O blog do Caderno de Oportunidades

A veia empreendedora fala mais alto


Empresários que optaram por deixar carreira executiva bem-sucedida para criar negócio contam os seus motivos e a satisfação obtida

Por Cris Olivette
Marcelo Noll. Rafael Arbex /Estadão Foto: Estadão

Construir uma carreira de sucesso no mundo corporativo pode não proporcionar a satisfação imaginada quando, no fundo, o profissional tem uma veia empreendedora. O CEO e cofundador do Labi Exames, Marcelo Noll Barboza, é um exemplo. Formado em engenharia e administração, com MBA pela Harvard Business School, e premiado duas vezes pela revista Institutional Investor, como um dos três melhores CEOs de saúde na América Latina, ele resolveu começar uma empresa do zero.

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Depois de atuar por 15 anos no mercado de saúde e ocupar a presidência da rede de medicina diagnóstica Dasa e da farmacêutica Valeant (Brasil e Argentina), encerrou a carreira executiva quando era vice-presidente da GE Healthcare América Latina, para criar um laboratório de análises clínicas.

"Comecei o projeto do Labi Exames há um ano, junto com um amigo, que também deixou a carreira executiva. Pensamos o negócio com dois objetivos: atrair investidores e atuar para gerar impacto positivo na sociedade, na área de saúde pública."

Sua empresa oferece acesso à exames laboratoriais às pessoas que não têm plano de saúde, por um preço mais acessível. "Nossos preços são cerca de 20% abaixo dos valores mais reduzidos praticados no mercado."

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Até o momento, a rede tem duas unidades: Santo Amaro e República. "Nosso o plano é chegarmos a oito unidades na Grande São Paulo até o final deste ano. Até 2022, pretendemos atender três milhões de pacientes por ano."

Barboza diz que o negócio está inserido em um mercado novo, porque tradicionalmente no Brasil, as pessoas que tinham plano de saúde iam a um laboratório particular, e as que não tinham procuravam o sistema público.

"Quando o negócio tem esse perfil, é preciso ter cautela, porque o tempo de maturação é maior e, muitas vezes, o empreendedor subestima o capital necessário para suportar a maturação em médio e longo prazo."

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Tamy Lin. Foto Jéssica Liar/Divulgação  

Descoberta. O sonho da fundadora da plataforma de aluguel de carro particular Moobie, Tamy Lin, nunca foi empreender. "Eu queria muito ser executiva de uma multinacional", diz.

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Ela é de Campo Grande (MS) e diz que lá, quando falavam em empresário, estavam se referindo ao dono de um posto ou de uma loja. "Esse empreendedorismo nunca me atraiu."

Tamy afirma que quando cursou administração, na Fundação Getúlio Vargas, no final dos anos 1990, não teve muitas aulas de empreendedorismo. Nem mesmo no MBA, realizado na Universidade de Kellogg, em Chicago, entre 2009 e 2011. "Talvez por esses motivos, nunca pensei em criar um empresa."

Segundo ela, a carreira corporativa foi uma grande escola e hoje, como empresária, aplica todo o aprendizado e recorre a contatos importantes.

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"Trabalhei em consultorias que me enviaram para Espanha, México, Equador, Japão, China e Coreia. Cheguei a morar em alguns desses países. Ter uma carreira internacional foi uma grande realização."

O último cargo ocupado por ela foi no Brasil, como diretora de desenvolvimento de negócios da Smiles, administradora do programa de relacionamento da Gol. Quando estava perto de completar três anos na atividade, saiu da empresa.

"Apesar de ter realizado meu sonho, ainda não tinha me encontrado 100%. Deixei o trabalho para buscar algo que não sabia o que era." Suas dúvidas, no entanto, não duraram muito tempo. No início do ano sabático identificou uma oportunidade de negócio.

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"No MBA, fiz estágio no Google e fiquei com um bom networking. Um deles, me falou sobre negócios 'peer to peer', ligados à causa da mobilidade e compartilhamento de veículos. Gostei da ideia de ajudar a reduzir o número de carros nas ruas e criei a Moobie."

O negócio consiste em uma plataforma na qual os donos de carro fazem cadastro e se conectam com usuários interessados em alugar o veículo. "Na Grande São Paulo, oito milhões de veículos são subutilizados e passam 90% do tempo parados." Para iniciar, Tamy aproveitou contatos que já possuía com investidores e obteve aporte de investidores-anjo.

Lançada em 2017, a plataforma tem 60 mil usuários e três mil veículos cadastrados. "Ainda é um serviço pequeno em relação ao potencial existente, mas somos a maior base da cidade."

