O lado positivo da guerra das moedas


Por Edmar L. Bacha

É enorme o alvoroço mundial com a desvalorização do dólar. Melhor parar para pensar, antes de sair guerreando contra moinhos de vento. Desde o fim da 2.ª Guerra, o dólar tornou-se sinônimo não só de moeda forte, mas também da única moeda confiável para transações internacionais e guarda de valores. Com o advento do euro, esse título ameaçou ser repartido, mas é só agora, depois da grande crise financeira de 2008-2009, que se observa uma tendência aparentemente irreversível de diversificação de portfólios internacionais em busca de outras moedas. Ajudada conjunturalmente por taxas de juros próximas a zero nos EUA, é essa tendência que explica a perda do valor do dólar nos mercados cambiais mundiais.O atual regime monetário internacional teve origem na reunião de Bretton Woods (BW), em 1946. Nela, J. M. Keynes propôs a criação do "bancor", uma moeda escritural que seria a base de um novo sistema financeiro internacional. Os americanos se opuseram, daí resultando a primazia do dólar desde então. Em 1969, acordou-se que o Fundo Monetário Internacional (FMI) emitisse quantidades limitadas de uma moeda virtual, os "direitos especiais de saque" ou DES, para ampliar as reservas internacionais dos países-membros, mas nunca houve intenção de tornar o DES num substituto para o dólar nas transações internacionais.Talvez esse tempo tenha chegado. Já que não há um substituto único para o dólar à vista e que regimes plurimonetários nunca funcionaram direito, é possível imaginar a criação de um DES reforçado, baseado numa cesta ampla de moedas, que iria progressivamente substituindo o dólar nas reservas e transações internacionais. Devidamente repaginado, o FMI também poderia ganhar poder para disciplinar de forma simétrica países superavitários e países deficitários, assim permitindo a emergência de uma ordem econômica internacional com menos desequilíbrios do que a atual. Essa era também uma proposta de Keynes em BW. Mas, enquanto esse sonho não se concretiza, é preciso imaginar esquemas que permitam um ajuste ordenado da economia mundial à tendência de desvalorização do dólar.No meio do caminho tem a China, que, ao resistir a apreciar o yuan, coloca uma pressão extra para a valorização das demais moedas em relação ao dólar. Em contrapartida, a China continua a acumular imensas reservas internacionais que estão destinadas a se depreciar. Em face dessa realidade, os chineses, mais cedo ou mais tarde, reconhecerão que é de seu interesse permitir a apreciação do yuan em relação ao dólar, tornando seu crescimento mais dependente do consumo interno e menos dependente das exportações.Mas esse não é o único problema. Os movimentos sísmicos que hoje se observam nas finanças internacionais refletem uma nova fase da economia mundial, em que os países emergentes, de maneira geral, não só a China, estão diante de uma tendência irrefreável de apreciação de suas moedas em relação às dos países maduros. Isso tem como contrapartida menores superávits (no caso da China) ou maiores déficits (no do Brasil) nos balanços de pagamentos em conta corrente dos países emergentes. O que é uma coisa boa! Pois permite a redução do desemprego nos países maduros, por meio da expansão de suas exportações, ao mesmo tempo que acelera o crescimento nos países emergentes, por meio de mais investimentos financiados por poupança externa.O problema é garantir que essa convergência de interesses ocorra sem o risco das chamadas paradas súbitas ou reversões abruptas nas entradas de capital, que levaram, ainda tão recentemente, a grandes crises nos países emergentes. Além da relação yuan-dólar, essa é outra questão à qual o G-20 precisa se dedicar. Trata-se, talvez, de criar um amplo sistema de seguro internacional, administrado por um FMI reformado, ao qual os países emergentes teriam pronto acesso. Um acordo sobre tal mecanismo poderia ser a porta de entrada para o redesenho do sistema monetário internacional e um futuro mais promissor para a economia mundial.DIRETOR DO INSTITUTO DE ESTUDOS DE POLÍTICA ECONÔMICA CASA DAS GARÇAS

