'Governo não resolve banda larga sozinho'


Para diretor da Net, o governo deveria oferecer incentivos às empresas privadas para expandir banda larga

Por Renato Cruz

A empresa de TV paga Net é a segunda maior empresa de banda larga do Brasil, com 2,882 milhões de clientes de internet no fim de 2009. José Félix, diretor-geral da companhia, defendeu, em entrevista na terça-feira, que o governo ofereça incentivos à iniciativa privada para que haja competição em banda larga nas cidades médias e para que o serviço comece a ser oferecido nas cidades pequenas. Sobre a proposta de criação de uma estatal de banda larga, ele disse que o governo "não deve tentar resolver sozinho".

 

Ele falou também sobre seus planos de lançar em breve o serviço de vídeo sob demanda, que funciona como uma locadora virtual, sobre os testes com TV em três dimensões (3D), e sobre o motivo de a empresa não oferecer canais avulsos. A seguir, trechos da entrevista:

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Qual é sua opinião sobre o plano nacional de banda larga?

 

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No mercado brasileiro de banda larga existem três situações diferentes. Existe um monte de cidadezinhas sem conexão de internet, e isso precisa ser resolvido. Existem cidades médias com uma operação monopolista, e deveria haver incentivos para criar a competição. E existem as cidades grandes, onde o mercado já é competitivo.

 

O que o senhor acha da criação de uma estatal?

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Acho que o poder público tem de interferir, mas incentivando as empresas privadas, incentivando o empreendedorismo nas cidades menores. Não deve tentar resolver sozinho. A situação de monopólio cria uma situação difícil para o surgimento da competição nessas cidades médias, o que poderia ser resolvido com medidas como redução de impostos.

 

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Por que existe toda essa expectativa sobre a TV 3D?

 

É difícil de identificar de onde vem a pressão. Minha impressão é de que vem do fabricante. O cara acabou de equipar a casa dele com a TV de alta definição (HD, na sigla em inglês). Aí os fabricantes começam a popularizar o HD e acabam as pessoas para quem podem vender com uma margem alta. Eles entram por cima com um novo produto para recuperar aquela margem. Eu me coloco na posição de entregar o que o assinante quer. Eu não acredito em canais lineares em 3D em pouco tempo. Pelo menos em quantidade. Mas a biblioteca disponível em 3D já é bem interessante. O nosso interesse é garantir para o assinante que, se é isso que ele quer, não precisa se preocupar que a Net vai ter. O investimento na infraestrutura já foi mais ou menos imaginado para suportar coisas dessa natureza.

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Vocês fizeram testes?

 

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Fizemos as duas transmissões pioneiras até agora. Fizemos a transmissão ao vivo do carnaval no Rio de Janeiro e fizemos em São Paulo a Fórmula Indy, ao vivo também. Isso é concomitante com qualquer coisa que está sendo feita no mundo nessa natureza. Já preparamos a infraestrutura da rede para suportar esse tipo de serviço. A gente chama essa transmissão de experimental porque a geração não é necessariamente de superprodução. Do ponto de vista de resultado final, não foi um negócio de circuito fechado. Foi para o canal 750 da Net no Rio de Janeiro e em São Paulo para o canal 703. Eu assisti a Fórmula Indy na minha casa. Não precisei ir ao bar, nem à Net ou à Bandeirantes. Estou com televisor 3D em casa para acompanhar o que a gente está fazendo.

 

E qual é a sua impressão como telespectador?

 

Eu sou extremamente analítico, cético, pé no chão. Se eu fosse me empolgar com toda tecnologia, já teria feito muita porcaria na Net e já teria tomado muitas decisões equivocadas. Eu ouço a opinião das pessoas à minha volta. A impressão que eu tenho é que ficam apaixonados. Eles ficam surpresos. É como ir ao cinema 3D. Não perde aquela sensação que se tem na tela grande.

 

Tem gente que fica com dor de cabeça.