A Moobie cobra taxa de 20% do proprietário do veículo e R$ 35 do cliente que aluga o carro. O valor engloba seguro e taxa de serviço. "Estou feliz e realizada. Quando empreendemos, extraímos o máximo de nosso potencial." Ela acrescenta que a ferramenta é uma oportunidade de renda complementar. "Temos casos de parceiros/proprietários que ganharam R$ 5 mil em quatro meses de locação."

Motivo. Diretora de transição de carreira e gestão de mudança para América Latina da consultoria LHH, Irene Azevedoh afirma que, normalmente, quando um executivo resolve empreender está buscando autonomia.

"Mas para que uma jornada empreendedora tenha início, esse fator deve estar aliado a um propósito e a uma boa ideia, que leve em consideração recursos financeiros, rede de relacionamentos de sustentação, entendimento claro dos motivadores e das aptidões necessárias para atuar no segmento escolhido, além de um plano de negócio."

Marca fabrica produtos para pet, agricultura e linha de cosméticos

Após atuar como executiva no segmento de agronegócio, com comércio exterior e como headhunter da Fesa, empresa de recolocação profissional de executivos, Gabriela Lindemann se associou a Maurício Campos, que entre outras atividades foi executivo de marketing da Red Bull no Brasil, para criarem a Openeem.

Gabriela Lindemann. Foto: Rafael Avancini/Divulgação

Assim como ela, o executivo tinha saído da empresa e também estava tentando se entender no mundo. "Fazia tempo que ele estava buscando um projeto que tivesse a ver com qualidade de vida", conta.

A ideia do negócio começou a ser esboçada quando Campos conheceu o pai de Gabriela, Sérgio Lindemann, que anos antes começou uma plantação de neem, em uma fazenda no Pará.

"Quando ele ouviu meu pai falando sobre a polivalência e os benefícios do neem, ele se encantou. Depois de conhecermos mais sobre as possibilidades da matéria-prima, estruturamos o projeto e fizemos uma proposta a meu pai, que foi aceita, para profissionalizarmos o processo que ele já vinha realizando no Pará. Ele fazia, de forma artesanal, produtos para o agronegócio e para uso humano."

O que é. Gabriela diz que o neem foi aclamado pela Organização das Nações Unidas como a árvore de século 21, graças aos seus benefícios ambientais e medicinais. A planta tem mais de 140 princípios ativos e muitas possibilidades de aplicação.

"Na agricultura, o neem vem sendo usado como solução para recuperar áreas degradadas por erosão, como biodefensivo e como fertilizante. Na medicina ayurveda, é usado há mais de quatro mil anos para tratar pele, cabelo, sistema digestivo, como purificador sanguíneo etc."

Foco. A empresária afirma que o primeiro ano do negócio foi muito complexo, porque quando começaram a pesquisa para definir os produtos que iriam produzir, mergulharam em um mundo de possibilidades.

Para definir a área de atuação, os sócios visitaram vários centros universitários de pesquisa, que possuem grande conhecimento concentrado sobre a espécie. Ao todo, a formatação do negócio levou dois anos e meio.

"Só agora estamos vendo o projeto se materializar. Nossos produtos estão tendo boa aceitação no mercado. A resposta dos produtos voltados ao agronegócio tem sido excelente. Estamos conseguindo entrar em revendas importantes."

Segundo ela, os produtos da linha pet chegaram ao mercado em janeiro deste ano. "Temos loção de banho seco, spray repelente, sabonete e xampu", conta a empresária. A Openeem também está desenvolvendo linha cosmética humana. "Serão produtos 100% naturais, atóxicos e multifuncionais, porque o neem é muito bom como antioxidante, cicatrizante e bactericida. Então, ao usar um hidratante à base de neem, além de hidratar ele também vai reconstruir e proteger a pele."

Gabriela diz que no blog Movimento Neem, inserido na plataforma da Openeem, tem vasta literatura contendo todo o conhecimento milenar e científico sobre a planta. Expectativa. A meta dos sócios é faturar, neste ano, entre R$ 5 milhões e R$ 7 milhões com os produtos pet e agro. Já os primeiros produtos cosméticos serão lançados em outubro. "O custo dos nossos produtos são competitivos, principalmente porque temos plantação própria", diz. O negocio emprega 15 pessoas e mantém a produção terceirizada.

Experiência. Gabriela afirma que valeu muito à pena mudar o rumo da carreira. "É muito bacana criar um negócio do zero e que tenha a sua cara e seus valores. Mas é preciso ter muita resiliência e ser muito dedicado."

A empresária afirma que está há mais de dois anos trabalhando aos finais de semana. "Começo às 5 horas da manhã. É uma dedicação constante. No início, é como uma gestação e depois que o negócio é formatado e o produto lançado, é como um bebê que requer cuidado. Se não tiver total empenho e dedicação, não é dá para criar uma startup."

