'País precisa sair da armadilha do baixo crescimento', diz Maílson da Nóbrega


Saída é trocar de presidente e voltar a ter uma economia mais produtiva, aponta ex-ministro do governo Sarney, que também vê um cenário difícil para uma terceira via

Por Sonia Racy

Economista experiente, ministro da Fazenda nos difíceis anos de alta inflação do governo Sarney e um dos criadores da Tendências Consultoria, o hoje consultor Mailson da Nóbrega aponta dois passos que o Brasil precisa dar para voltar a respirar e ter rumo. Primeiro, trocar de presidente em 2022. Segundo, “sair da armadilha do baixo crescimento”. 

Nesta conversa com Cenários, considera urgente aprovar uma reforma tributária – o projeto de lei já existe, foi coordenado pelo economista Bernard Appy. A opção escolhida pelo governo Bolsonaro, “é péssima, resume-se a reforma do Imposto de Renda”. Para 2022, ele acredita que a terceira via “é um projeto difícil”. E que, entre Lula e Bolsonaro, o petista “pode ter cometido erros”, mas “entende como funcionam as instituições e mostrou que sabe governar”. Aqui vão trechos da conversa. 

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Projeto de reforma tributária 'pode voltar em 2023', diz Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda do governo Sarney. Foto: Marilia Vasconcelos - 26/9/2021

Com o clima de incertezas tanto na política bem como na economia, dá para desenhar algo para próximos anos?

Acho que temos dois desafios. O primeiro é a alternância do poder em 2022 – ou seja, a substituição de Jair Bolsonaro por um presidente que saiba conduzir-se na gestão do governo e restabeleça o prestígio que o Brasil já teve na cena internacional. O segundo, sair desse cenário de baixo crescimento, a chamada armadilha da renda média. A renda per capita estagnou nos últimos 40 anos, e a razão principal foi a queda da produtividade, que é o grande fator de geração de riqueza de um país. 

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Mas esse problema, de baixa produtividade, vem desde os anos 80, não?

Os 80 foram o início dessa derrocada. Nos 50, 60 e 70, a produtividade trouxe o maior crescimento do Brasil de todos os tempos, o chamado milagre brasileiro de 1968 a 1973, que chegou aos 11,1% ao ano. Nos 80, isso começou a cair.

O que motivou essa virada?

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Foi a queda da eficiência na economia. Temos aí fatores externos, como as crises do petróleo em 1973 e 79 e o esgotamento da estratégia de crescimento pela substituição das importações e forte intervenção dirigista do Estado. Também acabou o benefício dos campos, provocando forte migração do campo para as cidades. E, de quebra, tivemos uma piora do sistema fiscal. 

Como foi isso?

O Brasil criou um sistema fiscal avançado, em 1965. Adotou-se um método de tributação de consumo dos mais modernos do mundo. Na época, era o ICM, depois ICMS e IPI. Isso foi sendo deteriorado por novas formas de tributação, que abriga hoje o PIS e o Cofins. E a Constituição de 1988 foi uma pá de cal na eficiência tributária porque, sob pressão dos governadores e prefeitos, atribuiu-se a Estados o poder de decidir sobre ICMS. 

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Foi uma má ideia?

Foi um desastre. Trouxe imposto sobre imposto e virou uma bagunça. Com o ICMS mudando sete vezes por semana, nenhuma empresa de atuação nacional consegue acompanhar essa loucura. Eu diria que hoje o principal fator de redução da produtividade no Brasil é o ICMS. 

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Existe alguma possibilidade de, um dia, termos uma boa reforma tributária?

O Brasil perdeu agora uma oportunidade de fazê-la, por meio da proposta do Centro de Cidadania Fiscal, liderada pelo Bernard Appy. Ali, pela primeira vez na história, governadores e secretários da Fazenda se puseram de acordo. Por que não emplacou? Porque os Estados depois se convenceram de que esse sistema é inviável. Hoje, a economia é cada vez mais de serviços, que já tomam 73% da economia brasileira, e há poucos serviços tributados por Estados – a grande massa deles está na área tecnológica, é tudo dos municípios. Mas acho que o projeto não está enterrado, ele pode renascer se houver uma mudança de poder em 2022.

Qual é a importância dessa alternância de poder?

