''Temos de falar com uma voz comum''


Chanceler diz que Mercosul precisa avançar no processo de integração e ?não adianta fingir para fora?

Por Jamil Chade

Admirado por uns, atacado por outros, o chanceler Celso Amorim foi um dos centros das atenções em Genebra, nas negociações fracassadas da Organização Mundial do Comércio (OMC). Cada vez que aparecia, um batalhão de jornalistas tentava arrancar do brasileiro sua avaliação das negociações. Amorim decidiu apoiar o pacote de liberalização proposto, mesmo que não estivesse de acordo nem com seus parceiros argentinos no Mercosul, nem com a Índia, um dos pilares do G-20. A decisão surpreendeu vários países. "Ficamos decepcionados com a posição do Brasil", disse o vice-ministro de Agricultura das Filipinas, Segfredo Serrano. Para o ministro do Comércio da Venezuela, William Contreras, "a questão é saber se o G-20 ainda existe". Já o comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson, foi só elogios a Amorim, enquanto o porta-voz da OMC, Keith Rockwell, chegou a chamá-lo de "herói". Em entrevista ao Estado, Amorim afirma não haver dúvidas de que o G-20 vai continuar existindo, inclusive para superar o impasse no acesso aos mercados emergentes para produtos agrícolas, ponto que fez ruir o processo. Ele não nega que o bloco tenha dimensão política. Ontem, ele e o ministro do Comércio da Índia, Kamal Nath, buscavam um fotógrafo para registrar um aperto de mão e a impressão de que a união entre os dois não havia sido abalada. A seguir, os principais trechos da entrevista. Foi um erro ter apostado todas as fichas na Rodada Doha? Não teria sido possível de outra maneira. Os americanos deixaram claro que não reduziriam os subsídios se não tivessem um acesso maior aos mercados. Já os europeus indicaram ao Mercosul que não poderiam negociar um acordo entre as regiões sem saber o que ocorreria na OMC. Não era uma questão de eu querer ou não querer privilegiar a OMC. Essa era a realidade. O sr. já indicou agora que novas prioridades surgirão, como os acordos bilaterais. Haverá uma mudança na orientação da política comercial brasileira? Não se trata de mudar de prioridade. Como eu disse, nunca tiramos a prioridade das negociações com a Europa. Foram eles que condicionaram. Eu não poderia conseguir a atenção de Peter Mandelson ou de Susan Schwab (representante americana de Comércio). E, sinceramente, eu também não teria como dar prioridade a tudo. É só ouvir os demais parceiros. Todos, inclusive americanos e europeus, davam prioridade para a OMC. Mas, nesse mesmo período, mexicanos, chilenos e outros governos proliferaram acordos comerciais e também estiveram na OMC. A natureza do comércio brasileiro é diferente. Não temos um parceiro predominante. Nossas exportações são diversificadas em destinos. A situação é outra quando se tem um só parceiro para exportações. Desde 2003, em Cancún, ficou claro que os emergentes seriam fundamentais na conclusão da Rodada Doha. De que forma a OMC mudou diante desse novo cenário? Não gosto do termo "países emergentes". Parece que estávamos submersos e agora estamos boiando. O que existe são países em desenvolvimento. Quanto à OMC, de fato nunca a voz desse grupo de países foi tão ativa. Por isso chegamos onde chegamos, com avanços no compromisso dos países desenvolvidos com o corte de subsídios. A voz dos países em desenvolvimento hoje conta. Mas, no Mercosul, mostramos que o bloco ainda não tem uma voz única. O Brasil acatou a proposta de acordo, enquanto a Argentina alegou que o texto era inaceitável quanto ao corte de tarifas industriais. A Rodada foi uma lição? De certa forma, sim. Foi uma lição no sentido de que temos de falar com uma voz comum. Mas esse é um resquício do passado, quando os países da região falavam cada um por si. Por anos, essa foi a realidade e acabou criando uma tradição difícil de romper. Qual a solução para essa falta de voz comum? O Mercosul precisa avançar no processo de integração. Não adianta fingir para fora enquanto não temos uma estrutura tarifária consolidada. Paradoxalmente, o Mercosul entrou nas negociações da Alca e no processo com a União Européia de forma conjunta. Mas na OMC não conseguimos. Se essa for a lição, concordo. Precisamos trabalhar por uma posição unida. O impasse em outros assuntos impediu que o tema acabasse sendo tratado. Mas o que Brasil teria feito para ajustar a posição da Argentina num acordo final? O Brasil faria o que fosse necessário para acomodar os interesses argentinos. A posição do Brasil também surpreendeu alguns no G-20. Por que o Brasil adotou essa atitude? Porque acreditávamos que o pacote estava equilibrado. Não era ideal, e eu disse isso. Mas avaliamos que, naquele momento, era importante sua aprovação para que a Rodada Doha pudesse avançar. Mas ainda há razão para que o G-20 continue a existir? Claro que sim. Vamos trabalhar. Esperaremos a poeira baixar. Mas vamos conversar. Desde que o sr. assumiu a pasta de Relações Exteriores, a OMC foi sua prioridade. O sr. já indicou que o acordo agora não fecha durante o governo Lula. Como o sr. se sente pessoalmente? Claro que me sinto frustrado. Coloquei o máximo esforço nisso. Internamente, conversamos com todos os setores, indústria e agricultura. Salvo se houver uma luz, o processo deve mesmo ser adiado por dois ou três anos. Mas quem virá depois, a próxima geração, não pegará as coisas do zero. Há uma base importante. Mas, certamente, estou frustrado.

