Escolas atualizam educação sexual


Tecnologia fez colégios modificarem abordagem; foco, antes na questão biológica, hoje está nos aspectos sociais e comportamentais

Por Isabela Palhares
Curiosidade. Para Lara Almeida (à dir.), ao lado de Giovana Endo, foi importante estudar assuntos pouco abordados, como a transexualidade Foto: Rafael Arbex / ESTADAO

Após muita discussão e polêmica, os vereadores de São Paulo barraram, na semana passada, a inclusão de metas de promoção e debate de igualdade de gêneros nas escolas da rede municipal. Na direção oposta, colégios particulares apostam há tempos na temática, que nos últimos dois anos ganhou nova abordagem por causa das mudanças tecnológicas. Antes baseadas na questão biológica, hoje as aulas estão mais focadas nos aspectos sociais e comportamentais.

“A escola é o primeiro lugar onde a criança vai se relacionar socialmente e onde começará a sentir interesse sexual. Para os pais, é difícil saber qual é esse momento, mas para os educadores não. Nós estamos com eles e sabemos quando esse interesse surge e como orientá-los”, diz Paula Lima Lotto, coordenadora pedagógica do Colégio Renovação, que tem aulas de educação sexual a partir do 6.° ano, quando os alunos têm 11 ou 12 anos.

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No Colégio Eduque, as aulas começam um pouco mais cedo, no 5.º ano. “A abordagem é guiada pela curiosidade dos alunos. Nunca respondemos mais do que eles perguntam nem de uma forma que não possam assimilar completamente”, afirma a coordenadora Lucelena Souza. Conforme o debate se desenvolve, algumas atividades são propostas, como colocar camisinha em uma banana. 

Durante as aulas, os estudantes podem colocar suas dúvidas de forma anônima, colocando-as em uma caixa. “No começo, eles fazem as perguntas de forma grosseira, com vocabulário inadequado, porque é como veem na tevê e na internet. Conforme o assunto é desenvolvido e fica mais natural, eles passam a se comunicar melhor”, conta Lucelena.

As dúvidas dos alunos, segundo as orientadoras, são variadas e vão desde questões sobre as mudanças do corpo na puberdade (por que os seios crescem, o surgimento de pelos e como a voz engrossa) até dúvidas comportamentais (como contar aos pais sobre as primeiras experiências sexuais e o que significa ser virgem).

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A principal preocupação, de acordo com os educadores, é sanar as dúvidas e mostrar que sexo faz parte do cotidiano e, assim, evitar situações de violência e bullying nas escolas.

Internet. Recentemente, a preocupação também se voltou para os problemas que surgiram com o fato de os adolescentes estarem cada vez mais conectados. No Colégio Dante Alighieri, as aulas têm foco no respeito ao corpo, na importância da privacidade e nas consequências da exposição excessiva. “Essa geração lida com a internet como algo imprescindível, que tem de estar presente em todas as horas, até nas mais íntimas. Eles não entendem que a exposição pode ter consequências para a vida toda”, diz Elenice Ziziotti, coordenadora do Serviço de Orientação Sexual.

Segundo Elenice, uma preocupação constante entre os pais é com a produção e a divulgação das chamadas “nudes selfies”, que são fotos ou vídeos íntimos. “Os pais têm muito medo de que isso aconteça (a divulgação das imagens), mas não sabem como abordar o assunto. Os jovens precisam ter pessoas de confiança para tirar as dúvidas. Caso contrário, vão procurar as respostas na internet.” 

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Fase. No Bandeirantes, os mais novos estudam o corpo Foto: Rafael Arbex / ESTADAO

Diversidade. No Colégio Bandeirantes, as aulas também começam no 6.º ano, em grupos de debates mediados por professores, e se aprofundam com o passar das séries. “Para os mais novos, falamos sobre as mudanças do corpo. Depois, deixamos que eles mesmos proponham os temas”, conta Maria Estela Zanini, coordenadora do programa de educação sexual.

Os alunos do 9.º ano, por exemplo, escolheram a transexualidade. Lara Almeida, de 13 anos, diz que foi importante se aprofundar em um assunto que é pouco abordado. “As pessoas nunca falam sobre transexuais ou homossexuais, a não ser para criticar. Achei legal entender porque algumas pessoas não se identificam com o que é considerado normal pelos outros."

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‘Trabalho é vacina contra machismo e violência moral’

Para especialistas em educação sexual, o trabalho nas escolas deve ser contínuo, focado na conscientização dos alunos contra preconceitos e de modo a apresentar o sexo como algo natural, sempre falando sobre os temas pertinentes a cada idade. 