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É evitar a presença de um presidente despreparado como o atual, sem a menor capacidade de coordenar o jogo político e com capacidade inacreditável de dizer bobagem todo dia.

O que acha da candidatura do Lula? E da terceira via?

No nosso cenário lá na Tendências Consultoria, caminhamos para um segundo turno entre Lula e Bolsonaro no qual Lula será o vencedor. Não vemos espaço, no momento, para uma terceira via. Quanto a Bolsonaro, talvez ele veja que não tem chance de chegar ao segundo turno e tente ser deputado, para ficar a salvo de processos. 

Como vê o futuro de Lula?

Ele é candidatíssimo e quer mostrar que não foi corrupto. Agora, se você me perguntar “o governo do Lula seria melhor do que o do Bolsonaro?”, não tenho dúvida em dizer que sim. Ele sabe como funcionam as instituições, já mostrou que sabe governar. 

Mas ainda é cedo e muita coisa pode mudar, não?

Acho que 2022 vai ser um ano difícil, O ambiente externo é desafiador, estamos num momento de mudança na política monetária dos EUA, onde a inflação já passou dos 6%. E acho esse programa que substitui o Bolsa Família uma aposta arriscada de Bolsonaro. Na campanha, o Lula vai dizer ao eleitor, principalmente no Nordeste, que é o mesmo Bolsa Família, uma criação dele. 

Economista experiente, ministro da Fazenda nos difíceis anos de alta inflação do governo Sarney e um dos criadores da Tendências Consultoria, o hoje consultor Mailson da Nóbrega aponta dois passos que o Brasil precisa dar para voltar a respirar e ter rumo. Primeiro, trocar de presidente em 2022. Segundo, “sair da armadilha do baixo crescimento”. 

Nesta conversa com Cenários, considera urgente aprovar uma reforma tributária – o projeto de lei já existe, foi coordenado pelo economista Bernard Appy. A opção escolhida pelo governo Bolsonaro, “é péssima, resume-se a reforma do Imposto de Renda”. Para 2022, ele acredita que a terceira via “é um projeto difícil”. E que, entre Lula e Bolsonaro, o petista “pode ter cometido erros”, mas “entende como funcionam as instituições e mostrou que sabe governar”. Aqui vão trechos da conversa. 

Projeto de reforma tributária 'pode voltar em 2023', diz Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda do governo Sarney. Foto: Marilia Vasconcelos - 26/9/2021

Com o clima de incertezas tanto na política bem como na economia, dá para desenhar algo para próximos anos?

Acho que temos dois desafios. O primeiro é a alternância do poder em 2022 – ou seja, a substituição de Jair Bolsonaro por um presidente que saiba conduzir-se na gestão do governo e restabeleça o prestígio que o Brasil já teve na cena internacional. O segundo, sair desse cenário de baixo crescimento, a chamada armadilha da renda média. A renda per capita estagnou nos últimos 40 anos, e a razão principal foi a queda da produtividade, que é o grande fator de geração de riqueza de um país. 

Mas esse problema, de baixa produtividade, vem desde os anos 80, não?

Os 80 foram o início dessa derrocada. Nos 50, 60 e 70, a produtividade trouxe o maior crescimento do Brasil de todos os tempos, o chamado milagre brasileiro de 1968 a 1973, que chegou aos 11,1% ao ano. Nos 80, isso começou a cair.

O que motivou essa virada?

Foi a queda da eficiência na economia. Temos aí fatores externos, como as crises do petróleo em 1973 e 79 e o esgotamento da estratégia de crescimento pela substituição das importações e forte intervenção dirigista do Estado. Também acabou o benefício dos campos, provocando forte migração do campo para as cidades. E, de quebra, tivemos uma piora do sistema fiscal. 

Como foi isso?

O Brasil criou um sistema fiscal avançado, em 1965. Adotou-se um método de tributação de consumo dos mais modernos do mundo. Na época, era o ICM, depois ICMS e IPI. Isso foi sendo deteriorado por novas formas de tributação, que abriga hoje o PIS e o Cofins. E a Constituição de 1988 foi uma pá de cal na eficiência tributária porque, sob pressão dos governadores e prefeitos, atribuiu-se a Estados o poder de decidir sobre ICMS. 

Foi uma má ideia?