Admirado por uns, atacado por outros, o chanceler Celso Amorim foi um dos centros das atenções em Genebra, nas negociações fracassadas da Organização Mundial do Comércio (OMC). Cada vez que aparecia, um batalhão de jornalistas tentava arrancar do brasileiro sua avaliação das negociações. Amorim decidiu apoiar o pacote de liberalização proposto, mesmo que não estivesse de acordo nem com seus parceiros argentinos no Mercosul, nem com a Índia, um dos pilares do G-20. A decisão surpreendeu vários países. "Ficamos decepcionados com a posição do Brasil", disse o vice-ministro de Agricultura das Filipinas, Segfredo Serrano. Para o ministro do Comércio da Venezuela, William Contreras, "a questão é saber se o G-20 ainda existe". Já o comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson, foi só elogios a Amorim, enquanto o porta-voz da OMC, Keith Rockwell, chegou a chamá-lo de "herói". Em entrevista ao Estado, Amorim afirma não haver dúvidas de que o G-20 vai continuar existindo, inclusive para superar o impasse no acesso aos mercados emergentes para produtos agrícolas, ponto que fez ruir o processo. Ele não nega que o bloco tenha dimensão política. Ontem, ele e o ministro do Comércio da Índia, Kamal Nath, buscavam um fotógrafo para registrar um aperto de mão e a impressão de que a união entre os dois não havia sido abalada. A seguir, os principais trechos da entrevista. Foi um erro ter apostado todas as fichas na Rodada Doha? Não teria sido possível de outra maneira. Os americanos deixaram claro que não reduziriam os subsídios se não tivessem um acesso maior aos mercados. Já os europeus indicaram ao Mercosul que não poderiam negociar um acordo entre as regiões sem saber o que ocorreria na OMC. Não era uma questão de eu querer ou não querer privilegiar a OMC. Essa era a realidade. O sr. já indicou agora que novas prioridades surgirão, como os acordos bilaterais. Haverá uma mudança na orientação da política comercial brasileira? Não se trata de mudar de prioridade. Como eu disse, nunca tiramos a prioridade das negociações com a Europa. Foram eles que condicionaram. Eu não poderia conseguir a atenção de Peter Mandelson ou de Susan Schwab (representante americana de Comércio). E, sinceramente, eu também não teria como dar prioridade a tudo. É só ouvir os demais parceiros. Todos, inclusive americanos e europeus, davam prioridade para a OMC. Mas, nesse mesmo período, mexicanos, chilenos e outros governos proliferaram acordos comerciais e também estiveram na OMC. A natureza do comércio brasileiro é diferente. Não temos um parceiro predominante. Nossas exportações são diversificadas em destinos. A situação é outra quando se tem um só parceiro para exportações. Desde 2003, em Cancún, ficou claro que os emergentes seriam fundamentais na conclusão da Rodada Doha. De que forma a OMC mudou diante desse novo cenário? Não gosto do termo "países emergentes". Parece que estávamos submersos e agora estamos boiando. O que existe são países em desenvolvimento. Quanto à OMC, de fato nunca a voz desse grupo de países foi tão ativa. Por isso chegamos onde chegamos, com avanços no compromisso dos países desenvolvidos com o corte de subsídios. A voz dos países em desenvolvimento hoje conta. Mas, no Mercosul, mostramos que o bloco ainda não tem uma voz única. O Brasil acatou a proposta de acordo, enquanto a Argentina alegou que o texto era inaceitável quanto ao corte de tarifas industriais. A Rodada foi uma lição? De certa forma, sim. Foi uma lição no sentido de que temos de falar com uma