Não há que se discutir e, nem mesmo, aqui, explicar a inelutável necessidade dos pais de cuidar da sobrevivência e, assim, dedicar menos tempo à educação dos filhos: questão que atinge de forma mais intensa e cruel às mães, numa cultura patriarcal que, ainda que moribunda, tem permanências poderosas que sobrecarregam a elas.
Tal ausência tem provocado um complexo de culpa nos pais que acaba, entre diversas consequências, por provocar cuidados excessivos que estão produzindo uma geração carente e mimada. Carente pela mal trabalhada ausência dos pais e mimada pela tentativa, muitas vezes equivocada, de suprir tal ausência por um zelo inadequado.
É cada vez mais frequente, no cotidiano da vida escolar, pais que pouca atenção dedicam aos filhos serem tomados por uma verdadeira fúria protetora quando os mesmos, sentindo-se desprotegidos, a eles recorrem. Tentativas equivocadas e ineficientes de compensarem omissões acabam por gerar um protecionismo indevido e causador de um prolongamento da infância ou da acentuação dela.
Não custa lembrar que, quando se tem pouco tempo para uma atividade essencial como educar os filhos, é obrigatório dar o máximo de qualidade a esse tempo, é fazer valer o convívio familiar pelo diálogo, pela proximidade humana. Nada mais deprimente do que almoços em família condenados pelo digitar de celulares.
Como quase tudo na vida, a escassez deve valorizar o escasso e, no caso de um bem irrecuperável como o tempo, tal economia do essencial é vital.
Professor Henrique Vailati Neto é diretor do Colégio FAAP - SP. Formado em História e Pedagogia, com mestrado em Administração. É professor universitário nas disciplinas de Sociologia e Ciência Política. Tem quatro filhos e quatro netos.
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