Foi um desastre. Trouxe imposto sobre imposto e virou uma bagunça. Com o ICMS mudando sete vezes por semana, nenhuma empresa de atuação nacional consegue acompanhar essa loucura. Eu diria que hoje o principal fator de redução da produtividade no Brasil é o ICMS. 

Existe alguma possibilidade de, um dia, termos uma boa reforma tributária?

O Brasil perdeu agora uma oportunidade de fazê-la, por meio da proposta do Centro de Cidadania Fiscal, liderada pelo Bernard Appy. Ali, pela primeira vez na história, governadores e secretários da Fazenda se puseram de acordo. Por que não emplacou? Porque os Estados depois se convenceram de que esse sistema é inviável. Hoje, a economia é cada vez mais de serviços, que já tomam 73% da economia brasileira, e há poucos serviços tributados por Estados – a grande massa deles está na área tecnológica, é tudo dos municípios. Mas acho que o projeto não está enterrado, ele pode renascer se houver uma mudança de poder em 2022.

Qual é a importância dessa alternância de poder?

É evitar a presença de um presidente despreparado como o atual, sem a menor capacidade de coordenar o jogo político e com capacidade inacreditável de dizer bobagem todo dia.

O que acha da candidatura do Lula? E da terceira via?

No nosso cenário lá na Tendências Consultoria, caminhamos para um segundo turno entre Lula e Bolsonaro no qual Lula será o vencedor. Não vemos espaço, no momento, para uma terceira via. Quanto a Bolsonaro, talvez ele veja que não tem chance de chegar ao segundo turno e tente ser deputado, para ficar a salvo de processos. 

Como vê o futuro de Lula?

Ele é candidatíssimo e quer mostrar que não foi corrupto. Agora, se você me perguntar “o governo do Lula seria melhor do que o do Bolsonaro?”, não tenho dúvida em dizer que sim. Ele sabe como funcionam as instituições, já mostrou que sabe governar. 

Mas ainda é cedo e muita coisa pode mudar, não?

Acho que 2022 vai ser um ano difícil, O ambiente externo é desafiador, estamos num momento de mudança na política monetária dos EUA, onde a inflação já passou dos 6%. E acho esse programa que substitui o Bolsa Família uma aposta arriscada de Bolsonaro. Na campanha, o Lula vai dizer ao eleitor, principalmente no Nordeste, que é o mesmo Bolsa Família, uma criação dele. 

Economista experiente, ministro da Fazenda nos difíceis anos de alta inflação do governo Sarney e um dos criadores da Tendências Consultoria, o hoje consultor Mailson da Nóbrega aponta dois passos que o Brasil precisa dar para voltar a respirar e ter rumo. Primeiro, trocar de presidente em 2022. Segundo, “sair da armadilha do baixo crescimento”. 

Nesta conversa com Cenários, considera urgente aprovar uma reforma tributária – o projeto de lei já existe, foi coordenado pelo economista Bernard Appy. A opção escolhida pelo governo Bolsonaro, “é péssima, resume-se a reforma do Imposto de Renda”. Para 2022, ele acredita que a terceira via “é um projeto difícil”. E que, entre Lula e Bolsonaro, o petista “pode ter cometido erros”, mas “entende como funcionam as instituições e mostrou que sabe governar”. Aqui vão trechos da conversa. 

Projeto de reforma tributária 'pode voltar em 2023', diz Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda do governo Sarney. Foto: Marilia Vasconcelos - 26/9/2021

Com o clima de incertezas tanto na política bem como na economia, dá para desenhar algo para próximos anos?

Acho que temos dois desafios. O primeiro é a alternância do poder em 2022 – ou seja, a substituição de Jair Bolsonaro por um presidente que saiba conduzir-se na gestão do governo e restabeleça o prestígio que o Brasil já teve na cena internacional. O segundo, sair desse cenário de baixo crescimento, a chamada armadilha da renda média. A renda per capita estagnou nos últimos 40 anos, e a razão principal foi a queda da produtividade, que é o grande fator de geração de riqueza de um país. 

Mas esse problema, de baixa produtividade, vem desde os anos 80, não?

Os 80 foram o início dessa derrocada. Nos 50, 60 e 70, a produtividade trouxe o maior crescimento do Brasil de todos os tempos, o chamado milagre brasileiro de 1968 a 1973, que chegou aos 11,1% ao ano. Nos 80, isso começou a cair.