“A educação sexual é uma vacina contra o machismo, a homofobia, a violência física e moral. Não adianta introduzir o assunto apenas no último ano do ensino médio, se a criança teve toda a sua educação baseada em valores patriarcais e machistas. Desde pequenos temos de mostrar que não há motivos para segregar. Meninas podem brincar das mesmas coisas que os meninos e vice-versa”, defende Adriana Ramos, coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Moral, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

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Para Adriana, é importante que os professores reflitam sobre os próprios valores. “Por isso, os planos de educação têm de prever cursos de formação para os educadores, com capacitação para lidar com diferentes alunos, sem reforçar preconceitos.”

Maria Helena Vilela, educadora sexual, afirma que a sociedade “bombardeia” as crianças com conteúdos sexuais e, por isso, elas precisam ter quem as oriente para entender esses estímulos. “Cada vez mais professores nos procuram por não saber lidar com crianças de 7 ou 8 anos que já têm curiosidades sobre o sexo, o corpo. Elas não podem ficar sem orientação.”

Para ela, cada escola precisa entender o contexto em que seus alunos estão inseridos para que as aulas sejam eficientes. “Se naquela unidade muitas meninas estão engravidando precocemente, é preciso um trabalho mais focado em prevenção.” 

Curiosidade. Para Lara Almeida (à dir.), ao lado de Giovana Endo, foi importante estudar assuntos pouco abordados, como a transexualidade Foto: Rafael Arbex / ESTADAO

Após muita discussão e polêmica, os vereadores de São Paulo barraram, na semana passada, a inclusão de metas de promoção e debate de igualdade de gêneros nas escolas da rede municipal. Na direção oposta, colégios particulares apostam há tempos na temática, que nos últimos dois anos ganhou nova abordagem por causa das mudanças tecnológicas. Antes baseadas na questão biológica, hoje as aulas estão mais focadas nos aspectos sociais e comportamentais.

“A escola é o primeiro lugar onde a criança vai se relacionar socialmente e onde começará a sentir interesse sexual. Para os pais, é difícil saber qual é esse momento, mas para os educadores não. Nós estamos com eles e sabemos quando esse interesse surge e como orientá-los”, diz Paula Lima Lotto, coordenadora pedagógica do Colégio Renovação, que tem aulas de educação sexual a partir do 6.° ano, quando os alunos têm 11 ou 12 anos.

No Colégio Eduque, as aulas começam um pouco mais cedo, no 5.º ano. “A abordagem é guiada pela curiosidade dos alunos. Nunca respondemos mais do que eles perguntam nem de uma forma que não possam assimilar completamente”, afirma a coordenadora Lucelena Souza. Conforme o debate se desenvolve, algumas atividades são propostas, como colocar camisinha em uma banana. 

Durante as aulas, os estudantes podem colocar suas dúvidas de forma anônima, colocando-as em uma caixa. “No começo, eles fazem as perguntas de forma grosseira, com vocabulário inadequado, porque é como veem na tevê e na internet. Conforme o assunto é desenvolvido e fica mais natural, eles passam a se comunicar melhor”, conta Lucelena.

As dúvidas dos alunos, segundo as orientadoras, são variadas e vão desde questões sobre as mudanças do corpo na puberdade (por que os seios crescem, o surgimento de pelos e como a voz engrossa) até dúvidas comportamentais (como contar aos pais sobre as primeiras experiências sexuais e o que significa ser virgem).

A principal preocupação, de acordo com os educadores, é sanar as dúvidas e mostrar que sexo faz parte do cotidiano e, assim, evitar situações de violência e bullying nas escolas.

Internet. Recentemente, a preocupação também se voltou para os problemas que surgiram com o fato de os adolescentes estarem cada vez mais conectados. No Colégio Dante Alighieri, as aulas têm foco no respeito ao corpo, na importância da privacidade e nas consequências da exposição excessiva. “Essa geração lida com a internet como algo imprescindível, que tem de estar presente em todas as horas, até nas mais íntimas. Eles não entendem que a exposição pode ter consequências para a vida toda”, diz Elenice Ziziotti, coordenadora do Serviço de Orientação Sexual.

Segundo Elenice, uma preocupação constante entre os pais é com a produção e a divulgação das chamadas “nudes selfies”, que são fotos ou vídeos íntimos. “Os pais têm muito medo de que isso aconteça (a divulgação das imagens), mas não sabem como abordar o assunto. Os jovens precisam ter pessoas de confiança para tirar as dúvidas. Caso contrário, vão procurar as respostas na internet.” 

