, para tentar cumprir o pacto fiscal europeu. A República Checa e a Grã-Bretanha foram os únicos países entre os 27 do bloco europeu que não adotaram o pacto, mas apesar disso o premiê acredita que é importante cumprir a meta para acalmar os mercados. No entanto, seu governo foi alvo no sábado de um dos maiores protestos públicos desde o fim do comunismo no país. Recentemente, diversos políticos de um partido que integra a coalizão de governo checo renunciaram, devido a um escândalo de corrupção. O futuro do governo de Petr Necas é incerto. Analistas políticos acreditam que as forças de coalizão não conseguiriam se manter no poder no caso da convocação de uma nova eleição. Punição nos mercados Mas para muitos, as mudanças políticas na Europa não seriam necessariamente um sinal de que os pacotes de austeridade estariam com seus dias contados. O líder do partido de Angela Merkel no Parlamento alemão, Peter Altmaier, disse à BBC que mesmo uma vitória do socialista François Hollande na França não será suficiente para alterar o pacto fiscal europeu e o caminho adotado até agora. "No fim das contas, eu não consigo ver nenhuma alternativa viável ao que foi decidido na cúpula europeia do ano passado", disse Altmaier na segunda-feira. "Se Hollande começar a gastar mais, desrespeitando os princípios de estabilidade financeira, ele será punido pelos mercados financeiros. Estou otimista que depois de um tempo poderemos continuar consolidando (o plano de austeridade), em vez de permitir mais déficit público do que podemos pagar. Eu não vejo o risco de nenhuma grande mudança na política econômica da Europa." "O dinheiro está indo para a Alemanha. Hoje a Alemanha paga juro de 1,6% se precisa de empréstimos de dez anos no mercado. Outros países precisam pagar 3 ou 4 pontos percentuais a mais. Isso é um sinal da confiança dos mercados financeiros, e a Europa não pode sobreviver sem essa confiança", diz Altmaier. Dados divulgados na segunda-feira mostram que os pacotes de austeridade da União Europeia estão conseguindo reduzir o endividamento do bloco como um todo - que caiu de 6,2% em 2010 para 4,1% no final do ano passado. No entanto, a crise econômica está longe de uma solução. No mesmo dia, o Banco Central espanhol confirmou que a economia do país decaiu 0,4% no primeiro trimestre do ano, e que a Espanha está oficialmente em recessão. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

O resultado do primeiro turno das eleições na França e a queda do governo da Holanda causaram preocupações nos mercados, que veem sinais de que os eleitores europeus podem estar se voltando contra os pacotes de austeridade fiscal. A bolsa de Nova York registrou queda de 0,8% na segunda-feira. Na Alemanha, na França e na Grã-Bretanha, os mercados financeiros registraram baixas de 3,4%, 2,8% e 1,9%, respectivamente. Diversos governos europeus estão altamente endividados, o que tem aumentado os seus custos de empréstimos de longo prazo nos mercados financeiros. Ao mesmo tempo, a Europa passa por uma desaceleração econômica, queda do PIB e altos índices de desemprego. Como solução para a crise, e sob liderança da Alemanha e da França, países como Espanha, Itália e Grécia têm promovido rigorosos pacotes de austeridade fiscal para tentar reduzir o endividamento. No entanto, uma nova corrente de políticos que são contra as medidas de austeridade está ganhando força na França e na Holanda. Este grupo acredita que neste momento os governos deveriam tomar mais dinheiro emprestado e aumentar os seus gastos públicos como forma de estimular o crescimento e acabar com a recessão. A austeridade fiscal ficaria para um segundo momento, quando a economia da Europa estivesse crescendo novamente. Eleitores em outros países do bloco europeu - como Grécia e República Tcheca - também dão sinais de que podem estar se voltando contra as austeridade. Socialistas na França Na França, o socialista François Hollande ficou em primeiro lugar no primeiro turno e lidera as pesquisas de opinião no segundo turno, contra o presidente Nicolas Sarkozy, que tem sido um dos principais