voz comum. Mas esse é um resquício do passado, quando os países da região falavam cada um por si. Por anos, essa foi a realidade e acabou criando uma tradição difícil de romper. Qual a solução para essa falta de voz comum? O Mercosul precisa avançar no processo de integração. Não adianta fingir para fora enquanto não temos uma estrutura tarifária consolidada. Paradoxalmente, o Mercosul entrou nas negociações da Alca e no processo com a União Européia de forma conjunta. Mas na OMC não conseguimos. Se essa for a lição, concordo. Precisamos trabalhar por uma posição unida. O impasse em outros assuntos impediu que o tema acabasse sendo tratado. Mas o que Brasil teria feito para ajustar a posição da Argentina num acordo final? O Brasil faria o que fosse necessário para acomodar os interesses argentinos. A posição do Brasil também surpreendeu alguns no G-20. Por que o Brasil adotou essa atitude? Porque acreditávamos que o pacote estava equilibrado. Não era ideal, e eu disse isso. Mas avaliamos que, naquele momento, era importante sua aprovação para que a Rodada Doha pudesse avançar. Mas ainda há razão para que o G-20 continue a existir? Claro que sim. Vamos trabalhar. Esperaremos a poeira baixar. Mas vamos conversar. Desde que o sr. assumiu a pasta de Relações Exteriores, a OMC foi sua prioridade. O sr. já indicou que o acordo agora não fecha durante o governo Lula. Como o sr. se sente pessoalmente? Claro que me sinto frustrado. Coloquei o máximo esforço nisso. Internamente, conversamos com todos os setores, indústria e agricultura. Salvo se houver uma luz, o processo deve mesmo ser adiado por dois ou três anos. Mas quem virá depois, a próxima geração, não pegará as coisas do zero. Há uma base importante. Mas, certamente, estou frustrado.

Admirado por uns, atacado por outros, o chanceler Celso Amorim foi um dos centros das atenções em Genebra, nas negociações fracassadas da Organização Mundial do Comércio (OMC). Cada vez que aparecia, um batalhão de jornalistas tentava arrancar do brasileiro sua avaliação das negociações. Amorim decidiu apoiar o pacote de liberalização proposto, mesmo que não estivesse de acordo nem com seus parceiros argentinos no Mercosul, nem com a Índia, um dos pilares do G-20. A decisão surpreendeu vários países. "Ficamos decepcionados com a posição do Brasil", disse o vice-ministro de Agricultura das Filipinas, Segfredo Serrano. Para o ministro do Comércio da Venezuela, William Contreras, "a questão é saber se o G-20 ainda existe". Já o comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson, foi só elogios a Amorim, enquanto o porta-voz da OMC, Keith Rockwell, chegou a chamá-lo de "herói". Em entrevista ao Estado, Amorim afirma não haver dúvidas de que o G-20 vai continuar existindo, inclusive para superar o impasse no acesso aos mercados emergentes para produtos agrícolas, ponto que fez ruir o processo. Ele não nega que o bloco tenha dimensão política. Ontem, ele e o ministro do Comércio da Índia, Kamal Nath, buscavam um fotógrafo para registrar um aperto de mão e a impressão de que a união entre os dois não havia sido abalada. A seguir, os principais trechos da entrevista. Foi um erro ter apostado todas as fichas na Rodada Doha? Não teria sido possível de outra maneira. Os americanos deixaram claro que não reduziriam os subsídios se não tivessem um acesso maior aos mercados. Já os europeus indicaram ao Mercosul que não poderiam negociar um acordo entre as regiões sem saber o que ocorreria na OMC. Não era uma questão de eu querer ou não