É enorme o alvoroço mundial com a desvalorização do dólar. Melhor parar para pensar, antes de sair guerreando contra moinhos de vento. Desde o fim da 2.ª Guerra, o dólar tornou-se sinônimo não só de moeda forte, mas também da única moeda confiável para transações internacionais e guarda de valores. Com o advento do euro, esse título ameaçou ser repartido, mas é só agora, depois da grande crise financeira de 2008-2009, que se observa uma tendência aparentemente irreversível de diversificação de portfólios internacionais em busca de outras moedas. Ajudada conjunturalmente por taxas de juros próximas a zero nos EUA, é essa tendência que explica a perda do valor do dólar nos mercados cambiais mundiais.O atual regime monetário internacional teve origem na reunião de Bretton Woods (BW), em 1946. Nela, J. M. Keynes propôs a criação do "bancor", uma moeda escritural que seria a base de um novo sistema financeiro internacional. Os americanos se opuseram, daí resultando a primazia do dólar desde então. Em 1969, acordou-se que o Fundo Monetário Internacional (FMI) emitisse quantidades limitadas de uma moeda virtual, os "direitos especiais de saque" ou DES, para ampliar as reservas internacionais dos países-membros, mas nunca houve intenção de tornar o DES num substituto para o dólar nas transações internacionais.Talvez esse tempo tenha chegado. Já que não há um substituto único para o dólar à vista e que regimes plurimonetários nunca funcionaram direito, é possível imaginar a criação de um DES reforçado, baseado numa cesta ampla de moedas, que iria progressivamente substituindo o dólar nas reservas e transações internacionais. Devidamente repaginado, o FMI também poderia ganhar poder para disciplinar de forma simétrica países superavitários e países deficitários, assim permitindo a emergência de uma ordem econômica internacional com menos desequilíbrios do que a atual. Essa era também uma proposta de Keynes em BW. Mas, enquanto esse sonho não se concretiza, é preciso imaginar esquemas que permitam um ajuste ordenado da economia mundial à tendência de desvalorização do dólar.No meio do caminho tem a China, que, ao resistir a apreciar o yuan, coloca uma pressão extra para a valorização das demais moedas em relação ao dólar. Em contrapartida, a China continua a acumular imensas reservas internacionais que estão destinadas a se depreciar. Em face dessa realidade, os chineses, mais cedo ou mais tarde, reconhecerão que é de seu interesse permitir a apreciação do yuan em relação ao dólar, tornando seu crescimento mais dependente do consumo interno e menos dependente das exportações.Mas esse não é o único problema. Os movimentos sísmicos que hoje se observam nas finanças internacionais refletem uma nova fase da economia mundial, em que os países emergentes, de maneira geral, não só a China, estão diante de uma tendência irrefreável de apreciação de suas moedas em relação às dos países maduros. Isso tem como contrapartida menores superávits (no caso da China) ou maiores déficits (no do Brasil) nos balanços de pagamentos em conta corrente dos países emergentes. O que é uma coisa boa! Pois permite a redução do desemprego nos países maduros, por meio da expansão de suas exportações, ao mesmo tempo que acelera o crescimento nos países emergentes, por meio de mais investimentos financiados por poupança externa.O problema é garantir que essa convergência de interesses ocorra sem o risco das chamadas paradas súbitas ou reversões abruptas nas entradas de capital, que levaram, ainda tão recentemente, a grandes crises nos países emergentes. Além da relação yuan-dólar, essa é outra questão à qual o G-20 precisa se dedicar. Trata-se, talvez, de criar um amplo sistema de seguro internacional, administrado por um FMI reformado, ao qual os países emergentes teriam pronto acesso. Um acordo sobre tal mecanismo poderia ser a porta de entrada para o redesenho do sistema monetário internacional e um futuro mais promissor para a economia mundial.DIRETOR DO INSTITUTO DE ESTUDOS DE POLÍTICA ECONÔMICA CASA DAS GARÇAS

