'Pessoa física é chave na indústria financeira do País', diz diretor de empresa da Bolsa de Londres


Segundo Miguel Chavarria, o FTSE Russell, que reúne US$ 16,3 trilhões em índices, prepara para o segundo semestre o lançamento de um fundo verde no Brasil

Por Célia Froufe

BRASÍLIA - O Brasil terá o primeiro ETF (fundo de índices) do mundo formado por receitas verdes criado pelo FTSE Russell, uma divisão que reúne US$ 16,3 trilhões em índices financeiros do Grupo Bolsa de Valores de Londres (LSEG). O produto, de acordo com o diretor regional da empresa na América do Sul, Miguel Chavarria, passa neste momento por aprovação regulatória e deverá chegar ao mercado doméstico no início do segundo semestre. “Será o primeiro ETF a rastrear globalmente Índices de Receitas Verdes do FTSE, projetados para obter maior exposição a empresas envolvidas na transição para uma economia verde”, disse o executivo ao Estadão/Broadcast.

Chavarria chegou ao Brasil para comandar o trabalho da empresa britânica na América Latina há um ano com o objetivo de explorar justamente o mercado de ETFs e de levar o investidor doméstico a aportar parte de seus recursos no exterior. Para ele, não há dúvidas de que o grande potencial no País é o de pessoas físicas, que começaram a se aventurar no mercado financeiro de forma mais presente há poucos anos. “A nossa aposta na Bolsa é a de que o poder da indústria financeira brasileira vem do varejo e, se virmos os lançamentos que estão ocorrendo, há muitas opções agora para os brasileiros”, comparou.

O diretor também vê com entusiasmo investimentos em fundos de índices que têm as criptomoedas como referência. Ainda que se trate de um segmento muito volátil, Chavarria explicou que a busca é por composição com outros ativos, na tentativa de obter o maior retorno diluindo os riscos. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

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Miguel Chavarria, diretor do FTSE Russell na América do Sul. Foto: FTSE Russell/Divulgação

O senhor mudou para o Brasil há um ano, desde o início da pandemia praticamente, com o objetivo de entrar no mercado de ETFs doméstico. Como está esse segmento?

Este ano está sendo muito esquisito: há um crescimento superforte de alguns segmentos e, quando saímos à rua, o comércio está fechado, as pessoas estão perdendo trabalho. No Brasil, a agroindústria e a indústria financeira estão em ritmo acelerado, principalmente a parte de gestão de fundos e de derivativos. O mercado de ETFs está muito forte. Quatro meses depois que cheguei ao Brasil, havia 22 fundos desse tipo e agora há 34, 35.

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Ou seja, quase dobrou em aproximadamente um ano.

Sim, e vai aumentar mais. Os gestores de fundos estão lançando muitos ETFs: Caixa, Itaú, BTG Pactual, XP... Não posso dar muitos detalhes agora, mas também devemos lançar cinco fundos de ETFs estruturados em algumas semanas para que os brasileiros possam investir lá fora, com ativos em energia, setor imobiliário...

Pelos seus cálculos, em agosto passado, apenas 1% dos investimentos dos brasileiros ia para o exterior. Mudou alguma coisa nos últimos meses?

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Não mudou tanto, o que é estranho. O investidor institucional, que é o fundo de pensão, tem um ritmo mais lento e ainda continua com menos de 1%. Agora, o varejo (pessoa física) foi impressionante e já tem um pouco mais de 2%. Essa é uma tendência que ocorre no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa... O que aconteceu com a GameStop, por exemplo, mostra isso. A mesma coisa ocorreu aqui no Brasil. O CPF está bem ativo, está participando bastante. E tem havido muita procura por BDRs (Brazilian Depositary Receipts, certificados que representam ações emitidas por empresas em outros países, mas que são negociados aqui e, desde setembro de 2020, também passaram a ser companhias brasileiras). A CVM [Comissão de Valores Mobiliários] liberou o cadastro de CPFs para investir em BDR e nos últimos quatro meses entraram cerca de 250 mil novos investidores nesse mercado. [De abril de 2020 até o mês passado, de acordo com a B3, a emissão de BDRs passou de R$ 300 milhões para R$ 2,9 bilhões.]