 

Por isso eu acho que, eventualmente, a gente não tem de disponibilizar um canal linear em 3D. Tenho de fazer uma oferta em que disponibilizo uma biblioteca em 3D. No longo prazo, é uma questão de substituição dos televisores da casa. Se a tecnologia pegar e o serviço pegar, é natural que vão surgindo mais pessoas com televisores em 3D.

 

Quais são seus planos para vídeo sob demanda?

 

Tenho condições tecnológicas de fazer VOD (sigla em inglês de vídeo sob demanda) hoje. Eu não faço VOD porque não tenho um modelo de negócios. Tenho de negociar com os donos do conteúdo. Hoje, eu posso fazer tanto via IPTV (tecnologia da internet) quanto posso fazer usando DVB convencional (tecnologia da TV paga), com excelente qualidade e custo-benefício. Eu vou iniciar com DVB, porque acho que é mais estável, tem mais qualidade e melhor custo-benefício. Eu tenho as duas experiências. Vou fazer DVB, mas não estou fechando a porta. Estou fazendo uma plataforma dupla.

 

Ainda existem muitos assinantes analógicos?

 

Sim, e vai ser o desafio do futuro. Como vou fazer a transição final do analógico para o digital, sendo que tem muita gente que não quer fazer? Quanto menos analógico eu tiver, melhor, do ponto de vista do gerenciamento de capacidade de rede, porque um canal analógico pode chegar a ocupar 10 ou 11 canais digitais em termos de capacidade. O problema é que tem gente que liga a televisão direto no cabo, porque quer os canais abertos que a Net transmite. No futuro, todo mundo vai ter o conversor analógico-digital na sua TV, ou alguma coisa equivalente. Se essa transição vai levar cinco ou 10 anos, não sei exatamente.

 

Por que as pessoas não podem escolher individualmente os canais que querem assinar?

 

Infelizmente, a vida não é tão simples quanto parece. Do ponto de vista tecnológico, isso que as pessoas querem não existe. Num serviço com muitos assinantes, quantos milhões de combinações teria de fazer? Não consigo fazer isso do ponto de vista tecnológico. E existe o ponto de vista negocial também. Todas as pessoas querem pagar menos e ter mais qualidade de serviço. Para pagar menos, precisa ter custos menores. Quando negociamos a programação, pagamos por assinante e também às vezes um mínimo garantido. Eu conheço o assinante, sei da dor que é todo dia vender. Existe a tendência natural de todo programador querer estar no pacote básico, mas isso tornaria o pacote inacessível e isso vai contra uma característica essencial da TV paga, que é a segmentação. Ninguém dá de graça programação.

 

Como está o movimento de consolidação? Você estão conversando com a TV Cidade (empresa que está em 16 cidades brasileiras)?

 

A Net não está conversando com a TV Cidade. Eu acho que essa expansão da Net vai continuar acontecendo, talvez não no ritmo de aquisições. As grandes, já fomos atrás e compramos, mas não está excluída a possibilidade de a gente prosseguir nesse processo.

A empresa de TV paga Net é a segunda maior empresa de banda larga do Brasil, com 2,882 milhões de clientes de internet no fim de 2009. José Félix, diretor-geral da companhia, defendeu, em entrevista na terça-feira, que o governo ofereça incentivos à iniciativa privada para que haja competição em banda larga nas cidades médias e para que o serviço comece a ser oferecido nas cidades pequenas. Sobre a proposta de criação de uma estatal de banda larga, ele disse que o governo "não deve tentar resolver sozinho".

 

Ele falou também sobre seus planos de lançar em breve o serviço de vídeo sob demanda, que funciona como uma locadora virtual, sobre os testes com TV em três dimensões (3D), e sobre o motivo de a empresa não oferecer canais avulsos. A seguir, trechos da entrevista:

 

Qual é sua opinião sobre o plano nacional de banda larga?

