Na mão do governo


Por AMIR KHAIR

As perspectivas econômicas estão piorando em escala global. Os Estados Unidos têm de enfrentar o denominado "abismo fiscal", cerca de US$ 600 bilhões em corte nas despesas militares e programas sociais e extinção de redução de imposto de renda aos mais ricos concedida pelo governo Bush.A China, fortemente dependente de exportação, está acusando o golpe da crise nas economias desenvolvidas, apontando para desaceleração na sua demanda de insumos, o que afeta preço e quantidade para quem exporta para ela.Na zona do euro, apesar das medidas emergenciais, que estão salvando o sistema financeiro do colapso, a recessão está instalada e a tensão social vem crescendo em reação às medidas de redução de direitos. Há riscos de a crise europeia contaminar de maneira mais grave todos os países, e de forma mais dura que a ocorrida com a quebra do banco Lehman Brothers.Há, portanto, que se preparar para o pior, ainda mais se o governo objetiva crescer 4,5% em 2013, tendo fracassado nesse objetivo nesses dois primeiros anos do governo Dilma.Há vários caminhos para retomar o crescimento. Interessa o de maior viabilidade de se operacionalizar e que produza maiores frutos econômicos e sociais. É o desafio contra o tempo e contra os ventos desfavoráveis vindos de fora. Vejamos os caminhos e limitações que vêm sendo apontados pelas análises.Exportar. Tem a vantagem de: a) criar maior desafio à competitividade das empresas, que precisam disputar em ambiente hostil; b) aproveitar o potencial estratégico que o País desfruta em algumas commodities, na agricultura e na pecuária; c) a demanda internacional por alimentos é a única com maior probabilidade de crescimento na crise, e nisso somos bons. Talvez os melhores.Os problemas dessa via são que: a) leva tempo para as empresas melhorarem sua competitividade para o nível necessário à acirrada concorrência internacional; b) a desvantagem competitiva é agravada pelo denominado custo Brasil (tributos, juros, infraestrutura, logística e burocracia); c) o câmbio empurra mais ainda para baixo a competitividade; d) o preço da exportação na saída do País (FOB) é majorado por frete, seguro, despesas aduaneiras e imposto de importação do país de destino, concorrendo com o preço local sem esses adicionais e; e) a ampliação da exportação no que somos competitivos é pouca, face ao montante necessário ao deslanche da economia. Oferta. Outro caminho é o estímulo à oferta, pela desoneração tributária e financiamento mais atraente às empresas. Tem a vantagem de reduzir custos nas empresas, melhorando sua competitividade. Os problemas são: a) a baixa capacidade do governo em fazer desonerações na escala necessária, tanto em intensidade como em amplitude; b) ter sistema bancário viciado em ganhos fáceis de curto prazo, incapazes de financiamentos de longo prazo; c) o risco de a vantagem concedida pela desoneração e financiamento não ser utilizada para a redução de preço, mas de pura recomposição de margem econômica e; d) se não ocorrer aumento do consumo, a oferta não deslancha.Há um sério problema: a desoneração da cota patronal de 20% da folha de pagamento já está prejudicando as contas da Previdência Social, e o governo tem de compensar a perda ao INSS, como determina a lei, mas está faltando a transparência nessa compensação.Investimento. É responsável por cerca de 20% do crescimento. Tem sido o caminho mais defendido nas análises, mas tem sérias limitações. Envolve o investimento privado, de empresas estatais, em parceria do governo com o setor privado e o feito pelo Tesouro da União, dos Estados e dos municípios.O investimento privado reage favoravelmente com a redução da Selic, pois passa a ser melhor investir do que procurar rendimento em títulos do governo federal. Reage, também, favoravelmente face à oferta de financiamento com condições mais atraentes. Mas reage principalmente ante perspectiva de expansão do consumo, contido pelas elevadas taxas de juros bancárias.O investimento das estatais se concentra na Petrobrás e na Eletrobrás. A primeira vem sendo usada pelo governo para segurar a inflação, e a segunda vai ter sensível redução nos preços da energia elétrica. Assim, a contribuição de ambas não será tão expressiva.O investimento em parceria público-privada tem sido feito principalmente com recursos de origem pública (BNDES, fundos de pensão de estatais e do Tesouro) e, quando não envolve favoritismos, expõe os usuários a preços elevados e serviços precários pela falta de gestão do Estado sobre os contratos de