querer privilegiar a OMC. Essa era a realidade. O sr. já indicou agora que novas prioridades surgirão, como os acordos bilaterais. Haverá uma mudança na orientação da política comercial brasileira? Não se trata de mudar de prioridade. Como eu disse, nunca tiramos a prioridade das negociações com a Europa. Foram eles que condicionaram. Eu não poderia conseguir a atenção de Peter Mandelson ou de Susan Schwab (representante americana de Comércio). E, sinceramente, eu também não teria como dar prioridade a tudo. É só ouvir os demais parceiros. Todos, inclusive americanos e europeus, davam prioridade para a OMC. Mas, nesse mesmo período, mexicanos, chilenos e outros governos proliferaram acordos comerciais e também estiveram na OMC. A natureza do comércio brasileiro é diferente. Não temos um parceiro predominante. Nossas exportações são diversificadas em destinos. A situação é outra quando se tem um só parceiro para exportações. Desde 2003, em Cancún, ficou claro que os emergentes seriam fundamentais na conclusão da Rodada Doha. De que forma a OMC mudou diante desse novo cenário? Não gosto do termo "países emergentes". Parece que estávamos submersos e agora estamos boiando. O que existe são países em desenvolvimento. Quanto à OMC, de fato nunca a voz desse grupo de países foi tão ativa. Por isso chegamos onde chegamos, com avanços no compromisso dos países desenvolvidos com o corte de subsídios. A voz dos países em desenvolvimento hoje conta. Mas, no Mercosul, mostramos que o bloco ainda não tem uma voz única. O Brasil acatou a proposta de acordo, enquanto a Argentina alegou que o texto era inaceitável quanto ao corte de tarifas industriais. A Rodada foi uma lição? De certa forma, sim. Foi uma lição no sentido de que temos de falar com uma voz comum. Mas esse é um resquício do passado, quando os países da região falavam cada um por si. Por anos, essa foi a realidade e acabou criando uma tradição difícil de romper. Qual a solução para essa falta de voz comum? O Mercosul precisa avançar no processo de integração. Não adianta fingir para fora enquanto não temos uma estrutura tarifária consolidada. Paradoxalmente, o Mercosul entrou nas negociações da Alca e no processo com a União Européia de forma conjunta. Mas na OMC não conseguimos. Se essa for a lição, concordo. Precisamos trabalhar por uma posição unida. O impasse em outros assuntos impediu que o tema acabasse sendo tratado. Mas o que Brasil teria feito para ajustar a posição da Argentina num acordo final? O Brasil faria o que fosse necessário para acomodar os interesses argentinos. A posição do Brasil também surpreendeu alguns no G-20. Por que o Brasil adotou essa atitude? Porque acreditávamos que o pacote estava equilibrado. Não era ideal, e eu disse isso. Mas avaliamos que, naquele momento, era importante sua aprovação para que a Rodada Doha pudesse avançar. Mas ainda há razão para que o G-20 continue a existir? Claro que sim. Vamos trabalhar. Esperaremos a poeira baixar. Mas vamos conversar. Desde que o sr. assumiu a pasta de Relações Exteriores, a OMC foi sua prioridade. O sr. já indicou que o acordo agora não fecha durante o governo Lula. Como o sr. se sente pessoalmente? Claro que me sinto frustrado. Coloquei o máximo esforço nisso. Internamente, conversamos com todos os setores, indústria e agricultura. Salvo se houver uma luz, o processo deve mesmo ser adiado por dois ou três anos. Mas quem virá depois, a próxima geração, não pegará as coisas do zero. Há uma base importante. Mas, certamente, estou frustrado.