proponentes da política de austeridade fiscal na Europa. Já Hollande declarou que seu maior inimigo é "o mundo das finanças". Entre suas propostas está a contratação de 60 mil novos professores para a rede pública de ensino, o que elevaria os gastos públicos da França. "[A vitória de Hollande no domingo] é um voto contra a austeridade e por uma nova dinâmica econômica a ser criada na Europa, especialmente na França", disse o ex-ministro da Educação, o socialista Jacques Lang, na segunda-feira, durante um comício celebrando o resultado de François Hollande no primeiro turno. "Nós não aceitamos esta situação em relação à indústria, aos salários e aos empregos, e precisamos mudar isso." Mesmo se a vitória de Hollande não for confirmada, analistas políticos já veem nas urnas uma rejeição à ideia de austeridade fiscal entre os eleitores franceses. Entre os candidatos mais votados, dois deles - Hollande (que obteve 28.6% dos votos) e o esquerdista Jean-Luc Mélenchon (11.11%) - são a favor de aumentar os gastos públicos. A terceira candidata mais votada, Marie Le Pen (17,9%), da extrema direita, quer que a França abandone o euro como um todo, e também rechaça medidas de austeridade. Crise política na Holanda A austeridade fiscal está diretamente ligada à queda do governo centrista do premiê da Holanda, Mark Rutte. A economia holandesa - a quinta maior da zona do euro - sobreviveu sem sobressaltos à crise do euro. No entanto, economistas acreditam que o endividamento do governo holandês está subindo e que deve atingir 4,7% do PIB em 2013. Um novo acordo de estabilidade fiscal firmado pelos líderes da União Europeia no final do ano passado determina que o endividamento não pode superar 3% do PIB. Desde março, o governo liderado por Rutte vinha buscando apoio de diversos partidos políticos da Holanda para tentar implementar cortes no orçamento que reduzissem a dívida pública. Na segunda-feira, os dois partidos que negociavam com o premiê anunciaram que não estão dispostos a adotar medidas de austeridade que, segundo eles, prejudicariam o crescimento da economia holandesa e o custo de vida da população. Mudanças de rumo Há temores também de mudanças de rumo na Grécia e na República Tcheca. A Grécia é o país europeu que precisou adotar as medidas mais drásticas de austeridade fiscal até agora - e que provocaram diversos protestos, muitos deles violentos, por todo o país. No dia 6 de maio, os gregos vão às urnas para eleger um novo governo. Pesquisas indicam que os partidos de correntes que seriam a favor de cortes orçamentários somam 36% da preferência dos eleitores neste momento. Já comunistas, trotskistas e o partido verde - que são contra qualquer proposta de austeridade - somam 37%. Na República Checa, o governo de centro-direita do premiê Petr Necas vem promovendo cortes no sistema de aposentadoria e saúde, para tentar cumprir o pacto fiscal europeu. A República Checa e a Grã-Bretanha foram os únicos países entre os 27 do bloco europeu que não adotaram o pacto, mas apesar disso o premiê acredita que é importante cumprir a meta para acalmar os mercados. No entanto, seu governo foi alvo no sábado de um dos maiores protestos públicos desde o fim do comunismo no país. Recentemente, diversos políticos de um partido que integra a coalizão de governo checo renunciaram, devido a um escândalo de corrupção. O futuro do governo de Petr Necas é incerto. Analistas políticos acreditam que as forças de coalizão não conseguiriam se manter no poder no caso da convocação de uma nova eleição. Punição nos mercados Mas para muitos, as mudanças políticas na Europa não seriam necessariamente um sinal de que os pacotes de austeridade estariam com seus dias contados. O líder do partido de Angela Merkel no Parlamento alemão, Peter Altmaier, disse à BBC que mesmo uma vitória do socialista François Hollande na França não será suficiente para alterar o pacto fiscal europeu e o caminho adotado até agora. "No fim das contas, eu não consigo ver nenhuma alternativa viável ao que foi decidido na cúpula europeia do ano passado", disse Altmaier na