A tendência é continuar? E há alguma que atraia mais interessados?

A tendência é a de subir bastante. Os mais procurados são o BDR de ouro, por meio dos ETFs de ouro, os ETFs que têm exposição na China. Teve o lançamento de um ETF de criptomoedas no Brasil por um player que não era muito conhecido e se tornou o terceiro ETF de maior transação no País. A nossa aposta na Bolsa é a de que o poder da indústria financeira brasileira vem do varejo e, se virmos os lançamentos que estão ocorrendo, há muitas opções agora para os brasileiros. Algumas instituições estão liderando a mudança, como XP e Itaú, porém estamos vendo os “bancões”, como vocês falam, também entrando nos ETFs, como Bradesco, Caixa... Um dos ETFs que lançaremos será com Investor ETF daqui a um mês. Os fundos estão bastante diversificados e baratos de um modo geral. Está bem divertida nossa indústria.

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O senhor citou criptomoedas. Os reguladores veem esses ativos como algo muito arriscado. Qual sua avaliação?

A natureza do ativo está se revelando bastante interessante em termos de diversificação de risco. Ainda que esses ativos digitais sejam bem voláteis, a tecnologia atrás dessas moedas está sendo popularizada em várias frentes. Essa não é uma tendência que será esquecida. Com certeza é um bom investimento. Da nossa parte, estamos fazendo bastantes estudos sobre como se pode combinar os ativos tradicionais com alocações em digitais para ter um melhor perfil de risco e retorno e, claro, tem sido mais procurado pelo varejo.

O senhor tem mostrado muito foco sempre no varejo.

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O varejo traz um pouco mais de ruído ao mercado, mas vemos a sua entrada como algo bastante positivo. As instituições têm feito um trabalho muito bom de educação financeira.

E o ESG (sigla em inglês para os aspectos ambiental, social e de governança)? Segue como uma tendência?

O nosso posicionamento sobre o ESG é o de que é uma posição de risco, uma gestão de risco não financeira. Há empresas que dizem que o ESG gera valorização. Começou como uma coisa bem geral, e agora está evoluindo. E há uma resolução no Banco Central do Brasil que obrigará as instituições a monitorarem suas exposições a riscos climáticos. Não é uma moda. Isso estava na nossa regiãohá cinco anos e agora cresceu muito no Brasil.

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Os fundos de ETF que lançarão no Brasil abordam ESG?

Sim, um deles será lançado com uma casa grande. Será o primeiro ETF a rastrear globalmente Índices de Receitas Verdes do FTSE, projetados para obter maior exposição a empresas envolvidas na transição para uma economia verde com alto impacto na mitigação e adaptação às mudanças climáticas, água, uso de recursos, poluição e eficiência agrícola. Será do Brasil e reconhecido como Green Revenues Indexes. Será o primeiro ETF desse tipo no mundo, voltado para as empresas que vão dar mais exposição a essa mudança da economia normal para a economia verde. Estamos aguardando aprovação regulatória. Devemos ter mais informações públicas em algumas semanas e colocar em operação em julho.

São títulos globais, mas serão negociados apenas no Brasil?

Tudo que se fala em investimentos no Brasil é para o Brasil. O mercado aqui ainda é muito do Brasil para brasileiros. Dificilmente será negociado fora do Brasil. Terão como alvos os fundos de pensão e, de novo, o varejo. É uma tendência que essa nova geração decida fazer investimentos, com consciência social, ambiental...

Imagino, então, que os valores das cotas não poderão ser altos.

Não.

E quem emitirá o selo de qualidade, o atestado de que essas empresas estão realmente indo nessa direção? De que não há greenwashing (aqueles que só buscam a 'propaganda verde'), por exemplo?