Segundo ela, a forma de trabalhar também é outra, porque não tem equipe. "Temos de fazer desde coisas super estratégicas até as operacionais do dia a dia. É preciso ter disponibilidade de tempo e energia."

Marcelo Noll. Rafael Arbex /Estadão Foto: Estadão

Construir uma carreira de sucesso no mundo corporativo pode não proporcionar a satisfação imaginada quando, no fundo, o profissional tem uma veia empreendedora. O CEO e cofundador do Labi Exames, Marcelo Noll Barboza, é um exemplo. Formado em engenharia e administração, com MBA pela Harvard Business School, e premiado duas vezes pela revista Institutional Investor, como um dos três melhores CEOs de saúde na América Latina, ele resolveu começar uma empresa do zero.

Depois de atuar por 15 anos no mercado de saúde e ocupar a presidência da rede de medicina diagnóstica Dasa e da farmacêutica Valeant (Brasil e Argentina), encerrou a carreira executiva quando era vice-presidente da GE Healthcare América Latina, para criar um laboratório de análises clínicas.

"Comecei o projeto do Labi Exames há um ano, junto com um amigo, que também deixou a carreira executiva. Pensamos o negócio com dois objetivos: atrair investidores e atuar para gerar impacto positivo na sociedade, na área de saúde pública."

Sua empresa oferece acesso à exames laboratoriais às pessoas que não têm plano de saúde, por um preço mais acessível. "Nossos preços são cerca de 20% abaixo dos valores mais reduzidos praticados no mercado."

Até o momento, a rede tem duas unidades: Santo Amaro e República. "Nosso o plano é chegarmos a oito unidades na Grande São Paulo até o final deste ano. Até 2022, pretendemos atender três milhões de pacientes por ano."

Barboza diz que o negócio está inserido em um mercado novo, porque tradicionalmente no Brasil, as pessoas que tinham plano de saúde iam a um laboratório particular, e as que não tinham procuravam o sistema público.

"Quando o negócio tem esse perfil, é preciso ter cautela, porque o tempo de maturação é maior e, muitas vezes, o empreendedor subestima o capital necessário para suportar a maturação em médio e longo prazo."

Tamy Lin. Foto Jéssica Liar/Divulgação  

Descoberta. O sonho da fundadora da plataforma de aluguel de carro particular Moobie, Tamy Lin, nunca foi empreender. "Eu queria muito ser executiva de uma multinacional", diz.

Ela é de Campo Grande (MS) e diz que lá, quando falavam em empresário, estavam se referindo ao dono de um posto ou de uma loja. "Esse empreendedorismo nunca me atraiu."

Tamy afirma que quando cursou administração, na Fundação Getúlio Vargas, no final dos anos 1990, não teve muitas aulas de empreendedorismo. Nem mesmo no MBA, realizado na Universidade de Kellogg, em Chicago, entre 2009 e 2011. "Talvez por esses motivos, nunca pensei em criar um empresa."

Segundo ela, a carreira corporativa foi uma grande escola e hoje, como empresária, aplica todo o aprendizado e recorre a contatos importantes.

"Trabalhei em consultorias que me enviaram para Espanha, México, Equador, Japão, China e Coreia. Cheguei a morar em alguns desses países. Ter uma carreira internacional foi uma grande realização."

O último cargo ocupado por ela foi no Brasil, como diretora de desenvolvimento de negócios da Smiles, administradora do programa de relacionamento da Gol. Quando estava perto de completar três anos na atividade, saiu da empresa.

"Apesar de ter realizado meu sonho, ainda não tinha me encontrado 100%. Deixei o trabalho para buscar algo que não sabia o que era." Suas dúvidas, no entanto, não duraram muito tempo. No início do ano sabático identificou uma oportunidade de negócio.

"No MBA, fiz estágio no Google e fiquei com um bom networking. Um deles, me falou sobre negócios 'peer to peer', ligados à causa da mobilidade e compartilhamento de veículos. Gostei da ideia de ajudar a reduzir o número de carros nas ruas e criei a Moobie."

O negócio consiste em uma plataforma na qual os donos de carro fazem cadastro e se conectam com usuários interessados em alugar o veículo. "Na Grande São Paulo, oito milhões de veículos são subutilizados e passam 90% do tempo parados." Para iniciar, Tamy aproveitou contatos que já possuía com investidores e obteve aporte de investidores-anjo.

Lançada em 2017, a plataforma tem 60 mil usuários e três mil veículos cadastrados. "Ainda é um serviço pequeno em relação ao potencial existente, mas somos a maior base da cidade."