concessão. O investimento direto do governo federal caminha a passos lentos e com valores muito aquém do necessário para melhorar a infraestrutura, pois tem de pagar 4% do PIB de juros, por manter a Selic acima do que deve. O dos Estados fica limitado, pois eles têm de amortizar dívida que foi refinanciada pela União, e o dos municípios tem que enfrentar a expansão do custeio (educação e saúde) para acompanhar a demanda social crescente. Consumo. É a principal mola do crescimento. Em média, o consumo das famílias é responsável por 60% do crescimento e as despesas do governo, por 20%. O problema é que parte importante da expansão do consumo das famílias está sendo atendida pelo produto importado, que tem vantagens em preço e qualidade, pois: a) pode proceder de um país que tenha menor custo de insumos, de tributos e de juros; b) pode contar com câmbio mais favorável e; c) existe sobreoferta internacional, que acirra a concorrência. O problema é que o consumo está contido pelo freio imposto pelas taxas de juros bancárias, que dobram o preço no crediário e limitam o endividamento das pessoas.Sugestões. Para enfrentar as desvantagens apontadas na competitividade, o mais rápido e eficaz é levar o câmbio para R$ 2,50, que é o nível médio ponderado por uma cesta de moedas, do período 2003/2007, quando as transações correntes eram positivas. Naquele período, o saldo da balança comercial (exportação menos importação) foi de US$ 38 bilhões por ano. Com o câmbio atual, caiu pela metade. Para desvalorizar o câmbio, é necessário elevar a baixa liquidez da economia, comprando os títulos da dívida em poder do mercado, como fazem os bancos centrais dos países desenvolvidos.Quanto aos juros, é preciso continuar a reduzir a Selic para o nível da inflação e continuar a pressão sobre os bancos, tabelando as escorchantes tarifas. Isso os leva a depender mais da expansão do crédito, o que acirra a competição bancária com a consequente redução dos juros.Mas, se o governo continuar com medo da inflação, pensar que a Selic a controla e seguir o que quer o mercado financeiro, que é elevar as taxas de juros e manter o câmbio apreciado, não vamos sair do lugar e, com a crise ameaçando, periga, em vez de crescer, ficarmos semiestagnados nos próximos anos. Está tudo na mão do governo.

As perspectivas econômicas estão piorando em escala global. Os Estados Unidos têm de enfrentar o denominado "abismo fiscal", cerca de US$ 600 bilhões em corte nas despesas militares e programas sociais e extinção de redução de imposto de renda aos mais ricos concedida pelo governo Bush.A China, fortemente dependente de exportação, está acusando o golpe da crise nas economias desenvolvidas, apontando para desaceleração na sua demanda de insumos, o que afeta preço e quantidade para quem exporta para ela.Na zona do euro, apesar das medidas emergenciais, que estão salvando o sistema financeiro do colapso, a recessão está instalada e a tensão social vem crescendo em reação às medidas de redução de direitos. Há riscos de a crise europeia contaminar de maneira mais grave todos os países, e de forma mais dura que a ocorrida com a quebra do banco Lehman Brothers.Há, portanto, que se preparar para o pior, ainda mais se o governo objetiva crescer 4,5% em 2013, tendo fracassado nesse objetivo nesses dois primeiros anos do governo Dilma.Há vários caminhos para retomar o crescimento. Interessa o de maior viabilidade de se operacionalizar e que produza maiores frutos econômicos e sociais. É o desafio contra o tempo e contra os ventos desfavoráveis vindos de fora. Vejamos os caminhos e limitações que vêm sendo apontados pelas análises.Exportar. Tem a vantagem de: a) criar maior desafio à competitividade das empresas, que precisam disputar em ambiente hostil; b) aproveitar o potencial estratégico que o País desfruta em algumas commodities, na agricultura e na pecuária; c) a demanda internacional por alimentos é a única com maior probabilidade de crescimento na crise, e nisso somos bons. Talvez os melhores.Os problemas dessa via são que: a) leva tempo para as empresas melhorarem sua competitividade para o nível necessário à acirrada concorrência internacional; b) a desvantagem competitiva é agravada pelo denominado custo Brasil (tributos, juros, infraestrutura, logística e burocracia); c) o câmbio empurra mais ainda para baixo a competitividade; d) o preço da exportação na saída do País (FOB) é majorado por frete, seguro, despesas aduaneiras e imposto de importação do país de destino, concorrendo com o preço local sem esses adicionais