Os próprios bancos, que são conhecidos do mercado, atestarão isso e também os fornecedores de índices. Tem o nosso FTSE Russell, tem a S&P, tem a MSCI. A demanda na Europa por esses tipos de títulos é muito maior do que aqui, mas a tendência apontada pelo setor de varejo, no entanto, tem mostrado um grande avanço no Brasil.

BRASÍLIA - O Brasil terá o primeiro ETF (fundo de índices) do mundo formado por receitas verdes criado pelo FTSE Russell, uma divisão que reúne US$ 16,3 trilhões em índices financeiros do Grupo Bolsa de Valores de Londres (LSEG). O produto, de acordo com o diretor regional da empresa na América do Sul, Miguel Chavarria, passa neste momento por aprovação regulatória e deverá chegar ao mercado doméstico no início do segundo semestre. “Será o primeiro ETF a rastrear globalmente Índices de Receitas Verdes do FTSE, projetados para obter maior exposição a empresas envolvidas na transição para uma economia verde”, disse o executivo ao Estadão/Broadcast.

Chavarria chegou ao Brasil para comandar o trabalho da empresa britânica na América Latina há um ano com o objetivo de explorar justamente o mercado de ETFs e de levar o investidor doméstico a aportar parte de seus recursos no exterior. Para ele, não há dúvidas de que o grande potencial no País é o de pessoas físicas, que começaram a se aventurar no mercado financeiro de forma mais presente há poucos anos. “A nossa aposta na Bolsa é a de que o poder da indústria financeira brasileira vem do varejo e, se virmos os lançamentos que estão ocorrendo, há muitas opções agora para os brasileiros”, comparou.

O diretor também vê com entusiasmo investimentos em fundos de índices que têm as criptomoedas como referência. Ainda que se trate de um segmento muito volátil, Chavarria explicou que a busca é por composição com outros ativos, na tentativa de obter o maior retorno diluindo os riscos. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Miguel Chavarria, diretor do FTSE Russell na América do Sul. Foto: FTSE Russell/Divulgação

O senhor mudou para o Brasil há um ano, desde o início da pandemia praticamente, com o objetivo de entrar no mercado de ETFs doméstico. Como está esse segmento?

Este ano está sendo muito esquisito: há um crescimento superforte de alguns segmentos e, quando saímos à rua, o comércio está fechado, as pessoas estão perdendo trabalho. No Brasil, a agroindústria e a indústria financeira estão em ritmo acelerado, principalmente a parte de gestão de fundos e de derivativos. O mercado de ETFs está muito forte. Quatro meses depois que cheguei ao Brasil, havia 22 fundos desse tipo e agora há 34, 35.

Ou seja, quase dobrou em aproximadamente um ano.

Sim, e vai aumentar mais. Os gestores de fundos estão lançando muitos ETFs: Caixa, Itaú, BTG Pactual, XP... Não posso dar muitos detalhes agora, mas também devemos lançar cinco fundos de ETFs estruturados em algumas semanas para que os brasileiros possam investir lá fora, com ativos em energia, setor imobiliário...

Pelos seus cálculos, em agosto passado, apenas 1% dos investimentos dos brasileiros ia para o exterior. Mudou alguma coisa nos últimos meses?

Não mudou tanto, o que é estranho. O investidor institucional, que é o fundo de pensão, tem um ritmo mais lento e ainda continua com menos de 1%. Agora, o varejo (pessoa física) foi impressionante e já tem um pouco mais de 2%. Essa é uma tendência que ocorre no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa... O que aconteceu com a GameStop, por exemplo, mostra isso. A mesma coisa ocorreu aqui no Brasil. O CPF está bem ativo, está participando bastante. E tem havido muita procura por BDRs (Brazilian Depositary Receipts, certificados que representam ações emitidas por empresas em outros países, mas que são negociados aqui e, desde setembro de 2020, também passaram a ser companhias brasileiras). A CVM [Comissão de Valores Mobiliários] liberou o cadastro de CPFs para investir em BDR e nos últimos quatro meses entraram cerca de 250 mil novos investidores nesse mercado. [De abril de 2020 até o mês passado, de acordo com a B3, a emissão de BDRs passou de R$ 300 milhões para R$ 2,9 bilhões.]