A Moobie cobra taxa de 20% do proprietário do veículo e R$ 35 do cliente que aluga o carro. O valor engloba seguro e taxa de serviço. "Estou feliz e realizada. Quando empreendemos, extraímos o máximo de nosso potencial." Ela acrescenta que a ferramenta é uma oportunidade de renda complementar. "Temos casos de parceiros/proprietários que ganharam R$ 5 mil em quatro meses de locação."

Motivo. Diretora de transição de carreira e gestão de mudança para América Latina da consultoria LHH, Irene Azevedoh afirma que, normalmente, quando um executivo resolve empreender está buscando autonomia.

"Mas para que uma jornada empreendedora tenha início, esse fator deve estar aliado a um propósito e a uma boa ideia, que leve em consideração recursos financeiros, rede de relacionamentos de sustentação, entendimento claro dos motivadores e das aptidões necessárias para atuar no segmento escolhido, além de um plano de negócio."

Marca fabrica produtos para pet, agricultura e linha de cosméticos

Após atuar como executiva no segmento de agronegócio, com comércio exterior e como headhunter da Fesa, empresa de recolocação profissional de executivos, Gabriela Lindemann se associou a Maurício Campos, que entre outras atividades foi executivo de marketing da Red Bull no Brasil, para criarem a Openeem.

Gabriela Lindemann. Foto: Rafael Avancini/Divulgação

Assim como ela, o executivo tinha saído da empresa e também estava tentando se entender no mundo. "Fazia tempo que ele estava buscando um projeto que tivesse a ver com qualidade de vida", conta.

A ideia do negócio começou a ser esboçada quando Campos conheceu o pai de Gabriela, Sérgio Lindemann, que anos antes começou uma plantação de neem, em uma fazenda no Pará.

"Quando ele ouviu meu pai falando sobre a polivalência e os benefícios do neem, ele se encantou. Depois de conhecermos mais sobre as possibilidades da matéria-prima, estruturamos o projeto e fizemos uma proposta a meu pai, que foi aceita, para profissionalizarmos o processo que ele já vinha realizando no Pará. Ele fazia, de forma artesanal, produtos para o agronegócio e para uso humano."

O que é. Gabriela diz que o neem foi aclamado pela Organização das Nações Unidas como a árvore de século 21, graças aos seus benefícios ambientais e medicinais. A planta tem mais de 140 princípios ativos e muitas possibilidades de aplicação.

"Na agricultura, o neem vem sendo usado como solução para recuperar áreas degradadas por erosão, como biodefensivo e como fertilizante. Na medicina ayurveda, é usado há mais de quatro mil anos para tratar pele, cabelo, sistema digestivo, como purificador sanguíneo etc."

Foco. A empresária afirma que o primeiro ano do negócio foi muito complexo, porque quando começaram a pesquisa para definir os produtos que iriam produzir, mergulharam em um mundo de possibilidades.

Para definir a área de atuação, os sócios visitaram vários centros universitários de pesquisa, que possuem grande conhecimento concentrado sobre a espécie. Ao todo, a formatação do negócio levou dois anos e meio.

"Só agora estamos vendo o projeto se materializar. Nossos produtos estão tendo boa aceitação no mercado. A resposta dos produtos voltados ao agronegócio tem sido excelente. Estamos conseguindo entrar em revendas importantes."

Segundo ela, os produtos da linha pet chegaram ao mercado em janeiro deste ano. "Temos loção de banho seco, spray repelente, sabonete e xampu", conta a empresária. A Openeem também está desenvolvendo linha cosmética humana. "Serão produtos 100% naturais, atóxicos e multifuncionais, porque o neem é muito bom como antioxidante, cicatrizante e bactericida. Então, ao usar um hidratante à base de neem, além de hidratar ele também vai reconstruir e proteger a pele."

Gabriela diz que no blog Movimento Neem, inserido na plataforma da Openeem, tem vasta literatura contendo todo o conhecimento milenar e científico sobre a planta. Expectativa. A meta dos sócios é faturar, neste ano, entre R$ 5 milhões e R$ 7 milhões com os produtos pet e agro. Já os primeiros produtos cosméticos serão lançados em outubro. "O custo dos nossos produtos são competitivos, principalmente porque temos plantação própria", diz. O negocio emprega 15 pessoas e mantém a produção terceirizada.

Experiência. Gabriela afirma que valeu muito à pena mudar o rumo da carreira. "É muito bacana criar um negócio do zero e que tenha a sua cara e seus valores. Mas é preciso ter muita resiliência e ser muito dedicado."

A empresária afirma que está há mais de dois anos trabalhando aos finais de semana. "Começo às 5 horas da manhã. É uma dedicação constante. No início, é como uma gestação e depois que o negócio é formatado e o produto lançado, é como um bebê que requer cuidado. Se não tiver total empenho e dedicação, não é dá para criar uma startup."