e; e) a ampliação da exportação no que somos competitivos é pouca, face ao montante necessário ao deslanche da economia. Oferta. Outro caminho é o estímulo à oferta, pela desoneração tributária e financiamento mais atraente às empresas. Tem a vantagem de reduzir custos nas empresas, melhorando sua competitividade. Os problemas são: a) a baixa capacidade do governo em fazer desonerações na escala necessária, tanto em intensidade como em amplitude; b) ter sistema bancário viciado em ganhos fáceis de curto prazo, incapazes de financiamentos de longo prazo; c) o risco de a vantagem concedida pela desoneração e financiamento não ser utilizada para a redução de preço, mas de pura recomposição de margem econômica e; d) se não ocorrer aumento do consumo, a oferta não deslancha.Há um sério problema: a desoneração da cota patronal de 20% da folha de pagamento já está prejudicando as contas da Previdência Social, e o governo tem de compensar a perda ao INSS, como determina a lei, mas está faltando a transparência nessa compensação.Investimento. É responsável por cerca de 20% do crescimento. Tem sido o caminho mais defendido nas análises, mas tem sérias limitações. Envolve o investimento privado, de empresas estatais, em parceria do governo com o setor privado e o feito pelo Tesouro da União, dos Estados e dos municípios.O investimento privado reage favoravelmente com a redução da Selic, pois passa a ser melhor investir do que procurar rendimento em títulos do governo federal. Reage, também, favoravelmente face à oferta de financiamento com condições mais atraentes. Mas reage principalmente ante perspectiva de expansão do consumo, contido pelas elevadas taxas de juros bancárias.O investimento das estatais se concentra na Petrobrás e na Eletrobrás. A primeira vem sendo usada pelo governo para segurar a inflação, e a segunda vai ter sensível redução nos preços da energia elétrica. Assim, a contribuição de ambas não será tão expressiva.O investimento em parceria público-privada tem sido feito principalmente com recursos de origem pública (BNDES, fundos de pensão de estatais e do Tesouro) e, quando não envolve favoritismos, expõe os usuários a preços elevados e serviços precários pela falta de gestão do Estado sobre os contratos de concessão. O investimento direto do governo federal caminha a passos lentos e com valores muito aquém do necessário para melhorar a infraestrutura, pois tem de pagar 4% do PIB de juros, por manter a Selic acima do que deve. O dos Estados fica limitado, pois eles têm de amortizar dívida que foi refinanciada pela União, e o dos municípios tem que enfrentar a expansão do custeio (educação e saúde) para acompanhar a demanda social crescente. Consumo. É a principal mola do crescimento. Em média, o consumo das famílias é responsável por 60% do crescimento e as despesas do governo, por 20%. O problema é que parte importante da expansão do consumo das famílias está sendo atendida pelo produto importado, que tem vantagens em preço e qualidade, pois: a) pode proceder de um país que tenha menor custo de insumos, de tributos e de juros; b) pode contar com câmbio mais favorável e; c) existe sobreoferta internacional, que acirra a concorrência. O problema é que o consumo está contido pelo freio imposto pelas taxas de juros bancárias, que dobram o preço no crediário e limitam o endividamento das pessoas.Sugestões. Para enfrentar as desvantagens apontadas na competitividade, o mais rápido e eficaz é levar o câmbio para R$ 2,50, que é o nível médio ponderado por uma cesta de moedas, do período 2003/2007, quando as transações correntes eram positivas. Naquele período, o saldo da balança comercial (exportação menos importação) foi de US$ 38 bilhões por ano. Com o câmbio atual, caiu pela metade. Para desvalorizar o câmbio, é necessário elevar a baixa liquidez da economia, comprando os títulos da dívida em poder do mercado, como fazem os bancos centrais dos países desenvolvidos.Quanto aos juros, é preciso continuar a reduzir a Selic para o nível da inflação e continuar a pressão sobre os bancos, tabelando as escorchantes tarifas. Isso os leva a depender mais da expansão do crédito, o que acirra a competição bancária com a consequente redução dos juros.Mas, se o governo continuar com medo da inflação, pensar que a Selic a controla e seguir o que quer o mercado financeiro, que é elevar as taxas de juros e manter o câmbio apreciado, não vamos sair do lugar e, com a crise ameaçando, periga, em vez de crescer, ficarmos semiestagnados nos próximos anos. Está tudo na mão do governo.