 

No mercado brasileiro de banda larga existem três situações diferentes. Existe um monte de cidadezinhas sem conexão de internet, e isso precisa ser resolvido. Existem cidades médias com uma operação monopolista, e deveria haver incentivos para criar a competição. E existem as cidades grandes, onde o mercado já é competitivo.

 

O que o senhor acha da criação de uma estatal?

 

Acho que o poder público tem de interferir, mas incentivando as empresas privadas, incentivando o empreendedorismo nas cidades menores. Não deve tentar resolver sozinho. A situação de monopólio cria uma situação difícil para o surgimento da competição nessas cidades médias, o que poderia ser resolvido com medidas como redução de impostos.

 

Por que existe toda essa expectativa sobre a TV 3D?

 

É difícil de identificar de onde vem a pressão. Minha impressão é de que vem do fabricante. O cara acabou de equipar a casa dele com a TV de alta definição (HD, na sigla em inglês). Aí os fabricantes começam a popularizar o HD e acabam as pessoas para quem podem vender com uma margem alta. Eles entram por cima com um novo produto para recuperar aquela margem. Eu me coloco na posição de entregar o que o assinante quer. Eu não acredito em canais lineares em 3D em pouco tempo. Pelo menos em quantidade. Mas a biblioteca disponível em 3D já é bem interessante. O nosso interesse é garantir para o assinante que, se é isso que ele quer, não precisa se preocupar que a Net vai ter. O investimento na infraestrutura já foi mais ou menos imaginado para suportar coisas dessa natureza.

 

Vocês fizeram testes?

 

Fizemos as duas transmissões pioneiras até agora. Fizemos a transmissão ao vivo do carnaval no Rio de Janeiro e fizemos em São Paulo a Fórmula Indy, ao vivo também. Isso é concomitante com qualquer coisa que está sendo feita no mundo nessa natureza. Já preparamos a infraestrutura da rede para suportar esse tipo de serviço. A gente chama essa transmissão de experimental porque a geração não é necessariamente de superprodução. Do ponto de vista de resultado final, não foi um negócio de circuito fechado. Foi para o canal 750 da Net no Rio de Janeiro e em São Paulo para o canal 703. Eu assisti a Fórmula Indy na minha casa. Não precisei ir ao bar, nem à Net ou à Bandeirantes. Estou com televisor 3D em casa para acompanhar o que a gente está fazendo.

 

E qual é a sua impressão como telespectador?

 

Eu sou extremamente analítico, cético, pé no chão. Se eu fosse me empolgar com toda tecnologia, já teria feito muita porcaria na Net e já teria tomado muitas decisões equivocadas. Eu ouço a opinião das pessoas à minha volta. A impressão que eu tenho é que ficam apaixonados. Eles ficam surpresos. É como ir ao cinema 3D. Não perde aquela sensação que se tem na tela grande.

 

Tem gente que fica com dor de cabeça.

 

Por isso eu acho que, eventualmente, a gente não tem de disponibilizar um canal linear em 3D. Tenho de fazer uma oferta em que disponibilizo uma biblioteca em 3D. No longo prazo, é uma questão de substituição dos televisores da casa. Se a tecnologia pegar e o serviço pegar, é natural que vão surgindo mais pessoas com televisores em 3D.

 

Quais são seus planos para vídeo sob demanda?

 

Tenho condições tecnológicas de fazer VOD (sigla em inglês de vídeo sob demanda) hoje. Eu não faço VOD porque não tenho um modelo de negócios. Tenho de negociar com os donos do conteúdo. Hoje, eu posso fazer tanto via IPTV (tecnologia da internet) quanto posso fazer usando DVB convencional (tecnologia da TV paga), com excelente qualidade e custo-benefício. Eu vou iniciar com DVB, porque acho que é mais estável, tem mais qualidade e melhor custo-benefício. Eu tenho as duas experiências. Vou fazer DVB, mas não estou fechando a porta. Estou fazendo uma plataforma dupla.

