Ontem, ao aproximarem-se da população prestes a invadir o Congresso Nacional, três famosos senadores tentaram entender a pauta de reivindicações dos manifestantes. Não havia pauta. Minha leitura: estes senadores ainda não conseguiram entender o que está acontecendo.
Hoje eu e minha esposa nos uniremos às manifestações organizadas pela comunidade brasileira que vive aqui em Madri, na Espanha (a prefeitura de Madri está analisando o pedido da manifestação em caráter de urgência, se não for hoje, será outro dia). Vamos para uma praça central da cidade.
Hoje há tantas coisas enfiadas - e mantidas - goela abaixo do brasileiro que não é possível explicar de maneira clara e sucinta este descontentamento. Eu mesmo não consigo responder direito aos meus colegas e alunos, espanhóis e estrangeiros, que insistentemente perguntam-me sobre os motivos das manifestações. Saúde? Segurança? Educação? Justiça? Sistema tributário? Infraestrutura? Corrupção? Sistema político? Copa do Mundo? Burocracia?
Pô! Tudo isso é ruim neste país. A lista de assuntos problemáticos é enorme! Imagine a lista dos subitens. Não é possível que senadores, deputados e governadores ainda não enxerguem isso. Só há uma explicação, eles vivem numa espécie de bolha. Mas esta bolha está claramente isolada da realidade. Independentemente de partidos, a elite política precisará se conectar com a realidade para não cair. Agora ou nos próximos anos.
Sem querer politizar o post, analisemos as eleições do ano que vem. Dois dos fortes candidatos são descendentes de políticos das antigas. Velhacos, velhacos e mais velhacos. Sempre. Desde a época dos colonizadores, a política na América "Latrina" se desenvolve quase como um negócio familiar.
Uma revolução à francesa não funciona. Uma revolução bolivariana menos ainda. A história já nos ensinou que mesmo com boas intenções os revolucionários não estão capacitados a liderar porcaria nenhuma. Você quer um Fidel Múmia Castro, Hugo Chávez ou General Franco representando-te para o resto da vida? Ou você preferiria um Che Guevara que simplesmente mandava eliminar diretamente a alguns seus interlocutores impertinentes depois de uma reunião improdutiva.
Mudanças radicais representam quase sempre passos para trás. O simples fato de que um líder destas manifestações se destaque identificando, canalizando e expressando as frustrações da sociedade não garante a subsequente implantação das reformas importantes e necessárias que necessitamos.
Ou seja, prestemos atenção. Não acreditemos em supostos "líderes" ou "grupos de líderes" que queiram se expressar em nosso lugar. Alguns poderão e deverão ser eleitos nas próximas eleições, mas não muito mais do que isso.
Por isso uma pauta de reivindicações se faz necessária. Mas... o que queremos que se discuta e resolva primeiro nessa bagunça tropical?
- Fim da obrigatoriedade de voto seria um bom item (não acabaria com a compra de votos, mas não manteria tão desproporcional a votação de alienados e conscientizados).
- Exigência de profissionalização em cargos chaves seria outro (como é possível que pessoas assumam Ministérios e Secretarias-chave de governos sem nunca terem tido experiência na área?).
- A adoção de sistemas robustos de transparência também é um item importantíssimo para começar a combater a corrupção que contamina cada centímetro do Brasil (deveríamos aperfeiçoar os mecanismos de controle de intercambio de negócios entre líderes da iniciativa privada e líderes de órgãos públicos).
Esta lista é muito grande, mas precisa ser trabalhada e discutida para que tenhamos um resultado positivo destas ou outras manifestações que tenhamos no futuro. Se os governos (em todas suas esferas) forem espertos, eles mesmos entenderão o recado e discutirão com a população sobre quais problemas atacar primeiro e de que forma.
Boa sorte para todos nós.
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