As perspectivas econômicas estão piorando em escala global. Os Estados Unidos têm de enfrentar o denominado "abismo fiscal", cerca de US$ 600 bilhões em corte nas despesas militares e programas sociais e extinção de redução de imposto de renda aos mais ricos concedida pelo governo Bush.A China, fortemente dependente de exportação, está acusando o golpe da crise nas economias desenvolvidas, apontando para desaceleração na sua demanda de insumos, o que afeta preço e quantidade para quem exporta para ela.Na zona do euro, apesar das medidas emergenciais, que estão salvando o sistema financeiro do colapso, a recessão está instalada e a tensão social vem crescendo em reação às medidas de redução de direitos. Há riscos de a crise europeia contaminar de maneira mais grave todos os países, e de forma mais dura que a ocorrida com a quebra do banco Lehman Brothers.Há, portanto, que se preparar para o pior, ainda mais se o governo objetiva crescer 4,5% em 2013, tendo fracassado nesse objetivo nesses dois primeiros anos do governo Dilma.Há vários caminhos para retomar o crescimento. Interessa o de maior viabilidade de se operacionalizar e que produza maiores frutos econômicos e sociais. É o desafio contra o tempo e contra os ventos desfavoráveis vindos de fora. Vejamos os caminhos e limitações que vêm sendo apontados pelas análises.Exportar. Tem a vantagem de: a) criar maior desafio à competitividade das empresas, que precisam disputar em ambiente hostil; b) aproveitar o potencial estratégico que o País desfruta em algumas commodities, na agricultura e na pecuária; c) a demanda internacional por alimentos é a única com maior probabilidade de crescimento na crise, e nisso somos bons. Talvez os melhores.Os problemas dessa via são que: a) leva tempo para as empresas melhorarem sua competitividade para o nível necessário à acirrada concorrência internacional; b) a desvantagem competitiva é agravada pelo denominado custo Brasil (tributos, juros, infraestrutura, logística e burocracia); c) o câmbio empurra mais ainda para baixo a competitividade; d) o preço da exportação na saída do País (FOB) é majorado por frete, seguro, despesas aduaneiras e imposto de importação do país de destino, concorrendo com o preço local sem esses adicionais e; e) a ampliação da exportação no que somos competitivos é pouca, face ao montante necessário ao deslanche da economia. Oferta. Outro caminho é o estímulo à oferta, pela desoneração tributária e financiamento mais atraente às empresas. Tem a vantagem de reduzir custos nas empresas, melhorando sua competitividade. Os problemas são: a) a baixa capacidade do governo em fazer desonerações na escala necessária, tanto em intensidade como em amplitude; b) ter sistema bancário viciado em ganhos fáceis de curto prazo, incapazes de financiamentos de longo prazo; c) o risco de a vantagem concedida pela desoneração e financiamento não ser utilizada para a redução de preço, mas de pura recomposição de margem econômica e; d) se não ocorrer aumento do consumo, a oferta não deslancha.Há um sério problema: a desoneração da cota patronal de 20% da folha de pagamento já está prejudicando as contas da Previdência Social, e o governo tem de compensar a perda ao INSS, como determina a lei, mas está faltando a transparência nessa compensação.Investimento. É responsável por cerca de 20% do crescimento. Tem sido o caminho mais defendido nas análises, mas tem sérias limitações. Envolve o investimento privado, de empresas estatais, em parceria do governo com o setor privado e o feito pelo Tesouro da União, dos Estados e dos municípios.O investimento privado reage favoravelmente com a redução da Selic, pois passa a ser melhor investir do que procurar rendimento em títulos do governo federal. Reage, também, favoravelmente face à oferta de financiamento com condições mais atraentes. Mas reage principalmente ante perspectiva de expansão do consumo, contido pelas elevadas taxas de juros bancárias.O investimento das estatais se concentra na Petrobrás e na Eletrobrás. A primeira vem sendo usada pelo governo para segurar a inflação, e a segunda vai ter sensível redução nos preços da energia elétrica. Assim, a contribuição de ambas não será tão expressiva.O investimento em parceria público-privada tem sido feito principalmente com recursos de origem pública (BNDES, fundos de pensão de estatais e do Tesouro) e, quando não envolve favoritismos, expõe os usuários a preços elevados e serviços precários pela falta de gestão do Estado sobre os contratos de concessão. O investimento direto do governo