A tendência é continuar? E há alguma que atraia mais interessados?

A tendência é a de subir bastante. Os mais procurados são o BDR de ouro, por meio dos ETFs de ouro, os ETFs que têm exposição na China. Teve o lançamento de um ETF de criptomoedas no Brasil por um player que não era muito conhecido e se tornou o terceiro ETF de maior transação no País. A nossa aposta na Bolsa é a de que o poder da indústria financeira brasileira vem do varejo e, se virmos os lançamentos que estão ocorrendo, há muitas opções agora para os brasileiros. Algumas instituições estão liderando a mudança, como XP e Itaú, porém estamos vendo os “bancões”, como vocês falam, também entrando nos ETFs, como Bradesco, Caixa... Um dos ETFs que lançaremos será com Investor ETF daqui a um mês. Os fundos estão bastante diversificados e baratos de um modo geral. Está bem divertida nossa indústria.

O senhor citou criptomoedas. Os reguladores veem esses ativos como algo muito arriscado. Qual sua avaliação?

A natureza do ativo está se revelando bastante interessante em termos de diversificação de risco. Ainda que esses ativos digitais sejam bem voláteis, a tecnologia atrás dessas moedas está sendo popularizada em várias frentes. Essa não é uma tendência que será esquecida. Com certeza é um bom investimento. Da nossa parte, estamos fazendo bastantes estudos sobre como se pode combinar os ativos tradicionais com alocações em digitais para ter um melhor perfil de risco e retorno e, claro, tem sido mais procurado pelo varejo.

O senhor tem mostrado muito foco sempre no varejo.

O varejo traz um pouco mais de ruído ao mercado, mas vemos a sua entrada como algo bastante positivo. As instituições têm feito um trabalho muito bom de educação financeira.

E o ESG (sigla em inglês para os aspectos ambiental, social e de governança)? Segue como uma tendência?

O nosso posicionamento sobre o ESG é o de que é uma posição de risco, uma gestão de risco não financeira. Há empresas que dizem que o ESG gera valorização. Começou como uma coisa bem geral, e agora está evoluindo. E há uma resolução no Banco Central do Brasil que obrigará as instituições a monitorarem suas exposições a riscos climáticos. Não é uma moda. Isso estava na nossa regiãohá cinco anos e agora cresceu muito no Brasil.

Os fundos de ETF que lançarão no Brasil abordam ESG?

Sim, um deles será lançado com uma casa grande. Será o primeiro ETF a rastrear globalmente Índices de Receitas Verdes do FTSE, projetados para obter maior exposição a empresas envolvidas na transição para uma economia verde com alto impacto na mitigação e adaptação às mudanças climáticas, água, uso de recursos, poluição e eficiência agrícola. Será do Brasil e reconhecido como Green Revenues Indexes. Será o primeiro ETF desse tipo no mundo, voltado para as empresas que vão dar mais exposição a essa mudança da economia normal para a economia verde. Estamos aguardando aprovação regulatória. Devemos ter mais informações públicas em algumas semanas e colocar em operação em julho.

São títulos globais, mas serão negociados apenas no Brasil?

Tudo que se fala em investimentos no Brasil é para o Brasil. O mercado aqui ainda é muito do Brasil para brasileiros. Dificilmente será negociado fora do Brasil. Terão como alvos os fundos de pensão e, de novo, o varejo. É uma tendência que essa nova geração decida fazer investimentos, com consciência social, ambiental...

Imagino, então, que os valores das cotas não poderão ser altos.

Não.

E quem emitirá o selo de qualidade, o atestado de que essas empresas estão realmente indo nessa direção? De que não há greenwashing (aqueles que só buscam a 'propaganda verde'), por exemplo?

Os próprios bancos, que são conhecidos do mercado, atestarão isso e também os fornecedores de índices. Tem o nosso FTSE Russell, tem a S&P, tem a MSCI. A demanda na Europa por esses tipos de títulos é muito maior do que aqui, mas a tendência apontada pelo setor de varejo, no entanto, tem mostrado um grande avanço no Brasil.

