O motivo seria a pressão sobre os preços de alguns produtos que sofrem influência da disparada do dólar, sobretudo combustíveis, pelo menos na inflação deste mês. A dúvida, porém, é se a alta de preços será momentânea e transitória ou, ainda, se estenderá a demais mercadorias.
O BC não sinaliza a possibilidade de alteração no rumo dos juros e insiste em que a Selic poderá ser mantida em 6,50% ao ano porque a variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), a medida da inflação oficial, projeta alta inferior ao piso da meta de 3% ao ano.
Ressabiado, principalmente depois que o BC interrompeu o ciclo de cortes e manteve a Selic em 6,50% ao ano, após acenar com nova redução, o mercado tem seus motivos para suspeitar de elevação dos juros. Pelo menos é o que apontam os juros futuros, que traduzem a expectativa de analistas e investidores e são referência para decisões de investimento.
A Selic também é referência para a formação das demais taxas, mas sua função está quase limitada à remuneração de títulos públicos, incluídas as operações diárias de rolagem da dívida federal no mercado financeiro, à formação da taxa de captação de recursos dos bancos.
O BC não vê necessidade de aumentar os juros porque a inflação está sob controle e o risco de repasse da alta do dólar para os preços de produtos seria reduzido diante da expressiva capacidade ociosa da economia - a oferta de produtos maior que a demanda inibiria então a elevação de preços.
De mais a mais, uma alta dos juros, pelo impacto que tem sobre a dívida pública, já que é a Selic que remunera os títulos públicos, agravaria ainda mais a crise fiscal e o buraco das contas públicas, uma das principais preocupações do mercado financeiro e investidores.
A elevação dos juros, ideia cogitada no mercado, está apenas indiretamente associada à pressão inflacionária. A alta da Selic seria usada principalmente para conter a disparada do dólar, porque um juro mais alto voltaria a atrair capital estrangeiro para investir no País, aumentando a oferta de dólares e amortecendo a alta das cotações da moeda.
O que faz sentido para quem atribui a pressão sobre o dólar à saída de investidores estrangeiros, em busca de rentabilidade mais atraente dos juros americanos em alta, depois que o BC reduziu seguidamente a Selic.
A diferença entre os juros americanos e brasileiros se estreitara de tal forma - ao redor de 3% ao ano nos EUA e 6,50% por aqui - que não compensaria correr o risco econômico e político de permanecer com o dinheiro ancorado em aplicações no mercado brasileiro.
A deterioração de cenário econômico e o pessimismo gerado pelo agravamento de expectativas chegou a tal ponto que uma possível elevação da Selic não pode ser totalmente desconsiderada, pelo menos para tentar acalmar os ânimos no mercado de dólar.
Aplicações
A discussão sobre a trajetória dos juros não é debate que interessa apenas a especialistas do mercado. Tem a ver também com o investidor.
Em cenário de juro em alta, o investidor pode ter rendimento mais atraente em aplicações com juro pós-fixado, calculado no momento do resgate. A caderneta de poupança, que com juro abaixo de 8,50% ao ano rende 70% da Selic, poderia remunerar pouco mais se houver uma elevação da taxa básica.
Outra aplicação pós-fixada que tira proveito dos juros em alta são os fundos DI, em que o rendimento acompanha a variação da taxa Selic. Para ter vantagem, porém, o investidor deve aplicar em um fundo que cobra taxa de administração abaixo de 0,50% ao ano.
Os especialistas indicam ainda o Tesouro Selic, título da dívida pública federal ofertado para compra pelo investidor pessoa física pela internet, no Tesouro Direto. O rendimento é atrelado à Selic, mas o prazo de vencimento é mais longo. O papel em oferta no site do Tesouro Direto tem vencimento em 2023, portanto com resgate em cinco anos. A garantia, no entanto, é que qualquer elevação da Selic até lá será incorporada ao rendimento do Tesouro Selic.