segunda-feira. "Se Hollande começar a gastar mais, desrespeitando os princípios de estabilidade financeira, ele será punido pelos mercados financeiros. Estou otimista que depois de um tempo poderemos continuar consolidando (o plano de austeridade), em vez de permitir mais déficit público do que podemos pagar. Eu não vejo o risco de nenhuma grande mudança na política econômica da Europa." "O dinheiro está indo para a Alemanha. Hoje a Alemanha paga juro de 1,6% se precisa de empréstimos de dez anos no mercado. Outros países precisam pagar 3 ou 4 pontos percentuais a mais. Isso é um sinal da confiança dos mercados financeiros, e a Europa não pode sobreviver sem essa confiança", diz Altmaier. Dados divulgados na segunda-feira mostram que os pacotes de austeridade da União Europeia estão conseguindo reduzir o endividamento do bloco como um todo - que caiu de 6,2% em 2010 para 4,1% no final do ano passado. No entanto, a crise econômica está longe de uma solução. No mesmo dia, o Banco Central espanhol confirmou que a economia do país decaiu 0,4% no primeiro trimestre do ano, e que a Espanha está oficialmente em recessão. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

O resultado do primeiro turno das eleições na França e a queda do governo da Holanda causaram preocupações nos mercados, que veem sinais de que os eleitores europeus podem estar se voltando contra os pacotes de austeridade fiscal. A bolsa de Nova York registrou queda de 0,8% na segunda-feira. Na Alemanha, na França e na Grã-Bretanha, os mercados financeiros registraram baixas de 3,4%, 2,8% e 1,9%, respectivamente. Diversos governos europeus estão altamente endividados, o que tem aumentado os seus custos de empréstimos de longo prazo nos mercados financeiros. Ao mesmo tempo, a Europa passa por uma desaceleração econômica, queda do PIB e altos índices de desemprego. Como solução para a crise, e sob liderança da Alemanha e da França, países como Espanha, Itália e Grécia têm promovido rigorosos pacotes de austeridade fiscal para tentar reduzir o endividamento. No entanto, uma nova corrente de políticos que são contra as medidas de austeridade está ganhando força na França e na Holanda. Este grupo acredita que neste momento os governos deveriam tomar mais dinheiro emprestado e aumentar os seus gastos públicos como forma de estimular o crescimento e acabar com a recessão. A austeridade fiscal ficaria para um segundo momento, quando a economia da Europa estivesse crescendo novamente. Eleitores em outros países do bloco europeu - como Grécia e República Tcheca - também dão sinais de que podem estar se voltando contra as austeridade. Socialistas na França Na França, o socialista François Hollande ficou em primeiro lugar no primeiro turno e lidera as pesquisas de opinião no segundo turno, contra o presidente Nicolas Sarkozy, que tem sido um dos principais proponentes da política de austeridade fiscal na Europa. Já Hollande declarou que seu maior inimigo é "o mundo das finanças". Entre suas propostas está a contratação de 60 mil novos professores para a rede pública de ensino, o que elevaria os gastos públicos da França. "[A vitória de Hollande no domingo] é um voto contra a austeridade e por uma nova dinâmica econômica a ser criada na Europa, especialmente na França", disse o ex-ministro da Educação, o socialista Jacques Lang, na segunda-feira, durante um comício celebrando o resultado de François Hollande no primeiro turno. "Nós não aceitamos esta situação em relação à indústria, aos salários e aos empregos, e precisamos mudar isso." Mesmo se a vitória de Hollande não for confirmada, analistas políticos já veem nas urnas uma rejeição à ideia de austeridade fiscal entre os eleitores franceses. Entre os candidatos mais votados, dois deles - Hollande (que obteve 28.6% dos votos) e o esquerdista Jean-Luc Mélenchon (11.11%) - são a favor de aumentar os gastos públicos. A terceira candidata mais votada, Marie Le Pen (17,9%), da extrema direita, quer que a França abandone o euro como um todo, e também rechaça medidas de austeridade. Crise política na Holanda A austeridade