 

Ainda existem muitos assinantes analógicos?

 

Sim, e vai ser o desafio do futuro. Como vou fazer a transição final do analógico para o digital, sendo que tem muita gente que não quer fazer? Quanto menos analógico eu tiver, melhor, do ponto de vista do gerenciamento de capacidade de rede, porque um canal analógico pode chegar a ocupar 10 ou 11 canais digitais em termos de capacidade. O problema é que tem gente que liga a televisão direto no cabo, porque quer os canais abertos que a Net transmite. No futuro, todo mundo vai ter o conversor analógico-digital na sua TV, ou alguma coisa equivalente. Se essa transição vai levar cinco ou 10 anos, não sei exatamente.

 

Por que as pessoas não podem escolher individualmente os canais que querem assinar?

 

Infelizmente, a vida não é tão simples quanto parece. Do ponto de vista tecnológico, isso que as pessoas querem não existe. Num serviço com muitos assinantes, quantos milhões de combinações teria de fazer? Não consigo fazer isso do ponto de vista tecnológico. E existe o ponto de vista negocial também. Todas as pessoas querem pagar menos e ter mais qualidade de serviço. Para pagar menos, precisa ter custos menores. Quando negociamos a programação, pagamos por assinante e também às vezes um mínimo garantido. Eu conheço o assinante, sei da dor que é todo dia vender. Existe a tendência natural de todo programador querer estar no pacote básico, mas isso tornaria o pacote inacessível e isso vai contra uma característica essencial da TV paga, que é a segmentação. Ninguém dá de graça programação.

 

Como está o movimento de consolidação? Você estão conversando com a TV Cidade (empresa que está em 16 cidades brasileiras)?

 

A Net não está conversando com a TV Cidade. Eu acho que essa expansão da Net vai continuar acontecendo, talvez não no ritmo de aquisições. As grandes, já fomos atrás e compramos, mas não está excluída a possibilidade de a gente prosseguir nesse processo.

A empresa de TV paga Net é a segunda maior empresa de banda larga do Brasil, com 2,882 milhões de clientes de internet no fim de 2009. José Félix, diretor-geral da companhia, defendeu, em entrevista na terça-feira, que o governo ofereça incentivos à iniciativa privada para que haja competição em banda larga nas cidades médias e para que o serviço comece a ser oferecido nas cidades pequenas. Sobre a proposta de criação de uma estatal de banda larga, ele disse que o governo "não deve tentar resolver sozinho".

 

Ele falou também sobre seus planos de lançar em breve o serviço de vídeo sob demanda, que funciona como uma locadora virtual, sobre os testes com TV em três dimensões (3D), e sobre o motivo de a empresa não oferecer canais avulsos. A seguir, trechos da entrevista:

 

Qual é sua opinião sobre o plano nacional de banda larga?

 

No mercado brasileiro de banda larga existem três situações diferentes. Existe um monte de cidadezinhas sem conexão de internet, e isso precisa ser resolvido. Existem cidades médias com uma operação monopolista, e deveria haver incentivos para criar a competição. E existem as cidades grandes, onde o mercado já é competitivo.

 

O que o senhor acha da criação de uma estatal?

 

Acho que o poder público tem de interferir, mas incentivando as empresas privadas, incentivando o empreendedorismo nas cidades menores. Não deve tentar resolver sozinho. A situação de monopólio cria uma situação difícil para o surgimento da competição nessas cidades médias, o que poderia ser resolvido com medidas como redução de impostos.

 

Por que existe toda essa expectativa sobre a TV 3D?