BRASÍLIA - O Brasil terá o primeiro ETF (fundo de índices) do mundo formado por receitas verdes criado pelo FTSE Russell, uma divisão que reúne US$ 16,3 trilhões em índices financeiros do Grupo Bolsa de Valores de Londres (LSEG). O produto, de acordo com o diretor regional da empresa na América do Sul, Miguel Chavarria, passa neste momento por aprovação regulatória e deverá chegar ao mercado doméstico no início do segundo semestre. “Será o primeiro ETF a rastrear globalmente Índices de Receitas Verdes do FTSE, projetados para obter maior exposição a empresas envolvidas na transição para uma economia verde”, disse o executivo ao Estadão/Broadcast.

Chavarria chegou ao Brasil para comandar o trabalho da empresa britânica na América Latina há um ano com o objetivo de explorar justamente o mercado de ETFs e de levar o investidor doméstico a aportar parte de seus recursos no exterior. Para ele, não há dúvidas de que o grande potencial no País é o de pessoas físicas, que começaram a se aventurar no mercado financeiro de forma mais presente há poucos anos. “A nossa aposta na Bolsa é a de que o poder da indústria financeira brasileira vem do varejo e, se virmos os lançamentos que estão ocorrendo, há muitas opções agora para os brasileiros”, comparou.

O diretor também vê com entusiasmo investimentos em fundos de índices que têm as criptomoedas como referência. Ainda que se trate de um segmento muito volátil, Chavarria explicou que a busca é por composição com outros ativos, na tentativa de obter o maior retorno diluindo os riscos. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Miguel Chavarria, diretor do FTSE Russell na América do Sul. Foto: FTSE Russell/Divulgação

O senhor mudou para o Brasil há um ano, desde o início da pandemia praticamente, com o objetivo de entrar no mercado de ETFs doméstico. Como está esse segmento?

Este ano está sendo muito esquisito: há um crescimento superforte de alguns segmentos e, quando saímos à rua, o comércio está fechado, as pessoas estão perdendo trabalho. No Brasil, a agroindústria e a indústria financeira estão em ritmo acelerado, principalmente a parte de gestão de fundos e de derivativos. O mercado de ETFs está muito forte. Quatro meses depois que cheguei ao Brasil, havia 22 fundos desse tipo e agora há 34, 35.

Ou seja, quase dobrou em aproximadamente um ano.

Sim, e vai aumentar mais. Os gestores de fundos estão lançando muitos ETFs: Caixa, Itaú, BTG Pactual, XP... Não posso dar muitos detalhes agora, mas também devemos lançar cinco fundos de ETFs estruturados em algumas semanas para que os brasileiros possam investir lá fora, com ativos em energia, setor imobiliário...

Pelos seus cálculos, em agosto passado, apenas 1% dos investimentos dos brasileiros ia para o exterior. Mudou alguma coisa nos últimos meses?

Não mudou tanto, o que é estranho. O investidor institucional, que é o fundo de pensão, tem um ritmo mais lento e ainda continua com menos de 1%. Agora, o varejo (pessoa física) foi impressionante e já tem um pouco mais de 2%. Essa é uma tendência que ocorre no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa... O que aconteceu com a GameStop, por exemplo, mostra isso. A mesma coisa ocorreu aqui no Brasil. O CPF está bem ativo, está participando bastante. E tem havido muita procura por BDRs (Brazilian Depositary Receipts, certificados que representam ações emitidas por empresas em outros países, mas que são negociados aqui e, desde setembro de 2020, também passaram a ser companhias brasileiras). A CVM [Comissão de Valores Mobiliários] liberou o cadastro de CPFs para investir em BDR e nos últimos quatro meses entraram cerca de 250 mil novos investidores nesse mercado. [De abril de 2020 até o mês passado, de acordo com a B3, a emissão de BDRs passou de R$ 300 milhões para R$ 2,9 bilhões.]