Segundo ela, a forma de trabalhar também é outra, porque não tem equipe. "Temos de fazer desde coisas super estratégicas até as operacionais do dia a dia. É preciso ter disponibilidade de tempo e energia."

Marcelo Noll. Rafael Arbex /Estadão Foto: Estadão

Construir uma carreira de sucesso no mundo corporativo pode não proporcionar a satisfação imaginada quando, no fundo, o profissional tem uma veia empreendedora. O CEO e cofundador do Labi Exames, Marcelo Noll Barboza, é um exemplo. Formado em engenharia e administração, com MBA pela Harvard Business School, e premiado duas vezes pela revista Institutional Investor, como um dos três melhores CEOs de saúde na América Latina, ele resolveu começar uma empresa do zero.

Depois de atuar por 15 anos no mercado de saúde e ocupar a presidência da rede de medicina diagnóstica Dasa e da farmacêutica Valeant (Brasil e Argentina), encerrou a carreira executiva quando era vice-presidente da GE Healthcare América Latina, para criar um laboratório de análises clínicas.

"Comecei o projeto do Labi Exames há um ano, junto com um amigo, que também deixou a carreira executiva. Pensamos o negócio com dois objetivos: atrair investidores e atuar para gerar impacto positivo na sociedade, na área de saúde pública."

Sua empresa oferece acesso à exames laboratoriais às pessoas que não têm plano de saúde, por um preço mais acessível. "Nossos preços são cerca de 20% abaixo dos valores mais reduzidos praticados no mercado."

Até o momento, a rede tem duas unidades: Santo Amaro e República. "Nosso o plano é chegarmos a oito unidades na Grande São Paulo até o final deste ano. Até 2022, pretendemos atender três milhões de pacientes por ano."

Barboza diz que o negócio está inserido em um mercado novo, porque tradicionalmente no Brasil, as pessoas que tinham plano de saúde iam a um laboratório particular, e as que não tinham procuravam o sistema público.

"Quando o negócio tem esse perfil, é preciso ter cautela, porque o tempo de maturação é maior e, muitas vezes, o empreendedor subestima o capital necessário para suportar a maturação em médio e longo prazo."

Tamy Lin. Foto Jéssica Liar/Divulgação  

Descoberta. O sonho da fundadora da plataforma de aluguel de carro particular Moobie, Tamy Lin, nunca foi empreender. "Eu queria muito ser executiva de uma multinacional", diz.

Ela é de Campo Grande (MS) e diz que lá, quando falavam em empresário, estavam se referindo ao dono de um posto ou de uma loja. "Esse empreendedorismo nunca me atraiu."

Tamy afirma que quando cursou administração, na Fundação Getúlio Vargas, no final dos anos 1990, não teve muitas aulas de empreendedorismo. Nem mesmo no MBA, realizado na Universidade de Kellogg, em Chicago, entre 2009 e 2011. "Talvez por esses motivos, nunca pensei em criar um empresa."

Segundo ela, a carreira corporativa foi uma grande escola e hoje, como empresária, aplica todo o aprendizado e recorre a contatos importantes.

"Trabalhei em consultorias que me enviaram para Espanha, México, Equador, Japão, China e Coreia. Cheguei a morar em alguns desses países. Ter uma carreira internacional foi uma grande realização."

O último cargo ocupado por ela foi no Brasil, como diretora de desenvolvimento de negócios da Smiles, administradora do programa de relacionamento da Gol. Quando estava perto de completar três anos na atividade, saiu da empresa.

"Apesar de ter realizado meu sonho, ainda não tinha me encontrado 100%. Deixei o trabalho para buscar algo que não sabia o que era." Suas dúvidas, no entanto, não duraram muito tempo. No início do ano sabático identificou uma oportunidade de negócio.

"No MBA, fiz estágio no Google e fiquei com um bom networking. Um deles, me falou sobre negócios 'peer to peer', ligados à causa da mobilidade e compartilhamento de veículos. Gostei da ideia de ajudar a reduzir o número de carros nas ruas e criei a Moobie."

O negócio consiste em uma plataforma na qual os donos de carro fazem cadastro e se conectam com usuários interessados em alugar o veículo. "Na Grande São Paulo, oito milhões de veículos são subutilizados e passam 90% do tempo parados." Para iniciar, Tamy aproveitou contatos que já possuía com investidores e obteve aporte de investidores-anjo.

Lançada em 2017, a plataforma tem 60 mil usuários e três mil veículos cadastrados. "Ainda é um serviço pequeno em relação ao potencial existente, mas somos a maior base da cidade."

A Moobie cobra taxa de 20% do proprietário do veículo e R$ 35 do cliente que aluga o carro. O valor engloba seguro e taxa de serviço. "Estou feliz e realizada. Quando empreendemos, extraímos o máximo de nosso potencial." Ela acrescenta que a ferramenta é uma oportunidade de renda complementar. "Temos casos de parceiros/proprietários que ganharam R$ 5 mil em quatro meses de locação."