federal caminha a passos lentos e com valores muito aquém do necessário para melhorar a infraestrutura, pois tem de pagar 4% do PIB de juros, por manter a Selic acima do que deve. O dos Estados fica limitado, pois eles têm de amortizar dívida que foi refinanciada pela União, e o dos municípios tem que enfrentar a expansão do custeio (educação e saúde) para acompanhar a demanda social crescente. Consumo. É a principal mola do crescimento. Em média, o consumo das famílias é responsável por 60% do crescimento e as despesas do governo, por 20%. O problema é que parte importante da expansão do consumo das famílias está sendo atendida pelo produto importado, que tem vantagens em preço e qualidade, pois: a) pode proceder de um país que tenha menor custo de insumos, de tributos e de juros; b) pode contar com câmbio mais favorável e; c) existe sobreoferta internacional, que acirra a concorrência. O problema é que o consumo está contido pelo freio imposto pelas taxas de juros bancárias, que dobram o preço no crediário e limitam o endividamento das pessoas.Sugestões. Para enfrentar as desvantagens apontadas na competitividade, o mais rápido e eficaz é levar o câmbio para R$ 2,50, que é o nível médio ponderado por uma cesta de moedas, do período 2003/2007, quando as transações correntes eram positivas. Naquele período, o saldo da balança comercial (exportação menos importação) foi de US$ 38 bilhões por ano. Com o câmbio atual, caiu pela metade. Para desvalorizar o câmbio, é necessário elevar a baixa liquidez da economia, comprando os títulos da dívida em poder do mercado, como fazem os bancos centrais dos países desenvolvidos.Quanto aos juros, é preciso continuar a reduzir a Selic para o nível da inflação e continuar a pressão sobre os bancos, tabelando as escorchantes tarifas. Isso os leva a depender mais da expansão do crédito, o que acirra a competição bancária com a consequente redução dos juros.Mas, se o governo continuar com medo da inflação, pensar que a Selic a controla e seguir o que quer o mercado financeiro, que é elevar as taxas de juros e manter o câmbio apreciado, não vamos sair do lugar e, com a crise ameaçando, periga, em vez de crescer, ficarmos semiestagnados nos próximos anos. Está tudo na mão do governo.

As perspectivas econômicas estão piorando em escala global. Os Estados Unidos têm de enfrentar o denominado "abismo fiscal", cerca de US$ 600 bilhões em corte nas despesas militares e programas sociais e extinção de redução de imposto de renda aos mais ricos concedida pelo governo Bush.A China, fortemente dependente de exportação, está acusando o golpe da crise nas economias desenvolvidas, apontando para desaceleração na sua demanda de insumos, o que afeta preço e quantidade para quem exporta para ela.Na zona do euro, apesar das medidas emergenciais, que estão salvando o sistema financeiro do colapso, a recessão está instalada e a tensão social vem crescendo em reação às medidas de redução de direitos. Há riscos de a crise europeia contaminar de maneira mais grave todos os países, e de forma mais dura que a ocorrida com a quebra do banco Lehman Brothers.Há, portanto, que se preparar para o pior, ainda mais se o governo objetiva crescer 4,5% em 2013, tendo fracassado nesse objetivo nesses dois primeiros anos do governo Dilma.Há vários caminhos para retomar o crescimento. Interessa o de maior viabilidade de se operacionalizar e que produza maiores frutos econômicos e sociais. É o desafio contra o tempo e contra os ventos desfavoráveis vindos de fora. Vejamos os caminhos e limitações que vêm sendo apontados pelas análises.Exportar. Tem a vantagem de: a) criar maior desafio à competitividade das empresas, que precisam disputar em ambiente hostil; b) aproveitar o potencial estratégico que o País desfruta em algumas commodities, na agricultura e na pecuária; c) a demanda internacional por alimentos é a única com maior probabilidade de crescimento na crise, e nisso somos bons. Talvez os melhores.Os problemas dessa via são que: a) leva tempo para as empresas melhorarem sua competitividade para o nível necessário à acirrada concorrência internacional; b) a desvantagem competitiva é agravada pelo denominado custo Brasil (tributos, juros, infraestrutura, logística e burocracia); c) o câmbio empurra mais ainda para baixo a competitividade; d) o preço da exportação na saída do País (FOB) é majorado por frete, seguro, despesas aduaneiras e imposto de importação do país de destino, concorrendo com o preço local sem esses adicionais e; e) a ampliação da exportação no que somos