A tendência é continuar? E há alguma que atraia mais interessados?

A tendência é a de subir bastante. Os mais procurados são o BDR de ouro, por meio dos ETFs de ouro, os ETFs que têm exposição na China. Teve o lançamento de um ETF de criptomoedas no Brasil por um player que não era muito conhecido e se tornou o terceiro ETF de maior transação no País. A nossa aposta na Bolsa é a de que o poder da indústria financeira brasileira vem do varejo e, se virmos os lançamentos que estão ocorrendo, há muitas opções agora para os brasileiros. Algumas instituições estão liderando a mudança, como XP e Itaú, porém estamos vendo os “bancões”, como vocês falam, também entrando nos ETFs, como Bradesco, Caixa... Um dos ETFs que lançaremos será com Investor ETF daqui a um mês. Os fundos estão bastante diversificados e baratos de um modo geral. Está bem divertida nossa indústria.

O senhor citou criptomoedas. Os reguladores veem esses ativos como algo muito arriscado. Qual sua avaliação?

A natureza do ativo está se revelando bastante interessante em termos de diversificação de risco. Ainda que esses ativos digitais sejam bem voláteis, a tecnologia atrás dessas moedas está sendo popularizada em várias frentes. Essa não é uma tendência que será esquecida. Com certeza é um bom investimento. Da nossa parte, estamos fazendo bastantes estudos sobre como se pode combinar os ativos tradicionais com alocações em digitais para ter um melhor perfil de risco e retorno e, claro, tem sido mais procurado pelo varejo.

O senhor tem mostrado muito foco sempre no varejo.

O varejo traz um pouco mais de ruído ao mercado, mas vemos a sua entrada como algo bastante positivo. As instituições têm feito um trabalho muito bom de educação financeira.

E o ESG (sigla em inglês para os aspectos ambiental, social e de governança)? Segue como uma tendência?

O nosso posicionamento sobre o ESG é o de que é uma posição de risco, uma gestão de risco não financeira. Há empresas que dizem que o ESG gera valorização. Começou como uma coisa bem geral, e agora está evoluindo. E há uma resolução no Banco Central do Brasil que obrigará as instituições a monitorarem suas exposições a riscos climáticos. Não é uma moda. Isso estava na nossa regiãohá cinco anos e agora cresceu muito no Brasil.

Os fundos de ETF que lançarão no Brasil abordam ESG?

Sim, um deles será lançado com uma casa grande. Será o primeiro ETF a rastrear globalmente Índices de Receitas Verdes do FTSE, projetados para obter maior exposição a empresas envolvidas na transição para uma economia verde com alto impacto na mitigação e adaptação às mudanças climáticas, água, uso de recursos, poluição e eficiência agrícola. Será do Brasil e reconhecido como Green Revenues Indexes. Será o primeiro ETF desse tipo no mundo, voltado para as empresas que vão dar mais exposição a essa mudança da economia normal para a economia verde. Estamos aguardando aprovação regulatória. Devemos ter mais informações públicas em algumas semanas e colocar em operação em julho.

São títulos globais, mas serão negociados apenas no Brasil?

Tudo que se fala em investimentos no Brasil é para o Brasil. O mercado aqui ainda é muito do Brasil para brasileiros. Dificilmente será negociado fora do Brasil. Terão como alvos os fundos de pensão e, de novo, o varejo. É uma tendência que essa nova geração decida fazer investimentos, com consciência social, ambiental...

Imagino, então, que os valores das cotas não poderão ser altos.

Não.

E quem emitirá o selo de qualidade, o atestado de que essas empresas estão realmente indo nessa direção? De que não há greenwashing (aqueles que só buscam a 'propaganda verde'), por exemplo?

Os próprios bancos, que são conhecidos do mercado, atestarão isso e também os fornecedores de índices. Tem o nosso FTSE Russell, tem a S&P, tem a MSCI. A demanda na Europa por esses tipos de títulos é muito maior do que aqui, mas a tendência apontada pelo setor de varejo, no entanto, tem mostrado um grande avanço no Brasil.