 

É difícil de identificar de onde vem a pressão. Minha impressão é de que vem do fabricante. O cara acabou de equipar a casa dele com a TV de alta definição (HD, na sigla em inglês). Aí os fabricantes começam a popularizar o HD e acabam as pessoas para quem podem vender com uma margem alta. Eles entram por cima com um novo produto para recuperar aquela margem. Eu me coloco na posição de entregar o que o assinante quer. Eu não acredito em canais lineares em 3D em pouco tempo. Pelo menos em quantidade. Mas a biblioteca disponível em 3D já é bem interessante. O nosso interesse é garantir para o assinante que, se é isso que ele quer, não precisa se preocupar que a Net vai ter. O investimento na infraestrutura já foi mais ou menos imaginado para suportar coisas dessa natureza.

 

Vocês fizeram testes?

 

Fizemos as duas transmissões pioneiras até agora. Fizemos a transmissão ao vivo do carnaval no Rio de Janeiro e fizemos em São Paulo a Fórmula Indy, ao vivo também. Isso é concomitante com qualquer coisa que está sendo feita no mundo nessa natureza. Já preparamos a infraestrutura da rede para suportar esse tipo de serviço. A gente chama essa transmissão de experimental porque a geração não é necessariamente de superprodução. Do ponto de vista de resultado final, não foi um negócio de circuito fechado. Foi para o canal 750 da Net no Rio de Janeiro e em São Paulo para o canal 703. Eu assisti a Fórmula Indy na minha casa. Não precisei ir ao bar, nem à Net ou à Bandeirantes. Estou com televisor 3D em casa para acompanhar o que a gente está fazendo.

 

E qual é a sua impressão como telespectador?

 

Eu sou extremamente analítico, cético, pé no chão. Se eu fosse me empolgar com toda tecnologia, já teria feito muita porcaria na Net e já teria tomado muitas decisões equivocadas. Eu ouço a opinião das pessoas à minha volta. A impressão que eu tenho é que ficam apaixonados. Eles ficam surpresos. É como ir ao cinema 3D. Não perde aquela sensação que se tem na tela grande.

 

Tem gente que fica com dor de cabeça.

 

Por isso eu acho que, eventualmente, a gente não tem de disponibilizar um canal linear em 3D. Tenho de fazer uma oferta em que disponibilizo uma biblioteca em 3D. No longo prazo, é uma questão de substituição dos televisores da casa. Se a tecnologia pegar e o serviço pegar, é natural que vão surgindo mais pessoas com televisores em 3D.

 

Quais são seus planos para vídeo sob demanda?

 

Tenho condições tecnológicas de fazer VOD (sigla em inglês de vídeo sob demanda) hoje. Eu não faço VOD porque não tenho um modelo de negócios. Tenho de negociar com os donos do conteúdo. Hoje, eu posso fazer tanto via IPTV (tecnologia da internet) quanto posso fazer usando DVB convencional (tecnologia da TV paga), com excelente qualidade e custo-benefício. Eu vou iniciar com DVB, porque acho que é mais estável, tem mais qualidade e melhor custo-benefício. Eu tenho as duas experiências. Vou fazer DVB, mas não estou fechando a porta. Estou fazendo uma plataforma dupla.

 

Ainda existem muitos assinantes analógicos?

 

Sim, e vai ser o desafio do futuro. Como vou fazer a transição final do analógico para o digital, sendo que tem muita gente que não quer fazer? Quanto menos analógico eu tiver, melhor, do ponto de vista do gerenciamento de capacidade de rede, porque um canal analógico pode chegar a ocupar 10 ou 11 canais digitais em termos de capacidade. O problema é que tem gente que liga a televisão direto no cabo, porque quer os canais abertos que a Net transmite. No futuro, todo mundo vai ter o conversor analógico-digital na sua TV, ou alguma coisa equivalente. Se essa transição vai levar cinco ou 10 anos, não sei exatamente.

 

Por que as pessoas não podem escolher individualmente os canais que querem assinar?