Fase. No Bandeirantes, os mais novos estudam o corpo Foto: Rafael Arbex / ESTADAO

Diversidade. No Colégio Bandeirantes, as aulas também começam no 6.º ano, em grupos de debates mediados por professores, e se aprofundam com o passar das séries. “Para os mais novos, falamos sobre as mudanças do corpo. Depois, deixamos que eles mesmos proponham os temas”, conta Maria Estela Zanini, coordenadora do programa de educação sexual.

Os alunos do 9.º ano, por exemplo, escolheram a transexualidade. Lara Almeida, de 13 anos, diz que foi importante se aprofundar em um assunto que é pouco abordado. “As pessoas nunca falam sobre transexuais ou homossexuais, a não ser para criticar. Achei legal entender porque algumas pessoas não se identificam com o que é considerado normal pelos outros."

‘Trabalho é vacina contra machismo e violência moral’

Para especialistas em educação sexual, o trabalho nas escolas deve ser contínuo, focado na conscientização dos alunos contra preconceitos e de modo a apresentar o sexo como algo natural, sempre falando sobre os temas pertinentes a cada idade. 

“A educação sexual é uma vacina contra o machismo, a homofobia, a violência física e moral. Não adianta introduzir o assunto apenas no último ano do ensino médio, se a criança teve toda a sua educação baseada em valores patriarcais e machistas. Desde pequenos temos de mostrar que não há motivos para segregar. Meninas podem brincar das mesmas coisas que os meninos e vice-versa”, defende Adriana Ramos, coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Moral, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Para Adriana, é importante que os professores reflitam sobre os próprios valores. “Por isso, os planos de educação têm de prever cursos de formação para os educadores, com capacitação para lidar com diferentes alunos, sem reforçar preconceitos.”

Maria Helena Vilela, educadora sexual, afirma que a sociedade “bombardeia” as crianças com conteúdos sexuais e, por isso, elas precisam ter quem as oriente para entender esses estímulos. “Cada vez mais professores nos procuram por não saber lidar com crianças de 7 ou 8 anos que já têm curiosidades sobre o sexo, o corpo. Elas não podem ficar sem orientação.”

Para ela, cada escola precisa entender o contexto em que seus alunos estão inseridos para que as aulas sejam eficientes. “Se naquela unidade muitas meninas estão engravidando precocemente, é preciso um trabalho mais focado em prevenção.” 

Curiosidade. Para Lara Almeida (à dir.), ao lado de Giovana Endo, foi importante estudar assuntos pouco abordados, como a transexualidade Foto: Rafael Arbex / ESTADAO

Após muita discussão e polêmica, os vereadores de São Paulo barraram, na semana passada, a inclusão de metas de promoção e debate de igualdade de gêneros nas escolas da rede municipal. Na direção oposta, colégios particulares apostam há tempos na temática, que nos últimos dois anos ganhou nova abordagem por causa das mudanças tecnológicas. Antes baseadas na questão biológica, hoje as aulas estão mais focadas nos aspectos sociais e comportamentais.

“A escola é o primeiro lugar onde a criança vai se relacionar socialmente e onde começará a sentir interesse sexual. Para os pais, é difícil saber qual é esse momento, mas para os educadores não. Nós estamos com eles e sabemos quando esse interesse surge e como orientá-los”, diz Paula Lima Lotto, coordenadora pedagógica do Colégio Renovação, que tem aulas de educação sexual a partir do 6.° ano, quando os alunos têm 11 ou 12 anos.

No Colégio Eduque, as aulas começam um pouco mais cedo, no 5.º ano. “A abordagem é guiada pela curiosidade dos alunos. Nunca respondemos mais do que eles perguntam nem de uma forma que não possam assimilar completamente”, afirma a coordenadora Lucelena Souza. Conforme o debate se desenvolve, algumas atividades são propostas, como colocar camisinha em uma banana. 

Durante as aulas, os estudantes podem colocar suas dúvidas de forma anônima, colocando-as em uma caixa. “No começo, eles fazem as perguntas de forma grosseira, com vocabulário inadequado, porque é como veem na tevê e na internet. Conforme o assunto é desenvolvido e fica mais natural, eles passam a se comunicar melhor”, conta Lucelena.

As dúvidas dos alunos, segundo as orientadoras, são variadas e vão desde questões sobre as mudanças do corpo na puberdade (por que os seios crescem, o surgimento de pelos e como a voz engrossa) até dúvidas comportamentais (como contar aos pais sobre as primeiras experiências sexuais e o que significa ser virgem).