O que motivou essa virada?

Foi a queda da eficiência na economia. Temos aí fatores externos, como as crises do petróleo em 1973 e 79 e o esgotamento da estratégia de crescimento pela substituição das importações e forte intervenção dirigista do Estado. Também acabou o benefício dos campos, provocando forte migração do campo para as cidades. E, de quebra, tivemos uma piora do sistema fiscal. 

Como foi isso?

O Brasil criou um sistema fiscal avançado, em 1965. Adotou-se um método de tributação de consumo dos mais modernos do mundo. Na época, era o ICM, depois ICMS e IPI. Isso foi sendo deteriorado por novas formas de tributação, que abriga hoje o PIS e o Cofins. E a Constituição de 1988 foi uma pá de cal na eficiência tributária porque, sob pressão dos governadores e prefeitos, atribuiu-se a Estados o poder de decidir sobre ICMS. 

Foi uma má ideia?

Foi um desastre. Trouxe imposto sobre imposto e virou uma bagunça. Com o ICMS mudando sete vezes por semana, nenhuma empresa de atuação nacional consegue acompanhar essa loucura. Eu diria que hoje o principal fator de redução da produtividade no Brasil é o ICMS. 

Existe alguma possibilidade de, um dia, termos uma boa reforma tributária?

O Brasil perdeu agora uma oportunidade de fazê-la, por meio da proposta do Centro de Cidadania Fiscal, liderada pelo Bernard Appy. Ali, pela primeira vez na história, governadores e secretários da Fazenda se puseram de acordo. Por que não emplacou? Porque os Estados depois se convenceram de que esse sistema é inviável. Hoje, a economia é cada vez mais de serviços, que já tomam 73% da economia brasileira, e há poucos serviços tributados por Estados – a grande massa deles está na área tecnológica, é tudo dos municípios. Mas acho que o projeto não está enterrado, ele pode renascer se houver uma mudança de poder em 2022.

Qual é a importância dessa alternância de poder?

É evitar a presença de um presidente despreparado como o atual, sem a menor capacidade de coordenar o jogo político e com capacidade inacreditável de dizer bobagem todo dia.

O que acha da candidatura do Lula? E da terceira via?

No nosso cenário lá na Tendências Consultoria, caminhamos para um segundo turno entre Lula e Bolsonaro no qual Lula será o vencedor. Não vemos espaço, no momento, para uma terceira via. Quanto a Bolsonaro, talvez ele veja que não tem chance de chegar ao segundo turno e tente ser deputado, para ficar a salvo de processos. 

Como vê o futuro de Lula?

Ele é candidatíssimo e quer mostrar que não foi corrupto. Agora, se você me perguntar “o governo do Lula seria melhor do que o do Bolsonaro?”, não tenho dúvida em dizer que sim. Ele sabe como funcionam as instituições, já mostrou que sabe governar. 

Mas ainda é cedo e muita coisa pode mudar, não?

Acho que 2022 vai ser um ano difícil, O ambiente externo é desafiador, estamos num momento de mudança na política monetária dos EUA, onde a inflação já passou dos 6%. E acho esse programa que substitui o Bolsa Família uma aposta arriscada de Bolsonaro. Na campanha, o Lula vai dizer ao eleitor, principalmente no Nordeste, que é o mesmo Bolsa Família, uma criação dele. 

Economista experiente, ministro da Fazenda nos difíceis anos de alta inflação do governo Sarney e um dos criadores da Tendências Consultoria, o hoje consultor Mailson da Nóbrega aponta dois passos que o Brasil precisa dar para voltar a respirar e ter rumo. Primeiro, trocar de presidente em 2022. Segundo, “sair da armadilha do baixo crescimento”. 

Nesta conversa com Cenários, considera urgente aprovar uma reforma tributária – o projeto de lei já existe, foi coordenado pelo economista Bernard Appy. A opção escolhida pelo governo Bolsonaro, “é péssima, resume-se a reforma do Imposto de Renda”. Para 2022, ele acredita que a terceira via “é um projeto difícil”. E que, entre Lula e Bolsonaro, o petista “pode ter cometido erros”, mas “entende como funcionam as instituições e mostrou que sabe governar”. Aqui vão trechos da conversa. 