BRASÍLIA - O Brasil terá o primeiro ETF (fundo de índices) do mundo formado por receitas verdes criado pelo FTSE Russell, uma divisão que reúne US$ 16,3 trilhões em índices financeiros do Grupo Bolsa de Valores de Londres (LSEG). O produto, de acordo com o diretor regional da empresa na América do Sul, Miguel Chavarria, passa neste momento por aprovação regulatória e deverá chegar ao mercado doméstico no início do segundo semestre. “Será o primeiro ETF a rastrear globalmente Índices de Receitas Verdes do FTSE, projetados para obter maior exposição a empresas envolvidas na transição para uma economia verde”, disse o executivo ao Estadão/Broadcast.

Chavarria chegou ao Brasil para comandar o trabalho da empresa britânica na América Latina há um ano com o objetivo de explorar justamente o mercado de ETFs e de levar o investidor doméstico a aportar parte de seus recursos no exterior. Para ele, não há dúvidas de que o grande potencial no País é o de pessoas físicas, que começaram a se aventurar no mercado financeiro de forma mais presente há poucos anos. “A nossa aposta na Bolsa é a de que o poder da indústria financeira brasileira vem do varejo e, se virmos os lançamentos que estão ocorrendo, há muitas opções agora para os brasileiros”, comparou.

O diretor também vê com entusiasmo investimentos em fundos de índices que têm as criptomoedas como referência. Ainda que se trate de um segmento muito volátil, Chavarria explicou que a busca é por composição com outros ativos, na tentativa de obter o maior retorno diluindo os riscos. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Miguel Chavarria, diretor do FTSE Russell na América do Sul. Foto: FTSE Russell/Divulgação

O senhor mudou para o Brasil há um ano, desde o início da pandemia praticamente, com o objetivo de entrar no mercado de ETFs doméstico. Como está esse segmento?

Este ano está sendo muito esquisito: há um crescimento superforte de alguns segmentos e, quando saímos à rua, o comércio está fechado, as pessoas estão perdendo trabalho. No Brasil, a agroindústria e a indústria financeira estão em ritmo acelerado, principalmente a parte de gestão de fundos e de derivativos. O mercado de ETFs está muito forte. Quatro meses depois que cheguei ao Brasil, havia 22 fundos desse tipo e agora há 34, 35.

Ou seja, quase dobrou em aproximadamente um ano.

Sim, e vai aumentar mais. Os gestores de fundos estão lançando muitos ETFs: Caixa, Itaú, BTG Pactual, XP... Não posso dar muitos detalhes agora, mas também devemos lançar cinco fundos de ETFs estruturados em algumas semanas para que os brasileiros possam investir lá fora, com ativos em energia, setor imobiliário...

Pelos seus cálculos, em agosto passado, apenas 1% dos investimentos dos brasileiros ia para o exterior. Mudou alguma coisa nos últimos meses?

Não mudou tanto, o que é estranho. O investidor institucional, que é o fundo de pensão, tem um ritmo mais lento e ainda continua com menos de 1%. Agora, o varejo (pessoa física) foi impressionante e já tem um pouco mais de 2%. Essa é uma tendência que ocorre no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa... O que aconteceu com a GameStop, por exemplo, mostra isso. A mesma coisa ocorreu aqui no Brasil. O CPF está bem ativo, está participando bastante. E tem havido muita procura por BDRs (Brazilian Depositary Receipts, certificados que representam ações emitidas por empresas em outros países, mas que são negociados aqui e, desde setembro de 2020, também passaram a ser companhias brasileiras). A CVM [Comissão de Valores Mobiliários] liberou o cadastro de CPFs para investir em BDR e nos últimos quatro meses entraram cerca de 250 mil novos investidores nesse mercado. [De abril de 2020 até o mês passado, de acordo com a B3, a emissão de BDRs passou de R$ 300 milhões para R$ 2,9 bilhões.]

A tendência é continuar? E há alguma que atraia mais interessados?