É enorme o alvoroço mundial com a desvalorização do dólar. Melhor parar para pensar, antes de sair guerreando contra moinhos de vento. Desde o fim da 2.ª Guerra, o dólar tornou-se sinônimo não só de moeda forte, mas também da única moeda confiável para transações internacionais e guarda de valores. Com o advento do euro, esse título ameaçou ser repartido, mas é só agora, depois da grande crise financeira de 2008-2009, que se observa uma tendência aparentemente irreversível de diversificação de portfólios internacionais em busca de outras moedas. Ajudada conjunturalmente por taxas de juros próximas a zero nos EUA, é essa tendência que explica a perda do valor do dólar nos mercados cambiais mundiais.O atual regime monetário internacional teve origem na reunião de Bretton Woods (BW), em 1946. Nela, J. M. Keynes propôs a criação do "bancor", uma moeda escritural que seria a base de um novo sistema financeiro internacional. Os americanos se opuseram, daí resultando a primazia do dólar desde então. Em 1969, acordou-se que o Fundo Monetário Internacional (FMI) emitisse quantidades limitadas de uma moeda virtual, os "direitos especiais de saque" ou DES, para ampliar as reservas internacionais dos países-membros, mas nunca houve intenção de tornar o DES num substituto para o dólar nas transações internacionais.Talvez esse tempo tenha chegado. Já que não há um substituto único para o dólar à vista e que regimes plurimonetários nunca funcionaram direito, é possível imaginar a criação de um DES reforçado, baseado numa cesta ampla de moedas, que iria progressivamente substituindo o dólar nas reservas e transações internacionais. Devidamente repaginado, o FMI também poderia ganhar poder para disciplinar de forma simétrica países superavitários e países deficitários, assim permitindo a emergência de uma ordem econômica internacional com menos desequilíbrios do que a atual. Essa era também uma proposta de Keynes em BW. Mas, enquanto esse sonho não se concretiza, é preciso imaginar esquemas que permitam um ajuste ordenado da economia mundial à tendência de desvalorização do dólar.No meio do caminho tem a China, que, ao resistir a apreciar o yuan, coloca uma pressão extra para a valorização das demais moedas em relação ao dólar. Em contrapartida, a China continua a acumular imensas reservas internacionais que estão destinadas a se depreciar. Em face dessa realidade, os chineses, mais cedo ou mais tarde, reconhecerão que é de seu interesse permitir a apreciação do yuan em relação ao dólar, tornando seu crescimento mais dependente do consumo interno e menos dependente das exportações.Mas esse não é o único problema. Os movimentos sísmicos que hoje se observam nas finanças internacionais refletem uma nova fase da economia mundial, em que os países emergentes, de maneira geral, não só a China, estão diante de uma tendência irrefreável de apreciação de suas moedas em relação às dos países maduros. Isso tem como contrapartida menores superávits (no caso da China) ou maiores déficits (no do Brasil) nos balanços de pagamentos em conta corrente dos países emergentes. O que é uma coisa boa! Pois permite a redução do desemprego nos países maduros, por meio da expansão de suas exportações, ao mesmo tempo que acelera o crescimento nos países emergentes, por meio de mais investimentos financiados por poupança externa.O problema é garantir que essa convergência de interesses ocorra sem o risco das chamadas paradas súbitas ou reversões abruptas nas entradas de capital, que levaram, ainda tão recentemente, a grandes crises nos países emergentes. Além da relação yuan-dólar, essa é outra questão à qual o G-20 precisa se dedicar. Trata-se, talvez, de criar um amplo sistema de seguro internacional, administrado por um FMI reformado, ao qual os países emergentes teriam pronto acesso. Um acordo sobre tal mecanismo poderia ser a porta de entrada para o redesenho do sistema monetário internacional e um futuro mais promissor para a economia mundial.DIRETOR DO INSTITUTO DE ESTUDOS DE POLÍTICA ECONÔMICA CASA DAS GARÇAS