fiscal está diretamente ligada à queda do governo centrista do premiê da Holanda, Mark Rutte. A economia holandesa - a quinta maior da zona do euro - sobreviveu sem sobressaltos à crise do euro. No entanto, economistas acreditam que o endividamento do governo holandês está subindo e que deve atingir 4,7% do PIB em 2013. Um novo acordo de estabilidade fiscal firmado pelos líderes da União Europeia no final do ano passado determina que o endividamento não pode superar 3% do PIB. Desde março, o governo liderado por Rutte vinha buscando apoio de diversos partidos políticos da Holanda para tentar implementar cortes no orçamento que reduzissem a dívida pública. Na segunda-feira, os dois partidos que negociavam com o premiê anunciaram que não estão dispostos a adotar medidas de austeridade que, segundo eles, prejudicariam o crescimento da economia holandesa e o custo de vida da população. Mudanças de rumo Há temores também de mudanças de rumo na Grécia e na República Tcheca. A Grécia é o país europeu que precisou adotar as medidas mais drásticas de austeridade fiscal até agora - e que provocaram diversos protestos, muitos deles violentos, por todo o país. No dia 6 de maio, os gregos vão às urnas para eleger um novo governo. Pesquisas indicam que os partidos de correntes que seriam a favor de cortes orçamentários somam 36% da preferência dos eleitores neste momento. Já comunistas, trotskistas e o partido verde - que são contra qualquer proposta de austeridade - somam 37%. Na República Checa, o governo de centro-direita do premiê Petr Necas vem promovendo cortes no sistema de aposentadoria e saúde, para tentar cumprir o pacto fiscal europeu. A República Checa e a Grã-Bretanha foram os únicos países entre os 27 do bloco europeu que não adotaram o pacto, mas apesar disso o premiê acredita que é importante cumprir a meta para acalmar os mercados. No entanto, seu governo foi alvo no sábado de um dos maiores protestos públicos desde o fim do comunismo no país. Recentemente, diversos políticos de um partido que integra a coalizão de governo checo renunciaram, devido a um escândalo de corrupção. O futuro do governo de Petr Necas é incerto. Analistas políticos acreditam que as forças de coalizão não conseguiriam se manter no poder no caso da convocação de uma nova eleição. Punição nos mercados Mas para muitos, as mudanças políticas na Europa não seriam necessariamente um sinal de que os pacotes de austeridade estariam com seus dias contados. O líder do partido de Angela Merkel no Parlamento alemão, Peter Altmaier, disse à BBC que mesmo uma vitória do socialista François Hollande na França não será suficiente para alterar o pacto fiscal europeu e o caminho adotado até agora. "No fim das contas, eu não consigo ver nenhuma alternativa viável ao que foi decidido na cúpula europeia do ano passado", disse Altmaier na segunda-feira. "Se Hollande começar a gastar mais, desrespeitando os princípios de estabilidade financeira, ele será punido pelos mercados financeiros. Estou otimista que depois de um tempo poderemos continuar consolidando (o plano de austeridade), em vez de permitir mais déficit público do que podemos pagar. Eu não vejo o risco de nenhuma grande mudança na política econômica da Europa." "O dinheiro está indo para a Alemanha. Hoje a Alemanha paga juro de 1,6% se precisa de empréstimos de dez anos no mercado. Outros países precisam pagar 3 ou 4 pontos percentuais a mais. Isso é um sinal da confiança dos mercados financeiros, e a Europa não pode sobreviver sem essa confiança", diz Altmaier. Dados divulgados na segunda-feira mostram que os pacotes de austeridade da União Europeia estão conseguindo reduzir o endividamento do bloco como um todo - que caiu de 6,2% em 2010 para 4,1% no final do ano passado. No entanto, a crise econômica está longe de uma solução. No mesmo dia, o Banco Central espanhol confirmou que a economia do país decaiu 0,4% no primeiro trimestre do ano, e que a Espanha está oficialmente em recessão. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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