RIO – O mercado de trabalho formal brasileiro encerrou 2017 praticamente estável, com o fechamento de 20.832 vagas de emprego. O Estado do Rio, em grave crise fiscal, porém, destoou: registrou 92.192 vagas a menos. No acumulado de 2015 a 2017, quase um quinto do total de vagas fechadas em todo o País (2,882 milhões) foram perdidas no Rio (514 mil). Com isso, o contingente de empregos formais no Rio voltou ao nível de 2009, conforme levantamento da Federação das Indústrias do Rio (Firjan), feito a pedido do Estado.
Em relação ao período anterior à recessão, o total de vagas formais no Rio encolheu 12%. Não fosse o saldo negativo do Rio, os dados nacionais poderiam ter ficado positivos. No Brasil como um todo, assim como em São Paulo, o total de empregos formais recuou ao mesmo nível visto em 2011.
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A Firjan avalia que a recessão não terminou no Rio. Estima que o Produto Interno Bruto (PIB) regional encolheu 1,1% em 2017, ante projeções de alta de 1,0% na média nacional. Segundo o economista-chefe da entidade, Guilherme Mercês, o Rio tem economia mais combalida por causa de um “binômio” – a forma como a recessão se deu no Estado e a crise fiscal. “No Rio, os setores mais fortes foram os que mais sofreram na crise: petróleo e gás, automotivo e construção civil”, disse.
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Com 12 anos de trabalho na construção civil, Anderson Tavares dos Santos, de 33 anos, está sem emprego desde março passado. “Estou procurando e não estou achando”, disse Santos, que tem experiência nas áreas de compras e administração de obras.
A mulher dele, Priscila Souza Tavares, de 30 anos, segurou a renda da família com o salário de R$ 1,5 mil como assistente administrativa em unidades das Lojas Americanas e com bicos como manicure e recepcionista. Foi preciso cortar gastos, como a escola particular dos dois filhos, de 10 e 8 anos, que passaram para a rede pública de Magé, na região metropolitana, onde mora o casal. De março a outubro de 2017, a família morou na casa da mãe de Priscila.
Rombo. No lado fiscal do binômio, o Rio vai para o quarto ano seguido de rombo nas contas. O déficit de 2015 (R$ 4,3 bilhões) cresceu em 2016 (R$ 10,1 bilhões) e em 2017 (R$ 12 bilhões, segundo projeções da Secretaria de Estado de Fazenda). Para 2018, o Orçamento prevê rombo de R$ 10 bilhões, mesmo com o plano de recuperação fiscal firmado com a União.
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O resultado são atrasos nos pagamentos de salários do funcionalismo e de fornecedores. Ao pagar o vencimento de dezembro a todos os 460 mil servidores ativos, inativos e pensionistas no décimo dia útil deste mês, o Estado pela primeira vez quitou os salários em dia desde a virada de 2015 para 2016. Mesmo assim, ainda deve R$ 1,1 bilhão a 167 mil servidores. A quantia é referente ao 13.º salário de 2017. O secretário de Fazenda, Gustavo Barbosa, mantém a expectativa de pagar em dia o vencimento de janeiro.
“No Rio, o grau de dependência do setor público é dos maiores do País”, afirmou Fábio Bentes, chefe interino da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Tanto Bentes quanto Mercês esperam números melhores neste ano. Daniel Machado de Freitas também tem esperança. O gaúcho de 21 anos chegou ao Rio neste mês. “Onde tem mais pessoas, tem mais oportunidades”, disse o jovem.
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O casal Anderson Tavares dos Santos e Priscila Souza Tavares acredita em tempos melhores. Ele se juntou a uma empresa de gestão de pequenas obras, para ganhar por comissão. Ela aposta no trabalho como vendedora autônoma de cosméticos para salões. “Estou vendo que já está dando certo.”
2 PERGUNTAS PARA...
Júlio Bueno, ex-secretário de Desenvolvimento do Rio
1. Quais são as causas da crise que atravessa o Estado do Rio?
A crise é fruto de duas coisas: do aumento de despesas com base na Previdência, que tem um déficit que em 2016 foi de R$ 13,5 bilhões, e de uma queda avassaladora da arrecadação.
2. E qual o papel da corrupção nesse cenário?
Na delação feita pelo (Carlos) Miranda (tido como operador financeiro do suposto esquema liderado pelo ex-governador do Rio Sérgio Cabral Filho, atualmente preso em Curitiba), ele fala que manuseou, em 13 ou 15 anos, R$ 500 milhões. Em 2017, o déficit total foi de R$ 12 bilhões a R$ 14 bilhões, em 2018 será de R$ 10 bilhões. É terrível a corrupção, é uma tragédia, tem de acabar, a Operação Lava Jato tem de investigar e prender todo mundo. Mas os números têm ordens de grandeza diferentes.