Motivo. Diretora de transição de carreira e gestão de mudança para América Latina da consultoria LHH, Irene Azevedoh afirma que, normalmente, quando um executivo resolve empreender está buscando autonomia.

"Mas para que uma jornada empreendedora tenha início, esse fator deve estar aliado a um propósito e a uma boa ideia, que leve em consideração recursos financeiros, rede de relacionamentos de sustentação, entendimento claro dos motivadores e das aptidões necessárias para atuar no segmento escolhido, além de um plano de negócio."

Marca fabrica produtos para pet, agricultura e linha de cosméticos

Após atuar como executiva no segmento de agronegócio, com comércio exterior e como headhunter da Fesa, empresa de recolocação profissional de executivos, Gabriela Lindemann se associou a Maurício Campos, que entre outras atividades foi executivo de marketing da Red Bull no Brasil, para criarem a Openeem.

Gabriela Lindemann. Foto: Rafael Avancini/Divulgação

Assim como ela, o executivo tinha saído da empresa e também estava tentando se entender no mundo. "Fazia tempo que ele estava buscando um projeto que tivesse a ver com qualidade de vida", conta.

A ideia do negócio começou a ser esboçada quando Campos conheceu o pai de Gabriela, Sérgio Lindemann, que anos antes começou uma plantação de neem, em uma fazenda no Pará.

"Quando ele ouviu meu pai falando sobre a polivalência e os benefícios do neem, ele se encantou. Depois de conhecermos mais sobre as possibilidades da matéria-prima, estruturamos o projeto e fizemos uma proposta a meu pai, que foi aceita, para profissionalizarmos o processo que ele já vinha realizando no Pará. Ele fazia, de forma artesanal, produtos para o agronegócio e para uso humano."

O que é. Gabriela diz que o neem foi aclamado pela Organização das Nações Unidas como a árvore de século 21, graças aos seus benefícios ambientais e medicinais. A planta tem mais de 140 princípios ativos e muitas possibilidades de aplicação.

"Na agricultura, o neem vem sendo usado como solução para recuperar áreas degradadas por erosão, como biodefensivo e como fertilizante. Na medicina ayurveda, é usado há mais de quatro mil anos para tratar pele, cabelo, sistema digestivo, como purificador sanguíneo etc."

Foco. A empresária afirma que o primeiro ano do negócio foi muito complexo, porque quando começaram a pesquisa para definir os produtos que iriam produzir, mergulharam em um mundo de possibilidades.

Para definir a área de atuação, os sócios visitaram vários centros universitários de pesquisa, que possuem grande conhecimento concentrado sobre a espécie. Ao todo, a formatação do negócio levou dois anos e meio.

"Só agora estamos vendo o projeto se materializar. Nossos produtos estão tendo boa aceitação no mercado. A resposta dos produtos voltados ao agronegócio tem sido excelente. Estamos conseguindo entrar em revendas importantes."

Segundo ela, os produtos da linha pet chegaram ao mercado em janeiro deste ano. "Temos loção de banho seco, spray repelente, sabonete e xampu", conta a empresária. A Openeem também está desenvolvendo linha cosmética humana. "Serão produtos 100% naturais, atóxicos e multifuncionais, porque o neem é muito bom como antioxidante, cicatrizante e bactericida. Então, ao usar um hidratante à base de neem, além de hidratar ele também vai reconstruir e proteger a pele."

Gabriela diz que no blog Movimento Neem, inserido na plataforma da Openeem, tem vasta literatura contendo todo o conhecimento milenar e científico sobre a planta. Expectativa. A meta dos sócios é faturar, neste ano, entre R$ 5 milhões e R$ 7 milhões com os produtos pet e agro. Já os primeiros produtos cosméticos serão lançados em outubro. "O custo dos nossos produtos são competitivos, principalmente porque temos plantação própria", diz. O negocio emprega 15 pessoas e mantém a produção terceirizada.

Experiência. Gabriela afirma que valeu muito à pena mudar o rumo da carreira. "É muito bacana criar um negócio do zero e que tenha a sua cara e seus valores. Mas é preciso ter muita resiliência e ser muito dedicado."

A empresária afirma que está há mais de dois anos trabalhando aos finais de semana. "Começo às 5 horas da manhã. É uma dedicação constante. No início, é como uma gestação e depois que o negócio é formatado e o produto lançado, é como um bebê que requer cuidado. Se não tiver total empenho e dedicação, não é dá para criar uma startup."

Segundo ela, a forma de trabalhar também é outra, porque não tem equipe. "Temos de fazer desde coisas super estratégicas até as operacionais do dia a dia. É preciso ter disponibilidade de tempo e energia."