É enorme o alvoroço mundial com a desvalorização do dólar. Melhor parar para pensar, antes de sair guerreando contra moinhos de vento. Desde o fim da 2.ª Guerra, o dólar tornou-se sinônimo não só de moeda forte, mas também da única moeda confiável para transações internacionais e guarda de valores. Com o advento do euro, esse título ameaçou ser repartido, mas é só agora, depois da grande crise financeira de 2008-2009, que se observa uma tendência aparentemente irreversível de diversificação de portfólios internacionais em busca de outras moedas. Ajudada conjunturalmente por taxas de juros próximas a zero nos EUA, é essa tendência que explica a perda do valor do dólar nos mercados cambiais mundiais.O atual regime monetário internacional teve origem na reunião de Bretton Woods (BW), em 1946. Nela, J. M. Keynes propôs a criação do "bancor", uma moeda escritural que seria a base de um novo sistema financeiro internacional. Os americanos se opuseram, daí resultando a primazia do dólar desde então. Em 1969, acordou-se que o Fundo Monetário Internacional (FMI) emitisse quantidades limitadas de uma moeda virtual, os "direitos especiais de saque" ou DES, para ampliar as reservas internacionais dos países-membros, mas nunca houve intenção de tornar o DES num substituto para o dólar nas transações internacionais.Talvez esse tempo tenha chegado. Já que não há um substituto único para o dólar à vista e que regimes plurimonetários nunca funcionaram direito, é possível imaginar a criação de um DES reforçado, baseado numa cesta ampla de moedas, que iria progressivamente substituindo o dólar nas reservas e transações internacionais. Devidamente repaginado, o FMI também poderia ganhar poder para disciplinar de forma simétrica países superavitários e países deficitários, assim permitindo a emergência de uma ordem econômica internacional com menos desequilíbrios do que a atual. Essa era também uma proposta de Keynes em BW. Mas, enquanto esse sonho não se concretiza, é preciso imaginar esquemas que permitam um ajuste ordenado da economia mundial à tendência de desvalorização do dólar.No meio do caminho tem a China, que, ao resistir a apreciar o yuan, coloca uma pressão extra para a valorização das demais moedas em relação ao dólar. Em contrapartida, a China continua a acumular imensas reservas internacionais que estão destinadas a se depreciar. Em face dessa realidade, os chineses, mais cedo ou mais tarde, reconhecerão que é de seu interesse permitir a apreciação do yuan em relação ao dólar, tornando seu crescimento mais dependente do consumo interno e menos dependente das exportações.Mas esse não é o único problema. Os movimentos sísmicos que hoje se observam nas finanças internacionais refletem uma nova fase da economia mundial, em que os países emergentes, de maneira geral, não só a China, estão diante de uma tendência irrefreável de apreciação de suas moedas em relação às dos países maduros. Isso tem como contrapartida menores superávits (no caso da China) ou maiores déficits (no do Brasil) nos balanços de pagamentos em conta corrente dos países emergentes. O que é uma coisa boa! Pois permite a redução do desemprego nos países maduros, por meio da expansão de suas exportações, ao mesmo tempo que acelera o crescimento nos países emergentes, por meio de mais investimentos financiados por poupança externa.O problema é garantir que essa convergência de interesses ocorra sem o risco das chamadas paradas súbitas ou reversões abruptas nas entradas de capital, que levaram, ainda tão recentemente, a grandes crises nos países emergentes. Além da relação yuan-dólar, essa é outra questão à qual o G-20 precisa se dedicar. Trata-se, talvez, de criar um amplo sistema de seguro internacional, administrado por um FMI reformado, ao qual os países emergentes teriam pronto acesso. Um acordo sobre tal mecanismo poderia ser a porta de entrada para o redesenho do sistema monetário internacional e um futuro mais promissor para a economia mundial.DIRETOR DO INSTITUTO DE ESTUDOS DE POLÍTICA ECONÔMICA CASA DAS GARÇAS

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