Admirado por uns, atacado por outros, o chanceler Celso Amorim foi um dos centros das atenções em Genebra, nas negociações fracassadas da Organização Mundial do Comércio (OMC). Cada vez que aparecia, um batalhão de jornalistas tentava arrancar do brasileiro sua avaliação das negociações. Amorim decidiu apoiar o pacote de liberalização proposto, mesmo que não estivesse de acordo nem com seus parceiros argentinos no Mercosul, nem com a Índia, um dos pilares do G-20. A decisão surpreendeu vários países. "Ficamos decepcionados com a posição do Brasil", disse o vice-ministro de Agricultura das Filipinas, Segfredo Serrano. Para o ministro do Comércio da Venezuela, William Contreras, "a questão é saber se o G-20 ainda existe". Já o comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson, foi só elogios a Amorim, enquanto o porta-voz da OMC, Keith Rockwell, chegou a chamá-lo de "herói". Em entrevista ao Estado, Amorim afirma não haver dúvidas de que o G-20 vai continuar existindo, inclusive para superar o impasse no acesso aos mercados emergentes para produtos agrícolas, ponto que fez ruir o processo. Ele não nega que o bloco tenha dimensão política. Ontem, ele e o ministro do Comércio da Índia, Kamal Nath, buscavam um fotógrafo para registrar um aperto de mão e a impressão de que a união entre os dois não havia sido abalada. A seguir, os principais trechos da entrevista. Foi um erro ter apostado todas as fichas na Rodada Doha? Não teria sido possível de outra maneira. Os americanos deixaram claro que não reduziriam os subsídios se não tivessem um acesso maior aos mercados. Já os europeus indicaram ao Mercosul que não poderiam negociar um acordo entre as regiões sem saber o que ocorreria na OMC. Não era uma questão de eu querer ou não querer privilegiar a OMC. Essa era a realidade. O sr. já indicou agora que novas prioridades surgirão, como os acordos bilaterais. Haverá uma mudança na orientação da política comercial brasileira? Não se trata de mudar de prioridade. Como eu disse, nunca tiramos a prioridade das negociações com a Europa. Foram eles que condicionaram. Eu não poderia conseguir a atenção de Peter Mandelson ou de Susan Schwab (representante americana de Comércio). E, sinceramente, eu também não teria como dar prioridade a tudo. É só ouvir os demais parceiros. Todos, inclusive americanos e europeus, davam prioridade para a OMC. Mas, nesse mesmo período, mexicanos, chilenos e outros governos proliferaram acordos comerciais e também estiveram na OMC. A natureza do comércio brasileiro é diferente. Não temos um parceiro predominante. Nossas exportações são diversificadas em destinos. A situação é outra quando se tem um só parceiro para exportações. Desde 2003, em Cancún, ficou claro que os emergentes seriam fundamentais na conclusão da Rodada Doha. De que forma a OMC mudou diante desse novo cenário? Não gosto do termo "países emergentes". Parece que estávamos submersos e agora estamos boiando. O que existe são países em desenvolvimento. Quanto à OMC, de fato nunca a voz desse grupo de países foi tão ativa. Por isso chegamos onde chegamos, com avanços no compromisso dos países desenvolvidos com o corte de subsídios. A voz dos países em desenvolvimento hoje conta. Mas, no Mercosul, mostramos que o bloco ainda não tem uma voz única. O Brasil acatou a proposta de acordo, enquanto a Argentina alegou que o texto era inaceitável quanto ao corte de tarifas industriais. A Rodada foi uma lição? De certa forma, sim. Foi uma lição no sentido de que temos de falar com uma voz comum. Mas esse é um resquício do passado, quando os países da região falavam cada um por si. Por anos, essa foi a realidade e acabou criando uma tradição difícil de romper. Qual a solução para essa falta de voz comum? O Mercosul precisa avançar no processo de integração. Não adianta fingir para fora enquanto não temos uma estrutura tarifária consolidada. Paradoxalmente, o Mercosul entrou nas negociações da Alca e no processo com a União Européia de forma conjunta. Mas na OMC não conseguimos. Se essa for a lição, concordo. Precisamos trabalhar por uma posição unida. O impasse em outros assuntos impediu que o tema acabasse sendo tratado. Mas o que Brasil teria feito para ajustar a posição da Argentina num acordo final? O Brasil faria o que fosse necessário para acomodar os interesses argentinos. A posição do Brasil também surpreendeu alguns no G-20. Por que o Brasil adotou essa atitude? Porque acreditávamos que o pacote estava equilibrado. Não era ideal, e eu disse isso. Mas avaliamos que, naquele momento, era importante sua aprovação para que a Rodada Doha pudesse avançar. Mas ainda há razão para que o G-20 continue a existir? Claro que sim. Vamos trabalhar. Esperaremos a poeira baixar. Mas vamos conversar. Desde que o sr. assumiu a pasta de Relações Exteriores, a OMC foi sua prioridade. O sr. já indicou que o acordo agora não fecha durante o governo Lula. Como o sr. se sente pessoalmente? Claro que me sinto frustrado. Coloquei o máximo esforço nisso. Internamente, conversamos com todos os setores, indústria e agricultura. Salvo se houver uma luz, o processo deve mesmo ser adiado por dois ou três anos. Mas quem virá depois, a próxima geração, não pegará as coisas do zero. Há uma base importante. Mas, certamente, estou frustrado.

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