A tendência é a de subir bastante. Os mais procurados são o BDR de ouro, por meio dos ETFs de ouro, os ETFs que têm exposição na China. Teve o lançamento de um ETF de criptomoedas no Brasil por um player que não era muito conhecido e se tornou o terceiro ETF de maior transação no País. A nossa aposta na Bolsa é a de que o poder da indústria financeira brasileira vem do varejo e, se virmos os lançamentos que estão ocorrendo, há muitas opções agora para os brasileiros. Algumas instituições estão liderando a mudança, como XP e Itaú, porém estamos vendo os “bancões”, como vocês falam, também entrando nos ETFs, como Bradesco, Caixa... Um dos ETFs que lançaremos será com Investor ETF daqui a um mês. Os fundos estão bastante diversificados e baratos de um modo geral. Está bem divertida nossa indústria.

O senhor citou criptomoedas. Os reguladores veem esses ativos como algo muito arriscado. Qual sua avaliação?

A natureza do ativo está se revelando bastante interessante em termos de diversificação de risco. Ainda que esses ativos digitais sejam bem voláteis, a tecnologia atrás dessas moedas está sendo popularizada em várias frentes. Essa não é uma tendência que será esquecida. Com certeza é um bom investimento. Da nossa parte, estamos fazendo bastantes estudos sobre como se pode combinar os ativos tradicionais com alocações em digitais para ter um melhor perfil de risco e retorno e, claro, tem sido mais procurado pelo varejo.

O senhor tem mostrado muito foco sempre no varejo.

O varejo traz um pouco mais de ruído ao mercado, mas vemos a sua entrada como algo bastante positivo. As instituições têm feito um trabalho muito bom de educação financeira.

E o ESG (sigla em inglês para os aspectos ambiental, social e de governança)? Segue como uma tendência?

O nosso posicionamento sobre o ESG é o de que é uma posição de risco, uma gestão de risco não financeira. Há empresas que dizem que o ESG gera valorização. Começou como uma coisa bem geral, e agora está evoluindo. E há uma resolução no Banco Central do Brasil que obrigará as instituições a monitorarem suas exposições a riscos climáticos. Não é uma moda. Isso estava na nossa regiãohá cinco anos e agora cresceu muito no Brasil.

Os fundos de ETF que lançarão no Brasil abordam ESG?

Sim, um deles será lançado com uma casa grande. Será o primeiro ETF a rastrear globalmente Índices de Receitas Verdes do FTSE, projetados para obter maior exposição a empresas envolvidas na transição para uma economia verde com alto impacto na mitigação e adaptação às mudanças climáticas, água, uso de recursos, poluição e eficiência agrícola. Será do Brasil e reconhecido como Green Revenues Indexes. Será o primeiro ETF desse tipo no mundo, voltado para as empresas que vão dar mais exposição a essa mudança da economia normal para a economia verde. Estamos aguardando aprovação regulatória. Devemos ter mais informações públicas em algumas semanas e colocar em operação em julho.

São títulos globais, mas serão negociados apenas no Brasil?

Tudo que se fala em investimentos no Brasil é para o Brasil. O mercado aqui ainda é muito do Brasil para brasileiros. Dificilmente será negociado fora do Brasil. Terão como alvos os fundos de pensão e, de novo, o varejo. É uma tendência que essa nova geração decida fazer investimentos, com consciência social, ambiental...

Imagino, então, que os valores das cotas não poderão ser altos.

Não.

E quem emitirá o selo de qualidade, o atestado de que essas empresas estão realmente indo nessa direção? De que não há greenwashing (aqueles que só buscam a 'propaganda verde'), por exemplo?

Os próprios bancos, que são conhecidos do mercado, atestarão isso e também os fornecedores de índices. Tem o nosso FTSE Russell, tem a S&P, tem a MSCI. A demanda na Europa por esses tipos de títulos é muito maior do que aqui, mas a tendência apontada pelo setor de varejo, no entanto, tem mostrado um grande avanço no Brasil.

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