Marcelo Noll. Rafael Arbex /Estadão Foto: Estadão

Construir uma carreira de sucesso no mundo corporativo pode não proporcionar a satisfação imaginada quando, no fundo, o profissional tem uma veia empreendedora. O CEO e cofundador do Labi Exames, Marcelo Noll Barboza, é um exemplo. Formado em engenharia e administração, com MBA pela Harvard Business School, e premiado duas vezes pela revista Institutional Investor, como um dos três melhores CEOs de saúde na América Latina, ele resolveu começar uma empresa do zero.

Depois de atuar por 15 anos no mercado de saúde e ocupar a presidência da rede de medicina diagnóstica Dasa e da farmacêutica Valeant (Brasil e Argentina), encerrou a carreira executiva quando era vice-presidente da GE Healthcare América Latina, para criar um laboratório de análises clínicas.

"Comecei o projeto do Labi Exames há um ano, junto com um amigo, que também deixou a carreira executiva. Pensamos o negócio com dois objetivos: atrair investidores e atuar para gerar impacto positivo na sociedade, na área de saúde pública."

Sua empresa oferece acesso à exames laboratoriais às pessoas que não têm plano de saúde, por um preço mais acessível. "Nossos preços são cerca de 20% abaixo dos valores mais reduzidos praticados no mercado."

Até o momento, a rede tem duas unidades: Santo Amaro e República. "Nosso o plano é chegarmos a oito unidades na Grande São Paulo até o final deste ano. Até 2022, pretendemos atender três milhões de pacientes por ano."

Barboza diz que o negócio está inserido em um mercado novo, porque tradicionalmente no Brasil, as pessoas que tinham plano de saúde iam a um laboratório particular, e as que não tinham procuravam o sistema público.

"Quando o negócio tem esse perfil, é preciso ter cautela, porque o tempo de maturação é maior e, muitas vezes, o empreendedor subestima o capital necessário para suportar a maturação em médio e longo prazo."

Tamy Lin. Foto Jéssica Liar/Divulgação  

Descoberta. O sonho da fundadora da plataforma de aluguel de carro particular Moobie, Tamy Lin, nunca foi empreender. "Eu queria muito ser executiva de uma multinacional", diz.

Ela é de Campo Grande (MS) e diz que lá, quando falavam em empresário, estavam se referindo ao dono de um posto ou de uma loja. "Esse empreendedorismo nunca me atraiu."

Tamy afirma que quando cursou administração, na Fundação Getúlio Vargas, no final dos anos 1990, não teve muitas aulas de empreendedorismo. Nem mesmo no MBA, realizado na Universidade de Kellogg, em Chicago, entre 2009 e 2011. "Talvez por esses motivos, nunca pensei em criar um empresa."

Segundo ela, a carreira corporativa foi uma grande escola e hoje, como empresária, aplica todo o aprendizado e recorre a contatos importantes.

"Trabalhei em consultorias que me enviaram para Espanha, México, Equador, Japão, China e Coreia. Cheguei a morar em alguns desses países. Ter uma carreira internacional foi uma grande realização."

O último cargo ocupado por ela foi no Brasil, como diretora de desenvolvimento de negócios da Smiles, administradora do programa de relacionamento da Gol. Quando estava perto de completar três anos na atividade, saiu da empresa.

"Apesar de ter realizado meu sonho, ainda não tinha me encontrado 100%. Deixei o trabalho para buscar algo que não sabia o que era." Suas dúvidas, no entanto, não duraram muito tempo. No início do ano sabático identificou uma oportunidade de negócio.

"No MBA, fiz estágio no Google e fiquei com um bom networking. Um deles, me falou sobre negócios 'peer to peer', ligados à causa da mobilidade e compartilhamento de veículos. Gostei da ideia de ajudar a reduzir o número de carros nas ruas e criei a Moobie."

O negócio consiste em uma plataforma na qual os donos de carro fazem cadastro e se conectam com usuários interessados em alugar o veículo. "Na Grande São Paulo, oito milhões de veículos são subutilizados e passam 90% do tempo parados." Para iniciar, Tamy aproveitou contatos que já possuía com investidores e obteve aporte de investidores-anjo.

Lançada em 2017, a plataforma tem 60 mil usuários e três mil veículos cadastrados. "Ainda é um serviço pequeno em relação ao potencial existente, mas somos a maior base da cidade."

A Moobie cobra taxa de 20% do proprietário do veículo e R$ 35 do cliente que aluga o carro. O valor engloba seguro e taxa de serviço. "Estou feliz e realizada. Quando empreendemos, extraímos o máximo de nosso potencial." Ela acrescenta que a ferramenta é uma oportunidade de renda complementar. "Temos casos de parceiros/proprietários que ganharam R$ 5 mil em quatro meses de locação."