competitivos é pouca, face ao montante necessário ao deslanche da economia. Oferta. Outro caminho é o estímulo à oferta, pela desoneração tributária e financiamento mais atraente às empresas. Tem a vantagem de reduzir custos nas empresas, melhorando sua competitividade. Os problemas são: a) a baixa capacidade do governo em fazer desonerações na escala necessária, tanto em intensidade como em amplitude; b) ter sistema bancário viciado em ganhos fáceis de curto prazo, incapazes de financiamentos de longo prazo; c) o risco de a vantagem concedida pela desoneração e financiamento não ser utilizada para a redução de preço, mas de pura recomposição de margem econômica e; d) se não ocorrer aumento do consumo, a oferta não deslancha.Há um sério problema: a desoneração da cota patronal de 20% da folha de pagamento já está prejudicando as contas da Previdência Social, e o governo tem de compensar a perda ao INSS, como determina a lei, mas está faltando a transparência nessa compensação.Investimento. É responsável por cerca de 20% do crescimento. Tem sido o caminho mais defendido nas análises, mas tem sérias limitações. Envolve o investimento privado, de empresas estatais, em parceria do governo com o setor privado e o feito pelo Tesouro da União, dos Estados e dos municípios.O investimento privado reage favoravelmente com a redução da Selic, pois passa a ser melhor investir do que procurar rendimento em títulos do governo federal. Reage, também, favoravelmente face à oferta de financiamento com condições mais atraentes. Mas reage principalmente ante perspectiva de expansão do consumo, contido pelas elevadas taxas de juros bancárias.O investimento das estatais se concentra na Petrobrás e na Eletrobrás. A primeira vem sendo usada pelo governo para segurar a inflação, e a segunda vai ter sensível redução nos preços da energia elétrica. Assim, a contribuição de ambas não será tão expressiva.O investimento em parceria público-privada tem sido feito principalmente com recursos de origem pública (BNDES, fundos de pensão de estatais e do Tesouro) e, quando não envolve favoritismos, expõe os usuários a preços elevados e serviços precários pela falta de gestão do Estado sobre os contratos de concessão. O investimento direto do governo federal caminha a passos lentos e com valores muito aquém do necessário para melhorar a infraestrutura, pois tem de pagar 4% do PIB de juros, por manter a Selic acima do que deve. O dos Estados fica limitado, pois eles têm de amortizar dívida que foi refinanciada pela União, e o dos municípios tem que enfrentar a expansão do custeio (educação e saúde) para acompanhar a demanda social crescente. Consumo. É a principal mola do crescimento. Em média, o consumo das famílias é responsável por 60% do crescimento e as despesas do governo, por 20%. O problema é que parte importante da expansão do consumo das famílias está sendo atendida pelo produto importado, que tem vantagens em preço e qualidade, pois: a) pode proceder de um país que tenha menor custo de insumos, de tributos e de juros; b) pode contar com câmbio mais favorável e; c) existe sobreoferta internacional, que acirra a concorrência. O problema é que o consumo está contido pelo freio imposto pelas taxas de juros bancárias, que dobram o preço no crediário e limitam o endividamento das pessoas.Sugestões. Para enfrentar as desvantagens apontadas na competitividade, o mais rápido e eficaz é levar o câmbio para R$ 2,50, que é o nível médio ponderado por uma cesta de moedas, do período 2003/2007, quando as transações correntes eram positivas. Naquele período, o saldo da balança comercial (exportação menos importação) foi de US$ 38 bilhões por ano. Com o câmbio atual, caiu pela metade. Para desvalorizar o câmbio, é necessário elevar a baixa liquidez da economia, comprando os títulos da dívida em poder do mercado, como fazem os bancos centrais dos países desenvolvidos.Quanto aos juros, é preciso continuar a reduzir a Selic para o nível da inflação e continuar a pressão sobre os bancos, tabelando as escorchantes tarifas. Isso os leva a depender mais da expansão do crédito, o que acirra a competição bancária com a consequente redução dos juros.Mas, se o governo continuar com medo da inflação, pensar que a Selic a controla e seguir o que quer o mercado financeiro, que é elevar as taxas de juros e manter o câmbio apreciado, não vamos sair do lugar e, com a crise ameaçando, periga, em vez de crescer, ficarmos semiestagnados nos próximos anos. Está tudo na mão do governo.

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