A principal preocupação, de acordo com os educadores, é sanar as dúvidas e mostrar que sexo faz parte do cotidiano e, assim, evitar situações de violência e bullying nas escolas.

Internet. Recentemente, a preocupação também se voltou para os problemas que surgiram com o fato de os adolescentes estarem cada vez mais conectados. No Colégio Dante Alighieri, as aulas têm foco no respeito ao corpo, na importância da privacidade e nas consequências da exposição excessiva. “Essa geração lida com a internet como algo imprescindível, que tem de estar presente em todas as horas, até nas mais íntimas. Eles não entendem que a exposição pode ter consequências para a vida toda”, diz Elenice Ziziotti, coordenadora do Serviço de Orientação Sexual.

Segundo Elenice, uma preocupação constante entre os pais é com a produção e a divulgação das chamadas “nudes selfies”, que são fotos ou vídeos íntimos. “Os pais têm muito medo de que isso aconteça (a divulgação das imagens), mas não sabem como abordar o assunto. Os jovens precisam ter pessoas de confiança para tirar as dúvidas. Caso contrário, vão procurar as respostas na internet.” 

Fase. No Bandeirantes, os mais novos estudam o corpo Foto: Rafael Arbex / ESTADAO

Diversidade. No Colégio Bandeirantes, as aulas também começam no 6.º ano, em grupos de debates mediados por professores, e se aprofundam com o passar das séries. “Para os mais novos, falamos sobre as mudanças do corpo. Depois, deixamos que eles mesmos proponham os temas”, conta Maria Estela Zanini, coordenadora do programa de educação sexual.

Os alunos do 9.º ano, por exemplo, escolheram a transexualidade. Lara Almeida, de 13 anos, diz que foi importante se aprofundar em um assunto que é pouco abordado. “As pessoas nunca falam sobre transexuais ou homossexuais, a não ser para criticar. Achei legal entender porque algumas pessoas não se identificam com o que é considerado normal pelos outros."

‘Trabalho é vacina contra machismo e violência moral’

Para especialistas em educação sexual, o trabalho nas escolas deve ser contínuo, focado na conscientização dos alunos contra preconceitos e de modo a apresentar o sexo como algo natural, sempre falando sobre os temas pertinentes a cada idade. 

“A educação sexual é uma vacina contra o machismo, a homofobia, a violência física e moral. Não adianta introduzir o assunto apenas no último ano do ensino médio, se a criança teve toda a sua educação baseada em valores patriarcais e machistas. Desde pequenos temos de mostrar que não há motivos para segregar. Meninas podem brincar das mesmas coisas que os meninos e vice-versa”, defende Adriana Ramos, coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Moral, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Para Adriana, é importante que os professores reflitam sobre os próprios valores. “Por isso, os planos de educação têm de prever cursos de formação para os educadores, com capacitação para lidar com diferentes alunos, sem reforçar preconceitos.”

Maria Helena Vilela, educadora sexual, afirma que a sociedade “bombardeia” as crianças com conteúdos sexuais e, por isso, elas precisam ter quem as oriente para entender esses estímulos. “Cada vez mais professores nos procuram por não saber lidar com crianças de 7 ou 8 anos que já têm curiosidades sobre o sexo, o corpo. Elas não podem ficar sem orientação.”

Para ela, cada escola precisa entender o contexto em que seus alunos estão inseridos para que as aulas sejam eficientes. “Se naquela unidade muitas meninas estão engravidando precocemente, é preciso um trabalho mais focado em prevenção.” 

Curiosidade. Para Lara Almeida (à dir.), ao lado de Giovana Endo, foi importante estudar assuntos pouco abordados, como a transexualidade Foto: Rafael Arbex / ESTADAO

Após muita discussão e polêmica, os vereadores de São Paulo barraram, na semana passada, a inclusão de metas de promoção e debate de igualdade de gêneros nas escolas da rede municipal. Na direção oposta, colégios particulares apostam há tempos na temática, que nos últimos dois anos ganhou nova abordagem por causa das mudanças tecnológicas. Antes baseadas na questão biológica, hoje as aulas estão mais focadas nos aspectos sociais e comportamentais.

“A escola é o primeiro lugar onde a criança vai se relacionar socialmente e onde começará a sentir interesse sexual. Para os pais, é difícil saber qual é esse momento, mas para os educadores não. Nós estamos com eles e sabemos quando esse interesse surge e como orientá-los”, diz Paula Lima Lotto, coordenadora pedagógica do Colégio Renovação, que tem aulas de educação sexual a partir do 6.° ano, quando os alunos têm 11 ou 12 anos.