Projeto de reforma tributária 'pode voltar em 2023', diz Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda do governo Sarney. Foto: Marilia Vasconcelos - 26/9/2021

Com o clima de incertezas tanto na política bem como na economia, dá para desenhar algo para próximos anos?

Acho que temos dois desafios. O primeiro é a alternância do poder em 2022 – ou seja, a substituição de Jair Bolsonaro por um presidente que saiba conduzir-se na gestão do governo e restabeleça o prestígio que o Brasil já teve na cena internacional. O segundo, sair desse cenário de baixo crescimento, a chamada armadilha da renda média. A renda per capita estagnou nos últimos 40 anos, e a razão principal foi a queda da produtividade, que é o grande fator de geração de riqueza de um país. 

Mas esse problema, de baixa produtividade, vem desde os anos 80, não?

Os 80 foram o início dessa derrocada. Nos 50, 60 e 70, a produtividade trouxe o maior crescimento do Brasil de todos os tempos, o chamado milagre brasileiro de 1968 a 1973, que chegou aos 11,1% ao ano. Nos 80, isso começou a cair.

O que motivou essa virada?

Foi a queda da eficiência na economia. Temos aí fatores externos, como as crises do petróleo em 1973 e 79 e o esgotamento da estratégia de crescimento pela substituição das importações e forte intervenção dirigista do Estado. Também acabou o benefício dos campos, provocando forte migração do campo para as cidades. E, de quebra, tivemos uma piora do sistema fiscal. 

Como foi isso?

O Brasil criou um sistema fiscal avançado, em 1965. Adotou-se um método de tributação de consumo dos mais modernos do mundo. Na época, era o ICM, depois ICMS e IPI. Isso foi sendo deteriorado por novas formas de tributação, que abriga hoje o PIS e o Cofins. E a Constituição de 1988 foi uma pá de cal na eficiência tributária porque, sob pressão dos governadores e prefeitos, atribuiu-se a Estados o poder de decidir sobre ICMS. 

Foi uma má ideia?

Foi um desastre. Trouxe imposto sobre imposto e virou uma bagunça. Com o ICMS mudando sete vezes por semana, nenhuma empresa de atuação nacional consegue acompanhar essa loucura. Eu diria que hoje o principal fator de redução da produtividade no Brasil é o ICMS. 

Existe alguma possibilidade de, um dia, termos uma boa reforma tributária?

O Brasil perdeu agora uma oportunidade de fazê-la, por meio da proposta do Centro de Cidadania Fiscal, liderada pelo Bernard Appy. Ali, pela primeira vez na história, governadores e secretários da Fazenda se puseram de acordo. Por que não emplacou? Porque os Estados depois se convenceram de que esse sistema é inviável. Hoje, a economia é cada vez mais de serviços, que já tomam 73% da economia brasileira, e há poucos serviços tributados por Estados – a grande massa deles está na área tecnológica, é tudo dos municípios. Mas acho que o projeto não está enterrado, ele pode renascer se houver uma mudança de poder em 2022.

Qual é a importância dessa alternância de poder?

É evitar a presença de um presidente despreparado como o atual, sem a menor capacidade de coordenar o jogo político e com capacidade inacreditável de dizer bobagem todo dia.

O que acha da candidatura do Lula? E da terceira via?

No nosso cenário lá na Tendências Consultoria, caminhamos para um segundo turno entre Lula e Bolsonaro no qual Lula será o vencedor. Não vemos espaço, no momento, para uma terceira via. Quanto a Bolsonaro, talvez ele veja que não tem chance de chegar ao segundo turno e tente ser deputado, para ficar a salvo de processos. 

Como vê o futuro de Lula?

Ele é candidatíssimo e quer mostrar que não foi corrupto. Agora, se você me perguntar “o governo do Lula seria melhor do que o do Bolsonaro?”, não tenho dúvida em dizer que sim. Ele sabe como funcionam as instituições, já mostrou que sabe governar. 

Mas ainda é cedo e muita coisa pode mudar, não?

Acho que 2022 vai ser um ano difícil, O ambiente externo é desafiador, estamos num momento de mudança na política monetária dos EUA, onde a inflação já passou dos 6%. E acho esse programa que substitui o Bolsa Família uma aposta arriscada de Bolsonaro. Na campanha, o Lula vai dizer ao eleitor, principalmente no Nordeste, que é o mesmo Bolsa Família, uma criação dele. 

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