 

Infelizmente, a vida não é tão simples quanto parece. Do ponto de vista tecnológico, isso que as pessoas querem não existe. Num serviço com muitos assinantes, quantos milhões de combinações teria de fazer? Não consigo fazer isso do ponto de vista tecnológico. E existe o ponto de vista negocial também. Todas as pessoas querem pagar menos e ter mais qualidade de serviço. Para pagar menos, precisa ter custos menores. Quando negociamos a programação, pagamos por assinante e também às vezes um mínimo garantido. Eu conheço o assinante, sei da dor que é todo dia vender. Existe a tendência natural de todo programador querer estar no pacote básico, mas isso tornaria o pacote inacessível e isso vai contra uma característica essencial da TV paga, que é a segmentação. Ninguém dá de graça programação.

 

Como está o movimento de consolidação? Você estão conversando com a TV Cidade (empresa que está em 16 cidades brasileiras)?

 

A Net não está conversando com a TV Cidade. Eu acho que essa expansão da Net vai continuar acontecendo, talvez não no ritmo de aquisições. As grandes, já fomos atrás e compramos, mas não está excluída a possibilidade de a gente prosseguir nesse processo.

A empresa de TV paga Net é a segunda maior empresa de banda larga do Brasil, com 2,882 milhões de clientes de internet no fim de 2009. José Félix, diretor-geral da companhia, defendeu, em entrevista na terça-feira, que o governo ofereça incentivos à iniciativa privada para que haja competição em banda larga nas cidades médias e para que o serviço comece a ser oferecido nas cidades pequenas. Sobre a proposta de criação de uma estatal de banda larga, ele disse que o governo "não deve tentar resolver sozinho".

 

Ele falou também sobre seus planos de lançar em breve o serviço de vídeo sob demanda, que funciona como uma locadora virtual, sobre os testes com TV em três dimensões (3D), e sobre o motivo de a empresa não oferecer canais avulsos. A seguir, trechos da entrevista:

 

Qual é sua opinião sobre o plano nacional de banda larga?

 

No mercado brasileiro de banda larga existem três situações diferentes. Existe um monte de cidadezinhas sem conexão de internet, e isso precisa ser resolvido. Existem cidades médias com uma operação monopolista, e deveria haver incentivos para criar a competição. E existem as cidades grandes, onde o mercado já é competitivo.

 

O que o senhor acha da criação de uma estatal?

 

Acho que o poder público tem de interferir, mas incentivando as empresas privadas, incentivando o empreendedorismo nas cidades menores. Não deve tentar resolver sozinho. A situação de monopólio cria uma situação difícil para o surgimento da competição nessas cidades médias, o que poderia ser resolvido com medidas como redução de impostos.

 

Por que existe toda essa expectativa sobre a TV 3D?

 

É difícil de identificar de onde vem a pressão. Minha impressão é de que vem do fabricante. O cara acabou de equipar a casa dele com a TV de alta definição (HD, na sigla em inglês). Aí os fabricantes começam a popularizar o HD e acabam as pessoas para quem podem vender com uma margem alta. Eles entram por cima com um novo produto para recuperar aquela margem. Eu me coloco na posição de entregar o que o assinante quer. Eu não acredito em canais lineares em 3D em pouco tempo. Pelo menos em quantidade. Mas a biblioteca disponível em 3D já é bem interessante. O nosso interesse é garantir para o assinante que, se é isso que ele quer, não precisa se preocupar que a Net vai ter. O investimento na infraestrutura já foi mais ou menos imaginado para suportar coisas dessa natureza.

 

Vocês fizeram testes?

 

Fizemos as duas transmissões pioneiras até agora. Fizemos a transmissão ao vivo do carnaval no Rio de Janeiro e fizemos em São Paulo a Fórmula Indy, ao vivo também. Isso é concomitante com qualquer coisa que está sendo feita no mundo nessa natureza. Já preparamos a infraestrutura da rede para suportar esse tipo de serviço. A gente chama essa transmissão de experimental porque a geração não é necessariamente de superprodução. Do ponto de vista de resultado final, não foi um negócio de circuito fechado. Foi para o canal 750 da Net no Rio de Janeiro e em São Paulo para o canal 703. Eu assisti a Fórmula Indy na minha casa. Não precisei ir ao bar, nem à Net ou à Bandeirantes. Estou com televisor 3D em casa para acompanhar o que a gente está fazendo.