No Colégio Eduque, as aulas começam um pouco mais cedo, no 5.º ano. “A abordagem é guiada pela curiosidade dos alunos. Nunca respondemos mais do que eles perguntam nem de uma forma que não possam assimilar completamente”, afirma a coordenadora Lucelena Souza. Conforme o debate se desenvolve, algumas atividades são propostas, como colocar camisinha em uma banana. 

Durante as aulas, os estudantes podem colocar suas dúvidas de forma anônima, colocando-as em uma caixa. “No começo, eles fazem as perguntas de forma grosseira, com vocabulário inadequado, porque é como veem na tevê e na internet. Conforme o assunto é desenvolvido e fica mais natural, eles passam a se comunicar melhor”, conta Lucelena.

As dúvidas dos alunos, segundo as orientadoras, são variadas e vão desde questões sobre as mudanças do corpo na puberdade (por que os seios crescem, o surgimento de pelos e como a voz engrossa) até dúvidas comportamentais (como contar aos pais sobre as primeiras experiências sexuais e o que significa ser virgem).

A principal preocupação, de acordo com os educadores, é sanar as dúvidas e mostrar que sexo faz parte do cotidiano e, assim, evitar situações de violência e bullying nas escolas.

Internet. Recentemente, a preocupação também se voltou para os problemas que surgiram com o fato de os adolescentes estarem cada vez mais conectados. No Colégio Dante Alighieri, as aulas têm foco no respeito ao corpo, na importância da privacidade e nas consequências da exposição excessiva. “Essa geração lida com a internet como algo imprescindível, que tem de estar presente em todas as horas, até nas mais íntimas. Eles não entendem que a exposição pode ter consequências para a vida toda”, diz Elenice Ziziotti, coordenadora do Serviço de Orientação Sexual.

Segundo Elenice, uma preocupação constante entre os pais é com a produção e a divulgação das chamadas “nudes selfies”, que são fotos ou vídeos íntimos. “Os pais têm muito medo de que isso aconteça (a divulgação das imagens), mas não sabem como abordar o assunto. Os jovens precisam ter pessoas de confiança para tirar as dúvidas. Caso contrário, vão procurar as respostas na internet.” 

Fase. No Bandeirantes, os mais novos estudam o corpo Foto: Rafael Arbex / ESTADAO

Diversidade. No Colégio Bandeirantes, as aulas também começam no 6.º ano, em grupos de debates mediados por professores, e se aprofundam com o passar das séries. “Para os mais novos, falamos sobre as mudanças do corpo. Depois, deixamos que eles mesmos proponham os temas”, conta Maria Estela Zanini, coordenadora do programa de educação sexual.

Os alunos do 9.º ano, por exemplo, escolheram a transexualidade. Lara Almeida, de 13 anos, diz que foi importante se aprofundar em um assunto que é pouco abordado. “As pessoas nunca falam sobre transexuais ou homossexuais, a não ser para criticar. Achei legal entender porque algumas pessoas não se identificam com o que é considerado normal pelos outros."

‘Trabalho é vacina contra machismo e violência moral’

Para especialistas em educação sexual, o trabalho nas escolas deve ser contínuo, focado na conscientização dos alunos contra preconceitos e de modo a apresentar o sexo como algo natural, sempre falando sobre os temas pertinentes a cada idade. 

“A educação sexual é uma vacina contra o machismo, a homofobia, a violência física e moral. Não adianta introduzir o assunto apenas no último ano do ensino médio, se a criança teve toda a sua educação baseada em valores patriarcais e machistas. Desde pequenos temos de mostrar que não há motivos para segregar. Meninas podem brincar das mesmas coisas que os meninos e vice-versa”, defende Adriana Ramos, coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Moral, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Para Adriana, é importante que os professores reflitam sobre os próprios valores. “Por isso, os planos de educação têm de prever cursos de formação para os educadores, com capacitação para lidar com diferentes alunos, sem reforçar preconceitos.”

Maria Helena Vilela, educadora sexual, afirma que a sociedade “bombardeia” as crianças com conteúdos sexuais e, por isso, elas precisam ter quem as oriente para entender esses estímulos. “Cada vez mais professores nos procuram por não saber lidar com crianças de 7 ou 8 anos que já têm curiosidades sobre o sexo, o corpo. Elas não podem ficar sem orientação.”

Para ela, cada escola precisa entender o contexto em que seus alunos estão inseridos para que as aulas sejam eficientes. “Se naquela unidade muitas meninas estão engravidando precocemente, é preciso um trabalho mais focado em prevenção.” 

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