Motivo. Diretora de transição de carreira e gestão de mudança para América Latina da consultoria LHH, Irene Azevedoh afirma que, normalmente, quando um executivo resolve empreender está buscando autonomia.

"Mas para que uma jornada empreendedora tenha início, esse fator deve estar aliado a um propósito e a uma boa ideia, que leve em consideração recursos financeiros, rede de relacionamentos de sustentação, entendimento claro dos motivadores e das aptidões necessárias para atuar no segmento escolhido, além de um plano de negócio."

Marca fabrica produtos para pet, agricultura e linha de cosméticos

Após atuar como executiva no segmento de agronegócio, com comércio exterior e como headhunter da Fesa, empresa de recolocação profissional de executivos, Gabriela Lindemann se associou a Maurício Campos, que entre outras atividades foi executivo de marketing da Red Bull no Brasil, para criarem a Openeem.

Gabriela Lindemann. Foto: Rafael Avancini/Divulgação

Assim como ela, o executivo tinha saído da empresa e também estava tentando se entender no mundo. "Fazia tempo que ele estava buscando um projeto que tivesse a ver com qualidade de vida", conta.

A ideia do negócio começou a ser esboçada quando Campos conheceu o pai de Gabriela, Sérgio Lindemann, que anos antes começou uma plantação de neem, em uma fazenda no Pará.

"Quando ele ouviu meu pai falando sobre a polivalência e os benefícios do neem, ele se encantou. Depois de conhecermos mais sobre as possibilidades da matéria-prima, estruturamos o projeto e fizemos uma proposta a meu pai, que foi aceita, para profissionalizarmos o processo que ele já vinha realizando no Pará. Ele fazia, de forma artesanal, produtos para o agronegócio e para uso humano."

O que é. Gabriela diz que o neem foi aclamado pela Organização das Nações Unidas como a árvore de século 21, graças aos seus benefícios ambientais e medicinais. A planta tem mais de 140 princípios ativos e muitas possibilidades de aplicação.

"Na agricultura, o neem vem sendo usado como solução para recuperar áreas degradadas por erosão, como biodefensivo e como fertilizante. Na medicina ayurveda, é usado há mais de quatro mil anos para tratar pele, cabelo, sistema digestivo, como purificador sanguíneo etc."

Foco. A empresária afirma que o primeiro ano do negócio foi muito complexo, porque quando começaram a pesquisa para definir os produtos que iriam produzir, mergulharam em um mundo de possibilidades.

Para definir a área de atuação, os sócios visitaram vários centros universitários de pesquisa, que possuem grande conhecimento concentrado sobre a espécie. Ao todo, a formatação do negócio levou dois anos e meio.

"Só agora estamos vendo o projeto se materializar. Nossos produtos estão tendo boa aceitação no mercado. A resposta dos produtos voltados ao agronegócio tem sido excelente. Estamos conseguindo entrar em revendas importantes."

Segundo ela, os produtos da linha pet chegaram ao mercado em janeiro deste ano. "Temos loção de banho seco, spray repelente, sabonete e xampu", conta a empresária. A Openeem também está desenvolvendo linha cosmética humana. "Serão produtos 100% naturais, atóxicos e multifuncionais, porque o neem é muito bom como antioxidante, cicatrizante e bactericida. Então, ao usar um hidratante à base de neem, além de hidratar ele também vai reconstruir e proteger a pele."

Gabriela diz que no blog Movimento Neem, inserido na plataforma da Openeem, tem vasta literatura contendo todo o conhecimento milenar e científico sobre a planta. Expectativa. A meta dos sócios é faturar, neste ano, entre R$ 5 milhões e R$ 7 milhões com os produtos pet e agro. Já os primeiros produtos cosméticos serão lançados em outubro. "O custo dos nossos produtos são competitivos, principalmente porque temos plantação própria", diz. O negocio emprega 15 pessoas e mantém a produção terceirizada.

Experiência. Gabriela afirma que valeu muito à pena mudar o rumo da carreira. "É muito bacana criar um negócio do zero e que tenha a sua cara e seus valores. Mas é preciso ter muita resiliência e ser muito dedicado."

A empresária afirma que está há mais de dois anos trabalhando aos finais de semana. "Começo às 5 horas da manhã. É uma dedicação constante. No início, é como uma gestação e depois que o negócio é formatado e o produto lançado, é como um bebê que requer cuidado. Se não tiver total empenho e dedicação, não é dá para criar uma startup."

Segundo ela, a forma de trabalhar também é outra, porque não tem equipe. "Temos de fazer desde coisas super estratégicas até as operacionais do dia a dia. É preciso ter disponibilidade de tempo e energia."

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