 

E qual é a sua impressão como telespectador?

 

Eu sou extremamente analítico, cético, pé no chão. Se eu fosse me empolgar com toda tecnologia, já teria feito muita porcaria na Net e já teria tomado muitas decisões equivocadas. Eu ouço a opinião das pessoas à minha volta. A impressão que eu tenho é que ficam apaixonados. Eles ficam surpresos. É como ir ao cinema 3D. Não perde aquela sensação que se tem na tela grande.

 

Tem gente que fica com dor de cabeça.

 

Por isso eu acho que, eventualmente, a gente não tem de disponibilizar um canal linear em 3D. Tenho de fazer uma oferta em que disponibilizo uma biblioteca em 3D. No longo prazo, é uma questão de substituição dos televisores da casa. Se a tecnologia pegar e o serviço pegar, é natural que vão surgindo mais pessoas com televisores em 3D.

 

Quais são seus planos para vídeo sob demanda?

 

Tenho condições tecnológicas de fazer VOD (sigla em inglês de vídeo sob demanda) hoje. Eu não faço VOD porque não tenho um modelo de negócios. Tenho de negociar com os donos do conteúdo. Hoje, eu posso fazer tanto via IPTV (tecnologia da internet) quanto posso fazer usando DVB convencional (tecnologia da TV paga), com excelente qualidade e custo-benefício. Eu vou iniciar com DVB, porque acho que é mais estável, tem mais qualidade e melhor custo-benefício. Eu tenho as duas experiências. Vou fazer DVB, mas não estou fechando a porta. Estou fazendo uma plataforma dupla.

 

Ainda existem muitos assinantes analógicos?

 

Sim, e vai ser o desafio do futuro. Como vou fazer a transição final do analógico para o digital, sendo que tem muita gente que não quer fazer? Quanto menos analógico eu tiver, melhor, do ponto de vista do gerenciamento de capacidade de rede, porque um canal analógico pode chegar a ocupar 10 ou 11 canais digitais em termos de capacidade. O problema é que tem gente que liga a televisão direto no cabo, porque quer os canais abertos que a Net transmite. No futuro, todo mundo vai ter o conversor analógico-digital na sua TV, ou alguma coisa equivalente. Se essa transição vai levar cinco ou 10 anos, não sei exatamente.

 

Por que as pessoas não podem escolher individualmente os canais que querem assinar?

 

Infelizmente, a vida não é tão simples quanto parece. Do ponto de vista tecnológico, isso que as pessoas querem não existe. Num serviço com muitos assinantes, quantos milhões de combinações teria de fazer? Não consigo fazer isso do ponto de vista tecnológico. E existe o ponto de vista negocial também. Todas as pessoas querem pagar menos e ter mais qualidade de serviço. Para pagar menos, precisa ter custos menores. Quando negociamos a programação, pagamos por assinante e também às vezes um mínimo garantido. Eu conheço o assinante, sei da dor que é todo dia vender. Existe a tendência natural de todo programador querer estar no pacote básico, mas isso tornaria o pacote inacessível e isso vai contra uma característica essencial da TV paga, que é a segmentação. Ninguém dá de graça programação.

 

Como está o movimento de consolidação? Você estão conversando com a TV Cidade (empresa que está em 16 cidades brasileiras)?

 

A Net não está conversando com a TV Cidade. Eu acho que essa expansão da Net vai continuar acontecendo, talvez não no ritmo de aquisições. As grandes, já fomos atrás e compramos, mas não está excluída a possibilidade de a gente prosseguir nesse processo.

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